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31.1.10

This is the last song.

(that I will dedicate to you)

Tentei de tudo. De todas as coisas que pode tentar uma pessoa eu tentei. Mas assim como todas as coisas um dia acabam, também acabou nossa canção sem tom definido. Junto com piano que eu nunca tive eu esqueci todas as bobagens que eu (ainda) pensei de te dizer apesar daquilo tudo. E eu te escrevi. Te escrevi em forma de música, quase bolero, tudo aquilo que eu queria te dizer e nunca disse. Derreti. Ali, no piano, no violão, no livro, no teclado, na máquina de escrever. Derreti em sentimento mal feito e escrevi meu último tratado de amor por você.

Vômito de palavras, como sempre vomitei em você e te deixei sujo sujo de mim. E eu esperava reações, qualquer uma delas. Morna, fria, desesperada, qualquer reação que fosse mais do que olhar pra mim com seus olhos baixos e me contar sobre seu dia. Eu queria que você me batesse, que me abraçasse, eu preferia que você tivesse cuspido em mim do que ter feito isso que você fez. Isso que faz todas as relações estacionarem exatamente no lugar onde estavam e ficarem por isso mesmo. Isso de ficar estático enquanto eu falo falo falo e me derramo. Depois você se levanta, pede as desculpas menos sinceras que a humanidade já teve contato e se vai, prometendo voltar só por costume, e eu fico sentada ali, esperando o dia que você ia voltar pra eu te dedicar outra canção.

E eu soube. Eu soube no momento que você entrou por aquela porta me dizendo que você precisava falar comigo que você não tinha entendido as minhas bobagens. Eu te olhei e soube que nada iria mudar. Nada. Eu ia continuar vivendo a minha vida aqui, você ia continuar vivendo a sua vida aí e eu então iria me acostumar com a ausência. Assim como me acostumo agora e quando penso em você se faz uma coisa fora de lugar. Pensar em você é como querer trazer dez anos atrás de volta e vivê-los do jeito que estou hoje. Quando uma pessoa vai deixando lacunas enormes como as que você deixou, não há forma de preenchê-las de volta. E assim se fez.

Hoje eu olho e até penso em te escrever canções com outros ritmos, penso em te dizer cento e sessenta coisas,mas olha, já te dediquei todas as canções que podia, com todas as melodias, compassos, ritmos e até com as desritimias, descompassos, desafinos que uma canção desesperada pode ter e agora eu só penso que nada disso vai adiantar. Você não me ouve, você não entende mais minha frequência e nossa canção já não é mais atemporal como os beatles que gostamos tanto. Você já sabe tudo o que deveria saber, eu já cantei tudo que deveria te cantar, de balada indie a bolero desesperado e brega, e se mesmo depois dessa overdose de me ouvir você resolveu coninuar onde está, eu desisto.

E então não há mais canção nem sobre mim, nem sobre você e muito menos sobre nós. Esse nosso "nós" que nunca existiu, que sempre foi um "eu e você"sempre assim, bem separadinho. Uma música pra mim, uma música pra você. Eu que teimei em juntar canções e fingir que existia uma música pra nós que estava sendo escrita a passos vagarosos, tão linda a nossa canção... Mas nem existia canção nenhuma, as bobagens ficaram em mim e agora se foram com você, aí pra esse lugar que eu não sei onde é e não quero descobrir.

Esqueça o bolero, a balada, a salsa, o nossa canção tema. Esquece de tudo, aproveite e esqueça de mim também, me faz de canção ruim, mal escrita, mal cantada, fora de ritmo, descompassada, como eu sempre fui com você. Daí eu te escrevo uma canção linda, cheia de métricas, rimas, amores, boleros sinceros,amores e te dedico: essa é a última canção que eu dedico a você. E acabou, você leva embora a nossa música e joga fora isso que eu já chamei de "nós"mas que de hoje em diante é "eu" e "você". Eu: bolero, você: música clássica. Eu me derramando e você soberbo. Cada um de nós em um lado da canção. Separados. Como deveria ter sido desde o princípio.


Para ouvir ao som da sua música preferida que eu odeio.

28.1.10

carta que eu não vou mandar #1

Oi.

Era essa parte aqui em que a gente dedicava um livro, uma piada, uma frase de efeito, mas não. eu não quero ser rude nem nada, mas essa fase entre a gente já passou. eu já te dediquei todos os meus filmes, livros, textos, todas as minhas importâncias já estão aí com você. e eu guardo as suas comigo. desde seu filme preferido até seu vício pelo desenho eu guardo em mim e eles já me fizeram uma partezinha nova do que eu sou. então eu vou pular essa parte. eu sei que você gostaria de ouvir de alguém toda a trajetória de como a pessoa foi cativada por você, raposa, mas a gente deixa isso pra depois. não que eu seja incapaz, porque na verdade eu sei exemplificar nossa trajetória com filmes, músicas e metáforas bobas mas nós não temos tempo pra isso. nós precisamos ser felizes e nós precisamos agora. nesse instante. eu sei que você vai se perder de mim no momento que eu piscar e além disso o mundo é cheio de reviravoltas e deus sabe até quando a gente vai ter essa afinidade quase infinita. você nem sabe o poder que o mundo tem em separar as pessoas umas das outras então se eu não te falar isso agora, logo depois você já vai ter ser perdido e vai ser tarde demais. aí a gente vai ter que esperar outro reencontro cósmico e a gente nunca pode ter certeza se ele de fato vai acontecer, porque pode acontecer da gente sumir pra sempre um do outro e isso cara, disso eu não ia me perdoar. então o negócio é o seguinte: nesses meus vinte anos eu já encontrei alguns caras por aí mas que nem você nunca houve. tiveram uns parecidos, uns que eu amei até me machucar demais, mas ninguém nunca riu comigo assim do jeito que você riu e nem me deu essa sensaçào desse o primeiro contato de: é você. a única pessoa que fez isso comigo foi você mesmo e eu tenho que te contar isso antes que venha um guindaste e te jogue em um lugar que nem todos os meus poderes são capazes de te alcançar. eu estou gostando, de alguém. e eu não sei se gostar é a palavra correta, mas a grande verdade é que resumindo tudo eu quero ficar com essa pessoa. " pra ver no que dá" seria uma explicação plausível, mas a grande verdade é que eu quero tentar porque eu aposto todo o meu dinheiro nesse cara e como você já deve ter desconfiado esse cara é você. então a grande coisa é que eu acho que você também não se arrependeria de tentar. eu te prometo não te deixar mesmo que a gente não dê certo, porque eu te considero pra caralho. mas assim, eu acho que a gente vai dar então eu estou te pedindo essa chance. uma chance pra você confiar no que eu digo mais uma vez. eu poderia listar os porques, mas entre muitas coisas eu sei cozinhar e até aprendi a fazer café. eu acho que isso deve valer de alguma coisa. se não valer, eu acho que eu devo dizer que antes de te conhecer eu era como o baby, o porquinho atrapalhado e totalmente desacreditava de tudo e desde que você apareceu na minha vida nasceram coisas em mim que me fizeram capaz de virar pastora de ovelhas e eu acho que isso deve significar alguma coisa bem grande. então se um dia você quiser tentar por favor me avise porque a grande verdade é que eu espero por você desde o dia em que você me cativou ( e isso faz tempo!) e vou continuar esperando o tempo que for necessário.

e se você ainda estiver se perguntando porque uma pessoa esperaria tanto por outra, em caso dessa carta não ser explicita o bastante é simplesmente porque é impossível não começar a amar alguém que transformou um porco desacreditado em pastor de ovelhas e quem ama (além de todas as outras coisas ) espera ( o tempo que for ). e é, eu te amo.


Perdida entre as coisas que eu nunca mandei, que vire literatura.

17.1.10

Punchdrunk lovesick singalong

E então ela chega em casa e ele não está mais lá. Rápido. Exatamente do mesmo jeito que ele entrou na sua vida ele se foi. Deu tempo dele se instalar e esquecer de levar alguns livros, uns filmes e umas três camisetas. Deu tempo dele deixar inúmeras e incontáveis memórias. Umas atrás da outra. Café, ônibus, celular, almoço, beijo, tristeza, livro, risada, altura, desajeito, brigadeiro, panela, sacada, água, banqueta, bolacha, chocolate, computador, filme, filme, filme, ligação, corrida, cinema, panqueca, lasanha, seriado, mania, mania, mania, consideração, timidez, amor. Não necessariamente nessa ordem mas é assim que os pensamentos se dão. O armário, o sofá, a almofada, os jogos, a cozinha, a garrafa d'agua, as colheres, os passos, a chave, o interfone, a internet. Tudo lembrava ele de uma maneira ou de outra, assim, desavisadamente como se dá qualquer memória de qualquer amor que chegou ao fim. Ele se foi pra ficar com alguém que nunca nem tinha entrado na história e depois do lento afastamento ela olhou pro lado e só tinha aquilo: ausência. No primeiro dia de todas as ausências, quando as pessoas percebem que o rompimento era um fato consumado, ela, que nunca bebia, tomou cinco copos seguidos de toda bebida que conseguiu imaginar. Pra esquecê-lo. Depois da euforia anterior tudo lembrava de novo ele e ele e ele ele ele ele ele. O copo, o lugar, o colchão, a cama, o vinho, a risada, a piada, a falta, a falta, a falta, a falta. Bebeu até querer vomitar, até subir fogo pelo estômago. Queria vomitar ele, queria tirá-lo de dentro dela assim, como se vomita alguma coisa que faz mal. Assim, como o organismo se encarrega de eliminar qualquer coisa que esteja em excesso. Tinha excesso dele, queria vomitá-lo, vê-lo descendo descarga abaixo, morando no esgoto, pra nunca, nunca, nunca, nunca mais voltar. Simples e sorrateiro assim. Exatamente como no dia em que ele bebeu-a e ela nunca nunca nunca mais conseguiu se livrar dele. Pois nem vomitou bebida e nem vomitou ele. Sentia apenas um peso, uma ausência, uma falta de. Uma azia, uma ânsia. Uma ânsia de viver, de estar e de tentar sobreviver no meio daquela ausência enorme. Ela tão pequena, a ausência tão grande grande grande que não cabia nem dentro dela e nem dentro de trinta copos seguidos de coisa alguma. Clichê. Mal estar. Azia. Ânsia de estar vivo e amar aquilo que já não é, já se foi, nunca voltará a ser. Mais uma história de amor. Todos os seus planos, casar, tarde, filhos, cafés, chás, chocolates, corridas, felicidade felicidade felicidade, sorrisos , ansiedade, águas, recados, cartas, livros, filmes filmes filmes, sentimento, amor. Tudo resumido a uma canção de amor clichê pra se cantar bêbado.

13.1.10

Doer.

Eu tentaria qualquer coisa. Fumar um cigarro, um copo de vodka barata, apertar os lábios até sangrar. Qualquer coisa, só pra você não me doer mais. Nunca mais.

Every man has your voice.

"Eu... Eu costumava fazer longos discursos depois que você foi embora. Eu costumava falar com você o tempo todo, mesmo quando eu estava sozinha. Eu andei por aí por meses falando com você. Agora eu não sei o que dizer. Era mais fácil quando eu só te imaginava. Eu até te imaginava me respondendo. Nós tínhamos longas conversas, nós dois. Era quase como se você estivesse lá. Eu podia te ouvir, eu podia te ver, eu podia sentir o teu cheiro. Eu podia ouvir a tua voz. Às vezes a sua voz me acordava. Me acordava no meio da noite, assim como quando você estava no quarto comigo. Então... isso de repente desapareceu. Eu não conseguia mais te imaginar. Eu tentei falar em voz alta com você, como eu costumava, mas não tinha nada lá. Eu não podia te ouvir. Daí... Eu só desisti. Tudo parou. Você só... desapareceu. E agora eu estou trabalhando aqui. Eu ouço a tua voz o tempo todo

Todo homem tem a tua voz."
(Paris, texas)

11.1.10

Da sua ausência não sei dizer.

Sempre soube falar sobre ti. Assim, sei te contar em mil e vinte sete maneiras diferentes. A minha melhor parte, o pedaço mais bonito de mim. Sei contar a nossa história com todos os detalhes que uma história bonita deve ter, sem ter que inventar nada além do que ela realmente é. Você sempre foi a parte mais bonita de mim, assim, em primeira pessoa do singular. Eu só existi completa quando na sua presença. Me ensinaste sobre amores e tristezas e dores e sobre consideração. Me mostrou algumas vezes que uma pessoa pode ser bonita pelo simples fato de existir. Fostes meu verbo, minha canção e meu céu azul por um tempo muito maior que o tempo que se contam nos relógios. Foste também meu tempo, meu lindo tempo de infinito que existia quando você em mim. Saberia contar de todas as nossas aventuras em detalhes, como quem narra um romance adolesecnte, como quem escreve um roteiro de filme de comédia. Te literaturei das maneiras mais bonitas que pude, fostes meu personagem mais completo. Aquele que eu adoraria ler se um dia fosse o caso. Sei falar das suas manias mais irritantes como quem defende aquilo que mais ama. Sei defender o jeito com que tomas tudo como se fosse seu e sei também, claro, dizer que entendo todas as decisões que você tomou e elencar porquês mesmo quando você mesmo acha que tomou a decisão errada. Sempre te defendi com a bravura de quem ama demais a outra pessoa. E lutei por você. Até o dia em que deixei você partir.

Podia falar de ausencias e faltas. Das milhares de coisas que você deixou aqui, e das minhas coisas contigo. Das manias que eu tenho só por sua causa e as coisas ridículas que você ama e eu aprendi a amar. Sei falar de todas as coisas como se você ainda estivesse aqui, só não sei falar da sua ausência e de todo esse emaranhado que se faz quando eu penso nisso de deixar você ir e entre mandar você voltar. Eu nem lembro mais como foi exatamente o dia que eu resolvi que eu te deixaria ir. devia ser um dia qualquer e devia ser eu exausta de não te ter mais. Não me lembro o dia, a hora a roupa que estava usando e nem se fazia sol. Só sei disso, te deixei ir. E só sinto isso, ausência. Uma ausência tão enorme que eu não posso te dizer como ela se sente. Posso elencar objetos. Posso te falar dos risos que faltam. Posso te dizer das palavras que não saltam mais e dos convites que não mais aparecem. Posso te falar de um lugar no sofá de umas comidas. Te dizer até de um folheto que um dia eu quis guardar e acabou indo com o lixo, até disso eu posso te falar mas eu não sei nem o que eu sinto com isso.

Às vezes você me dói. Fundo. Objetivamente junto com as coisas que eram suas e hoje são minhas meio que do jeito que eu quis que fossem. Queria te chegar e falar tantas coisas. Não dessas que eu solto assim quando escrevo, mas coisas pra você, coisas entre eu e você que eu podia entitular como "tudo o que eu queria te dizer antes de você partir". Assim, como se você tivesse pegando um ônibus para o outro lado do país e eu precisasse te deixar com a certeza de que você sabe de tudo que eu um dia senti por você. E eu não estou falando de amor nem nada dessas babaquices. A coisa agora é sentimento. Eu tinha um monte de coisas pra te falar antes que você partisse. Coisas minhas. Mas você nunca me deixa falar nada e vai indo embora embora embora. E eu desisto de te entregar coisas pra que você leia depois no momento exato que penso em escrevê-las por mais que eu saiba que é necessário que você saiba de mim antes de partir de vez. Mas eu não sei falar sobre a sua ausência. Nem pra mim mesma, quanto mais saberia elencar todos os fatos que eu tinha que te falar antes de você partir. Justo pra você que resolve partir antes mesmo de eu querer que você vá. Justo pra você que era a única presença que realmente importava e eu resolvi deixar ir.

Eu queria saber falar de nós, mas eu só sei falar de mim. Ou de você. Assim, separadamente como sempre fomos. Eu queria te deixar ir também. Pra muito longe. Mas com a única condição que você me esquecesse de vez. E quando eu digo esquecer eu digo apagar da memória. Eu posso deixar até minhas coisas com você e você pode até esbarrar com umas partes minhas (eu sei que deixei algumas várias nesses ultimos meses) mas mesmo assim você não irá sentir falta. vai olhar pro meu pedaço em você e vai deixar de lado junto com os jornais lidos. Junto com tudo que um dia foi importante mas hoje não tem mais razão se ser. Só assim você pode ir.

Mas você não vai. E essa é a pior parte. Se pelo menos você fosse e mudasse de vez eu ia conseguir falar da sua ausência. Mas me diz, que ausência? Eu te deixei ir. Eu não apareço mais nas horas inoportunas, eu nem te ligo mais pra saber como você vai e eu nem me interesso em saber das coisas que você gosta. Mas você vem me contar. Assim, inesperadamente, você vem me dizer das coisas que você gostou e depois vai embora. Exatamente do jeito que veio. Ocupa sua cadeira por quinze minutos, até menos, e volta pro seu país. Aquele em que eu não quero entrar. Te vejo no ônibus e fico te dando tchau esperando que você vá de vez, mas você nunca vai.

Eu não tenho mais medo. Se um dia você resolver me deixar tudo seria bem mais simples. Com o tempo ia ser difíxil lembrar a sua voz, o jeito que você ri e o que te faz sorrir. Ia sobrar uma saudade, mas eu já tenho saudade de tanta coisa. Tem tanta coisa que se foi guardada aqui e ali que minha casa e meu coração tem espaço sobrando pra saudades e ausências. Você ia ser mais um na estante ali, guardado, do lado dos meus amigos que eu não vejo mais. Exatamente ali. E depois ia existir uma vida toda sem você que só ia te encontrar na rua um dia e pergunta como você vai. Nada mais será como antes. E Partimos.

E eu não sei falar da tua ausência, porque você nem se foi. Está ainda, aqui e ali e eu ainda te procuro nos rostos de todas as pessoas que vejo enquanto caminho pelo caminho que hoje parece meu lugar no mundo. Ainda espero te encontrar de novo porque toda vez que eu te encontro eu consigo ser o que eu era. Eu só preciso te dizer muitas coisas, todas as coisas antes que você parta no seu ônibus com destino a lugares que eu não gosto. Eu te digo, e você vai. Mas se vá de vez porque eu quero conseguir escrever sobre a sua ausência. Não a eminente. A que eu vou sentir, e que vai doer. Mas que enfim, vai ser real.

7.1.10

Eu não podia me deixar dormir sem te dizer isso. Hoje. É, depois disso tudo.
Eu decidi te deixar ir. Faz algum tempo. Deve fazer um mês desde o dia que eu pensei "é hora de te deixar ir". Não por nada. Eu não estou falando de amor. Amor é uma coisa bem mais séria que isso. É quase... É bem mais que amar suas blusas verdes florescentes ou as azuis escuras sem vida. É um pouco mais profundo que isso. E depois de algumas canções, eu resolvi te deixar ir. Não te contei, é claro. Se eu te contasse que eu estava te deixando ir era capaz de eu nem ir de fato, você sabe muito bem como você funciona. Você não ia deixar. E ia continuar marcando o seu lugar na minha vida sempre que pudesse. Depois ia sumir, como você sempre faz. E quem ia ficar aqui ia ser eu, e você com a certeza-vontade boba de saber que eu sempre estarei aqui, no alcance dos seus braços e palavras.

Mas eu te deixei ir. E você foi. Quer dizer, você já tinha ido faz algum tempo nessa sua nova vida estranha em que eu não pertenço. Só que eu ainda tentava te segurar e algumas vezes você passava por aqui pra ocupar alguma das suas duas pontas no sofá. Sabe, costume. Consideração já tinha ido embora fazia um tempo. Uma ponta, umas fotos e um copo de água depois você se foi. Assim. E pronto. E eu sabia que iria. E eu achei que ia doer o mundo, mas nem doeu. Eu, eu estou me acostumando sem você aqui, sabe? Não que eu não me lembre de você há cada dois dias, e não exatamente a cada dois dias, as vezes mais, às vezes menos, todo mundo sabe como funcionam essas coisas estranhas de lembranças. Acontecem e depois vão embora, desse jeito assim mesmo.

Daí eu desconstruí seu castelo, esqueci o teu telefone que eu sabia de cor e me prometi não te ligar ou te mandar mensagens toda vez que eu visse alguma coisa que me lembrasse você. E assim foi. Com o passar do tempo as coisas vão perdendo o quoeficiente você e eu tenho cada vez menos lembranças suas. O melhor de tudo, não dói.

Eu nunca soube como você ia reagir assim que eu te deixasse. Nos meus momentos mais otimistas eu pensava que você não saberia viver sem mim, mas depois de um tempo foi tanto tempo de você vivendo sem mim que eu tinha apenas uma certeza: Você nem ia se lembrar. É sabe, como aquelas músicas que a gente ouvia quando era adolescente e esquece. Só lembra delas no dia em que ouve. Se invade com umas vinte e uma lembranças, ouve mais duas vezes e depois esquece. Fato, a sua vida mudou. Ninguém quer passar a vida toda ouvindo as canções que gostava quando era adolescente. Eu sou sua canção adolescente, é assim, e acabou.

Daí desde então te vejo remexendo em uma parte ou outra da minha vida. Você aparece, descobre que eu ainda estou viva e some. Como sempre fez. É, eu ainda estou viva e eu ainda me preocupo contigo, mas depois acaba. E daí eu penso o que te faz voltar em mim depois que a gente foi embora um do outro, sabe? Assim, descobrir novas partes. Por favor, me esquece, eu já deixei você ir. É claro, eu também te disse que poderia voltar, mas não assim, tropeçante, por partes e esquisito como você gosta de fazer. Isso seu eu não quero mais, eu te deixei ir. Agora é a hora que você se vê livre de mim, sem obrigações de aceitar meus convites, sem ter que ouvir minhas palavras meio duplo sentido, sem ter que receber mensagens aleatórias minhas a toda vez que eu lembrar alguma coisa que me lembra você.

Eu te deixei ir e eu quero que você aceite a passagem. E você pode até voltar se quiser, mas só se perceber que aqui é o seu lugar. Caso contrário, me deixe. Você também vai se acostumar com a minha ausência.