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20.5.11

Eu te amo, Lucimar.

Você recomenda,
o livro do escritor
que eu te apresentei,
pros seus novos amigos.

O livro que eu um dia te emprestei,
e que guardei na minha estante,
do lado do relicário
na caixa que guarda as cartas de amor
que eu nunca vou te entregar.

18.5.11

O sapato mais bonito.

Hoje sou
Aquela menina sentada na loja de calçados
Tentando com esforço calçar
O sapato mais bonito da loja
Que hoje estava em promoção

Experimentando,
O tão sonhado sapato
Ela chora baixinho, pensando:
"não vai me servir, não vai me servir".

4.5.11

Na calmaria do caos.

A vida às vezes é sobre esses frios. Os frios da alma. Os frios que doem nos ossos. A vida às vezes é sobre sacrifício e sobre tristeza sem sentido. A vida às vezes é essa viagem errante em que a gente anda sozinho, na rua, olhando pro céu e sentindo a solidão se abrir num buraco imenso. Tão imenso que a gente não cabe. Tão imenso que a gente sobra. Tenho andado sozinha pela rua que é imensa. Uma viagem solitária no mundo imenso, com sentimentos imensos, coisas imensas. O querer pegar tudo com a mão e não conseguir. Tenho me perdido, constantemente, nas esquinas da minha própria cabeça. Minha vida não tem placa, nem atalho, nem direção. Sou bicho solto. Se foram todas as cordas que me impediam de ser solta no espaço. Estou solta, sozinha. Nenhum compromisso com a realidade me é imposto. Não existem os horários, as obrigações e se foram (quase) todos os laços afetivos. Me falta o existencialismo doente. O querer pegar a vida com as mãos que existia há algum tempo atrás.

Eu me pergunto baixinho onde foi que ficou o chão da sala, com vinho e conversa. Sem tv ligada, sem vídeo, sem assunto pra discutir. Sinto falta do abraço que não existe, da compreensão assistida com os olhos, da sacada fria dos invernos de julho que já passaram e não voltam. Da comida como mero pretexto do encontro. A vida de repente se transformou num eterno andar que dói, num caminho longo demais pra ser percorrido assim, sozinha, mas que se tiver que ser percorrido sozinho vai ser, e sem dor. Porque quando nada mais existe, nada mais importa. Porque quando nada mais se sente, nada se espera. Porque um dia eu acordei e percebi que os céus continuavam azulando, os pássaros continuavam cantando, a vida continuava existindo, mas o sentido tinha ido embora. Sobrava o simples fato de ser livre, e já não querer o ser. É que a falta de sentido me enjoa.

Tenho vontade colocar todos àqueles que continuam aplaudindo essa falta, essa ausência esse vazio em uma roda e dizer-lhes a verdade. Já não existimos, não somos, nos amamos em sobras, nossos corações já quebraram e guardam rancores, remendos, cansaço. É difícil amar onde sobra cansaço, é difícil o encontro quando existe ares de obrigação. Falta sentido. É que a falta de sentido às vezes se dá nas noites vazias de frio e solidão, quando você percebe, que como aqueles quebra cabeças de mil peças, às vezes a gente tenta encaixar as peças nos lugares errados. Já não cabem as peças, não adianta o esforço. O estranho do vazio é saber que dele se pode construir qualquer coisa. Nada, uma roseira, ou um castelo. Também ervas daninhas, também casas com pomares. E também terremotos, tornados. É que depois do caos, vem a calma. No meio do caos, existe a calma. É que no meio da vida, às vezes sai música do vazio, e nasce beleza da onde parecia só nascer espinho. Porque a vida às vezes é sobre caminhar no vazio, é sobre desencontros e desamor. A vida às vezes é sobre encontros, reencontros e alguma esperança. É que a vida é feita de ciclos, e é quem sabe, sentar na grama, ouvir uma música e sentir qualquer tipo de paz. No frio, enquanto tudo em volta é puro terremoto.