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26.2.08

amo tanto e de tanto amar.

" Amo tanto e de tanto amar. Acho que ela é bonita.
Tem um olho sempra a boiar, e outro que agita.
...Amo tanto e de tanto amar, em manágua temos um "chico."
Já pensamos em nos casar em porto rico." Chico Buarque.


ela estava ouvindo essa musica. É chico, sempre chico.

quando ela era pequena achava tão bonita. pequena uns 12 anos, assim. na verdade, ainda acha umas das letras mais bonitas.

sempre achava que o dia que alguem lhe falasse coisas no minimo parecidas, valeria a pena.
agora parou de tocar. mas foi parar nela com sei lá quantos anos, ouvindo cd do chico na sala da vó e rodopiando pra ver se mudava de figura.

isso ela ja devia ter 16.

é. na musica fala '' ela pode rodopiar e mudar de figura.'' nessa hora ela levantava e rodopiava
mas eu sempre estava de fones. e a ação '' rodopiar'' fazia com que eles desplugassem do rádio fazendo todo mundo ouvir o que ela tava ouvindo. ai ela abaixava logo e botava os fones no lugar
e continuava a ouvir.

antes de ir pras aulas a tarde de laboratório. colégio e essas coisas todas. ela está sempre tendo nostalgias. toda hora, a todo momento. e tem o incrivel talento de transformar meros fatos em pequenas narrativas fantásticas.

na verdade, nem é tão incrivel assim.

é só uma menina de 16 anos rodopiando e ouvindo uma musica bonita.
e pensando '' um dia alguem vai gostar de mim que nem o cara da musica gostava da moça. ai a gente vai até sonhar em ter filho e casar num lugar bem estranho tipo porto-rico, mas não porto-rico que sei lá porque eu nem acho interessante.''

ai voltava pro colégio e via um monte de gente boba. e achava que isso sóo depois de muitos anos. um alguem que de tanto me amar lhe achasse bonita, só depois de anos luz. ou quem sabe, nem existiria.

na verdade, a parte que ela mais gostava na musica era a parte de casar em porto rico. porque era uma ideia não convencional e aquilo fechava com tudo que sempre queria. as coisas não convencionais doamor. enfim. chico a fazendo querer coisas maiores do que todo mundo queria. como sempre.

mas ela achou , no fim das contas.

e isso nem era pra ser uma declaração nem nada, era só ela ouvindo uma musica e lembrando de 3 anos atrás, mas como quando eu começa a escrever as coisas vão pra lugares que nem tinha pensando no começo...

"eu te amo, sabe. a gente casando ou não casando em porto rico. coisa que eu nem quero. a gente pode casar em qualquer lugar, e eu nem estou falando de casar. estou dizendo de ter você na minha vida, ter te encontrado e todas as pequenas felicidades banais que fazem a minha vida valer a pena. que fazem sorrisos bobobs brotarem do meu rosto. eu estou dizendo de ter achado o antes impossível. eu estou falando sobre você e isso é só sobre você. não era pra ser no começo,

mas agora é. "

e ele é aquela pessoa que ela pensava em encontrar a 3 anos atrás.

e encontrou.

¹ Chico buarque - Embalando vidas e inspirando escritores.

20.2.08

e a água na canela.

E aí você vai olhar pra mim e dizer. Tudo bem, aquilo era só chuva, era só água até o meio da sua perna e não tem nada a ver, pra que se preocupar com isso.
Eu vou te olhar com meus olhos baixos e a gente vai saber, que era sim, bem mais que água até o meio da perna e chuva. Era a personificação do ridículo que meu ser habita.

Não era só chuva e água molhando até o meio da canela. Era a representação exata do que vinha a ser eu.
Porque eu, meu bem, sou água até o meio da canela.

Era quarta feira, um marasmo de dia. Eu e meu livro, e começa a chover.
Chover. sim.
Meu ímpeto? me molhar até as tampas e cabelos, e roupa na água da chuva.
Minha reação? sentar na beira da varanda, arregaçar minhas calças até os joelhos e tomar chuva só até a canela. porque eu não queria me molhar inteira, porque eu nunca quero me molhar inteira. porque eu não jogo, eu não me entrego, eu não arrisco. eu até vou um pouco pra trás que é pra não molhar meu livro.

eu sou isso. uma menina que senta na beira da varanda e só aceita tomar chuva até o meio da canela. por precaução, pra não pegar gripe , não estragar o cabelo e não ouvir bronca da mãe. pode até ser mais libertador e edificante um banho de chuva por inteiro, mas eu vou estar sempre tomando chuva até o meio da canela. porque não tenho que trocar de roupa depois, ninguém vai ficar me olhando torto, eu não vou ter que arrumar meu cabelo e nem vou levar bronca. porque todo mundo diz que água até a canela pode. se molhar por inteiro numa quarta feira a tarde, no quintal não é prudente e o mundo gosta mesmo é de pessoas prudentes.

pois bem. eu sou prudente.
eu tomo chuva até a canela, e eu vivo pela metade.

vamos pensar bem, o que eu tenho?
uma faculdade medíocre, dias e dias em casa, um talento utilizado pra nada pra escrita e uma falta de vontade total de continuar nesse mundo. Eu nunca fiz nada que emanasse perigo, eu não penso em desistir da faculdade, porque afinal, já fiz dois anos. eu nunca falo pras pessoas o que eu realmente acho delas. eu sou imbecil e conformada. vivo no meio de outros mil imbecis conformados e caminho cantando e seguindo a canção. eu nunca sumi de casa, nunca fugi e nunca morri por amor. eu estou sempre levando água só até a canela pra não me molhar.

tá. que lindo, não fico gripada.
mas também não me liberto.

eu não me entrego por inteiro. eu não esbravejo. eu não retruco. eu não me exponho. eu não conto nada a ninguém. eu sou um mistério. eu rio baixo. eu falo pouco e eu não luto. eu sou conformada na minha varanda tomando água até a canela quando o que eu queria mesmo era tomar um belo dum banho de chuva e me lixar pro universo.

agora? agora eu vou esbravejar, dizer que cansei, que não vai ser mais assim.
mas não vai mudar nada. não sou proveito, sou pura fama. sempre fui, não vou mudar de uma hora pra outra. não é do nada que a gente começa a se molhar inteira e se mostrar pro mundo. mas sabe, tem dia que cansa mesmo.
mas não se iludam, não vou levantar e tomar chuva do nada.

primeiro molho minha perna inteira, depois eu pela metade e aí sim, começo com essa de tomar banho de chuva e ficar gripada.

não sei romper bruscamente com nada. nem quero.
me arrependo depois, eu sei. prudência de mais enche, mas de menos também dá dor de cabeça.

Não quero ser mais a menina com água até a canela.
Vou me entregar mais.
Mas começando aos poucos que banho de chuva que vira rotina perde a graça.
E coragem não se compra em tabletes.
Nem deveria.

Um pouco de medo faz bem pra pele.
Porque gripe sim.
Pneumonia, é burrice.

16.2.08

Eu sou um erro.

Eu sou um erro.

É tudo que você precisa ouvir de uma menina que faz o gênero bonitinha-depressiva, ás 16.51 de uma tarde de sábado de fevereiro em que as coisas que aqui estavam não estão mais, enquanto ela faz onda pra se arrumar para ir ver o novo filme do Tim Burton com o gato do Johnny Depp, simplesmente por não poder ir fazer outra coisa.

Mas eu sou um erro.
Se o mundo está certo, eu sou um erro. Eu só posso ser um erro. Um defeito de fábrica em cromossomos, uma indisposição genética da humanidade. Um disperdício de massa corporal e uso de oxigênio no belo baile da vida.

Se o mundo todo é que está certo, eu sou uma apendicite. Uma coisa que não deveria existir e só existe pra dar incômodo ao resto das pessoas normais. É, eu sou um erro. um zero esquerda, a contramão em que você entra e bate.

Eu sou um erro porque os filmes que estão em cartaz não me interessam, e os que me interessam não estão aqui. e quando estão, ficam pouco porque as outras pessoas, essas normais, não gostam deles. sou um erro, não gosto de música eletrônica, nem do que toca no rádio. não saio pra dançar e não bebo. Só posso ser um erro, não gosto de nada que todo mundo gosta.
Eu sou um erro porque vejo medíocriedade em todos os cantos, e eu anseio por coisas melhores. porque eu espero das pessoas o que elas não podem me dar e porque fico querendo dar o que elas não querem. Sou um erro porque não vejo propósito nessa vida em que todo mundo leva. Eu só posso ser uma anomalia no cormossomo sem número da humanidade. eu não quero um carro importado, ou uma casa grande, ou um cachorro. e não quero encher minha conta no banco nem ser horrivelmente bem sucedida. eu não quero ser um bracinho do capitalismo, não quero ter sucesso e glamour, nada disso. eu só quero ser feliz, porra. feliz com minha família e minha vida confortável. feliz. trabalhar com o que eu gosto, ouvir frases bonitas as seis da tarde e cozinhar macarrão. eu sou um erro, porque o que eu espero são bolinhos de chuva e uma conversa que valha a vida.

Sim, eu sou um erro. um erro porque eu não vejo graça nos filmes em que todo mundo vê, e porque eu acho que o mundo não tem jeito. sou um erro porque não apoio pena de morte, acho que bandidos tem solução e que todo mundo merece uma segunda chance. sou um erro porque fico querendo cuidar do mundo. porque me importo com a menina que está na rua porque perdeu os pais. me importo com quem eu não conheço. porque não disperdiço água, evito usar sacolinhas plásticas e gosto de respeito.

Eu sou um erro bem grande e ruídoso porque não troco minhas amizades por dinheiro nenhum nesse mundo. porque largaria minha carreira e minha vida confortável pra viver um grande amor. porque não jogo lixo no chão, e aceito muito bem ficar de pé para que um velhinho se sente. sou um erro porque acredito em um jeito pro mundo, num futuro pra humanidade e em políticos honestos. um erro que não acha violência aceitável em nenhum aspecto e que fica por aí expondo sua opinião por todos os lugares. uma anomalia que fica em casa em sábados a noite assistindo filmes, que não vai pra balada e não liga pra churrascos de faculdade.

Eu sou um erro em todos os aspectos. uma pária, porque não quero marido que me sustente. porque não ligo de ser mais baixa ou mais pobre que o meu namorado. porque respeito gente que não fez faculdade. porque prefiro ler a ver televisão, porque escrevo sendo designer. porque fico por aí contestando as coisas que as pessoas acham certas. sou um erro designer-comunista. um erro sem propósito.

É, eu sou um erro sim. Todo mundo acha que o mundo tá bom do jeito que tá. que morrer e matar é normal, que bandido e pobre não é gente. que algumas pessoas vão ter coisas e outras não e isso é a lei da vida. todo mundo quer ter uma carro, uma casa, cara, tv de plasma, uma mulher bonita e uma vida de aparências. todo mundo quer status, empregos milionários e ser infeliz por dentro. todo mundo procura a felicidade numa nota de papel e em líquidos alucinóginos. todo mundo está aí dançando em boates no sábado a noite ao som da música eletrônica que eu odeio. todo mundo está assistindo a novela, comentando a novela. todo mundo está apoiando a guerra. falando mal de quem não é igual a eles. todo mundo espera que tudo caia do céu, e todo mundo acha que as coisas não tem mais jeito. todo mundo está jogando lixo no chão, correndo demais e achando tempo pra conversar uma perda de tempo. e se eu não quero nem gosto de tudo isso, eu só posso ser um erro. um cromossomo sem número com uma anomalia gravíssima, vão ter que me amputar daqui para que eu não me alastre.

Eu sou um erro. dos grandes.
e vocês que concordam com as coisas que eu concordo também são erros. vocês, meus amigos, são erros como eu.
somos todos erros, estamos errados, a gente quer o que ninguém quer.

Somos erros indesejáveis, uma doença estranha e vão nos curar.
Mas eu não quero que me curem, pelo amor de Deus, ou de quem quer que seja. não quero deixar de ser essa doença, essa anomalia.

Eu sou um erro, um erro grande, malcheiroso e sem cura.

E quero ir embora daqui antes que me transformem num acerto.

14.2.08

Prefiro.

Eu prefiro versos brancos como a minha alma sem rima.
para não ter que rimar amor com dor e esse torpor que me inpede de ver.
Eu prefiro não estar aqui, nao hoje e nem agora.
Porque hoje e agora me doem os dedos e a alma.

Eu prefiro me entregar ao nada, de uma vez
Ao invés de esperar sandices sonhadas e supostas.
Eu prefiro então, não me entregar completamente e estar.
Porque só estar não me doi os dentes. Nem o coração.

Eu prefiro não sentir sabor de beijos silenciosos
e tampouco os ruídos da paixão.
Eu prefiro ficar quieta,
escutando os desvãos de mim e de minha alma doente.

Eu prefiro não sonhar.
Nem com hoje, nem amanhã.
Eu prefiro nem pensar no ontem
porque eu prefiro nem ser.

Eu prefiro o frio que me dói o rosto
que ao cortar meu corpo não sinto minha vida se rasgar
Eu prefiro as melodias calmas
porque a confusão da minha alma já me é um conserto.

Eu prefiro, eu prefiro sumir
não deixar nome, sobrenome
espírito ou carne.
Eu prefiro fingir que eu nem existo, existir me cansa.

13.2.08

Conversa no parque.

Oi. Você quer mesmo conversar comigo é? Não, eu não sei se é uma boa idéia não, moço. Eu posso começar a chorar e tudo mais. É, moço, eu sei eu já estou chorando e tudo. Por isso que você veio conversar comigo? Não foi pena. É, eu sei que não foi. Você não tem cara daquelas pessoas que sentem pena das outras não. Não, não tô te chamando de frio nem nada não viu?! Você só não tem cara daquelas pessoas que ficam por ai como livros de auto-ajuda ambulantes pensando em salvar a humanidade. Eu também acho essas pessoas chatas, sim. É que elas querem se sentir bem com elas mesmas, ai elas ficam tentando ajudar o universo, mas é pra salvar elas mesmas. Guilherme, posso te chamar de Guilherme, então? É, é melhor que chamar de moço, sim. Eu me chamo Natália. Bem nome de menina frágil, né moço? Desculpa, Guilherme. Ainda mais quando insistem em chamar de Nati e coisa e tal. Não, pode chamar de nati se quiser, só digo que pareço mais menina frágil com esse apelido. Ah, dezenove anos, guilherme. É, eu tenho cara de quinze, todo mundo me fala isso, mas tenho dezenove mesmo. Anham, faço faculdade sim, é, publicidade. nada a ver comigo não. eu sou toda a favor do direito das nações e resolvo fazer publicidade. Ah, sei lá sabe? tem coisas que a gente fica fazendo porque sei lá. Se é por isso que eu tô triste? Não é não, Guilherme. Pode chamar de Gui? meio que economiza espaço. então tá. gui, não é por isso não, nem gosto da minha faculdade mas isso a gente acostuma. minha vida é que anda meio mal das pernas. é, faz algum tempo sim, mas hoje que eu percebi. anham, eu venho aqui sempre quando tô mal. você já viu? nunca te vi não, eu nem olho pro mundo quando eu tô triste, tá todo mundo contente, sabe? meio que irrita. é sim, que nem naquele filme sim, queria que parassem os automóveis. é, pra passar com a minha dor. O que foi? tô mal, guilherme. naqueles dias que a vida dói, me entende? Anham, nada de muito especial não. é quando você para pra pensar e tudo fica sem sentido. O que? tudo gui, tudo. de repente eu paro e penso, o que eu tenho da vida? uns poucos amigos. pouquissimos que se preocupam de verdade. Chato mesmo. pra você ter idéia teve um deles que nem parabéns me deu, eles meio que se preocupam com outras coisas agora. Não, não sabem conciliar coisas novas e as velhas não. É, é um problema. Não, não é só isso não. Me sinto uma coisinha deixada num canto. ninguem presta muita atenção se eu estou respirando ou não. Namorado? tenho sim. mas ele tá longe. Quanto? não sei, sabe quanto é de Londrina até o Rio? Isso daí. Gosto, claro que gosto. amo pra falar a verdade. Ah, claro ia ser bem mais difícil né? Anham, é isso mesmo, tem dia que a solidão bate e tudo mais. ai eu venho pra cá. Não, tudo bem, acho até bom ter alguém pra conversar, que incomodar que nada. Gostar? sei lá. antes era de tanta coisa, agora nem sei. escrever, ouvir música, tirar fotos. Desanimada? muito gui, muito. Nada tem graça não. por isso que eu tô aqui chorando. pareço uma folha em branco. to muito descrente, guilherme, é chato. Tão nova né? a gente fica impotente as vezes, você sabe. Sumir, anham, queria. Onde? um lugar que alguém me entendesse. É, perto dele seria interessante. mas ele ainda vem. além do mais essas coisas passam. Dar uma volta? não, não. só isso de conversar tá bom. Linda? pode até ser, mas não adianta nada, nunca melhorou minha vida. Aquario. Independente, e decidida e moderna. É, um pouco, mas só um pouco. meio natália-fragil ultimamente. Anham, chorando em filme de amor. sonho? um lugar meu, onde eu me sinta bem. dificil isso por aqui. Triste, é isso triste e descrente. Forte? dizem mesmo, não acredito neles não. Mais vezes? você vai esquecer de mim, moço. sou muito normal, passo batido. ninguém me encherga. não sei como você me enchergou aqui. Diferente? brigada, moço. Guilherme, é. É, sol tá se pondo. Anham, viu, parei de chorar. Que nada, fez bem, Brigada. Vou, vou pra casa. Tô melhor sim, vou ficar bem. Anham, pode sim. Ahh, também quero demorar pra voltar. Anota aí, mas vai esquecer. nem vai lembrar amanhã. nao sou do tipo de coisa que marca. Marquei? brigada. Amigo, gosto disso. Anham, amigos então. Ih, de nada, quem agradece sou eu. Isso, isso. Já passou.

( ela volta pra casa. De repente o nada que não fazia sentido vira tudo. Um obrigado a Guilherme que veio pra nunca mais voltar, porque ela é sim, do tipo de pessoa que a gente acorda e esquece. De memorável só o sorriso, que era a única coisa que ela não tinha pra mostrar naquele dia.)

9.2.08

Dezenove anos (d)e cansaço.

Faltam um dia, ou algumas horas para que eu faça dezenove anos.
Fazer dezenove anos não é uma conquista incrível, tampouco uma data memorável.Fazer deznove anos é apenas fazer dezenove anos.
Estar depois dos dezoito e antes dos vinte.

Não ganho regalias como ganhei ao fazer dezoito. Poder tirar uma carta de motorista, ou poder entrar em lugares que antes não podia. Ainda que não tenha feito isso assim que fiz dezoito. Nem dirijo, e nem tenho vontade de entrar em lugares que antes não podia.

Entretanto, me sinto mais velha do que nunca. Alguma responsabilidade imbecil, meu segundo ano de faculdade e uma pressão para que eu saiba o que quero fazer da minha vida. Sendo ridícula como Bial, poderia dizer que os quarentões mais interessante que eu conheço não sabiam aos vinte o que queriam fazer da vida. Pois bem, os quarentões que eu conheço não sabem até hoje o que querem fazer da vida, e por isso fazem o que nunca quiseram. O que eles querem se perdeu em algum lugar, longe, ou muito adiante que eles não conseguem alcançar.

O que eu quero eu não sei onde está. O que eu quero não existe?
Existe.
Mas me parece impossível. Impossível frente a fúria do mundo, e porque me parecem inúteis todos os sonhos. Impossível porque perco a vontade de lutar como areia nas minhas mãos. Me disseram que eu era tão forte. Ando desacreditando que eles estão certos.
Um dia a Clarice Lispector, a leitura mais dedicada nesses 19 anos, disse que estava imcumbida de cuidar do mundo. Que sua responsabilidade estava ali, nos olhos da criança na miséria. E que cuidar do mundo a cansava profundamente. Porque ela continuava, então? Simples, porque nasceu imcumbida.

Pois bem, eu também nasci imcumbida. E quando se nasce com tal tarefa é dificil se desvenciliar. São dezenove anos incumbida de prestar atenção em tudo, e em todos. Não deixar que eles chorem ou sintam frio. Os mais próximos e os mais distantes. Os mais importantes, e os esquecidos. Os que tem tudo, e os que não tem nada. Os que me conhecem e os que não.

Mas estou cansada, profundamente cansada. E é um cansaço que vai na alma e me dói as veias. As veias das pernas e dos braços, e impede o sangue no meu coração. É um cansaço secular, de dias e tempestades. É um cansaço que não consigo explicar mas sinto. Deveria se derramar em lágrimas o cansaço. Em um pouco de sal com água. Mas não. Não sinto nem vontade de chorar, ou de comer, ou de domir. Não sinto vontade de nada.

Ai me dizem que deveria desistir.
Não se pode desistir quando se nasce incumbida. É muito sério. É um barco no mar, daqueles que não voltam. Eu não volto a ser despreocupada e desemcumbida porque nunca o fui.
E aos meus dezenove anos há uma aura de cansaço negro sobre minha face.

Meus amigos estão distantes e tudo parece sem sentido. Eu deveria descançar e esquecer, mas insisto em cuidar do mundo. Tarefa muito árdua para uma mulher tão jovem. Mulher, não passo de uma menina nada desgarrada do mundo, e de seus pais, e de seus bichos e apegos infantis.

Mas eles me disseram que eu sou forte, me chamaram de arretada. E eu tenho que acreditar nisso.
Em meio ao meu cansaço crescente, em meio ao dia dez que me faz ter dezenove, eu tenho que aguentar. Desistir não é pra mim, nunca fui.

Correrei com o peso do mundo nos ombros e um cansaço ansestral.
Quando eu quiser parar, suspirarei, mas continuarei correndo.
Pra onde? Não sei.
Meu futuro é incerto e não posso o inventar. Escrevo cada dia com lápis novos e espero olhar pra trás e ver colorido porque acho que almas pretas também se colorem. ¹


¹ Post programado para o dia 09/10, mas por motivos de falta de vontade, e cansaço preto só foi terminado hoje, com um certo alívio pesaroso que só se consegue por sentimentos em palavras.