Páginas

3.2.13

o killers nunca vai ser melhor que o strokes

(ou, uma carta para aquele que se foi).

My dearest,

Era assim que a virgina woolf chamava o marido dela no "as horas". Esse é um dos poucos filmes que eu gosto muito e que não vimos juntos. Todos os outros eu devo ter visto com você, ou por indicação sua. Os dias passam loucos e um pouco quentes. Você não sabe, mas estou quase terminando a minha monografia. Eu, sempre entusiasta de todas as redes sociais existentes agora escrevo um tratado inteiro sobre isso. Disso você não sabe, e de varias e imensas outras coisas. É difícil ir sem você. Você sabe que das vezes que eu fico louca, só você entendia. Meu mal estar do estômago, meu jeitinho idiota de sentir ciúmes das suas outras amigas. Você sempre percebendo, sempre rindo, sempre me dizendo "e agora, vai me mandar com o fulaninho?" e eu me achando louca, falante demais, estranha, até que você vinha e me dizia que nunca tinha problema, que nada disso tinha problema, que a vida é assim e que eu era assim mesmo.

Hoje senti saudades, vez ou outra choro um pouco ouvindo a pastinha de músicas com as músicas que eu "tinha que ouvir". Tenho andado confusa, histérica, uma bagunça sem fim. Tenha andado com medo dos sentimentos que não sei manejar desde o dia em que você se foi. Tenho muito medo de tudo, o tempo todo. Enquanto te escrevo essa carta sei que deveria estar dormindo. Enquanto dizia coisas sem sentido pra ele, pra eles, em todas as redes sociais, também. Não sei até que ponto ainda sou a menina brilhante da qual você sentia orgulho. Não sei se tudo que você faz ainda traz consigo a mesma beleza de sempre. Só sei que sinto sua falta, uma falta estridente de mil noites, uma falta de dias e das filas do mercado. Uma ausência se fim e nem começo. Uma ausência e só. Sinto falta do seu perfume enjoado, do seu sorriso de dentes tortos, das calças largas que vocè amarrava com cintos velhos, das sobreposições das suas blusas tique nunca combinavam entre si. Sinto falta do seu abraço, dos jogos do brasil e da rivalidade entre o barcelona e o real madrid. Sinto falta de você me dizendo que o Messi é um anão desajeitado e eu te contando que o Mauro Beting é o melhor comentarista de jogos da liga dos campeões. Sinto falta de estarmos.

Sinto falta das coisas que só você entendia e agora procuro em fragmentos nos outros. às vezes lembro da época que você encanou que queria fazer luta e chegou pra mim com um papelzinho de propaganda da academia. Guardei, depois sumiu. Tanta coisa some, tanta coisa desaparece, tanta coisa se perde no ar. Você gosta de UFC? Será que você faz piada sem graça com a voz do anderson silva? Será que em uma das madrugas infinitas na minha casa você pediria pra eu tirar da mtv e colocar na globo pra gente ver luta juntos? Provavelmente sim, tudo isso tem a sua cara. Aquele seu jeito homem do interior que entendia das coisas finas da vida, mas nunca, em tempo algum dispensava uma pelada ou uma luta. Será que você comeu uma pipoca melhor que a minha depois? Com vocè eu deixei meu livro preferido, minhas melhores anotações, meus melhores dias, meu melhor jeito de ser. Com você eu deixei o sorriso de todos os dentes. Agora rio baixo. Agora não gargalho. Com você eu deixei meus melhores textos e meus melhores trejeitos. Com você ficou a voz, daquele livro que eu te emprestei. Com você ficou a vontade de morar num quarto em que não existisse nada além de nós dois. Com você ficou o jogo do corinthians que nunca assistimos juntos e a promessa de caminhadas regulares no parque, quando chegasse o horário de verão, que nunca se concretizou. Com você ficou o que eu tinha de bonito e importante, com você ficou a parte de mim que eu sabia entender porque exergava em você.

Em mim ficou o medo de tentar de novo. O medo de estar me atropelando. Sempre ele, o medo, de não saber decifrar o que eu estou sentindo desde que você se foi. Com você meu surto era leve, meu ciúme tinha graça, pra você eu ironizava a vida pelo olho. Pra você eu fazia meus melhores pratos e era só com você que eu me sentia em casa. Desde que você se foi sei lá. É esse eterno andar por esquinas tortuosas, e quando eu me deparo com um dia como hoje, cheio de excessos, eu fico pensando o que é que você me diria pra fazer. Será que você ia achar graça? Será que você estaria no sofá de casa comendo brigadeiro direto da panela? Será que você me diria que a vista de casa permite o melhor do trabalho intelectual? Será que você ia rir da derrota do meu time? Ia me fazer chá, ia sentar do meu lado do sofá sem nunca encostar em mim porque eu sempre tinha a impressão que a gente ia dar choque? Será que quando eu estivesse perto de chorar você ia me segurar pela mão e me levar pra gritar pras pessoas que passam na rua da minha sacada? O que eu faço? O que eu faço comigo, com eles, com nós todos? Como é que eu paro de beber tanto, de tomar tanto café, como é que eu sossego se você era a única pessoa que entendia meu ciume bobo, meu jeito infantil, minha risada sem graça, meu desespero em demonstrar que você era pra mim a melhor pessoa do mundo. Você me chamava de porca quando eu derrubava molho do lanche no tênis. Eu te chamava de babaca todas as vezes em que eu sentia que te amava. Você era o melhor babaca do mundo.

Me manda alguma notícia, uma carta alguma coisa sua. Me faz rir de novo com uma música do terrasamba. me diz que você é o melhor jogador do time, o melhor artista da cidade, o cara mais bonito do mundo, o mais inteligente dentre os caras da sua idade. Me mostra de novo como é que eu faço pra ser incrível, como é que eu faço pra não falar demais. Me diz que tem como gostar de mim do jeito que você gostava. Me explica como que eu lido com os outros caras do mundo que não são você. Me diz o que eu faço da vida sem meu melhor amigo. Você podia dizer que eu sou uma pata, uma chorona, que eu torço pro pior time do mundo, que eu não tenho modos, que isso não é jeito de se fazer. Você podia querer me tirar da internet, das minhas conversas da internet, você podia esconder meu celular e me mandar viver naquele parque cheio de mosquito. Você podia criticar todos os meus novos amores, você podia rir de mim em todas as minhas novas crises de ciumes. Você podia roubar todos os meus livros, os meus filmes, a minhas vontades, a minha casa, o controle da minha TV. Você podia rir aquela sua risada horrorosa depois que eu te contasse tudo que eu fiz hoje e me aconselhar a ir com calma porque o mundo não vai acabar amanhã. E se acabar? Se acabar não ia adiantar nada também. Você ia me dizer isso? O que você ia me dizer? Você podia me bater, sujar meu sofá, quebrar minha caneca preferida, reclamar do meu café, ser o maior estorvo da minha vida e odiar todos os meus namorados que não gostavam de futebol. Você podia me dizer que não ia ser pra sempre o complemento perfeito para todos os homens que não traziam em si a dose perfeita de heterossexualidade e rir de mim todas as vezes que eu dissesse que eu arrumei mais um desses que não torcem pro brasil nem na copa. Você podia se morder de ciúmes dos que fossem iguais a você e me ligar dizendo que "ele não entende de futebol como eu entendo e eu esculacharia esse otário na nossa primeira pelada". Você podia reivindicar pra sempre o seu lugar de macho alfa na minha vida e socar meu ombro enquanto me contava histórias. Você podia tudo. Você podia estar aqui comigo na minha loucura, no meu stress e nos meus sentimentos que só vocè sabia dizer se era verdade ou capricho. Eu juro que eu nem ia te bater se você dissesse com aquele ar superior "esse amor que você inventou dessa vez não tem nada a ver, vamos ver uns filmes". Você podia tudo. Você só não podia ter e deixado.

São cinco e vinte da manhã, eu vou acordar atrasada como sempre acordei e eu juto que eu me pergunto onde é que a gente foi se perder. Não obtenho resposta. Só faço merda e depois choro baixinho em cima do meu computador. Nunca acredito em mim. Não sei como ir nessas estradas sem você. Se você ler isso em qualquer dia, em qualquer hora, em qualquer lugar. Volta pra mim, seu babaca. Eu prometo continuar sem nunca admitir que te amo.

Ps. O Killers nunca vai ser melhor que o Strokes.

4 comentários:

Bruno Freitas disse...

definitivamente, seus textos me compram com poucas moedas...

Larissa. disse...

Bom saber, bruno. Me anima a continuar escrevendo aqui (eu costumo odiar tudo o que eu escrevo momentos depois de escrever). Se bem que desse texto eu gosto (:

Marina Engrasia disse...

Gostei bastante. Ia ficar em silêncio depois de ler o texto, mas vi muito de mim em ti, além do que não custa nada elogiar. Invejo a tua escrita (inveja boa), parabéns.

Larissa. disse...

Muito obrigada, Marina! Eu sempre fico muito feliz quando vocês gostam e vem me dizer. A gente costuma gostar e guardar pra gente, né? Acho super generoso que me digam. Brigada por ler e que bom que gostou! Beijos.