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8.3.08

Bianca.

Eu não gostava dela, não.

Mesmo. Eu não esotu nem ligando se ela resolveu ir embora e me largou aqui. Foi até bom, tem mais espaço no nosso apartamento. e não tem aquela mania estúpida que ela tinha de ficar deixando a calcinha no registro do chuveiro. Agora o chuveiro é só meu. Posso até mijar lá e ficar tudo fedendo a xixi que ninguém vai reclamar.

Ninguém. Principalmente a Bianca e aquela voz irritante dela. Aquela mania de levantar a sombancelha toda vez que eu fazia alguma coisa errado.

Agora eu posso fazer tudo. Posso até ver futebol de quarta feira sem ela ficar com aquela coisa de querer sair, e ainda por cima em bar que não tinha telão. Depois que a Bianca foi embora eu posso ir em bar com telão e gritar a torto e a direito. Posso encher o rabo de cerveja sem ela falar que não gostava de me beijar com gostinho de cerveja e que beijo aromatizado não tinha graça. A Bianca não gostava de cerveja, aquela fresca. Alías, a Bianca chama Bianca. Nome de mulher fresca e chiliquenta, não sei porque eu inventei de morar com ela. Amor. Deus me livre que atpe um homem como eu caiu nessas.

Mas agora não, estou livre na praça, aqui sentado nessa sala enorme com essa tevê enorme só pra mim. Posso até esticar as pernas. A bianca as vezes não deixava. ela falava que as minhas pernas pesavam demais e ela era frágil. ela era mesmo. eu tinha que meio ficar cuidando dela.

Agora eu não tenho mais que cuidar dela. Agora, minha vida é minha e só minha.

E além da vida, a cama. Agora eu tenho a cama inteira só pra mim. A bianca tinha uma mania chata de ficar com a maior parte da cama, além de puxar minha coberta. Eu tinha que levantar toda noite e ir pegar outro cobertor pra mim. Dava dó acordar a Bianca. Ela dormia de um jeito sereno, sempre parecia sonhar com algo bom. Eu levantava e pegava cobretor pra mim. Que merda. Ela bem que podia não roubar as minhas cobertas, ou não domir tão bem.

Posso também fazer xixi e deixar a tampa levantada. A Bianca reclamava que eu nunca lembrava. Agora eu nunca mais vou ter que abaixar a tampa da privada. Posso até arrancar a tampa da privada se eu quiser. Posso mijar fora da patente. Nunca mais vou ver a Bianca com franzindo os lábios de lado, levantando a sombrancelha direita, depois a esquerda, batendo o pê, dando uma respirada e me dizendo que eu parecia uma criança, que não aprendia a deixar a tal da tampa da patente abaixada. E eu rindo dela, dizendo que ela estava fazendo um ótimo trabalho em tentar ser minha mãe, mas que eu preferia mesmo ela como mulher. Nunca mais vou ter que ver a cara de desprezo dela quanto a essa frase.

Bianca nunca mais vai falar que eu não sei combinar roupas. Eu posso sair por aí parecendo uma árvore de natal que eu não vou ter que ouvir que eu so um fashion week que não deu certo. Ninguém nunca mais vai falar que eu sou um fashion week que não deu certo.

Eu vou poder pegar a rebouças pra ir no shopping. A brianca falava que pegar a rebouças era o pior caminho. Eu nunca achei, mas a Bianca achava. E ela fazia uma cara um tanto convincente. Isso e falava que eu era um motorista frustrado de fórmula truck quando corria demais. Pois agora eu posso fazer rachas na pista que ninguém vai me incomodar.

Posso deixar a louça estragando por meses, sem que ela diga pra eu limpar a pia, posso ligar as músicas que ela odiava no último volume sem ter que ouvir ela sarcáticamente falando que ama minha generosidade em compartilhar com ela meu gosto musical duvidoso, posso acordar as 10 e não as 9 pra tomar café da manhã com ela, posso nunca mais ir em restaurante japonês, posso não ter que tocar vinte vezes a nossa música no violão só porque ela ficava com os olhos brilhantes e me dava os beijos mais apaixonados do mundo.

Nunca mais. Agora eu só faço o que eu quero. Agora não tem bianca cabelos ruivos, sorrisos e laços, brincadeiras. Agora, eu posso fazer tantas coisas...

...só que eu não quero fazer nada.
E eu gostava dela, sim.
E muito.