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20.8.11

O vazio cresce cinco metros e explode.

A alma de escritora permanece intacta. Mas as palavras, as palavras se formam em brasa e se acabam em cinza. Existe a necessidade de me gritar para que quem sabe alguém me ouvisse. Sou um desses universos em expansão, um câncer, qualquer coisa dessas que aumenta e vai tomando conta. Tomo conta de mim, não me caibo, não me aguento e às vezes me sinto profundamente infeliz. Preciso de alguma coisa que valha a pena. O amor não existe só em forma de romance e a vida não acontece só lá fora. O que a gente precisa é de sentido, de vontade, de gana, de um jeito bonito de se viver. O que eu preciso é da palavra, viva, em forma de texto que derrama e vira um pedaço de mim vivendo no papel. O que eu preciso é da catarse, de ver a alma subindo, sumindo, fazendo sentido, pulsando. Preciso me apaixonar por alguma coisa, sentir o vento bater nos cabelos, correr e sentir a boca secar, saber que no mundo ainda há vida. Preciso de um pouco de vida. Dessa vida que não vem dos outros, essa vida que nasce de mim e derrama, daí vira palavra. É possível viver enclausurado numa masmorra. É possível fazer do meu quarto um universo particular. É possível existir sem ter com quem dividir o próprio mundo. É possível a existência de um ser humano sem que as suas idéias sejam entendidas ou sequer ouvidas. É possível viver e nunca mais querer um grande amor. É possível aguentar que todos os meus amigos sumam, que todos eles me abandonem em troca de novas vidas, é possível conseguir sobreviver num estado de solidão completa. Só não é possível viver sem dividir a existência, o ser. Só não se pode deixar de mostrar que de algum modo meu coração ainda pulsa, que bombeia o sangue, que está vivo. E o meu modo de estar viva é a palavra escrita.


Se me morrer a palavra, eu também estou morta.

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