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30.6.09

Vinte e nove maneiras e meia de não reconhecer-se.

E eu não sei quanto tempo faz, mas se fazem meses desde a última vez que essa solitária eu adentrava qualquer ruído que fosse fora da incomensúravel rotina que já me quebrou em vinte quatro mil trezentos e sessenta e uma partes. Não me lembro de mim comigo mesma desde nem posso me lembrar quando e isso é coisa ruim que se sente nos ossos. Sinto saudades de mim como era, e sou, dessa essência desajeitada, sempre querendo chamar atenção. Desses bom humores que escondem vastas tristezas.

Gosto de ser como sou, embora doa um tanto. Sei que estou essencialmente precisando de conversas, de novos ares, não sei me sentir presa. Sempre soube que qualquer responsabilidade que me fosse imposta doeria nos ossos. Nasci pra ser cuidada. Não sei cuidar e nunca soube carregar peso demais nos meus ombros. Preciso de um momento só pra mim. Um vão que seja, para que fluam as coisas que aqui estão presas.

Sempre tive medo da solidão. Agora a abraço tranquila, como criança que corre de mãos dadas com um novo amigo. Juntas abraçamos a melancolia e nos damos as mãos rumo a caminhos sórdidos. Acontece sempre, eu sei. E acontecerá assim até que não precise mais acontecer.

Hoje preciso respirar até encher trinta e cinco pulmões. Preciso estar em trezentos e quarenta e sete lugares diferentes. Preciso das minhas vinte e seis maneiras diferentes de enchergar um mesmo problema. Preciso me encontrar no meio dessas brincadeiras de não ser. Preciso de razões para viver, e mais ainda, razões para continuar viva. Novecentas e quarenta e três razões de cores diferentes. E só.

26.6.09

Mesmo que mude

Vocês estão ficando todos diferentes e eu estou sentindo vazio de existir. Queria pegar cada um de vocês e dizer o tudo e tanto que a gente às vezes precisa que seja dito para que a gente possa se encontrar com aquele pedacinho da gente que não muda nunca. Gosto dos teus pedacinhos que não mudam nunca. Gosto mais desses do que de qualquer outro pedaço que venha a existir, ainda que novo, ainda que belo, e mesmo que sublime. Vou gostar sempre do que as pessoas são em essência. E vou sempre amar apesar de, porque sempre achei amar por causa de, fácil demais.

Sei de poucas coisas. De dias chuvosos que me invadem, de saudades pouco transparentes e de dúvidas grandes, dessas de fazer ponto de interrogação cair na cabeça de qualquer um. Queria ser feliz, daquele jeito e tanto, de novo. Sinto saudades de velhas tardes empoeiradas com cheiro de torta de liquidificador que aconteciam toda semana, cheias de risos nervosos e sinceros, e quem sabe, um pouco de ciúmes. Sei daquilo tudo que aquilo era a gente existindo completo, existindo em quatro jeitos de existir diferentes mas que formavam um só. Gosto, sempre gostei, vou continuar a gostar até que não exista mais jeito de existir.

E sinto nos ossos essas mudanças brutas. Um dia a gente acorda e perde tudo aquilo que nos fazia feliz e não sabe nem mesmo dizer como, ou porquê. Agora eu sei de cada um de nós perdido numa coisa diferente que nunca nos pertenceu, mas nos fingimos felizes e inteiros, leais e amigos, como sempre fomos, mas não somos mais, apesar do fato que seremos sempre. Preciso dizer que amo cada pedaço que existe em cada uma dessas três pessoas que são pra mim o de mais precioso vivendo perto. E mesmo que se sinta a necessidade de um dia sentar e dizer tudo aquilo que sempre precisou ser dito mas que será entendido com olhares, a gente sabe da certeza, eu pelo menos sempre sei da certeza daquela música empoeirada, que isso que a gente sente, ou que eu sinto vai ser sempre amor (daquele mais genuíno) mesmo que mude.

Que nunca nos afastemos, é só o que eu preciso ter certeza. Amarei sempre os três pedaços mais importantes dessa mesa que me faz existir, sem vocês sou manca, digo e repito e além de todo o mais, pre-ci-so.

8.6.09

Das sensaçoes

Da absurda agonia de existir papel e caneta, mas faltarem as palavras. Da inquieta sensação de respirar e existir, mas faltar a vida. Da estranha frustração de ser o malfeito entre caio e clarice e odiar esse existencialismo barato, sem bebida, sem cigarro, engolido à seco, clichê por clichê, como se saboreasse belos doces, que na verdade são feitos de fel. Das sensações misturadas da necessidade de proteção a quem não precisa e das agonias de gostar demais a ponto de nunca nunca conseguir deixar. Da inquietação perene vinda do vício estranho por cafeína. Das saudades suicidas de tudo aquilo que já foi e nunca mais vai ser, mas poderia. Da tristeza ocasional de saber que nunca será tudo aquilo que desejastes, mesmo que tentes com toda a alma e deseje de todo o seu coração. Do aperto na alma de não ser aquilo que o modelo perfeito de você queria que você fosse. Das horríveis dores de cabeça pelas noites mal dormidas. Do frio inquietante que gela ossos e alma do acordar cedo para honrar aquilo que não considera importante. Dos buracos abertos dos amores que são perdidos ano a ano, mês a mês, durante toda a vida. Da esperança bandida de encontrar um lugar só seu e ser feliz feliz feliz feliz. Do vício suicida de ser feliz com aquilo que lhe faz mal, e do que te faz mal te fazer sorrir teu sorriso mais sincero. Da certeza de saber que não casarás com o amor da sua vida, porque ele já se foi. Do enjôo matinal por ser essencialmente romântica nos dedos, e seca como uma esponja na vida. Do pesar de perder todas as pessoas que um dia amou, algum dia, ainda que longínquo. Da absurda agonia de existir e ser, e continuar vivo. Estou.

aleatoriedades de uma mente sem atividades.

E a menina sempre usava roupas que na verdade não lhe cabiam. Porque a menina nunca coube dentro de si.

***

E a minha abstração é tão concreta quanto viradas repetitivas de pás de ventilador.

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Porque não foi o seu sempre existir que te aproximou daquilo que ela não era. Foi o que nunca existiu em ti que te tornou próximo do que na verdade ela sempre foi.

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Odeio estar literária. Minha criatividade nunca coube dentro de mim. É maior, é sublime, não me pertence. É anterior. Sou muito parca. Pobre. Sou Normal. Não me abarco. Nunca abarcarei. Transbordo.

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E das coisas que vivem em mim, vai ser sempre você a transbordar o que existe de mais bonito. E sublime. E seu.

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Gostarei sempre de sorrir contigo. E de tomar café em manhãs tristes e frias. E conversar ao relento. Gostarei sempre de estar contigo. E te sentir presente perto presente meu. Gostarei ainda mais de como me fazes sorrir mesmo quando não está presente. Presente meu.

***

E ela tinha tendências estranhas a gostar de manteiga, chocolate, bacon e principalmente a estranah tendência de gostar a ponto de nunca mais poder desgostar.


***

E das coisas que eu amo, te digo que você é pra sempre. porque amizades que existiram anteriores a existência, continuarão a existir quando a existência nos for posterior.

6.6.09

Vai sempre ser e sempre será.

Eu já estava completamente confusa antes daquilo, mas tudo que me fez perceber de vez tudo o que estava acontecendo foram duas malditas frases que nem tinham muito a ver se tiradas do contexto, mas entre eu e você faz um sentido absurdo. Você se mostra tão pouco, e eu te entendo tanto que chega a ser chato. Eu queria ser completamente diferente de você. Eu queria estar com você só por alguma afinidade bem idiota. Do tipo ‘ a gente sai junto porque a gente gosta de café com menta e ninguém mais gosta disso, e eu odeio as nossas conversas.’ Mas nossa afinidade ultrapassa o café com menta e eu adoro as nossas conversas. É claro que eu já tinha percebido isso antes, mas eu fico abstraindo as coisas, você me conhece. Você me conhece? Bem, suponhamos que conheça.

Eu fico tentando esconder de todos os modos possíveis o fato de eu adorar tanto tudo que você faz e eu acho que eu consigo bem, pros outros. Pra você eu estou sempre ridiculamente despida e você finge que fala brincando tudo que você já sabe sobre mim. Eu sou frágil e ridícula perto de você, além de querer ficar chamando a atenção como uma criança birrenta. Isso já bastaria pra me desconcertar inteira, mas ainda por cima você me entende pelo olho e isso é a pior coisa que poderia ter acontecido. Eu sou um mistério, sabia? Ninguém sabe meus segredos e ninguém entende o que eu estou sentindo pelo olho. Eu não sou clara e sincera. Eu sou uma merda de uma pessoa seca e que não demonstra nada. Mas com você eu estou sempre baixando a guarda, tentando ser simpática e imaginando que seria bom que você me abraçasse num momento chamado agora. E você sabe disso. Eu sou transparente pra você, eu não tenho vidro fumê nem nada, e se eu fosse um carro com insulfilm, pra você eu sou vidro transparente e você sabe de tudo que eu faço, mesmo que eu não conte. E é tudo isso que eu odeio em você. Porque você não é o tipo de pessoa pela qual eu me interessaria e nada disso. Você não tem nada mais além da altura correta e rir das coisas idiotas que eu falo fazendo parecer uma sacada extraordinária. Eu sinto mesmo é vontade bater em você. E se eu te falar isso você vai saber que eu estou mentindo e vai rir. Vai rir com aquele sorriso que você tem e que tem alguma coisa que eu não consigo me desvencilhar de jeito nenhum.

Suas posições me irritam e na verdade eu adoraria que você não fosse importante na minha vida. E mesmo que fosse eu adoraria mais ainda que você não soubesse. Mas fato é que você soube isso antes de mim enquanto eu só me dei conta depois de umas duas frases que você falou e nem deve ter prestado atenção. E isso é medíocre, tudo isso que eu estou falando poderia muito bem aparecer num daqueles filmes de comédia romântica pelos quais eu tenho certo desprezo, mas mesmo assim choro. E isso resume tudo. Eu queria ter um certo desprezo por você e nem me importar. Você aparece, a gente se dá bem, conversa e tal, mas você não é nada mais do que um daqueles filmes que eu até gosto, mas nunca vão pra minha lista. Não. Eu aluguei você tendo certeza que eu ia ter um certo desprezo e acontece que eu estou chorando igual uma louca por aquele filme que eu jurava não gostar ter enchido minha alma dessa forma.

Foi o que aconteceu, se eu entendo? Entendo completamente. Mas você está sempre entendendo mais. Fato é, eu até queria te devolver na locadora, até devolvi, mas eu fiz uma cópia pra mim e não consigo jogar fora. Você fica fazendo essas coisas. Você fica me entendendo. Você é mais que afinidade de coisa sem importância e eu fico contando horas pra estar com você, porque você é minha presença mais importante. Eu fico te olhando como se você nem importasse nada, mas você já me leu e a gente sabe exatamente o que está acontecendo. E eu te odeio por isso. E por mil coisas mais. Eu podia te falar mil coisas, mas você já sabe de tudo. Eu não estou em suas mãos e posso sair quando bem entender. E pelo olhar você sabe que isso é uma mentirada sem tamanho.

Já não tem mais jeito, eu sou transparente pra você. Faz o que quiser que eu já não ligo. Porque você sabe muito bem que essa minha cara de “ eu estou odiando” é só pretexto pro “ me abraça agora”. "Porque nós não vamos nos casar. Mas não existe ninguém tão bom, e ninguém mais que eu possa encontrar. É difícil pra mim, mas estou tentando."

Seremos sempre, vestígios do que sempre foi, e sempre será.