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16.7.10

miniconto.

Sinto o gosto amargo do café desde que você se foi.
Começou assim.
Essa merda de café você e sentir um gosto amargo.
Só tinham me dito pra escrever uma frase que devesse dizer algo como "odiar o amor"
Eu não odeio o amor mas esse sentimento ódio-amor é só seu.
Amor também.
Os cafés igualmente.
Os cafés são amargos desde que você se foi é um fato. Idiota.
Antes eles eram doces. Não no sentido de o serem.
Ninguém entendeu essa bosta também. Fizeram mil suposições sobre cafés amargos e teve uma idiota que disse que o café sempre foi amargo.
Mas que porra, é claro. Eu tomo café sem açúcar.
O amargo ali é a ausência. Ausências amargam de um jeito enjoado azedo.
Pior que café.
A sua, pelo menos. Aparece em toda xícara de café.
Isso que eu pensei em falar de sofás ainda ou de pratos.
Na verdade eu podia falar de qualquer coisa dessas inentendíveis.
Só sei falar de mim mesma. Sucesso mesmo fez a frase mais clichê do mundo. Usando sombra, luz acesa, a porra toda.
Meu amor por voce era tao cliché quanto a frase das luzes, sobras e o resto.
É, ainda, porque não acabou.
E é ao mesmo tempo patético porque na verdade eu sei que ele vai continuar sendo assim patético até eu não agüentar mais.
Se é que um dia esse dia chega.
Minha vida nesse espaço tempo chegou ao cúmulo da merda. Agora eu espero a redenção.
Nem te digo "deixar-de-te-amar", porque dane-se. Meus cafés tem sido assim amargos desde o dia em que você se foi.
Foi pra você a primeira xícara do café bom que eu fiz na vida.
Eu lembro de você em cafés, que porcaria é essa. Lembro também em almofadas e colheres. Me disseram pra odiar o amor e eu lembrei de untensílios domésticos.
Utensílios domésticos de gente que nunca compartilhou nem as mesmas idéias. Ironias finas essas do destino.
Hoje voce compartilha cigarros baratos.
Hoje você se compartilha barato demais.
Você se dá de graça e não recebe nada em troca.
Não sei se seus cafés são mais doces ou se seu inverno tem sido mais quente.
Mas nunca mais vi você sorrir.
Eu posso estar te amando só porque preciso amar alguém.
Eu posso estar te amando pelo simples fato de só saber te amar.
Eu posso estar te amando por vício.
Eu posso estar apenas dando continuidade.
E tudo isso é uma merda. Isso de eu estar acordada e saber que vou perder a hora, inclusive.
A certeza do inevitável que me ocorreu hoje.
Eu te olho e sei que vou continuar te amando até o dia em que não vou amar mais.
Talvez um dia o amor acabe. Tal qual o estranhamento do gosto amargo que possuem os cafés.
O café que eu tomei hoje tinha gosto de água suja com álcool.
Mais ou menos o gosto que tem a minha vida hoje.
Tem uns casais transando nos apartamentos em redor e tem gente se amando em algum lugar do mundo.
Você, inclusive, hoje pode estar se sentindo amado.
Ou pode estar acordado olhando pra cima depois de ter comido a sua garota pensando no seu enorme vazio.
Eu já não sei de você.
Sei de mim. Do gosto amargo que tem o café desde o dia em que você se foi.

O amor pra mim hoje tem gosto de água suja com álcool barato. E me sinto tão terrivelmente sozinha que vomito.

15.7.10

Quebra cabeça de existência.

Talvez eu queria te olhar, dizer meu deus você era a minha única esperança nesse mundo, nessa vida, nessa minha existência. Era a minha única esperança agora pelo menos nesse instante era a única coisa em que eu estava me agarrando, e tudo isso, toda essa indecisão-indiferença, todo esse mistério sem sentido tem me feito mal, meu deus, tão mal que você se soubesse ia parar ia sumir ou ia dizer de um jeito estranho sem amor, sem sentimento sem nada que estava tudo bem, que ia dar tudo certo e que ainda havia esperança em algum lugar na vida, no mundo, nas pessoas, nas coisas todas. Mas você nem deve saber o que é isso. Eu descubro então que na verdade não queria te dizer coisa nenhuma dessas, porque na verdade você não é nem perto daquilo que a gente pode chamar de esperança ou sei lá o que. É só assim um nada, no meio desse monte de nadas que tem se tornado a minha vida. Desses buracos. Eu tento te pegar e dizer meu deus, vem cá, preenche esse buraco. Mas o buraco não foi você quem fez, fui eu. E não cabe a você nem a ninguém preencher. Como um quebra-cabeças desses de cem peças que perdem uma parte não adianta tentar colocar a peça que for no buraco, quebras-cabeças precisam de encaixes perfeitos. Assim também se faz com a vida, com o amor e comigo. Você não é a minha peça, a minha esperança, você só é esse nada no meio do monte de nadas que a minha vida virou desde que eu perdi uma peça. Um pedaço, uma parte, meu braço direito. E o quebra-cabeças fica lá, perdido, perdendo cada dia mais peças, abrindo cada vez mais buracos e é nessa ânsia de preenche-los que tudo que eu consigo é me perder cada dia mais. Nessa procura de peças erradas coisas erradas gentes erradas tudo que eu percebo é que só existe uma peça que eu perdi e só resta então conviver com o buraco até achar a peça de novo, ou quem sabe só aprender a conviver com o buraco, com o vazio, com o nada.

Diariamente.

sentimento sem sentido

e hoje no meio desse meu tempo espaço, tão novo e cheio de descobertas e filosofias e novas pessoas, rostos, sotaques e percepções. Nesse meu dia tão lotado de certezas, de incertezas e de frios. Nesse meu dia de literatura e chuva, de catarse e chuva, de choro e chuva. Nesse meu dia de insônia, conversas risadas e chuva eu me descobri. E imersa dentro de mim eu te enxerguei. Aqui dentro você sorri e lá fora você finge. E é o ter dentro de mim o seu sorriso que me faz atravessar os dias, fingindo minha alegria com o sorriso que consegui roubar de você.

Clichê-Coração.