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30.11.09

Ele se foi.

(mas ele volta)

Ele foi embora. E pela primeira vez desde a primeira vez ele não foi embora pra voltar daqui duas semanas, ou daqui dois meses. Ele se foi. Sem natal, ano novo ou final de semana bonito a ser. Porque a gente assim decidiu. Dizem que quando a gente escolhe as coisas as decisões são mais fáceis e eu juro que acreditei nisso, mas dessa vez não foi verdade. Porque ele se foi. E com ele indo não há parte nessa equação que seja balanceada de um jeito que valha completamente a pena.

Um dia eu achei que valesse. Já pensei em organizar futuros, filhos e tardes de domingo sem ele. Hoje quando eu o abracei não querendo deixar ele ir, eu não quero mais. não por enquanto, não por agora. Dizem que a gente só dá valor as coisas quando perde e talvez esse seja o clichê mais ridiculo e verdadeiro do mundo. Hoje eu abracei o cara não-mais-perfeito-do-mundo como quem queria deixar uma partezinha dele comigo. Ou uma partezona. Ou ele todo aqui comigo do meu lado pra gente voltar pra casa, sentar no sofá e assistir tv. Assim, simples assim. Só sentar e assitir a novela das oito, como milhares de outros casais casados há trinta anos. Mas daquele jeito que é só nosso. Do jeito dele de assistir novelas comigo. Do jeito dele de ter aprendido a ser comigo. Do meu jeito de explicar histórias pra ele. E porquês. Do nosso jeito de tomar refrigerante e comer salgadinho vendo tv.

Se esses fossem de fato, se forem, se tiverem sido nossos últimos quatro dias, não teria jeito melhor de ter terminado qualquer coisa que seja. Todos os nossos dias tiveram gosto daquelas duas horas que a gente passou hoje de manhã. Daquele jeito bonito que é só nosso, de ser infantil e de ficar ali, só por estar. Eu ficaria vinte e sete anos ali no lugar seguro que é o abraço dele. porque ali eu o amei tanto que deu vontade de gritar. e gritei. porque com ele eu posso ser eu mesma. essa, assim, essa criança grande que eu sou. essa criança grande que ele sente maior orgulho de ter do teu lado, me fazendo ter o maior orgulho do mundo de estar do do lado dele.

Mas daí ele se foi. e se foi junto com ele nossa segurança. primeiro foi ele ficando com medo, e desesperando. Depois fui eu. eu que abracei ele querendo deixar todos os pedaços dele comigo. querendo deixar aquele onibus dali e alugar um quarto e sala nosso pra gente morar pra sempre. eu, ele, e nosso jeito de assistir novela, nossos lugares em londrina e nossa vontade de assistir programas toscos. tudo dele em mim, e tudo de mim nele. mas mesmo assim ele se foi. se foi deixando um controle, tres jogos, um negocinho de arroz, uma caneca e mil e vinte nove lembranças desses dois anos que passamos juntos. ele se foi levando com ele um tênis meu,um corte de cabelo estranho que eu fiz e a lenbrança da nossa primeira e última chuva juntos. com um guarda chuva quebrado a gente ali debaixo do relógio. ele leva com ele uma mochila cheia de lembranças (assim eu espero, e eu espero trinta e sete mil mochilas de lembranças minhas) e deixa comigo outras milhares de mochilas de lembrancas. e quartos, e salas, sofás, videogames, comidas, dias, pensamentos [...]

Ele se foi. E deixou comigo um parte dele. E levou com ele uma parte de mim. Uma parte grande, quase um infinito. Quase um buraco negro. Que a gente entra e não acaba. não acaba nunca. Uma parte sem fim. Um monte de partes. Balões da casinha do sr fredericsen em numero de partes. Ele se foi, mas prometeu que volta. jurou, jurou de coração. E eu espero sentadinha pra que a gente complete nosso caderno de aventuras. Porque eu amo ele, e não vou deixar ele ir.

21.11.09

Esse sim é pra você.

"...Olha, eu estou com saudades e eu gosto muito de você. Assim, um monte bem grande. Quase uma montanha. Uma montanha difícil de escalar em que tem gente morta congelada pelo caminho. Uma montanha dessas, bonitas, que quando a gente chega lá no alto acha que vai poder pegar as nuvens com a mão, que nem algodão doce. (tu pensava que podia pegar as nuvens com a mão se chegasse bem altão? eu pensava, e pra mim, elas iam ser que nem algodão doce)..."


Pro nosso amor que é (era, foi, vai sempre ser?) bem bonito, quase um pôr do sol no lago depois de um piquenique, de tão bonito.

20.11.09

What if

Foi quando eu descobri que ficar sem você não é como perder o braço direito, ou o esquerdo, ou qualquer parte que seja do meu corpo. Estar sem você é um fato, talvez não ainda consumado com o qual eu vou me acostumar tendo a certeza que as coisas que nunca aconteceram nunca nunca serão como algum tipo de realidade. É mais real cru e fascinante, e sempre vai ser. Sendo assim, pode ir sem me explicar como eu faço se eu te perder, porque eu acho que eu já sei e é bem fácil na verdade: continuo.

Vai, garoto e volta quando (e se) quiser.

11.11.09

trechos bonitos do que já foi.

(trechos da história que eu inventei)

[...] " Você tem uns olhos de ressaca sem nunca beber e se veste tão bem que às vezes eu fico vontade de fazer bonequinhas com as suas roupas pra um dia dar pros filhos que eu sei que nós não vamos ter juntos. Eu fico te olhando tão completa e baixamente e fico pensando o que aconteceria depois de uns três copos de vodka barata com limão e muito açúcar. será que assim você ia ter por súbito a vontade de me pegar pelo pescoço e me beijar ou simplesmente deitar no meu ombro e dizer, fica comigo, só essa noite, eu gosto taanto de você...?" Ela não conseguia parar de pensar nisso enquanto encarava os olhos castanho-escuro de matheus a olhando fixo. " Três-copos-de-vodka.. Por súbito.. gosto taaanto de você...". A boca dele se mexia enquanto os olhos meio que riam pra ela, mas tudo o que ela conseguia ouvir era aquele trecho dito pelos mesmos olhos que riam e a boca que mexia há três dias atrás. " Vodka-Pescoço-so essa noite-Gosto taanto". Não dava pra pensar em outra coisa.
- Lu..
- Claro.
- Claro o que, Luana?
- Não sei, Matheus. Acho que eu tava viajando.
- Err, Estranha. Você está sempre viajando. Viajando e rindo sozinha.
- Rindo das coisas que eu lembro que você disse.
- Rindo porque você é triste, Luana.
- Também. Você, você é feliz?
- Ninguém é.
- Alguém deve ser. Não a gente, mas alguém. Não sei, tem uma gente que ri de dentro. Uns casais que saem por aí de mãos dadas e a menina não parece estar fingindo o sorriso. Tem sei lá, umas pessoas que são felizes. Eu não sei porque, mas tem.
- Ou elas fingem.
- Ninguém consegue fingir o tempo todo. Tem gente que não tem esse traço de tristeza no fundo dos olhos, que nem eu e você.
- Eu tenho traço de tristeza no fundo dos olhos?
- Tem. Quando pára e fica olhando subtamente pro horizonte. sabe, você para e fica olhando. Depois me faz algum comentário melancólico. Ou simplesmente diz " ê, luana." e me dá um tapinha. Eu juro que eu fico com vontade te abraçar nessas horas, mas eu só te olho e digo " ê, gênio." e a gente ri. A gente ri de novo porque a gente sabe que é triste.
- Eu nunca sei o que te dizer quando você me diz essas coisas.
- Eu nunca sei o que te dizer.

...

- Você percebeu?
- O que?
- Aquela estrela grande lá.
- Venus, Matheus. Não é estrela, é planeta.
- É bonito.
- Eu achava que dava pra fazer pedidos, quando eu era pequena.
- E o que você pedia?
- Geralmente uma idiotice. O menino que eu gostava.
- E hoje, o que você pediria?
- Pra ser feliz.
-O menino que você gosta.
- Isso é ser feliz?
- Não, mas é um começo.
- O que você pediria, Matheus?
- três copos de Vodka com Limão e muito açucar.
- Me passa o vinho, vai.


- Sabe, eu não pediria nada pra estrela.
- Nada?
- Não. Felicidade deve ser isso daqui. Isso, você, vinho barato e essas conversas que vão de filosofia à quadrinhos em meio segundo. Tudo, e umas estrelas pra acompanhar.
- Está finalmente admitindo que eu sou uma boa companhia?
- Eu não, o vinho deve estar.
- Você nem bebeu, Luana.
- Eu sei, mas você já me viu admitir alguma vez que eu gosto de você?
- Não.
- Então, não vai ser agora, gênio.
- Podia. Vodka, sabe?
- Não quero falar sobre isso.
- Você tem medo, Luana?
- Tenho. de tudo, você sabe, montanhas russas...
- ... e tudo que possa tirar os seus pés do chão.
- Exatamente.
- Eu tiro seus pés do chão?
- Totalmente.
- Mesmo?
- Matheus, o que mais você acha que me faria sair de casa, sábado, dez de noite, dirigir até o mirante pra olhar estrelas e tomar vinho ruim no copo de plástico?
- Vontade, espírito aventureiro?, gnomos?
- Você.
- Era a quarta opção, você nunca me deixa terminar nada.

....

Eu sempre gostei de você.
- Isso era inevitável.
- Desde a primeira vez.
- A primeira?
- Na primeira frase eu sabia que era você.
- Eu sempre soube.
- Deixou de saber um dia?
- Eu tive medo.
- Eu ainda tenho.
- Medo de que exatamente, Luana?
- De tudo, sempre fui medrosinha.
- Você tem medo de mim?
- De você não, do que você causa em mim.
- Raiva?
- Pior que isso.
- É nessa hora que eu presumo que você me ama?
- Se a gente fosse convencional, sim. Mas eu nunca vou deixar.
- Nunca vai deixar o que?
- você ter certeza que eu te amo.
- O que você quer dizer com isso?
- Que eu nunca sei o que te dizer, Matheus.

- Amor de verdade é o pior sentimento do mundo.
- Luana, para de ser fria.
- É o pior sentimento do mundo.
- Por que voce diz isso?
- Porque quando você ama alguém de verdade isso faz com que a pessoa tenha um certo direito de fazer qualquer coisa com você. Amar de verdade significa nunca mais deixar de amar, apesar de.
- E tudo isso quer dizer que você não pode admitir que me ama porque você me ama de verdade?
- Eu uma palavra pra você entender: vulnerabilidade. Não gosto.
- Vulnerabilidade signfica?
- Você fazer a pior piada do mundo, eu rir e querer te abraçar.
- Isso não é o significado de vulnerabilidade.
- No meu mundo é.
- Seu mundo sempre foi todo estranho, luana.
- No meu mundo você meio que reina, então além dele ser estranho só eu vou querer morar nele.
- Eu vivo no seu mundo?
- Não, você é o cara que recria ele todos os dias. E que pinta ele de aquarela e nanquim.
- Provavelmente é o mundo mais bem desenhado de todos os mundos.
- Não.
- Não?
- Não, mas eu tenho um puta orgulho dele ser como ele é.

- Você namoraria comigo?
- Agora.
- E depois?
- Depois eu não sei.
- Como assim?
- Depois que eu aceitasse nosso namoro ia deixar de ser como eu penso que ia ser. Realidade frustra as pessoas, cara.
- Depressiva. Quer um chocolate?
- Besta.
- Eu já te disse como eu imagino.
- E eu concordo com você. Mas isso a gente já faz, só que sem os beijos. Coloca relacionamento, compromisso na parada e a gente pode estragar tudo.
- É disso que você tem medo?
- Não.
- Do que é então?
- De te perder. Eu tenho medo de te perder até quando eu ainda não te tenho.
- Como assim?
- De te perder de mim. Que um dia que olhe pra você e te veja irreconhecível.
- Lu, para, isso nunca vai acontecer.
- Você está mudando já. Gradativamente. E disso que você se torna, eu não gosto.
- Eu estou te decepcionando?
- Lembra daquilo que eu disse sobre amor de verdade? Você nunca me decepciona. Mesmo quando decepciona.
- Se tu continuar comigo eu não vou ter como me perder de você.
- Eu sempre vou continuar com você. Mas essa não é a questão.
- Qual é a questão então?
- A questão é se você vai continuar comigo.
- Eu sempre continuo, não continuo?
- Se isso de você voltar sempre é o que você chama de continuar, então sim.
- você se incomoda com isso, não?
- Não, eu só me incomodaria de fato se você não voltasse mais.

- Eu te machuco, luana?
- Você me dói.
- Isso quer dizer que eu te machuco, não quer?
- Quer dizer que você me dói.
- E doer não é machucar?
- Não, gênio. Doer é sentir.
- Você me sente?
- Você me dói em todos os meus pedacinhos.
- E isso é ruim?
- Isso só quer dizer que você vive em mim.
- Em você é um bom lugar pra se viver.
- Você não sabe.
- Não?
- Não, porque eu sei que você vive em mim, mas você ainda não se sente vivendo.
- E como a gente sabe a diferença?
- Eu pra você sou externa, e pra mim você vive dentro.

....

- gosto do seu jeito aleatório.
- Quero encostar no teu joelho e dormir no teu ombro.
- É disso que eu estou falando.
- Eu sempre quis.
- sempre quis o que, luana?
- Encostar no teu joelho e deitar no teu ombro. Faz uns meses que é nisso que eu penso enquanto eu te olho.
- Só nisso?
- Não, em em universo de coisas.
- que universo?
- você.
- eu não te entendo.
- minha atual definição de universo: você.

...

- Eu sempre gostei de você, sua besta.
- Você sempre me considerou pra caralho. Gostar é uma coisa diferente.
- gostar para luana significa?
- vou saber.
- gostar para matheus significa?
- considerar pra caralho.
- isso não quer dizer nada.
- Eu te amo.
- Isso também não.
- E o que quer dizer alguma coisa pra você?
- O que você faz, não o que você diz.

- Encosta no meu joelho, dorme no meu ombro.
- eu faria isso todos os dias da minha vida.
- Eu não ia deixar.
- Tu nem gosta de mim.
- não, é que num mundo justo a gente revezaria.

...

- É uma relaçao de duas pessoas que se amam. A gente só não se beija.
- você não me trata como sua namorada.
- Mas te dou todos os direitos de você me tratar como se fosse o seu.
- De fato.
- Concordando comigo, luana?
- Não, é que esse foi um direito que eu institui.
- Você?
- É, desde sempre. Você só me permitiu.

...

- Não, eu só sei que a gente nunca vai deixar de se amar.
- Por que isso?
- Por causa da sua definição de amor-verdadeiro: amar de verdade significa nunca deixar de amar apesar de.
- Agora o quer você sente por mim é amor de verdade?
- Eu sempre chamei de "puta consideração"
- Porra, que nome sem romantismo.
- Mas significa a mesma coisa.
- E como você tem certeza que a gente nunca vai deixar de se amar?
- Foi um direito que eu institui, você só me permitiu.

- Um copo de vodka com limão e muito açucar, matheus.
- você disse que não ia precisar disso.
- só se eu tivesse certeza que você gosta de mim.
- E tá, você não tem?
- não, eu sempre soube que você gostava de mim.
- E porque nunca fez nada?
- Porque não precisava.
- E agora precisa?
- Precisa da vodka.
- Pra quê?
- Pra eu pegar no teu pescoço e te dizer que eu gosto tanto de você.
- você já me disse isso.
- Quando?
- Inúmeras vezes.
- De fato.
- Só que sem dizer.
- E como a gente fica?
- Juntos.

- você é meu namorado então?
- sou, prazer.
- prazer.
- posso dizer pra todo mundo que você é meu?
- isso todo mundo sempre soube.
- achei que você nunca ia admitir.
- Eu sempre admiti, garotinha, você que nunca quis se convencer.
- Eu tinha medo de te perder.
- Você nunca vai me perder.
- Amor de verdade?
- puta consideração.

....

( a vida é bem mais fácil na literatura.)

8.11.09

pra sempre (?) meu.

você sempre foi meu. desde que eu posso me lembrar, você sempre foi meu. você existiu pra mim sendo meu garoto, meu garotinho. meu grande, enorme, completo garotinho. você sempre foi meu. mesmo quando não era, você sempre foi. e assim sendo, eu nunca tive o que temer. podiam passar alguns dias, alguns vários dias, mas você sempre ia voltar pra mim e eu ia voltar pra você. era um acordo mútuo assim traçado. a gente nunca mais vai se largar. nunca mais. e podiam passar tempestades e eu podia viajar de balão por todas as cidades que eu quisesse que quando eu voltasse, você estaria lá me esperando. me esperando de braços abertos e com o sorriso-mais-lindo-do-mundo. e eu estaria assim pra você também. você podia se perder por aí como você fazia de vez em quando, mas eu sempre te entendia e deixava um café pronto e forte pra quando você voltasse. só pra você nunca se perder de mim, e aprender que mesmo que se um dia não souber mais pra onde ir, você ia sempre poder voltar pra mim. pra sempre.

mas a grande verdade é que você nunca foi de vez. eu até estou tentando pensar um dia que você tenha ido realmente, mas esse dia nunca aconteceu. Daí a gente só pode tirar a grande verdade do universo, ou a grande verdade da nossa história, como você quiser. você nunca deixou de ser meu, mesmo quando deixou. houveram umas vezes em que você resolveu que ia passar um tempo em outros lugares. você já gostou de outras garotas, é verdade. você quis namorar outras garotas, e todas elas foram e voltaram, mas sem mim você nunca deixou de estar. eu te deixava ir, mas porque eu sabia que você ia voltar pra mim. porque eu sabia que você nunca na verdade tinha se desligado de mim. e eu estava lá, como alguém que te deixa trilhar os próprios caminhos, mas só pra não te deixar desviar da rota certa. eu sempre fui sua rota certa. você podia ir pra qualquer lugar, que no fim das contas era pra mim que você voltava. era comigo que você sempre esteve, você lembra? você ainda lembra que eu te dei colo em todas as vezes que você fez as decisões que eu sabia que iam dar errado e voltou pra mim, dizendo que não estava bem. eu só te deixava ir porque você precisava aprender, mas eu também só te deixava ir porque eu sabia que você ia voltar. e ia voltar pra mim, porque na verdade você nunca tinha ido. você só tinha ido dar uma volta, provar outros ares, mas só pra me contar depois como tinha sido e me dizer que tinha sentido minha falta em alguns pedacinhos da viagem.

Tu ainda te lembra daquela vez que mesmo quase-apaixonado você quase desistiu de tudo por mim? tu ainda te lembra que eu sempre fui teu porto seguro? tu ainda te lembra que eu um dia fui teu ideal de garota? tu ainda te lembra que na verdade você sempre esteve comigo? garoto, você sempre foi meu e eu sempre fui sua. sempre. mesmo quando não fui, eu sempre sempre fui sua. desde o primeiro dia. desde o dia em que você me cativou que eu sabia que eu ia ser sua pra sempre. mesmo que náo fisicamente. eu ia ser sua. podia estar sendo de outros caras, podia ter vinte e sete namorados, mas ainda sim, eu ia ser sua. porque eu nunca fui de mais ninguém. não depois de te conhecer.

mas hoje alguma coisa estranha acontece e pela primeira vez eu tenho medo de que você vá e não volte. que em alguma parte sua, você tenha esquecido que você sempre foi meu. e então resolva ser dela. dela, dela que não tem um tico que seja a ver com você e que vai ter que aprender a lidar com todas as coisas que eu já sei. com todas as coisas que eu já aprendi. tenho medo que você aprenda a ser dela, dela que não sabe o jeito de adoçar teu café ou os livros que você possivelmente vai gostar. dela que não sabe que você tem na verdade quinze anos e que sonha com alguém pra ser sua, e pra ser sua pra sempre. dela que ainda não sabe o jeito que você prefere os seus lanches e nem o que você faz aos domingos, e nem o que você fez a sua vida toda, e nem o que você poderia querer fazer, antes mesmo de você mencionar. tudo isso eu sei, tudo isso eu aprendi enquanto você era meu e eu nem percebia. porque você só era, e assim era como se você tivesse sido assim sempre. nunca houve um jeito de existir que não fosse você sendo meu. nunca. e então eu nunca soube imaginar que um dia pudesse haver. e então parece que há, e eu tenho que te dizer que eu nunca senti tanto medo assim na minha vida. como é que eu vou viver sem ter você pra mim? me diz, me diz se você conseguiria viver com um vazio do tamanho do universo inteiro pra lidar. com todos os sábados da sua vida e todos os restos dos outros dias sem cor. só me diz se você ia conseguir viver sem seu braço direito, porque você é meu braço direito, e o esquerdo, e todo o resto do meu corpo. e eu nasci com todas essas coisas, então nunca imaginei como seria viver sem elas, mas eu sei que ia doer. eu também nunca me imaginei viver sem você, porque até agora você era meu e olha, se você for embora eu só sei que vai doer de um jeito que eu não sei nem explicar como vai ser porque é uma dor que eu nunca senti. e olha, eu não quero saber. porque deve ser alguma coisa bem perto de morrer ou de perder um braço. ou perder o corpo todo. ou seria como viver vendo tudo preto e branco pra sempre, sem nenhuma corzinha que fosse. sendo de qualquer jeito ia doer muito e ia ser bem sem graça. então olha, continua sendo meu. não vai ser esforço nenhum, já que faz um tempão que você já é meu. e aí eu prometo que eu continuo sendo sua, porque eu nem sei ser de outro jeito. mas caso você tenha mesmo que ir e me deixar sem meu braço direito, sem minhas cores e com um vazio do tamanho do universo, só te lembra que eu ainda vou ser sua, se um dia você quiser voltar. porque eu sempre vou ser sua, mesmo quando não for. agora, antes de ir só tenta me explicar o que eu faço se eu te perder, porque eu juro que não sei.