Eu me pergunto baixinho onde foi que ficou o chão da sala, com vinho e conversa. Sem tv ligada, sem vídeo, sem assunto pra discutir. Sinto falta do abraço que não existe, da compreensão assistida com os olhos, da sacada fria dos invernos de julho que já passaram e não voltam. Da comida como mero pretexto do encontro. A vida de repente se transformou num eterno andar que dói, num caminho longo demais pra ser percorrido assim, sozinha, mas que se tiver que ser percorrido sozinho vai ser, e sem dor. Porque quando nada mais existe, nada mais importa. Porque quando nada mais se sente, nada se espera. Porque um dia eu acordei e percebi que os céus continuavam azulando, os pássaros continuavam cantando, a vida continuava existindo, mas o sentido tinha ido embora. Sobrava o simples fato de ser livre, e já não querer o ser. É que a falta de sentido me enjoa.
Tenho vontade colocar todos àqueles que continuam aplaudindo essa falta, essa ausência esse vazio em uma roda e dizer-lhes a verdade. Já não existimos, não somos, nos amamos em sobras, nossos corações já quebraram e guardam rancores, remendos, cansaço. É difícil amar onde sobra cansaço, é difícil o encontro quando existe ares de obrigação. Falta sentido. É que a falta de sentido às vezes se dá nas noites vazias de frio e solidão, quando você percebe, que como aqueles quebra cabeças de mil peças, às vezes a gente tenta encaixar as peças nos lugares errados. Já não cabem as peças, não adianta o esforço. O estranho do vazio é saber que dele se pode construir qualquer coisa. Nada, uma roseira, ou um castelo. Também ervas daninhas, também casas com pomares. E também terremotos, tornados. É que depois do caos, vem a calma. No meio do caos, existe a calma. É que no meio da vida, às vezes sai música do vazio, e nasce beleza da onde parecia só nascer espinho. Porque a vida às vezes é sobre caminhar no vazio, é sobre desencontros e desamor. A vida às vezes é sobre encontros, reencontros e alguma esperança. É que a vida é feita de ciclos, e é quem sabe, sentar na grama, ouvir uma música e sentir qualquer tipo de paz. No frio, enquanto tudo em volta é puro terremoto.
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