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15.2.11

It takes me back to the start.

Visto meu vestido novo e vou para a poltrona fazer-me de grande escritora. Pergunto-me se um dia, haverá um dia, em que eu passe o dia inteiro sem levar um pensamento que fosse à você. Você nunca nem morou aqui mas deixou comigo o peso de todas as lembranças do mundo. Lembro desse dia, daquele, daquele outro e não sei ficcionar mais nada. Às vezes te enxergo na ponta do colchão, na outra na ponta do sofá, mas tudo que eu consigo é ouvir a minha própria respiração. Constato: estou sozinha. E botar ar pra dentro - ou sendo mais específica- viver, tem sido uma tarefa dura. Claro que nem tanto e só por você, mas também por você. Essas conjunções "não só, mas também" eu uso o tempo-todo, desde que te conheci. É porque desde não consigo pensar outra vida que não só, mas também com você. Às vezes me pego fazendo enormes listas de tudo aquilo que não teria sido caso não tivesse te conhecido: os filmes que não teria visto, os lugares que não teria ido e até as palavras que não teria colocado no meu vocabulário. Hoje mesmo usei uma delas, não propositadamente, é que dou de me referir a mim como você costumava me chamar. Tem isso também, de eu ter virado não só, mas também, um de seus adjetivos. Mas me olho sem tudo aquilo que você me deu e não consigo me enxergar nada que não seja uma figura desforme. Explico: acho que me atrelei a você de maneiras que, se tentasse agora tentar descobrir o que é meu, o que é seu, e o que é nosso, acabaria por puxar milhares de pedaços errados e criar feridas. Você entende? Às vezes eu acho que não, mas sabe, grande coisa também. Eu cansei de te explicar as coisas. Cansei de olhar pra você de jeitos inexatos implorando que de, algum jeito, você enxergasse tudo que estava passando dentro da minha cabeça - e do coração. Eu sei tanto sobre você que chega a doer, e sei cada dia menos de mim. Mas onde levam esses desabafos? Você sabe, a gente trilha uma estrada, segura na mão um do outro e promete nunca mais se largar. Mas um dia larga, eventualmente. Você se esquece que um dia nomeou estrelas com meu nome, e eu finjo que não sei mais o nome da sua música preferida. E talvez não saiba mesmo. Talvez não exista mais nada de você além de uma camisa listrada e o mesmo perfume. Eu só vivo a te buscar porque preciso. Não assim, presente. Mas lembranças de que um dia fui capaz de amar alguém. Outra coisa que não meu próprio ego. Às vezes eu me arrependo de ter tido sempre esse orgulho tremendo, de nunca ter segurado seus joelhos e te pedido pra não ir, tal qual as músicas do chico buarque, mas sabe? Tem dias que eu olho pra tudo e lembro que um dia a gente sonhou em ser astronauta só porque você disse que na lua ia ser mais fácil de dançar sem me pisar nos pés. Mas você me pisou no coração. Nem tocava a nossa música preferida, e você dançou no único dia que eu não te tirei pra dançar. Meu coração, perdido saiu rolando e você pisou desavisado. A grande verdade é que: eu também não esperaria por mim tanto tempo. Eu também devo ter pisado e destroçado seu coração desavisada algumas várias vezes. E você continuou andando. Você continua, a passos tortos, até hoje. Talvez tenha estrelas com o nome dela no teu céu. E talvez vocês já estejam dançando na lua, e você já tenha aprendido a não pisar nos pés das mocinhas enquanto dança. Eu imagino que você esteja aprendendo a andar, e a viver. Eu só estou sozinha. Mas você me disse um dia dessa minha capacidade de estar sozinha, de não gostar de nomear estrelas e de reclamar da mão suando quando me apertavam muito forte. A solidão é confortável, eu te dizia. Depois saia correndo com os braços abertos te deixando pra trás. Eu ainda gosto da sensação de ouvir meus próprios passos e escolher meus rumos. Você vivia caindo, e eu tinha que arrumar um jeito de te ensinar a andar. Um jeito de não te fazer tropeçar mais, um jeito de você deixar de pisar no meu pé. Meu mundo dividido em pedaços de mundo que eram seus. Tomando meu espaço. E a solidão é esse bicho que te toma. Te cativa. Se pertencer é bom, se bastar é melhor ainda. Daí você me tirou dela. Me ensinou a ser sua. Meus pés doeram no começo e depois aprenderam a andar de novo. Hoje meu mundo é tão imenso que eu me perco. O mundo parece enorme quando você não tem com quem dividir. Infinito. Eterno. Dói e confunde. E eu me sinto pequena na imensidão. A grande verdade é que eu fico esperando que você volte a ocupar o seu lugar no sofá pra ver se o meu mundo volta a ter um tamanho confortável. Nem grande demais, nem pequeno demais. Com um céu nem azul demais, nem cinza demais onde quando anoitecer, apareça uma estrela com o meu nome.

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