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7.4.08

O porquê

E ela foi chorar no banheiro sem saber porquê.
quando percebeu suas lágrimas caiam uma a uma, naquele pequeno espaço branco com luzes em spot queimadas.
A dor era alguma coisa inexplicavel e inteligível, mas era pungente e completamente real.

Talvez fosse o mundo, ou todas as coisas que esperavam dela e ela simplesmente não podia dar.

Ela não tinha mais o futuro brilhante que todo mundo esperava. Ela era simplesmente um ponto na linha reta da humanidade. Diferença ela devia fazer pra alguém, em algum lugar, mas naquele momento não importava.

Era simplesmente uma pequena menina surtando e chorando copiosamente sem nem saber porque. Podia cortar seus braços com gilete, ou tomar milhões de comprimidos brancos de uma vez. Podia gritar, se jogar do décimo quinto andar. Podia roubar a arma do pai e se matar com um simples tiro. Podia acabar com a vida naquele momento. A gente se suicida quando não aguenta a dor de viver, alguém tinha dito um dia. Mas ela era covarde, nem isso podia fazer, nem queria. ia pensar em todas as ridicularidades que implicariam se matar ali, naquela hora com vinte anos e há dois anos de terminar a merda da faculdade. pensando na merda da faculdade antes de morrer, que bosta era aquela? era ela. maria fernanda, uma idiota sem sentido que estava chorando no banheiro sem saber porque.

Mas sem saber porque era o normal da sua vidinha medíocre. Ela namorava um cara sem saber porque. Na verdade sabia, era muito mais medo de ficar sozinha do que vontade de ficar junto. Tinha três na sua lista além dele, e a dúvida nem a deixava dormir mas na verdade não amava ninguém. Entre ficar sozinha, escolheu ficar com a opção mais sólida, o bom menino, aquele que casaria com ela, e pagaria suas contas. Ou simplesmente a amava um tanto mais que suficiente. E ele devia ser bipolar também, e ela nem gostava tanto assim dele. Sofria de carência afetiva e tinha escolhido não tomara anti-depressivos porque tem horror a depêndencia. Namora por simples medo de ficar sozinha. e nem ama nenhum dos três que habitam a sua vida. Nem o namorado, nem o ex-namorado fantasma, e nem o amigo com quem ficaria se pedisse. Por ela viveria uma vida de aventuras, pegaria todos os caras possíveis e imagináveis, e estaria voando de boca em boca, corpo em corpo, mesa de bar em mesa de bar. Nos bares sujos, nos lugares que não são frequentados por meninas de bem. Ela nem seria mesmo uma menina de bem. Estaria perdida na vida, e aí se ela morresse nem ia importar pra ninguém. Morrer de overdose num beco qualquer, babando, com a roupa rasgada depois de ter pegado um bêbado que nem sabia o nome.

Mas se chamava Maria fernanda, menina de família, covarde e só vai mesmo chorar no banheiro sem saber porque.

Namorar o namorado que não ama, esquecer o ex que se pudesse voltava na hora, e não beijar o amigo num ímpeto estranho só por simples questão de pele. Não vai largar a faculdade, vai continuar tentando ser jornalista mesmo odiando escrever e nao entendendo nada de política, só porque o pai tem um jornal. Vai ter um emprego dígno, dois filhos, uma família de comercial de margarina e vai agradar a todos, exceto a ela mesma.

Não vai se matar agora porque isso ia fazer uma sujeirada danada, e Maria fernanda não quer sujar o chão. Ou atrapalhar a passagem na rua.

Ela só vai chorar no banheiro sem saber porque. só sabendo que está se tornando o que nunca quis ser.

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