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29.5.08

Caio fernando abreu me fez chorar.

"...ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, a velha angst, saco, mas ando, ando, mais de duas décadas de convívio cotidiano, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, ah não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz...."

"...Hein? claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim...perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário & positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária e bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, voltei a isso que dizem que é o normal, e cadê a causa, meu, cadê a luta, cadê o po-ten-ci-al criativo?..."

"...ou ligo para o cvv às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia, ela pára e pede, preciso tanto tanto tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era...que aconteça alguma coisa bem bonita com você, ela diz, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando...."





Recapitulando, caio fernando abreu me fez chorar.
é tudo que eu sempre quis escrever e como ele o fez, me calo.


espero que ainda tenhamos salvação, companheiro.
you know just what I'm talking about.

eu só queria um jeito.

e pra te ser bem sincera, eu só queria um jeito de ser feliz.
um jeito, uma maneira, uma receita. um dia no calendário, nas minhas horas corridas, nos meus dias cinzas e sem cor, nesse pleonasmo que é ser eu e não ser feliz.
eu queria, por um minuto olhar no espelho e ver alguém que diga as coisas que espera dizer e que não sinta esse desconforto enorme.
eu já não aguento mais acordar todos os dias com sono, com desgosto, com a vontade de sumir entre catracas de ônibus e gente que eu nunca vi o rosto e nunca mais verei. uma vida normal, uma garota-estudante no alto dos seus dezenove anos, tanta vida por aí e coisas e coisas e coisas.

ora, por favor. é um vazio.
e quando se diz vazio é mais que um espaço em branco, é uma coisa que não se preenche. qualquer coisa... exoterismo, religião, passear de mãos dadas, gritar, vinho barato no meio fio, auto conhecimento, livro de auto ajuda, paulo coelho, chocolate, madrugada, qualquer coisa que me faça sentir viva.
o vento nos cabelos, o brilho nos olhos. a simples vontade de passar um dia sem querer sumir com todo mundo. simples simples simples simples.







eu só queria um jeito, um dia, um momento, uma pessoa, um segundo e um instante
um modo para ser feliz o bastante.

mas tudo me faz acreditar que estou pedindo demais.

25.5.08

Labios compartidos e vinho barato.

Quando eu te conheci, obviamente, você não parecia ser nada disso que eu vejo hoje. Ou isso que eu vejo hoje não é nada do que eu tinha conhecido. Eu não sei te explicar com certeza. Sei que estou acordada de madrugada, vinho barato na mão – daqueles que você adora, contrariando todas as minhas pretensões de parecer uma pessoa culta, porque no fim eu concordo com você que esse álcool melado sabor uva é quase melhor do que os vinhos caros que eu tomava antes de te conhecer – na taça, porque você tem que saber que eu também não gosto dos copos plásticos e nem dos de requeijão. É o que você chama de frescura, e o que eu chamo de não-sei-o-que-mas-eu-gosto-assim.

Pois estou eu aqui, nessa cena dramática de menina-que-mora-sozinha-e-bebe-de-madrugada, esse cigarro fedorento que você odeia numa mão, a taça de vinho de quatro reais na outra. Minha cabeça meio tonta, já se foi meia garrafa. Você vai me olhar – se você estivesse aqui, mas eu faço tudo como se de algum modo você estivesse me olhando – e dizer que eu não devia estar bebendo tanto e eu deveria parar de fumar. Eu sei de tudo isso, e na verdade, eu já parei de fumar. Por sua causa. Mas eu não te disse ainda e eu estou fumando aqui na sacada pra fazer um charme. Eu ainda gosto das formas que a fumaça toma em contraste com esse céu escuro. Você devia ver, ia gostar de tirar fotos disso. Você gosta mesmo das fotos em que eu não apareço.

Estou com o celular na mão, pronta pra te ligar outra vez, mas já é uma da manhã e você atenderia esse celular com aquela voz de sono de porque você me acordou dessa vez e hoje eu não estou com paciência pra isso. Eu só estou pensando em você, porque pensar em você é como respirar. Não era. Nunca foi. Lembro ainda do dia em que te vi pela primeira vez, aqueles seus cabelos mal cortados, seus tênis horrorosos, sua voz abafada e sua total falta de jeito para comigo. Eu não sei quando isso mudou, mas hoje sou eu que não tenho o mínimo jeito com você. Mas estou aqui, essa taça de vinho barato, minha dor de cabeça, meus pés gelados nessas meias sujando com essa poeira infernal, meus pensamentos suicidas desencorajados e você. Essa minha vontade de te esganar e essa coisa de pensar que você pode muito bem não estar dormindo e sim pensando em outra pessoa, vendo umas fotos de uma qualquer aí ou até mesmo ligando pra alguém nesse exato minuto que eu penso em lugar pra você. Você não é meu. Você só exerce um poder de auto-destruição sobre mim que os psicólogos adorariam estudar. Mas não precisa. Eu tenho noção exata do que acontece. Eu deveria te largar com essas suas calças mal cortadas, seu tênis sujo, sua mania de vinho ruim em copo de plástico, suas convicções estúpidas, esse seu jeito de se achar quase melhor do que todo mundo quando na verdade você é tão medíocre quanto. Devia te deixar aí, num canto com seu sorriso e com esse seu otimismo débil. Você devia ir embora levando as suas conversas e sua mania de não se preocupar comigo.

Esse frio que congela meu rosto. Se você estivesse aqui não ia fazer diferença nenhuma salvo eu ter meia garrafa de vinho a menos e não poder fumar. Você não é do tipo que empresta sua blusa. Além disso, eu não ia nem poder estar ouvindo essa musica em espanhol decadente e melosa que você deva odiar mais que tudo e que eu acabaria desligando pra colocar um dos seus róquiandiróusmodernetes e discordar de você quanto a melhor música do álbum, escolhendo justamente a que você mais odiou. Se você estivesse aqui, não ia me deixar ver televisão e ia implicar com essa mania de eu resolver fazer outras coisas que não ler no meu tempo livre.

Mas o que eu estava pensando mesmo, é que, não que um dia eu tenha achado que eu ia casar com você nem nada. Mas é que eu imaginava você e seus blockbusters, sabe? Esses seus heróis de brinquedo, suas brincadeiras infantis de um homem quase formado. Achei que eu sempre ia te achar a mesma conversa insuportável de sempre. Achei que eu nunca te ajudaria se um dia você chegasse vomitando na porta da minha casa, porque afinal de contas, eu odeio ajudar pessoas e principalmente as pessoas vomitadas. Mas eu me preocupo tanto... E eu não sou do tipo que se preocupa, você até deve saber disso. Mas você dorme no sofá, suja meu banheiro e eu te dou meu cobertor. Eu agüento o cheiro de azedo e ainda te digo que não me incomodou – mesmo tendo vomitado junto com você por causa do seu vômito – e que você pode contar comigo quando quiser. Você sorri, se desculpa com sua educação primorosa e me agradece com alguma piada que eu nunca riria se não tivesse sido você que tivesse me contado, simplesmente porque é estúpida. Assim como você.

Aí você me empresta um dos filmes que se eu tivesse visto sozinha eu acharia que era o tipo-de-filme-que-voce-meteria-a-boca-por-ser-tremendamente-sentimental. E aí não é. Eu choro, mas mesmo assim detesto as cenas que você amou e choro justamente na parte que você não prestou atenção. A parte que você não prestou atenção era a essência do que era eu, mas eu nem me surpreende porque você não presta mesmo atenção em mim e mesmo assim me conhece mais do que eu imagino saber.

Eu estou bêbada, essa sacada minúscula. Essa fumaça inundando todo o cubículo em que não cabe ninguém, eu aperto quando é você e eu, mas hoje eu me basto. Eu, as minhas taças de vinho barato, a fumaça do cigarro fazendo uns desenhos interessantes no céu escuro enquanto eu dou minhas baforadas e pareço uma dessas alternativóides que gostam de meninas e meninos e que usam franja, essa dor de cabeça e você dentro dela. Eu te desejo todas as coisas boas, você até deve saber disso e se eu soubesse melhor o que eu estou pensando eu te contaria amanhã logo que eu acordasse e resolvesse te ligar, como já é costume. Mas não, eu nem vou saber o que eu fiz essa noite e vou acabar dizendo mesmo que eu conheci uma música nova de uma banda que eu odiei, mas eu vou dizer que é legal só porque eu tenho certeza que você ia gostar.

Alguém me olhando de longe, um maço de cigarros acabado, uma garrafa de vinho também, agora só uma taça vazia e quente, meias sujas, frio sem blusa e pensamentos percorrendo você chamaria isso de amor. Eu chamo de qualquer-sentimento-e-ou-relação-se-é-que-se-chama-relação-dependente, ou eu nem sei que nome eu dou. Sei que a minha cabeça dói, meu hálito tem gosto de cigarro com menta – quem inventou essas babaquices? – e minha ressaca começou agora por causa desse vinho que você me ensinou a tomar. Mas dói mais ainda pelas coisas que você me ensinou a ser e mais ainda por saber que uma eu-sem-você ia ser completamente mais vazia do que essa que se embebeda e fuma enquanto ouve esse maná-música-de-novela-ja-no-puedo-compartir-tus-labios sem saber muito bem o que é compartir, mas sabendo que tem alguma coisa essa coisa de no compartir a ver com o que eu chamaria de nós se soubesse e se pudesse ser, mas que vai ser sempre você e eu.

23.5.08

os cegos do castelo.

Os cegos do castelo.



Não, não foi um grande livro de algum escritor famoso, ou uma música de algum intelectual muito esperto que me fez tomar a decisão de rever meus conceitos todos. Foi essa música, nando reis e seus titãs que me fizeram enxergar tudo claramente. Numa tarde de feriado em que nada mais fazia sentido, ela se elucidou na minha cabeça e me mostrou tudo que eu ainda não tinha visto.



[Eu não quero mais mentir. Usar espinhos que só causam dor]

- Eu não quero mais mentir, eu não quero mais fingir. não quero mais ficar me desgastando pra mostrar ser o que eu não sou. Não quero me machucar por isso nem machucar os outros com as farpas que eu solto. Eu não quero me machucar por mim mesma. não quero ser o que eu não sou pra agradar os outros, não quero mudar o que penso alguns minutos antes de falar por causa da minha reputação. não quero guardar nada. . não quero ser ríspida por estar me sentindo mal comigo mesma. não quero mais soltar espinhos. não quero mais esbarrar neles. não quero mais viver sendo um projeto mal acabado de mim mesma.

[eu não enxergo mais o inferno que me atraiu]

Eu não quero ficar envolta naquele inferno em que eu estava. não quero mais ficar presa a algo que não sou eu. não quero ficar me escondendo entre noites solitárias e choros ocasionais. Não quero mais ser essa pessoa obscura. estou cansada de ser uma sombra. estou cansada desse inferno de noites mal dormidas e pensamentos que me atormentam. eu não quero mais isso. eu não enxergo mais esse inferno.

[ dos cegos do castelo me despeço e vou.]

Disso tudo, dessas coisas ruins todas. Dessas pessoas que me fazem mal. Das pessoas para as quais eu tenho que fingir. das situações que eu só suporto por supostamente ter que suportar. dos falsos sorrisos, das minhas próprias hipocrisias. dos outros hipócritas, das amizades de fachada. das pessoas que me enxergam por cima e não por dentro, desse buraco todo em que tudo que eu enxergava era escuridão e de tudo o que me deixou assim, eu me despeço.

[ a pé até encontrar, um caminho, um lugar, pro que eu sou.]

Vou a pé, devagar, aos poucos. até encontrar um caminho em que tudo pareça mais certo e verdadeiro. vou numa busca para encontrar um lugar onde eu possa ser eu mesma sem me esconder. sem me preocupar. vou andando por aí, sem compromisso em busca de coisas boas e sentimentos verdadeiros. vou sem nada no bolso ou nas mãos, como diria a música do caetano, sem muita pressa em busca de um lugar onde eu me sinta parte; de pessoas que realmente se importem. de um lugar onde eu possa ser eu mesma e nada mais. de um lugar que me faça sentir eu mesma, em essencia. sem etiquetas socias, sem educações bobas. eu mesma, feliz, triste. mas eu.

[ eu não quero mais dormir]

Eu não quero mais ter que esquecer de nada. Não quero mais preferir dormir do que viver. Não espero mais estar alheia enquanto a vida passa. não quero mais preferetir um mundo de sonhos porque a realidade se mostra fria. não espero mais estar dormindo enquanto tudo a minha volta acontece.

[ de olhos abertos me esquenta o sol.]

Porque de olhos abertos eu posso ver tudo. de olhos abertos eu vivo, e não me escondo. as coisas não passam enqaunto eu tento me esconder porque estou achando tudo uma porcaria. de olhos abertos eu sinto calor e frio. de olhos abertos eu vivo.

[ eu não espero que um revólver venha a explodir]

eu já não prefiro morrer do que estar viva. eu já não prefiro largar tudo porque tudo se mostra cinza e completamente sem sentido. eu escolho não desistir e continuar tentando. não por simples esperança idiota e clichê, mas porque não vale a pena. Eu não espero um revólver na minha testa. eu espero anos e anos a partir de hoje. talvez anos estranhos, talvez algumas coisas desagradáveis. mas eu já não penso em desistir de tudo.

[ na minha testa se anunciou. a pé, a fé devagar foge o destino do azar que restou. ]

Porque eu percebi que tudo isso não valia a pena. lá estava eu me matando pelos outros. me anulando, fazendo um esforço tremendo pra agradar e entrando num caminho obscuro e estranho. me matando com meus próprios pensamentos, vivendo num mundo em que viver dentro de mim era praticamente um esforço. é claro que não vai ser fácil, mas devagar, andando de frente, com aquela esperança que a gente sempre acaba tendo numa ponta ou outra de você, por mais cética que se seja. não é aquela baboseira de ' quem acredita sempre alcança.' mas são atitudes que você sabe que farão o seu destino, esse que você escreve dia-a-dia, pelo menos tentar fugir dessa coisa de azar, desse troço estúpido de ficar achando que vai ser sempre azar e azar. alguma ponta de pessimismo sempre resta. alguma coisa em mim vai sempre achar que eu posso estragar tudo, ainda. afinal foram anos estragando tudo. mas caminhando a pé, londrina debaixo dos pés, a vida ai por aocntecer, mil coisas boas, vou tentando fugir do azar que me resta. caminhando, cantando e seguindo a canção.

[ e se você puder me olhar ]

e se você puder prestar atenção em mim. não nessa que eu costumava aparentar. não nesse personagem estúpido. não nessa que você quer que eu seja. mas se você puder me olhar, por dentro, de verdade. fazer um esforço pra enxergar as coisas que ninguém quis. se você tentar entender meus comportamentos antes de me julgar. se você simplesmente aceitar.

[ se você quiser me achar ]

se você fizer um esforço pra me encontrar mesmo nas vezes que eu me escondo. se você tentar me entender nas entrelinhas. nas coisas que eu não falo, mas sinto. nos meus pequenos gestos, nas minhas tentativas muitas vezes frustradas de mostrar o quanto eu me importo. eu estarei aqui.

[ e se você trouxer o seu lar ]

E se alem de tudo isso, você trouxer com você todas as coisas que você é, pra que eu possa te conhecer de verdade. todas os comportamentos muitas vezes estranhos. os segredos que a gente não conta. todas as linhas. as coisas que você gosta e detesta. as coisas com que você mais se importa. as coisas mais importantes pra você; seus pequenos valores. sem se importar se os outros dão a mesma importância pra tudo isso. só trazer, só mostrar.

[ eu vou cuidar, eu cuidarei dele. eu vou cuidar do seu jardim ]

eu prometo que eu cuido de você também. que eu te ajudo quando você precisar, e quando~não precisar também. que eu estarei aí, ora todas as coisas, e não só pras boas como todo mundo costuma fazer. eu estarei do seu lado pra caminhar sem rumo, ou pra aquele problema sério. pras coisas mais simples e pras mais complexas. pras suas supostas idiotices. eu cuido de você, e do seu jardim.

[ Eu cuidarei do seu jantar ]

e não só cuidar, eu ainda farei todo o esforço para que você permaneça bem. não só psicológicamente, mas eu também prestarei atenção nas pequenas coisas, como se você está se alimentando direito. eu me preocuparei com você em todos os aspectos, e eu te faço o jantar quando você estiver com fome.

[ do céu e do mar ]

mas não só das suas coisas, ou das minhas. eu também continuarei me preocupando com um mundo. com o lugar ao nosso redor, com céu, com o mar, com todas as coisas que não são minhas, mas fazem parte do meu mundo. eu ainda continuarei cuidando do mundo, porque essa sempre foi a minha função. porque eu não sei viver de outra maneira, porque eu tenho que me preocupar com o que está a minha volta também. as outras pessoas, o mundo em que a gente vive. eu ainda faço um esforço pra que um dia tudo isso melhore.

[ e de você e de mim ]

e acima de tudo, eu cuidarei de mim, pra que tudo continue no lugar certo, para que os cegos do castelo não me encontrem mais. para que eu não sinta mais vontade de dormir. para que eu queira que o sol continue me esquentando e não espere que revólver nenhum venha a explodir. para continuar caminhando devagar a procura de todas as coisas que eu necessito. e principalmente esperando as pessoas pra quem eu possa me mostrar de verdade, ser transparente e não precisar mais fingir, ou usar meus espinhos já tão amigos há tanto tempo; eu cuidarei de mim para que eu continue bem. e acima de tudo, eu cuidarei de todas as pessoas que estão comigo na minha vida, que fizeram um esforço pra me olhar de frente, pra me achar mesmo quando eu estava perdida e me confiaram também o jardim delas pra que eu cuide, assim como eu confiei o meu jardim a elas. delas eu cuidarei, e farei o jantar, enquanto a gente discute sobre o mundo, o céu, o mar e coisas mais desimportantes.


dos cegos do castelo - de toda a a depressão, incompreensão, pessoas insensíveis, relações de interesse, dias calada, gente que não te ouve, gente que só finge se importar, desrespeito de opinião, farpas que me machucam e relações superficiais -me despeço definitivamente e vou a pé até encontrar um caminho e um lugar pro que eu sou, e caso alguem realmente resolva me olhar, não superficialmente, mas para me entender e resolva também se abrir eu prometo cuidar do jardim, do jantar e de você e de mim. Pra que o jardim floresça, pra que a gente continue vivo e para que a relação - amizade, amor - não morra. nunca.

22.5.08

madrugadas e decisões.

"...Mas eu precisava romper com algo. São quase vinte anos sendo polida, alegre, simpática. São quase vinte anos fazendo o social e me matando por dentro. Estou tentando ser verdadeira em cada linhazinha de mim mesma. em cada vírgula tem um pouco de tudo o que eu tenho vontade. Esse vazio... sabe, essa coisa de acordar todos os dias as sete da manhã, meio atrasada, corre pra pegar o onibus, ouve mp3, vê as mesmas pessoas e nunca fala do que realmente importa me enjoou. Você tá maluca, menina? Maluca, estressada, chateada, emo, chamem com o nome que quiser. Eu estou dizendo que eu estou sendo verdadeira..."

E não. eu não quero uma verdade inventada. inverto a frase da clarice que eu sempre usei. agora, eu só quero viver do que é passível de fazer sentido. pelo menos pra mim.

21.5.08

Adeus.

Mãe,

Eu só to escrevendo pra você porque você é a unica pessoa que vai verdadeiramente sentir a minha falta depois disso. Eu só to escrevendo pra você porque você é a unica que me olha nos olhos enquanto eu falo e que realmente se preocupa com meu bem estar. A você, eu devo satisfações. Aos outros, eu creio que não seja necessário. A única coisa que eu quero que eles saibam é que se eu tomei essa decisão é porque eu não os aguentava mais.

é uma merda de mundo, sabe mãe? quando a gente nasce acha que vai ser diferente e tudo mais. mas sinceramente, eu perdi minhas esperanças. não tem mais jeito dessa coisa melhorar. eu sei que voce vive me dizendo que eu tenho que acreditar e tudo mais, mas hoje eu não aguento mais. mesmo. onde estão as pessoas legais? elas estão escondidas e não aparecem. ninguem que eu conheça me entende, e sinceramente, eu estou cansada de viver sozinha.

eu sei muito bem que eu pareço uma menina forte e decidida, mas você sabe, mãe, que eu não sou nada disso. eu sou tão fragil quanto todo mundo e eu acabo sempre chorando no seu colo no fim das contas. acontece que eu cansei de chorar. eu cansei de não ter colo. eu cansei de segurar as minhas lágrimas atrás desse pouco de pedra bem resolvido. eu cansei de ser sensata, de ser bonita, de ser simpática. eu cansei. e como vocês nunca mais vão me ver, eu me reservo ao direito de dizer tudo que eu tenho pra te dizer. porque eu não vou ficar segurando coisas pra pessoas que não vão poder mais nem reclamar comigopor medo de magoá-las. elas já me magoaram até a boca. eu acho que eu tenho direito de vomitar nelas tudo o que elas fizeram comigo.

O primeiro de tudo, vocês não fazem o mínimo esforço pra tentar me entender. Vocês estão sempre vivendo a merda das vidas de vocês enquanto eu estou tendo ' crises.' afinal, eu tenho essa mania de ser dramática. muito bem, vou apresentar meu drama pra vocês e ele se chama tristeza. sabe? vocês sabem muito bem o dia em que eu precisava conversar. vocês não fazem esforço nenhum pra entender os meus problemas e sinceramente vocês realmente esperam que eu pare de reclamar. eu vou parar. vocês nem sabem, mas eu já parei.

Eu sou uma loser. Pelo amor de Deus, alguem acredita realmente nessa coisa de eu ser essa menina-modelo? hein? alguem realmente acha que eu feliz simplesmente por ser inteligente e ter uma familia legal? vocês realmente acham. Vocês acham que eu reclamo de boca cheia e faço drama demais. Vocês acham que eu fico querendo chamar a atenção o tempo todo. Vocês acham que eu sou forte o suficiente pra lidar com tudo sozinha. Surpreesaa! eu não sou. e se vocês fizessem o mínimo de esforço pra me conhecer saberiam bem disso.

As pessoas que me conhecem - e por favor, não é pra voces que eu estou escrevendo isso - sabem que em cada resposta ríspida há simplesmente uma menina muito machucada que depois de tantos e tantos baldes de água fria resolveu se fechar. a garota que vocês enxergam é a garota que vocês querem ver. A garota pro baixo das risadas altas e das roupas pretas não consegue mais nem olhar no espelho. A garota que vocês não enxergam está a ponto de bater em vocês, um por um. A garota que vocês não veem está surtando baixo pra não fazer barulho.

Eu não sou forte, não sou má, não sou grossa e muito menos seca. eu não sou nada disso. olhem um pouquinho mais e vocês percebem. eu sou uma idiota clamando por atenção o tempo todo. e vocês, vocês são as pessoas passando reto. Acontece que eu cansei. eu cansei disso. e eu estou falando tudo isso antes que seja pior. Eu não odeio vocês, muito pelo contrário. eu gosto muito. mas são incompreensões diárias que fazem com que um dia você resolva simplesmente botar tudo pra fora; essa carne que vocês vêem passendo por aí tem uma coisa que se chama sentimento. eu pareço uma pedra, mas eu sou gente. e eu me preocupo muito mais do que vocês possam imaginar.

Isso é uma carta de desabafo. é uma carta de despedida, mãe. eu sei que você me ama, mas pra mim chega. pra mim chega de manhãs perdidas. de noites mal dormidas. de dias como esses em que todos os meus sentimentos feios transparecem. chega de conversas idiotas. chega de gente com clichê de auto-ajuda, chega de conversas superficiais. eu estou dizendo CHEGA sim, em letras maísculas e eu bem que gritaria se não fosse tão covarde.

Eu estou dizendo que eu cansei. cansei das pessoas a minha volta. cansei de tudo, salvo raras exceções e acima de tudo cansei de ser uma loser escondida numa capa de menina forte. agora eu quero ser uma loser-loser, uma loser clichê que faz merda atrás de merda e perde amigos, mas que pelo menos nao se corta por dentro. isso é um grito. o grito que eu nunca dou porque minha voz é abafada. isso quer dizer que eu enjoei. enjoei das pessoas, enjoei de tudo.

eu estou enjoada e estou vomitando tudo em vocês.
Obrigada, eu me sinto mais leve.

Mãe, eu te escrevi pra dizer que estou indo embora.
Indo embora das minhas convicções, da minha vida medíocre e da mania de esconder o que eu sinto. indo embora das pessoas que não me entendem. indo embora da minha sensatez, das minhas palavras bem medidas, da minha polidez. estou rompendo com tudo que me faz mal. estou fazendo isso pra que eu me sinta bem, porque eu passei vinte anos pensando nos outros. Mãe, estou te escrevendo pra dizer que aquela letícia que você conhceu morre aqui. e que talvez eu mude meu apelido de lê, pra leti que parece ser uma coisa menos estúpida.

Eu cansei de ser estúpida, cansei de sangrar por dentro, e cansei deles, mãe.
Hoje é o dia em que eu grito chego e em que a leticia morre.

Isso é uma carta de suícidio sim, mãe. como você suspeitava. Eu acabo de me matar.

Pra que renasça outra e que essa outra viva e não se esconda, fale e não se cale, seja e não pareça. eu acabo de me matar pra viver.

Isso é uma carta de Adeus. A velha letícia não existe mais.
é dia 22 de maio e eu estou renascendo.

Acharam mesmo que eu ia me matar?
eu NUNCA me mataria por vocês.
Uma coisa a letícia morta e a nova tem em comum. elas tem a certeza absoluta de que vocês não valem a pena.

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ps. A letícia não sou eu.
(y)

18.5.08

Visões de cima.

( essa postagem merecia a foto ilustrativa. Londrina da sacada de casa, por mim )


É porque às vezes você se enjoa dos clichês. E hoje sou só eu e eu mesma no meu espaço de quatro metros quadrados ou menos numa quarta feira fria e chuvosa.

Não é sobre estar aqui, e nem são somente as luzes da cidade a me entorpecer e a calmaria de ver tudo de cima. Desde os carros parecendo de brinquedo aos prédios e casas não sendo mais que pequenas luzes ao longe cortando o horizonte. As pessoas daqui onde estou, quando visíveis, não passam de formiguinhas. Insignificantes ante a imensidão do céu, a vastidão do horizonte, dentro de seu mundo particular que não posso mais do que imaginar qual é, já que daqui de cima – e algum crédito dado a minha miopia- não se pode dizer com certeza nem qual é a cor de seus cabelos. Imagina-se por algum trejeito ao andar e as cores das suas roupas, se são homens ou mulheres, se estão com pressa ou se não se preocupam com a hora de chegar.

É noite, as luzes do mercado já se apagaram – sinal de que já se passa das dez – e o movimento da cidade é bem menor do que o de horas atrás. É quase possível sentir um certo silêncio, um passarinho cantando e o ruído quase irritante de uma cigarra. A cidade de noite é cheia de esquinas escuras e medos escondidos entre ruas e passos rápidos. A cidade de noite é silêncio e mistério e o barulho de carros à caminho de casa, de diversão ou de coisa alguma. Talvez seja possível que uma dessas pessoas dentro desses carros esteja andando sem rumo pela cidade. Desbravando ruas escuras a procura de despistar as tortuosas esquinas do pensamento, com ou sem sucesso. Não é impossível que um desses carros encontre a morte num poste depois de uma desatenção e dois segundos de erro na virada do volante. É impossível saber. As coisas de cima são mais calmas e amplas. A cidade de cima é só suposição e um olho que tudo vê e quase nada enxerga. A cidade de cima são pontos luminosos ao longe, carros passando rumo a lugares que não sei dizer e pessoas que mal posso enxergar. A cidade de cima é a tela em branco para tudo o que eu quiser enxergar, é minha imensidão porque tudo parece demasiado pequenino e prédios são menores que a palma da minha mão.

A cidade daqui são ruas vazias e um emaranhado de pontos luminosos onde jazem vidas. Vidas de pessoas que nunca vi e talvez nunca veja. Vidas de pessoas que desconheço. Universos particulares como o meu, nunca inteiramente explorados por ninguém, nem por elas mesmas. A cidade de cima é um mistério. É a complexidade que meus olhos andando de um lado pro outro não consegue capturar. É a constatação que o mundo lá embaixo é vasto, rápido, misterioso e absurdamente complexo. Daqui de cima quase tudo enxergo e nada sei. Nada sei sobre a pessoa que está no carro branco a minha frente e nada sei sobre aquela outra que atravessava a rua a alguns instantes e agora mal posso ver. Não sei o que passa nas suas mentes, pra onde vão, quantos anos tem e nem mesmo o que aconteceu com elas depois que se perderam do meu campo de visão.

A cidade de cima passa muito rápido. Desvio os olhos para escrever no papel e já é uma nova cena. Assim com tudo. não sou a mesma da última frase. E a cidade não é a mesma de milésimos de segundos atrás. É tudo demasiado imenso, demasiado rápido, demasiado complexo para que não se transforme. Nada posso capturar, apenas observar o quadro mutável da cidade que aparece embaixo dos meus olhos – pequenina, porém imensa. Observo um filme sem personagens fixos, sem história, sem roteiro definido. Tudo que tenho é o que imagino, longe do chão, há metros de altura da cidade ali embaixo, mas ainda assim, dentro dela.

Pareço enorme aqui de cima, cubro a cidade que enxergo com a minha mão. Mas lá embaixo sou mais uma daquelas pessoas pequeninas que não consigo nem distinguir a cor do cabelo.

Sou um olho a observar a cidade, uma mão a lhe escrever uma história. Sou pequena ante o céu sobre mim, imenso, azul, guardando a cidade a girar.

A cidade que observo e escrevo. Mas que continuará a seguir seu caminho depois que eu for embora, ou que pare com a caneta. Podem mudar seus personagens, suas cores, seus motivos. Mas ela continuará. Imensa, complexa, rápida e viva.

Infinitamente.

16.5.08

Lies.

"Everytime I try to talk to youI get tongue-tied.
Turns out that everything I say to you, comes out wrong and never comes out right..."

É uma noite de nostalgias e presentes. passado e momentos. certezas e dúvidas. é uma noite cheia de paradoxos em que a uma da manhã eu resolvo escutar o oasis sem saber e entrar em catárse. em catárse de todas as coisas que podiam ser e não foram. de todas as coisas que deveriam ter sido e assim aconteceram.

encontro com meu passado, encontro comigo mesma. encontro com o mais expôntaneo de mim. minha parte que chora e ri sem pudor nenhum. a parte de mim que morria de amores e fazia besteiras. a parte de mim que não tinha crescido nem endurecido como isso que a gente vê agora. a parte de mim não intelectualizada que ri demais e alto. a parte de mim que não se importava muito com o que os outros pensavam ou deixavam de pensar. a parte de mim que era, e não existia.

hoje eu vivo embaixo de um monte de camadas. você olha pra mim e provavelmente vê um monte de coisas que eu sou. a imagem de uma menina decidida. a imagem de uma menina absurdamente inteligente. a imagem de uma menina independente. isso são só imagens, farsas, pequenas mentiras. a pessoa que eu deveria ser está muito perdida em algum lugar que mesmo que meus braços fossem enormes eu não consegueria puxar de volta. eu não sei nem quando, nem como mas eu virei uma mentira.

uma mentira. um pedaço de carne, um pedaço de pedra. eu vou empurrando as coisas com a barriga e tenho muito medo de falar o que realmente importa. tenho medo de tocar em assuntos que podem sucitar feridas, tenho medo de decisões sérias. tenho medo do que sinto e tenho medo do que não sinto também. escondo o que posso vir a sentir. me mostro atrás de uma carapaça dura e impenetrável. eu pareço distante. eu pareço só observar mas eu sinto.

sinto pungentemente como se sentem as coisas mais duras e simples. eu caio como todo mundo cai e me machuco tão facilmente quanto. eu espero alguem com os braços abertos pra me pegar depois da queda e um ombro pra encostar no cansaço. eu espero por alguem que me pergunte se eu não quero um café. eu espero abraços em dias frios, mãos grudadas, conversas que valham a tarde e besteiras como todo mundo.

eu não sou nem tão forte, nem tão fria e nem tão decidida quanto pareço ser.
eu só sou uma pessoa que se perdeu em aparências idiotas e não admissões das coisas importantes.

eu aprendi a só falar do que não importa.
Mas é reversível.

Você ainda pode tentar me conhecer. E eu ainda posso tentar não demonstrar um falso desprezo a esconder os meus melhores sentimentos de apreço e preocupação. tentando não usar meus insultos enquanto, na verdade tento desesperadamente mostrar o quanto eu te considero na minha vida.

13.5.08

whatever

Era a sacada, o filme, o livro ou as coisas todas, mas o fato é que eu queria ter você pra mim. E nem era só quando nossos olhos se encontravam ou quando eu ficava com muita raiva pelas coisas que você me dizia brincando. Era sempre. Era principalmente quando você não estava nem ali. Era principalmente quando você não estava ao alcance dos olhos. Mas era quando estava também. Era uma coisa arrebatadora e ridícula que eu desligaria com um simples apertar de botão se eu pudesse.



trecho de alguma coisa, escrita em parte alguma, achado nas folhas perdidas de meu caderno do ursinho puff entre uma poesia ruim e outra. coisas que não fazem muito sentido me arrebatam bem de madrugada. e isso é só um trecho de uma coisa que eu poderia passar sem postar, mas nao vou.

8.5.08

podres!

Você é podre. Grande coisa, eu também sou. Somos todos podres, somos todos humanos, somos todos uns animais, farinha do mesmo saco.

Você é podre sim. E eu só estou falando isso porque eu também sou. E eu também sendo tenho todo o direito de falar. Tenho todo direito de te mostrar que a gente é podre.

Você está aí com suas roupinhas bonitas, seu rosto bem maquiado, seu banho tomado e seus livros. Isso não faz de você uma pessoa boa. Você é podre como eu, e eu sou podre como você.

Dentro de você jazem sentimentos mesquinhos. Você parece ser um modelo de pessoa, você vive dentro das etiquetas sociais impostas. Tem uma porção de coisas que escondem sua podridão, mas o fato é que você é bem podre. Você também se preocupa só com você mesmo, você fica julgando os outros como se eles fossem muito piores que você. No entanto, eles são simplesmente tão podres quanto você.

Quando não tem ninguém observando você é ciumento, você desejaria que pessoas sumissem da sua vida. Você sorri pra pessoas que você não gosta, só pra ser simpático e não fala na cara das pessoas o que você acha delas. Você finge gostar de todas as pessoas que você não suporta e finge não se importar com as pessoas que ama. Você tenta ser legal com seu chefe, com seu professor, é simpático com todas as pessoas que você encontra no elevador porque não pode se passar por uma pessoa mal-educada. Mas aí você chega em casa e é ríspido com sua mulher, ou trata mal a sua mãe. Você sempre arruma um jeito de sobressair sobre seus amigos, de parecer o mais descolado, o mais legal, o mais engraçado, o mais extrovertido e o mais bonito. Mas você sabe que detesta usar essas calças que apertam, essas suas camisetas coloridas, esses seu tênis que te custam metade do seu salário. Você odeia aquele cara com quem você divide a sua sala e a mania ridícula dele de fazer aquelas perguntas idiotas, mas pra não parecer rabugento você ri das piadas dele, quando no fundo quer bater nele com a primeira coisa que você vir pela frente.

Você não gosta de dar o seu lugar pra aquela velhinha que entra no ônibus. E aquele dia que você disse que não percebeu que ela não tinha entrado, era mentira. Você viu sim, mas disse pra você mesmo que estava cansado e fingiu estar distraído demais olhando pra janela. Você se enganou. Só pra não mostrar pra você mesmo que você é mais podre do aquele menino que disse que não ia levantar. Ele foi sincero, você só disfarçou sua podridão. Mas tudo bem, todo mundo faz isso. Podridão a gente não mostra, a gente disfarça.

Você fica desconfortável perto de pessoas gordas, você repara o quanto elas estão comendo e pensa com você mesmo que elas deviam fazer uma dieta para embelezar o mundo. Você olha torto pra todo mundo que não segue aos mesmos padrões que o seu, mas você fala nos jantares com seus amigos que é um absurdo essas pessoas preconceituosas. Quando antes de chegar lá, você desviou de um negro que estava passando do outro lado da rua por medo. Mas você disfarçou de novo sua podridão falando pra você mesmo que nesse mundo de hoje a gente tem que ser prevenido. Isso não é prevenção, é preconceito.

Aquele garoto meio gay que estuda com você... Você não gosta dele. Você sai com ele para parecer descolado e porque todo mundo está indo nos barezinhos da moda ser bissexual e beber vodka com suco de laranja enquanto fuma um cigarro e ouve alguma banda estrangeira que a MTV disse que era boa. Você não gosta dele, tem nojo, sim essa é a palavra, nojo dos bissexuais, veados, é isso que você acha deles, veados e odeia aquela barulheira que eles teimam em chamar de música. Mas você não pode ter preconceitos. Você não é podre. Você é mente aberta. Quem tem preconceitos são os outros. Você é descolado.

Pra falar bem a verdade você não gosta de economizar água. Você adora seus banhos demorados uma hora. Você não economiza água quando está sozinho. Você só recicla lixo porque senão você leva multa, porque na verdade você está pouco se lixando que as pessoas daqui a cem anos não vão ter mais mundo. Você nem vai estar vivo até lá. Você não quer ter filho porque crianças são irritantes e feias. Você joga lixo na rua quando os olhos dos outros não te observam, mas se você estiver caminhando com um amigo e vir alguém fazer isso você chama de “irresponsabilidade social". Você é hipócrita. Mas é melhor ser hipócrita do que ter “irresponsabilidade social". Pelo menos na frente dos outros.

Você vive dando desculpas. Você dá desculpas por ter atrasado, quando na verdade você nem queria ir. Você inventa desculpas por não ter ido ao aniversário daquele seu amigo, quando na verdade ficou em casa de pantufas porque você odeia ele. Você desviou daquele seu conhecido, mas disse pra ele que você estava distraído. Você matou aula e disse pra sua mãe que estava doente. Você disse pra sua namorada que estava com dor de cabeça e por isso não foi encontrá-la, mas na verdade é só porque você não suportava mais olhar pra cara dela. Você derrubou coca naquele seu amigo e achou muito bom, mas você disse que não tinha percebido. Você riu daquela menina que caiu na rua, mas você disfarçou de deu a mão pra ela. Isso são pequenas mentiras! Sim, mentiras. Você não fala mais com aquele seu amigo que mentiu porque você odeia desonestidade. Mas você mente todos os dias, todas as horas.

Você usa carteirinha falsa de estudante. Você roubou doces daquela loja quando ninguém estava olhando. Aquela menina te devolveu dois reais a mais de troco e você fingiu que não viu. Você percebeu muito bem que tinha sido o cara da sua frente que derrubou aqueles cinco reais, mas você fingiu que não viu e pegou pra você. Você tem um gato de internet do seu vizinho e o ponto adicional da sua teve a cabo você simplesmente puxou. Você não está roubando, você está sendo esperto. Todo mundo faz isso e você não quer parecer trouxa. Você reclama dos políticos na mesa do bar, você meteu a boca no mensalão e você é um dos primeiros a esbravejar dizendo que deveriam tirar aquele presidente do poder. Você é tão podre quanto eles, essas pequenas coisas que você faz são pequenos roubos. Em escala pequena, claro. Mas são. Quem sabe se você estivesse no lugar dos políticos que você tanto fala mal você não faria a mesma coisa? Você não estaria roubando, você estaria sendo esperto. Todo mundo faz isso, não é?

Ontem você fechou o vidro na cara de uma menina que estava pedindo, dizendo que você não tinha dinheiro. Você estava cheio de moedas no seu porta-luvas que provavelmente você vai gastar em alguma porcaria porque você odeia carregar moedas. Mas você disse pra você mesmo que não estava ajudando porque não quer contribuir com a exploração de menores. É mentira, você ta pouco se lixando pra esses meninos que estão pedindo por aí. Você tem nojo deles. Eles são sujos, eles cheiram mal e eles ficam te incomodando. Além do mais, eles querem o seu dinheiro. O dinheiro que você vai usar pra comprar um carro com vidros elétricos que vai fechar na cara deles e pra comprar um condomínio fechado pra ficar longe dessa gente feia que emporcalha a cidade. Você ajuda uma instituição de caridade todo mês botando um dinheiro na conta deles. É porque você tem responsabilidade social e se preocupa com os outros. Mentira. Você quer é se livrar da culpa. Se você tivesse que ir lá passar uma tarde com eles, você não iria. Você nem dá comida pras pessoas que vem pedir na sua casa porque eles são um bando de vagabundos. Você sabe que você não suporta essa gente pobre e feia. Mas você não admite e dá sua ajuda mensal. Você é podre. Mas não é só você. Ta todo mundo fazendo essas podridões pra esconder esse monte de coisa feia que pensa. Porque admitir essas coisas é mostrar que é podre. E todo mundo quer mostrar que é bonitinho pra aparecer na coluna social.

Você não se preocupa com política. Você até discute com esses seus amigos que acham que é importante e você não quer parecer um burro alienado. Na verdade, você só se preocupa com o que te afeta. E sinceramente eles ainda não estão te afetando. Eles estão lá roubando dinheiro que vai pra escola e hospital pra tratar dessa gente pobre que você preferiria que sumisse. Você tem dinheiro pra pagar um plano de saúde, ou seus pais pagam pra você e você estudou em escola particular a vida inteira e seus filhos vão ter a mesma condição. Então, sinceramente o que te importa o que eles fazem? Seu bolso continua do mesmo jeito. O único problema é essa coisa de segurança, porque eles, esses pobres marginais, ficam querendo roubar tudo que você “lutou tanto” pra conseguir. Você não liga que eles morram em ataque policial, em rebelião na FEBEM, que se dane. Um a mais, um a menos... Aliás, bem melhor um a menos porque essa gente tinha mesmo é que morrer. Você quer mesmo que todos eles se fodam. Porque eles são todos uns marginais, vagabundos e merecem morrer. Pode admitir, você não liga. E tá tudo bem. Metade dos seus amigos, bem mais da metade deles pensam da mesma maneira. Eles até falam disso fingindo que é brincadeira. Porque isso é o tipo de coisa feia de se admitir que pensa. Então eles disfarçam. Eles estão sempre disfarçando. Você também. Somos todos uns podres, mas a gente disfarça tão bem que a gente até parece bonzinho. E o que importa não é parecer?

A menina famosa da revista parece ser feliz quando na verdade é cheia de problemas. Aquele casal bonito que você viu no jornal parece ser feliz, quando na verdade o marido tem uma amante e a mulher vive na terapia. Aquela menina que senta do seu lado na faculdade parece descolada, mas na verdade ela só bebe porque odeia a própria vida. Aquela outra parece feliz “pegando” todos os meninos que vê pela frente, mas ela só queria ter alguém que realmente gostasse dela de verdade. Aquele garoto rico que você conheceu ontem parece ter uma vida maravilhosa, mas ele só tem tudo aquilo porque os pais dele acham que falta de amor se supre com dinheiro. Aquela mulher que você morreu de inveja na loja ontem porque comprou um monte de coisas parece realizada, mas na verdade ela só comprou tudo aquilo pra ver se escapa um pouco da solidão que ela sente há tempos. E a fica assim, todo mundo parecendo porque admitir que é podre é inadmissível. Você não pode falar que agüenta tal pessoa por educação, que odeia barulho de criança, que não tá nem aí pro meio ambiente, que não se preocupa com política, que preferiria que os bandidos todos morressem, que os mendigos sumissem, que aquela sua amiga fosse embora porque você detesta ela. Você não pode falar a verdade, nem o que realmente importa. Você é podre, mas fica fingindo que é bom. É o que chamam de etiqueta social. Tá todo mundo fazendo isso, vivendo suas vidas como personagens bem-interpretados e bonzinhos quando na verdade todo mundo é mais podre do que imagina. E todo mundo é podre igual.

Você só se preocupa com você, usa as pessoas quando elas são convenientes, não se indispõe com gente que você odeia porque elas podem ser úteis ainda. Você não termina com sua namorada por medo de ficar sozinho e você não admite que ama ninguém por medo de parecer ridículo. Você até comprou um cachorro pra enganar a solidão da sua casa e pra se eximir da culpa de não gostar e nem cuidar de ninguém verdadeiramente. Você é podre. Podre. Podre como todas as pessoas que você julga. Podre porque você fala mal delas quando na verdade só está com dor de cotovelo porque não conseguiu ter coragem pra falar e fazer aquelas coisas podres que ela faz. Você finge se escandalizar, mas você é tão podre quanto.

Mas tudo bem, estamos todos vivendo, superficiais, bonitinhos, bonzinhos, com nossos carros legais, nossos casamentos de fachada, nossas amizades de interesse, nossas opiniões razoáveis. Somos ponderados, razoáveis, educados, polidos, simpáticos e sociáveis. É o que chamam de convivência, de educação, de etiqueta, de sociabilidade... Como você quiser. Não é. É podridão.

E podridão disfarçada debaixo de caras bonitinhas, vozes de veludo, roupas bem cortadas e sorrisos amarelos. O que é muito, muito pior.

Mas é o mundo, você tem que se adequar. Sorria, esconda sua podridão debaixo do tapete como todo mundo e viva sem dizer a verdade pro resto da vida. Pode ser hipócrita, ridículo, feio, mesquinho. Mas não parece. É podre. Mas não parece.

E se não parece, não é. Aparência é tudo. Porque ser podre de fato nesse mundo, é mostrar o que é.

Todo o resto é completamente relevável.

4.5.08

carta ao velho amor.

Meu amor, eu te chamando de meu amor e já faz dois anos desde que a gente não é mais nada. Mas são as coisas que acontecem às três horas da tarde de uma quinta feira sem sol. As nossas músicas continuam no meu computador e eu me deparei com algumas fotos que eu acabei não apagando. Não sei se por covardia, se pro esquecimento ou se por simples vontade de não querer que você sumisse por completo da minha memória e das minhas lembranças. Impossível você sumir, pela metade e principalmente por completo. Você já foi muito importante na minha vida e hoje o que eu sinto é a saudade mais bonita. A saudade de você nos meus braços, a saudade do tempo em que nós éramos um só. Saudade de cada momento bom, de casa riso seu. Saudades até das coisas que eu não suportava em você, como a mania de me obrigar a ver os filmes que eu não gostava, de ir aos lugares que eu não queria muito e de ouvir umas coisas que eu nunca teria descoberto sozinho, só pra te agradar.

Agora eu não sei como você anda, faz tanto tempo. Parece que foi ontem, mas faz muito tempo. Eu não sei se você continua preferindo tomar sprite, se ainda gosta de ir naquela lanchonete, e se ainda ri apertando os olhos. Eu não sei se você ainda me bateria quando eu te chamasse de fresca. Eu não sei mais nada sobre você. O que eu sei sobre você é o que eu conheci há dois anos e isso pode muito bem ter mudado. Eu não sou o mesmo que eu era quando namorava com você.

Você também não deve ser mais a mesma.

Entretanto eu estou sozinho nessa casa, e se eu pudesse escolher alguém pra estar comigo, esse alguém seria você. Você em todos os seus mínimos detalhes, perfeições e defeitos. Você, simplesmente você. A garota que eu conheci há alguns anos e que foi minha namorada. A minha companhia, minha amiga e minha confidente. Você, simplesmente você. As paredes me fazem barulho, tem um vazio enorme dentro de mim que sente tantas saudades de você. Eu queria ter você nos meus braços, queria que você estivesse aqui me fazendo companhia. Queria mesmo você não estando aqui, ter a certeza que você ainda era minha.

Mas você não é.

Não é. A música que eu estou ouvindo que me lembra você já não é não é mais a nossa música há dois anos. Ela nem sequer toca mais. E nem é o tipo de coisa que eu gosto de ouvir agora. Não porque me lembra você ou coisa assim. Mas porque hoje eu não gosto mais desse tipo de música. Não sei se você continua gostando. Talvez. Não posso dizer. Eu não sei mais nada sobre você.

O lugar em que a gente costumava ir, com aqueles seus amigos que eu nunca gostei muito, está completamente diferente. Entrei lá esses dias, nessa embriaguez de saudades de você, e não tem mais a mesa em que a gente sentava, as pessoas que freqüentam lá são completamente diferentes e eu não consegui ficar lá nem dez minutos. Eu não freqüento mais nenhum dos lugares que freqüentava com você. Talvez nem você o faça. Os seus amigos que eu não gostava nem seus amigos são mais.

E sabe, eu também não sou mais o mesmo. Em dois anos eu mudei muito. Você também deve ter mudado. Muito provavelmente as coisas que nos uniam não nos unem mais. A gente não deve ter as mesmas afinidades. A gente já não as tinha em demasia. Eu não sei como você está, eu não tenho a mínima idéia, a gente nem se fala mais, salvo uma banalidade ou outra como a da semana passada que me fez relembrar que você existia na minha vida e me voltou com essas saudades arrebatadoras de você. Saudades essas que voltam hoje, quinta feira, frio, eu sozinho em casa e me fazem desejar você com todas as minhas forças. Mas é só desejo, é só saudade. Parece amor, parece mesmo. Parece que ainda te amo, mas não pode ser.

A gente está longe há muito tempo. O que eu tenho é uma idealização de você. Eu estou sozinho desde então. O mais próximo de estar junto que vem na minha memória é você. Minha namorada mais importante, a personificação do amor. Eu não tenho outras personificações. Eu estou sozinho, e sendo você o único amor que conheci, eu só posso desejar você.

Mas você não é mais possível, eu enxergo isso. Se nós tivéssemos mesmo que ficar juntos, nós já o teríamos feito. Nesses dias mais embriagados de saudade eu fiquei pensando que a gente terminou por criancice e que a gente poderia estar junto até hoje. Não, a gente não poderia. Todos os namoros terminam em algum motivo idiota. Mas não terminam por causa daquilo. Terminam porque já tinha alguma coisa errada antes e aquilo foi só a gota d’água. A gente só terminou como todos os casais. Com um estopim pequeno, mas o estrago já estava feito.

Hoje eu pensei em ligar pra você e falar todas essas coisas. E dizer que eu ainda te amo e que eu queria estar com você nessa maldita quinta feira fria. Mas depois de pensar bem, simplesmente não vale a pena. Se eu ainda gostasse mesmo de você eu já teria feito isso alguma vez. Eu não teria deixado a nossa conversa de semana passada ser simplesmente aquela coisa banal de “meus primos comentaram de você ontem”. Alguma coisa floresceu, sim. Talvez saudades, talvez até um pouco de amor. Mas no fim não vai passar de um surto de quinta feira a tarde que aconteceu por eu estar sozinho e precisando de alguém. Mas já faz dois anos e esse alguém que eu espero que seja você não deve nem existir mais. É uma idealização da minha memória que só guarda os momentos bons da nossa relação e espera que eles se repitam. Isso é impossível. Dois anos depois nós já nos distanciamos demais pra querermos ser um só. Pra que eu queira que nós sejamos um só. Porque sobre você... Sobre você eu não sei mais nada. E o que eu penso saber pode ter mudado muito. Deve ter mudado. Assim como eu mudei.

Eu fico com as saudades bonitas de uma quinta feira a tarde. Me embriago de você por mais uns dias e depois sigo em frente. Esperando o dia em que você não passe de uma lembrança em quintas feiras a tarde quando eu me sentir sozinho. Talvez nem isso. Talvez você já seja só isso.

Saudades são bonitas. Mas eu preciso seguir em frente.
Viver de passado é anular o presente e comprometer o futuro.

E isso, meu velho amor, eu não quero. E não posso.

Amores não morrem nem são esquecidos.
Eles simplesmente adormecem em algum cantinho escondido da alma
Às vezes eles despertam, as vezes choram com medo de voltar...
Os que não fazem parte das lembranças não eram amores...
Um dia lembrarei de você sem chorar, sem sentir dor.
Apenas com a nostalgia gostosa de um tempo que não volta mais
Com um sorriso, e você ficará guardada na parte de pessoas importantes no arquivo da memória...
Nos amores adormecidos, talvez.


Ps. isso não é auto biográfico.
Ps2. nem recente.
ps3. mania boba de me explicar.

1.5.08

Tudo sobre nada;

[ marcadores para essa postagem: exemplo, patinete, férias, outono. É, blogger, ótimos exemplos. Idiotices que te alegram a madrugada =) ]

Não estou fazendo questão de fazer sentido nenhum nesse texto. Eu nunca faço sentido algum, que eu saiba. Eu sou um emaranhado de coisas que eu mesma faço o maior esforço pra entender e ainda sim não entendo. É como essa vírgula que eu acabei de apagar porque coloquei entre o "e" e o "ainda" na frase anterior. Todo mundo sabe que não se separa o conectivo com vírgula - o word vive me dizendo isso - e mesmo assim eu teimo em fazer.

Eu teimo em repetir os mesmos erros, usar as mesmas roupas e dizer as mesmas frases. Eu teimo em estar acordada as duas horas da manhã sem nenhuma conversa interessante, sem nenhum pensamento que realmente me valha a pena e a música nos meus ouvidos é algo que me lembra coisas que eu nem sei o que são. Eu teimo em querer mudar o mundo, em me irritar com idiotices e rir com coisa séria. Eu teimo com coisas que eu sei que não valem a pena e que nunca darão certo.

É como essas coisas que eu estou escrevendo. Eu não sei pra onde me levam as palavras. Eu nunca sei. É que de repente você começa a digitar freneticamente na busca em que sua mente se cole no papel de algum modo. Digitar e papel não combinam. Digitar se faz na tela e no papel se escreve. Mas eu sou isso, essa junção esquisita entre modernidade e arcadismo. Eu tenho uma mente falsamente aberta lotada de preconceitos bobos como qualquer um. Eu adoro toda a tecnologia e mesmo assim não sei ler livros em uma tela, e nem mesmo penso em não me casar. É verdade, eu não penso nisso.

Eu não me enxergo daqui há 10 anos uma mulher super bem sucedida e sozinha. Eu sonho em ter uma família e mais um par de pieguices. Eu penso em um amor desses que me valem os dias todos e mais um pouco deles. Alguem pra me esperar nos meus dias difíceis e algum abraço nesses dias friorentos. Eu sou cafona. Eu só tenho esse cabelo curto muito mal arrumado e só pareço não me preocupar com nada. Eu pareço um monte de coisas. Ser mesmo é outra instância que eu nem sei onde está.

Talvez sejam essas dúvidas idiotas. Talvez seja isso que acaba de tocar nos meus ouvidos " o tempo vem trazendo algumas marcas, na rua e no meu coração". Eu já tenho quase vinte anos... dá pra acreditar nisso? Eu pareço uma criança com medo de tudo. Completamente inconsequente. E ao mesmo tempo pareço tão estranhamente madura. Eu fico cuidando do mundo por aí. Das pessoas, das ocupações... Tudo isso enquanto minha vida é um emaranhado de coisas sem sentido, refletindo muito bem o que eu sou.

Eu sou um monte de gavetas desarrumadas que eu nem penso em mexer. E lá estou eu sendo auto biográfica em pleno feriado, as duas e doze da manhã porque eu estou com preguiça de dormir. Eu podia tentar escrever em terceira pessoa e dizer que " Júlia é uma garota indecisa que possui uma vida que não entende muito bem e por isso resolveu botar tudo isso no papel." Tudo bem, mas estou com preguiça. Eu preferi me expor mesmo, colocar-me aqui, primeira pessoa do singular: Eu.

Eu hoje etou estranha, eu hoje não me entendo. Eu hoje estou as duas horas e pouco da manhã tentando botar em tela tudo o que está dentro de mim e não consigo. Outrora isso me daria um texto bem escrito, mas hoje não. Hoje chove lá fora, meus cabelos estã fora do prumo, minha mente também, eu estou sozinha no meu computador e eu quero mais é que eu não pense mais.

Um desejo? as coisas mais simples do mundo.
Tipo a tarde de hoje. Com chuva e tudo mais.
No mais eu nem tenho muito o que dizer. Eu nunca tenho, pra dizer a verdade. Eu só gosto de me expor. Aí ninguém precisa me perguntar sobre o que realmente importa.
Falar sobre o que realmente importa nunca é considerado importante.

Na verdade foram parágrafos falando sobre coisas desimportantes. O que é importante eu ainda escondo. Eu sei o que vem a ser eu, mas mostrar é algo que ainda não me interessa.
Pelo menos não agora, não as duas e trinta e um da manhã enquanto eu estou horrivelmente mau-humorada e pensando em coisas que não vem ao caso.

Eu termino um emaranhado de linhas sem sentido nem nexo. Algumas coisas sobre mim, minhas superficialidades supostamente profundas. Meus segredos que todo mundo já sabe.

Mas o que é importante eu escondo. Escondo porque sou uma covarde que se mostra por pura falta de coragem de se mostrar por completo. Ou medo que os outros a descubram.

Quando a gente conta primeiro as pessoas não especulam.
E é por isso que eu me conto.

Eu tenho muito medo de não ser um mistério.
Trasparência é assustadora.