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23.8.11

questo silencio dentro te

ninguém me entedia muito bem, era meio normal que nem todo mundo compreendesse que às vezes o problema todo dessa minha confusão era justamente essas pessoas todas tentando me dizer o que fazer, que eu não devia ficar sozinha, que eu devia me importar mais com as pessoas, ligar pra elas, dizer que eu sinto a falta delas. E eu até sinto, mas é essa obrigação que a gente acaba tendo com os outros que me mata, essa rotina. Eu tentava explicar que pra eu me sentir completa eram terrivelmente necessários esse momentos em que eu ficava só, completamente só. Eu e minha música, eu e meu quarto, eu e meus livros. Tem dia que a gente não precisa de companhia pra viver, e tudo bem. A auto suficiência parece errada, mas é o único jeito que eu aprendi de saber lidar comigo.

Eu tentava explicar esse monte de coisas pra Camila e ela me olhava como se eu fosse um desses extraterrestres, essas coisas que pertencem a algum planeta distante. Eu sei que eu olhava pra ela segurando o copo de cerveja e dizia "mas é que é assim, sabe? eu amei uma vez e amei demais e quando a gente ama demais a gente sabe que qualquer coisa que a gente sinta menos que aquilo não vai ser o suficiente". Daí ela me dizia que eu tinha que tentar, que eu tinha que me envolver mais com as pessoas, que eu tinha que correr atrás da minha felicidade, porque a felicidade a gente busca, ela não cai num potinho em cima da gente como chuva no meio do verão. Só que eu pensava que cai, cai sim. Felicidade quando vem, aparece sem avisar e todas as vezes que a gente corre atrás dela a gente tropeça. Amor também, forçar amor é tropeçar num sentimento que foi feito pra te sugar que nem coisa grande, imensa, não pra ficar colando tijolinhos com argamassa pra ver se de repente forma um castelo. Ou é, ou não é.

Tinha esses dias que eu tinha muita vontade de contar o quanto quando um amor é grande ele fica guardado ali e você aprende a conviver com ele. Não se deixa de viver, mas a gente sabe, a gente sempre sabe que certas coisas simplesmente não serão tão imensas e às vezes, às vezes na vida a gente quer escolher coisas imensas e não quer se esforçar pras coisas rasas, então é melhor ficar barquinho na correnteza do que se esforçar, remar, lutar contra as correntes do ártico e do pacífico pra no fim chegar numa dessas terras que a gente nem queria tanto desbravar assim. Não tenho querido muito nenhuma dessas terras que me aparecem, eu acho que também é um direito da gente a gente querer conhecer vários países e não criar uma casa em nenhum deles. Eu acho que sim.

E ela me dizia que não, que é necessário criar pequenas casas pra ver como funciona a cultura local e de repente eu não queria ouvir mais nada, só falar. Só falar que tudo que eu queria naquele dia, e não só naquele dia, era sair por aí sem rumo, e eu ia sozinha mesmo, não importa, às vezes cansam essas pessoas do lado da gente olhando a gente como se a gente estivesse falando uma bobagem imensa, mas não é como se doesse, é só um cansaço porque não há de se esperar compreensão de quem nunca entendeu o seu universo do jeito que ele é. E então eu queria sair andando, descobrindo esses pequenos novos universos que vivem em cada pessoa, mas só descobrir, porque o que me importa é a descoberta do novo território, não a conquista. Não quero conquistar nada, nem fincar bandeirinhas, nem mesmo dar nome a uma nova civilização. Só descobrir que elas existem, fazer contato, trocar a identidade cultural e depois partir. Porque eu gosto de descobrir e partir. Agora eu gosto disso, é o que eu quero, não tem mal nisso, não tem mal em gostar de ficar sozinho, tem mal em ser solitário. E a Camila me olhava, e não entendia nada. "Às vezes existe mais solidão com outra pessoa do que sozinho em casa" eu disse. Ela não concordou. Mas tinha entendido.

20.8.11

O vazio cresce cinco metros e explode.

A alma de escritora permanece intacta. Mas as palavras, as palavras se formam em brasa e se acabam em cinza. Existe a necessidade de me gritar para que quem sabe alguém me ouvisse. Sou um desses universos em expansão, um câncer, qualquer coisa dessas que aumenta e vai tomando conta. Tomo conta de mim, não me caibo, não me aguento e às vezes me sinto profundamente infeliz. Preciso de alguma coisa que valha a pena. O amor não existe só em forma de romance e a vida não acontece só lá fora. O que a gente precisa é de sentido, de vontade, de gana, de um jeito bonito de se viver. O que eu preciso é da palavra, viva, em forma de texto que derrama e vira um pedaço de mim vivendo no papel. O que eu preciso é da catarse, de ver a alma subindo, sumindo, fazendo sentido, pulsando. Preciso me apaixonar por alguma coisa, sentir o vento bater nos cabelos, correr e sentir a boca secar, saber que no mundo ainda há vida. Preciso de um pouco de vida. Dessa vida que não vem dos outros, essa vida que nasce de mim e derrama, daí vira palavra. É possível viver enclausurado numa masmorra. É possível fazer do meu quarto um universo particular. É possível existir sem ter com quem dividir o próprio mundo. É possível a existência de um ser humano sem que as suas idéias sejam entendidas ou sequer ouvidas. É possível viver e nunca mais querer um grande amor. É possível aguentar que todos os meus amigos sumam, que todos eles me abandonem em troca de novas vidas, é possível conseguir sobreviver num estado de solidão completa. Só não é possível viver sem dividir a existência, o ser. Só não se pode deixar de mostrar que de algum modo meu coração ainda pulsa, que bombeia o sangue, que está vivo. E o meu modo de estar viva é a palavra escrita.


Se me morrer a palavra, eu também estou morta.

8.8.11

Maldita seja a distância entre nós.

eu sinto saudades daqueles rabiscos, sabe. dos meus também, um pouco. eu tinha menos, é claro. bem menos que você. É que a minha vida era mais bagunçada. Gente bagunçada demais não dá conta nem de rabiscar direito e costuma encarar vazios. Hoje é a minha parede descascada e o meu teto branquíssimo. Engraçado, né? Um pequeno pedaço de casa vira de repente um universo. Às vezes eu acho que o tempo passa e a gente cria mesmo um mausoléu. Sabe, as coisas vão morrendo e aí a gente joga as cinzas aqui e ali ou enterra mesmo. Fica numa esperança louca que as coisas que passaram, assim com acreditam os budistas, passem por uma espécie de roda de samsara e renasçam (melhores).

Bendita seja a distância entre nós. Distância que foi se configurando aos poucos, e quando a gente se deu conta estava em outra vida. Vez ou outra eu sento na mesa e ainda sinto cheiro de lasanha, ou pavê, ou sorvete de flocos semi-derretido. Fico pensando quantas relações ainda serão constituidas de puro vazio até chegar perto dessa coisa que já existiu. Tudo parecia simples, e bobo e até um pouco infantil. Porque era comum. Nunca achei que um dia eu iria acordar e estivesse tudo assim, meio desmanzelado. O universo não parecia assim tão deserto de almas naquela época. Porque gente tem. Gente tem de monte, andando nas ruas, comprando coisas, enchendo sacolas, jogando lixo, indo nas academias, comprando carros novos ou até mesmo passando fome. Tem muita gente no mundo. Agora alma sei lá. E fica até meio clichê isso, a gente reclamando de alma, de essência, de vida. Um dia eu expliquei pra vocês que a pós modernidade estava chegando. E olha, chegou. Um indvidualismo tão louco, né? A gente parece parte de um mundo que já existiu - e que não volta.

Penso em vocês na sacada, penso na gente, poxa, na gente falando tanto sobre nós mesmos. E enormes momentos de silêncio e pausa, de violão de poucos acordes, de suspiros longos. Amar não é concordar o tempo todo. Amar não é nem mesmo amar o tempo todo. Eu já odiei vocês. Já quis que vocês sumissem tal qual os balões de cinza que jogamos da janela. A vida é um pouco isso né. Esses balões de jornais que sobem bonitos depois queimam no chão. Acho que queimamos um pouco no chão, não sei se sobe. Não sei se agora existe um jeito de dar a volta, um retorno desses que bota a gente de novo na estrada onde tava e refaz o caminho. Parece que não. A gente já bebeu menos, já se acabou menos, já comeu menos. A gente já foi mais a gente, sem se auto destruir. Amor mesmo, sabe, amor de verdade já embriaga por si só. E a gente era meio embriagado, meio embriagado de sentimento.

Às vezes a vida doia no meio dos copos de coca. O mundo passando, as pessoas comprando mc donald's em volta e a gente tentando entender que vida era aquela, o que o mundo estava fazendo dele mesmo, porque é que a gente não conseguia fazer parte, jogar o jogo, ser parte do time. A gente ainda não consegue, mesmo separado a gente sabe que não consegue. Que não conseguirá. Só que as crises agora são longe, e eu sei que meus copos só estão assim, até a borda de tanta cerveja porque eu não tenho mais vocês. Não do jeito que era antes, não dá mais pra discar o numero de vocês e dizer que tudo bem, a vida é uma merda, ninguém se ama mais só que a gente tem a gente, e uma travessa de macarrão e um pote de sorvete. A gente tem a gente e pode gritar da sacada, e pode segurar a mão um do outro, mesmo que de um jeito metafórico, mesmo que a gente nem saiba nada sobre os contatos físicos imediatos.

O que é a vida agora senão um erro? a gente se perdendo, perdendo o trato com as pessoas. A gente se convencendo que nunca quis muito ser feliz, né? a gente nunca quis, não muito, tá bom assim do jeito que tá. Meio caído, meio vazio, cheio de coisa errada, mas a gente vai levando. O pedro não podia achar ninguém melhor que a mariana. A fernanda não podia achar ninguém melhor que o cristiano e ok, tá tudo bem nesses namoros sem amor que a gente leva, nessas noites cheias de "diversão" que a gente tem. Uns brincam de amar, os outros se jogam da sarjeta, eu cansei de brincar de amor e caio na sarjeta. Às vezes eu acho que vocês também ficam em casa, olhando o teto, as paredes descascadas, o universo-quarto de vocês e sentindo saudades do que a gente era. Às vezes eu acho que a gente deve abrir ao mesmo tempo o facebook um do outro e pensar em perguntar como vai a vida, se você continua gostando de macarrão com molho, de sorvete de flocos meio derretido, se ele continua esse desastre social cheio de mancadas.

Mas tem os namoros, os quase-casamentos, os trabalhos, as faculdades, as distâncias, as mudanças que vem com a vida e a gente se perde mesmo, né? E o que sobra é isso. A melhor época das nossas vidas eternizada numa foto granulada e escura em que ninguém saiu muito bem, mas eu juro que estávamos felizes. E tudo que eu queria era juntar todos os pedaços daquela foto depois de dez anos e nos ouvir realizados. Mas nós sabemos que não vai acontecer. Não tem como ser feliz depois de ter se perdido tanto. Não tem mais alma nessa vida que a gente leva. E sem alma, não tem nada.

E o pior de tudo é saber que continuaremos. Mesmo com dor, mesmo sem alma, mesmo sem ter pra quem contar a vida, mesmo levando a vida só pra gente. Mesmo guardando o peso sozinho, carregando a cruz sem saber bem pra onde. Mesmo infeliz e sabendo disso. É que não tem outro caminho a não ser continuar. É que continuando talvez a gente se encontre, desavisado, na mesa do bar ou debaixo da ponte, procurando aquele mesmo retorno que vai nos botar de volta no caminho certo.

Oxalá.

(eu não sei se sinto mais saudades de vocês, ou de mim. Maldita seja a distância entre nós).

7.8.11

fragmento

te olho nas fotos perdidas em que não apareço mais. não te vejo sorrindo eu nunca mais te vi sorrir daquele jeito que, sabe? o sorriso que me faria atravessar os sete mares a nado. qualquer coisa eu faria por aquele-sorriso. acho que procuro nos outros aquele-sorriso, acho que às vezes espero demais de mim e me sobrecarrego esperando ser recompensada com aquele-sorriso. às vezes penso em te pegar de surpresa pra ver se quem sabe, aquele-sorriso. mas te perdi. te vejo em fragmentos de vida, nos poemas, nas músicas. nas cartas guardadas, nos poemas de amor que não te entreguei, no aniversário que não comemoramos juntos. te vejo nas fotos, numa vida em que eu não pertenço mais - e ainda derramo uma lágrima.

(e já faz tanto tempo).