Sinto o gosto amargo do café desde que você se foi.
Começou assim.
Essa merda de café você e sentir um gosto amargo.
Só tinham me dito pra escrever uma frase que devesse dizer algo como "odiar o amor"
Eu não odeio o amor mas esse sentimento ódio-amor é só seu.
Amor também.
Os cafés igualmente.
Os cafés são amargos desde que você se foi é um fato. Idiota.
Antes eles eram doces. Não no sentido de o serem.
Ninguém entendeu essa bosta também. Fizeram mil suposições sobre cafés amargos e teve uma idiota que disse que o café sempre foi amargo.
Mas que porra, é claro. Eu tomo café sem açúcar.
O amargo ali é a ausência. Ausências amargam de um jeito enjoado azedo.
Pior que café.
A sua, pelo menos. Aparece em toda xícara de café.
Isso que eu pensei em falar de sofás ainda ou de pratos.
Na verdade eu podia falar de qualquer coisa dessas inentendíveis.
Só sei falar de mim mesma. Sucesso mesmo fez a frase mais clichê do mundo. Usando sombra, luz acesa, a porra toda.
Meu amor por voce era tao cliché quanto a frase das luzes, sobras e o resto.
É, ainda, porque não acabou.
E é ao mesmo tempo patético porque na verdade eu sei que ele vai continuar sendo assim patético até eu não agüentar mais.
Se é que um dia esse dia chega.
Minha vida nesse espaço tempo chegou ao cúmulo da merda. Agora eu espero a redenção.
Nem te digo "deixar-de-te-amar", porque dane-se. Meus cafés tem sido assim amargos desde o dia em que você se foi.
Foi pra você a primeira xícara do café bom que eu fiz na vida.
Eu lembro de você em cafés, que porcaria é essa. Lembro também em almofadas e colheres. Me disseram pra odiar o amor e eu lembrei de untensílios domésticos.
Utensílios domésticos de gente que nunca compartilhou nem as mesmas idéias. Ironias finas essas do destino.
Hoje voce compartilha cigarros baratos.
Hoje você se compartilha barato demais.
Você se dá de graça e não recebe nada em troca.
Não sei se seus cafés são mais doces ou se seu inverno tem sido mais quente.
Mas nunca mais vi você sorrir.
Eu posso estar te amando só porque preciso amar alguém.
Eu posso estar te amando pelo simples fato de só saber te amar.
Eu posso estar te amando por vício.
Eu posso estar apenas dando continuidade.
E tudo isso é uma merda. Isso de eu estar acordada e saber que vou perder a hora, inclusive.
A certeza do inevitável que me ocorreu hoje.
Eu te olho e sei que vou continuar te amando até o dia em que não vou amar mais.
Talvez um dia o amor acabe. Tal qual o estranhamento do gosto amargo que possuem os cafés.
O café que eu tomei hoje tinha gosto de água suja com álcool.
Mais ou menos o gosto que tem a minha vida hoje.
Tem uns casais transando nos apartamentos em redor e tem gente se amando em algum lugar do mundo.
Você, inclusive, hoje pode estar se sentindo amado.
Ou pode estar acordado olhando pra cima depois de ter comido a sua garota pensando no seu enorme vazio.
Eu já não sei de você.
Sei de mim. Do gosto amargo que tem o café desde o dia em que você se foi.
O amor pra mim hoje tem gosto de água suja com álcool barato. E me sinto tão terrivelmente sozinha que vomito.
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