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8.3.15

and I know that I should let it go but I can't

quando a gente se encontrou eu não tinha muito jeito com relacionamentos e você também. logo no segundo encontro você foi me dizendo que você nunca sabia quando mandar as mensagens pras pessoas ou dizer que estava com saudades, coisas que transformei num tweet tempos depois e recebi estrelinha sua. recebi mais estrelinhas suas do que provas de amor concretas, mas tomava como um "eu gosto de você" tímido, que continuou conosco mesmo depois que os anos passaram e eu me mostrei uma pessoa nem-tão-boa-assim.

enquanto seu mal jeito com os sentimentos se mostrava em silêncio, o meu se mostrava em palavras demais e quando você achava que ia me pegar eu fugia. ainda assim, eu sempre ficava offline no chat do facebook quando te mandava mensagem, e meu coração batia forte enquanto eu dava voltas pela minha casa esperando você responder. às vezes você respondia na hora, o que me obrigava a um diálogo em que eu sempre achava que podia escolher melhor as frases. eu já disse muita bobagem pra você, mas você sempre respondia rindo e eu achava que então tudo bem. em todas as vezes que eu me achava a pior pessoa do universo você me achava a mais capaz do mundo e pra mim estava tudo bem. eu só agradecia, sem emoticons porque achava emoticon proximidade demais, mas eu sorria por trás do teclado sem que você soubesse.

uma vez eu emagreci e você notou e na outra vez eu fiz um olho esfumaçado e você também percebeu. eu esquecia quando você me chamava pra um cinema na sua casa e não aparecia porque você não tinha confirmado, e vai que eu era uma visita indesejada? quando você dizia que a gente ia sair, eu sempre ficava esperando de celular na mão, mesmo que no fim nosso programa fosse ficar sentados no seu sofá que não era sofá enquanto eu comentava novela. eu sempre te dizia que meu sonho era comentar novela na tv e você me chamava de dona gertrudes. eu não tive tempo de te dizer que hoje esse é o meu trabalho remunerado, embora eu ache que você sabe disso porque atualmente que vida não é exposta?

eu tenho duas cartas de amor que pensei e te dar e nunca dei porque eu achava que naquela hora já tinha perdido o timing. perder o timing é uma coisa comum nossa, eu acho. tenho também guardada uma revista piaui que comprei especialmente pra você, com uma matéria que só você entenderia, mas agora ela figura atrás de uns livros de literatura que nunca li e que estão juntos com um livro do sartre que compre quando ainda estávamos meio juntos porque gostávamos de discutir existencialismo. não sei se você ainda gosta de existencialismo. eu gosto ainda porque vivo todos os dias com o peso de todas as minhas escolhas não feitas, e você é uma delas. tivesse eu escolhido você ao invés das outras eu me martirizaria pelas outras, mas acho que como consolo, estaríamos felizes.

hoje eu fumo os dois tipos de cigarro seus que sempre recusei e me sinto mais plena. não por não estar com você, mas sim porque trato do meu transtorno obsessivo. você já tinha me alertado que os remédios (e os cigarros) podiam ser bons, mas nessa época eu tinha muito medo de tudo, até de você.

tinha medo porque do pouco que eu sabia sobre amor, as grandes histórias poderiam começar com uma dança na sala. tinha medo porque ninguém nunca antes tinha me chamado pra dançar na sala, de um jeito esquisito e nunca tinha me acompanhado em casa com tanto cuidado. você me chamou pra almoçar no outro dia e eu recusei porque gosto de recusar as coisas que eu acho que podem me fazer feliz. e me fez feliz como nunca ouvir velvet underground na sua cozinha enquanto eu cozinhava uma receita que achei no site da ana maria braga. e eu nunca pensei que alguém pudesse guardar uma playlist com músicas que escolhi e botar pra tocar no momento que eu pisasse em casa. que não era minha casa, mas quando eu ouvia kate nash, era como se fosse.

eu tenho lembranças vagas de nós dois. o dia em que dancei timida "fell in love with a girl" do white stripes na sua cozinha. o dia em que cheguei em casa e vomitei todo o vinho que tomamos juntos e menti pra minha mãe que era só suco de uva do mc donalds (desconfio que ela fingiu que tinha acreditado porque parecia mais simples). quando dançamos "here comes your man" na sala. quando eu te disse que eu gostava de ouvir smiths e tomar rum com coca e você sorriu. a primeira vez que você me beijou. um dia em que fomos a um cover de guns and roses completamente bêbados e dançamos enquanto éramos interrompidos pela minha amiga chata e por uma top model escandalosa, mas genial. os tweets que escrevi só pra você e você percebeu (e favoritou). uma vez que ficamos de conchinha no seu sofá vendo um filme. quando dividimos um chá vermelho diretamente da caixa na sua sala (chá esse que depois comprei igual e tomei por uma semana porque sou obsessiva). a vez que você me chamou pra sair porque tinha sido meu aniversário, mas estragou tudo porque acabou batendo o carro enquanto me dizia que eu era muito legal (acho que você usou a palavra "maravilhosa", mas não quero correr o risco de me gabar).

lembro de uns e-mails que você me mandou pra me distrair do emprego mais chato da galáxia e da vez que nos empanturramos de macarrão carbonara e chocotone e depois não conseguimos fazer absolutamente nada, a não ser assistir "o profissional" dublado na tv com você deitado no meu colo, enquanto me contava das coisas que via na internet e dizia que podia ficar por muito tempo assim, recebendo cafuné. lembro de um encontro nosso, muito tempo depois do primeiro, e depois de um namoro ruim que tive em que você fingiu que eu nunca tinha sido uma pessoa estúpida e me tratou com a mesma doçura de sempre, e me disse que eu estava bonita, e dançou comigo e nós até nos beijamos. só que no outro dia eu não te disse nada, porque não tenho timing, mas eu acho que eu ouvi bastante interpol dali em diante.

ouvi interpol por semanas, contei do meu encontro pra alguns amigos. elas diziam "manda mensagem", mas eu preferi não mandar mensagem e continuar ouvindo interpol e eu nem lembro como foi meu ano dali em diante, até eu te encontrar de novo, te beijar de novo e aí mesmo nunca mais te ver nem mandar uma mensagem sequer. eu ouvi duas semanas mais de interpol e percebi que era problemática demais pra qualquer coisa, até que fui pra são paulo, enlouqueci, me tratei e a minha vida mudou.

mudou sem você no meio, sem eu poder te mandar mensagem te dizendo que a minha mãe ficou doente e eu não sei lidar, sem eu poder andar até a sua casa que é perto, sem nada disso. sua vida mudou e eu não estava junto e eu nunca pensei que ia ser assim, mas foi. provavelmente porque a vida é esquisita, mas mais porque duas pessoas sem timing nunca poderiam ficar juntas. descobri um pouco tarde, e com a ajuda de médicos profissionais, que nada acontece se você não diz. e eu sou muito de não dizer.

sempre acho que te esqueci completamente e que vou muito bem, obrigada, e que vou casar e não ter filhos porque detesto crianças e você vai estar bem sucedido num lugar bem longe de mim. mas aí ouço kate nash, e lembro que eu não sou boa em deixar as coisas pra lá. daqui pra frente nem sei mais o que vai ser eu já sou velha demais pra ser a escrota que sai por aí tentando descobrir o que quer as custas dos sentimentos dos outros. continuo fazendo escolhas sem timing algum, e por vezes acho que a vida me leva às coisas, e não sou eu que escolho as coisas da vida. ou talvez prefira pensar assim porque não goste do peso de tudo. tudo que é definitivo sufoca, continua sufocando, o tempo todo. o sartre sempre esteve certo. ou talvez fosse o baudrillard que já entendia bem antes de nós que não tem como ser completamente feliz na pós-modernidade.

nós, sintomas de um mundo maluco, mal soubemos nos comunicar. deixamos ruídos, nos perdemos, como todo mundo se perde um dia porque não tem como abraçar o mundo. mas, se eu pudesse te dizer uma única coisa antes do mundo acabar, se o mundo acabasse no momento seguinte eu diria que eu gostei muito de você. só não digo amor porque todo mundo sabe que amor é uma palavra forte demais pra seres pós modernos como nós. o amor é um simulacro. uma estrelinha em um tweet. três comentários em um post numa rede social. trocas as músicas preferidas pelo msn. gostar das mesmas matérias em uma revista. uma música da kate nash no meio de uma playlist feita em 2011.




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