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4.11.11

o slilêncio que precede o esporro.

estou cansada.

a vida faz um ruído que, por vezes, fica difícil suportar. rotina. me lembro de uma época em que metade dos meus textos reclamavam da rotina. os ônibus diários, as catracas, as pessoas com cara de vazio. mudaram os ônibus, os horários, mudaram também as pessoas - nem todas elas tem cara de vazio -, mas a rotina continua ali. o despertador sempre programado para a mesma hora, o mesmo caminho, as músicas, as lembranças. meio ridículo isso, esse parágrafo, esse texto, esse assunto, tudo isso - minha vida. o emprego vai bem, a vida vai bem - tirando o que não vai - e não tem lá muito motivo pro mundo parecer errado, p'ras tardes parecerem cinzas, não tem muito pra quê esse clichê todo, essa derramação.

acontece que o mundo faz um ruído que me impede de me ouvir. todo dia alguém está falando alguma coisa, te pedindo alguma coisa. os e-mails não param de chegar, existem layouts para fazer, existem e-mails pra responder, recados, mensagens, o celular apitando. a urgência. a urgência porque não se pode perder tempo nunca, porque temos que aproveitar a vida, porque cada noite de sono traz em si o peso de não estarmos produzindo. o peso do equilíbrio. os remédios, os psicólogos, as aulas de yoga. a cidade correndo, o tempo todo correndo, os computadores ligados, os carros que gritam as três horas da manhã em plena sexta feira. interação. somos interativos, tudo apita, tudo diz, tudo quer-dizer, tudo quer comunicar. a revolta da usp sem razão de ser, as fotos compartilhadas que gritam e calam numa mesma interface. as campanhas sem sentido, esse monte de gente vil, esse monte de gente que deseja a morte dos outros, esse monte de gente que não se ouve. não se ouve no twitter, no facebook e não se ouve na vida.

todo mundo se divertindo o tempo todo, bebendo muito, tirando muitas fotos, compartilhando, os sábados à noite que nunca podem ser vazios (por quê?), as sextas à noite que devem ser preenchidas, churrascos cheios de bebida, gente caindo desacordada na grama, vomitando no próprio cabelo. temos que beijar na boca ao menos uma vez por semana, temos que fazer sexo, temos que nos mexer, nos divertir nos divertir "o que tem pra hoje?" "o que tem pra amanhã?" "o que você acha disso?" a corrente da contra-corrente. a opinião da anti opinião. réplica, tréplica, quintúpla, décipla, o mesmo círculo vicioso, nenhuma conclusão. ninguém.é.feliz. o mundo faz um ruído imenso que me impede do simples, das noites na minha casa dormindo, dos livros, do meu celular sem receber mensagens. o mundo faz um ruído em que eu não me ouço mais.

quero ficar quietinha.

um monte de festa chata, de gente chata, de bebedeira chata, de assunto chato, de polêmica chata, de gente que eu não queria conviver mais convivo, de noite que eu não queria ir - mas vou. tudo pra escapar do ruído, das ligações, do celular que apita, eu nunca mais sentei pra conversar com ninguém no silêncio. silêncio sem twitter, sem rede social, sem facebook, silêncio sem música alta. filme em casa com o telefone desligado. discussão com lasanha e macarrão e só. tv desligada, violão. amigos, abraço, qualquer coisa dessas que comunique de verdade - sem ruído. sempre tem alguém no facebook enquanto a gente conversa, sempre tem alguém com o 3g, sempre tem alguém cheio de barulho no meio da gente que quer silêncio. eu quero silêncio porque eu não consigo me ouvir. não consigo. não consigo. paz. um momentinho só. um domingo fora, out, um domingo de filme, um domingo de conversa. um dia de paz. o ruído do mundo quieto por um instante que seja.

eu entrei em uma histeria louca, histeria de escrever o tempo todo. histeria. eu quero ficar quieta. um pouquinho quieta. pra pensar na vida que eu deixei passar, pra pensar nas coisas que eu disse, pra calar as coisas que eu digo demais - o tempo todo. pra sentir saudades, pra formular minha saudades, pra parar de ser hostil, horrorosa, fora de compasso. pra deixar de ser só mais uma, no meio do ruído terrível que tem sido existir. eu quero o silêncio, mesmo que seja o silêncio que precede o apocalipse, mesmo que o silêncio seja insuportável, mesmo que a solidão dê vontade de morrer. me desobriguem, me aquietem, me deixem num canto um momento que seja pra eu entender como é que funciona mesmo isso de existir, de lidar com os outros fora da tela do computador. como é que funciona mesmo isso de viver? eu acho que eu esqueci. amar eu nunca soube mesmo, mas existir tem doído. me deem o silêncio, uma vez que seja, o silêncio.

o vazio. o último suspiro antes da grande explosão. onde tudo começa de novo.
onde tudo ao menos começa.


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