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3.4.09

le desolación

A desolação se fez numa sexta feira sonolenta e quente, depois de uma noite fria e sem sal.
Fez-se a tristeza, descontentamento, o choro embargado.
Fez-se tudo que não poderia ter sido, e foi.
Sinto vontade de gritar, gritar bem alto e de dentro. Sinto vontade de não estar e sinto mais ainda do que tudo um aperto no peito que não parece mais ter razão de não ser.
Amo tanto e tudo que não caibo mais em mim. Não quero mais ser, permita-me. Sinto sede, fome, frio calor. Sou um ser humano como qualquer outro e como qualquer outro sinto nos ossos a dor de de repente não querer mais ser. Não quero, abosolutamente.
Minha boca tem gosto de passado, de tristeza, de descontentamento. Sinto gostos constantes de coisas estragadas, estou podre de alma, não posso mais pertencer aqui.
Vende-se felicidade em pequenas caixinhas, eu te pergunto. Não, não se vendem. Nem isso, nem empolgação e se ao menos eu não estivesse frustrada com tudo. Se ao menos o seu corpo presente me servisse de alívio, mas a quem eu quero enganar. Sei há tanto tempo que tudo terminará num parco tchau sem mágoas e sem despedidas longas. A cada vez só sinto que falta falta falta alguma coisa e tantas faltas me criaram um abismo tão enorme que eu acho que não consigo mais levar adiante.
Se ao menos eu soubesse me explicar. Se ao menos eu não tivesse que.
Eu sinto tantas saudades, tantas tantas e tantas que eu não sei te dizer como que é. Se ao menos eu pudesse te dar tchau mais uma vez, se ao menos você ainda estivesse aqui. Não quero me encontrar com quem inventou a morte. É deveras injusto, é cruel. É estranho pensar que depois de um tempo tudo que se verá são separações. faltas, faltas, faltas, ausências. Incessantes delas.
Se ao menos a sua presença fizesse alguma diferença, se fosse de algum conforto rápido, se ao menos...
A desolação se fez numa sexta feira, mas esteve presente tão antes. Não sei o que dizer, nem tento, não quero. Sofor de uma ausência que nunca um dia esteve preenchida, me apefo a paredes roídas, tenho dores nos dentes, falta de compreensão, falta falta falta e uma desesperança do tamanho do mundo que só me deixa com medo.

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