ninguém me entedia muito bem, era meio normal que nem todo mundo compreendesse que às vezes o problema todo dessa minha confusão era justamente essas pessoas todas tentando me dizer o que fazer, que eu não devia ficar sozinha, que eu devia me importar mais com as pessoas, ligar pra elas, dizer que eu sinto a falta delas. E eu até sinto, mas é essa obrigação que a gente acaba tendo com os outros que me mata, essa rotina. Eu tentava explicar que pra eu me sentir completa eram terrivelmente necessários esse momentos em que eu ficava só, completamente só. Eu e minha música, eu e meu quarto, eu e meus livros. Tem dia que a gente não precisa de companhia pra viver, e tudo bem. A auto suficiência parece errada, mas é o único jeito que eu aprendi de saber lidar comigo.
Eu tentava explicar esse monte de coisas pra Camila e ela me olhava como se eu fosse um desses extraterrestres, essas coisas que pertencem a algum planeta distante. Eu sei que eu olhava pra ela segurando o copo de cerveja e dizia "mas é que é assim, sabe? eu amei uma vez e amei demais e quando a gente ama demais a gente sabe que qualquer coisa que a gente sinta menos que aquilo não vai ser o suficiente". Daí ela me dizia que eu tinha que tentar, que eu tinha que me envolver mais com as pessoas, que eu tinha que correr atrás da minha felicidade, porque a felicidade a gente busca, ela não cai num potinho em cima da gente como chuva no meio do verão. Só que eu pensava que cai, cai sim. Felicidade quando vem, aparece sem avisar e todas as vezes que a gente corre atrás dela a gente tropeça. Amor também, forçar amor é tropeçar num sentimento que foi feito pra te sugar que nem coisa grande, imensa, não pra ficar colando tijolinhos com argamassa pra ver se de repente forma um castelo. Ou é, ou não é.
Tinha esses dias que eu tinha muita vontade de contar o quanto quando um amor é grande ele fica guardado ali e você aprende a conviver com ele. Não se deixa de viver, mas a gente sabe, a gente sempre sabe que certas coisas simplesmente não serão tão imensas e às vezes, às vezes na vida a gente quer escolher coisas imensas e não quer se esforçar pras coisas rasas, então é melhor ficar barquinho na correnteza do que se esforçar, remar, lutar contra as correntes do ártico e do pacífico pra no fim chegar numa dessas terras que a gente nem queria tanto desbravar assim. Não tenho querido muito nenhuma dessas terras que me aparecem, eu acho que também é um direito da gente a gente querer conhecer vários países e não criar uma casa em nenhum deles. Eu acho que sim.
E ela me dizia que não, que é necessário criar pequenas casas pra ver como funciona a cultura local e de repente eu não queria ouvir mais nada, só falar. Só falar que tudo que eu queria naquele dia, e não só naquele dia, era sair por aí sem rumo, e eu ia sozinha mesmo, não importa, às vezes cansam essas pessoas do lado da gente olhando a gente como se a gente estivesse falando uma bobagem imensa, mas não é como se doesse, é só um cansaço porque não há de se esperar compreensão de quem nunca entendeu o seu universo do jeito que ele é. E então eu queria sair andando, descobrindo esses pequenos novos universos que vivem em cada pessoa, mas só descobrir, porque o que me importa é a descoberta do novo território, não a conquista. Não quero conquistar nada, nem fincar bandeirinhas, nem mesmo dar nome a uma nova civilização. Só descobrir que elas existem, fazer contato, trocar a identidade cultural e depois partir. Porque eu gosto de descobrir e partir. Agora eu gosto disso, é o que eu quero, não tem mal nisso, não tem mal em gostar de ficar sozinho, tem mal em ser solitário. E a Camila me olhava, e não entendia nada. "Às vezes existe mais solidão com outra pessoa do que sozinho em casa" eu disse. Ela não concordou. Mas tinha entendido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário