[...] " Você tem uns olhos de ressaca sem nunca beber e se veste tão bem que às vezes eu fico vontade de fazer bonequinhas com as suas roupas pra um dia dar pros filhos que eu sei que nós não vamos ter juntos. Eu fico te olhando tão completa e baixamente e fico pensando o que aconteceria depois de uns três copos de vodka barata com limão e muito açúcar. será que assim você ia ter por súbito a vontade de me pegar pelo pescoço e me beijar ou simplesmente deitar no meu ombro e dizer, fica comigo, só essa noite, eu gosto taanto de você...?" Ela não conseguia parar de pensar nisso enquanto encarava os olhos castanho-escuro de matheus a olhando fixo. " Três-copos-de-vodka.. Por súbito.. gosto taaanto de você...". A boca dele se mexia enquanto os olhos meio que riam pra ela, mas tudo o que ela conseguia ouvir era aquele trecho dito pelos mesmos olhos que riam e a boca que mexia há três dias atrás. " Vodka-Pescoço-so essa noite-Gosto taanto". Não dava pra pensar em outra coisa.
- Lu..
- Claro.
- Claro o que, Luana?
- Não sei, Matheus. Acho que eu tava viajando.
- Err, Estranha. Você está sempre viajando. Viajando e rindo sozinha.
- Rindo das coisas que eu lembro que você disse.
- Rindo porque você é triste, Luana.
- Também. Você, você é feliz?
- Ninguém é.
- Alguém deve ser. Não a gente, mas alguém. Não sei, tem uma gente que ri de dentro. Uns casais que saem por aí de mãos dadas e a menina não parece estar fingindo o sorriso. Tem sei lá, umas pessoas que são felizes. Eu não sei porque, mas tem.
- Ou elas fingem.
- Ninguém consegue fingir o tempo todo. Tem gente que não tem esse traço de tristeza no fundo dos olhos, que nem eu e você.
- Eu tenho traço de tristeza no fundo dos olhos?
- Tem. Quando pára e fica olhando subtamente pro horizonte. sabe, você para e fica olhando. Depois me faz algum comentário melancólico. Ou simplesmente diz " ê, luana." e me dá um tapinha. Eu juro que eu fico com vontade te abraçar nessas horas, mas eu só te olho e digo " ê, gênio." e a gente ri. A gente ri de novo porque a gente sabe que é triste.
- Eu nunca sei o que te dizer quando você me diz essas coisas.
- Eu nunca sei o que te dizer.
...
- Você percebeu?
- O que?
- Aquela estrela grande lá.
- Venus, Matheus. Não é estrela, é planeta.
- É bonito.
- Eu achava que dava pra fazer pedidos, quando eu era pequena.
- E o que você pedia?
- Geralmente uma idiotice. O menino que eu gostava.
- E hoje, o que você pediria?
- Pra ser feliz.
-O menino que você gosta.
- Isso é ser feliz?
- Não, mas é um começo.
- O que você pediria, Matheus?
- três copos de Vodka com Limão e muito açucar.
- Me passa o vinho, vai.
- Sabe, eu não pediria nada pra estrela.
- Nada?
- Não. Felicidade deve ser isso daqui. Isso, você, vinho barato e essas conversas que vão de filosofia à quadrinhos em meio segundo. Tudo, e umas estrelas pra acompanhar.
- Está finalmente admitindo que eu sou uma boa companhia?
- Eu não, o vinho deve estar.
- Você nem bebeu, Luana.
- Eu sei, mas você já me viu admitir alguma vez que eu gosto de você?
- Não.
- Então, não vai ser agora, gênio.
- Podia. Vodka, sabe?
- Não quero falar sobre isso.
- Você tem medo, Luana?
- Tenho. de tudo, você sabe, montanhas russas...
- ... e tudo que possa tirar os seus pés do chão.
- Exatamente.
- Eu tiro seus pés do chão?
- Totalmente.
- Mesmo?
- Matheus, o que mais você acha que me faria sair de casa, sábado, dez de noite, dirigir até o mirante pra olhar estrelas e tomar vinho ruim no copo de plástico?
- Vontade, espírito aventureiro?, gnomos?
- Você.
- Era a quarta opção, você nunca me deixa terminar nada.
....
Eu sempre gostei de você.
- Isso era inevitável.
- Desde a primeira vez.
- A primeira?
- Na primeira frase eu sabia que era você.
- Eu sempre soube.
- Deixou de saber um dia?
- Eu tive medo.
- Eu ainda tenho.
- Medo de que exatamente, Luana?
- De tudo, sempre fui medrosinha.
- Você tem medo de mim?
- De você não, do que você causa em mim.
- Raiva?
- Pior que isso.
- É nessa hora que eu presumo que você me ama?
- Se a gente fosse convencional, sim. Mas eu nunca vou deixar.
- Nunca vai deixar o que?
- você ter certeza que eu te amo.
- O que você quer dizer com isso?
- Que eu nunca sei o que te dizer, Matheus.
- Amor de verdade é o pior sentimento do mundo.
- Luana, para de ser fria.
- É o pior sentimento do mundo.
- Por que voce diz isso?
- Porque quando você ama alguém de verdade isso faz com que a pessoa tenha um certo direito de fazer qualquer coisa com você. Amar de verdade significa nunca mais deixar de amar, apesar de.
- E tudo isso quer dizer que você não pode admitir que me ama porque você me ama de verdade?
- Eu uma palavra pra você entender: vulnerabilidade. Não gosto.
- Vulnerabilidade signfica?
- Você fazer a pior piada do mundo, eu rir e querer te abraçar.
- Isso não é o significado de vulnerabilidade.
- No meu mundo é.
- Seu mundo sempre foi todo estranho, luana.
- No meu mundo você meio que reina, então além dele ser estranho só eu vou querer morar nele.
- Eu vivo no seu mundo?
- Não, você é o cara que recria ele todos os dias. E que pinta ele de aquarela e nanquim.
- Provavelmente é o mundo mais bem desenhado de todos os mundos.
- Não.
- Não?
- Não, mas eu tenho um puta orgulho dele ser como ele é.
- Você namoraria comigo?
- Agora.
- E depois?
- Depois eu não sei.
- Como assim?
- Depois que eu aceitasse nosso namoro ia deixar de ser como eu penso que ia ser. Realidade frustra as pessoas, cara.
- Depressiva. Quer um chocolate?
- Besta.
- Eu já te disse como eu imagino.
- E eu concordo com você. Mas isso a gente já faz, só que sem os beijos. Coloca relacionamento, compromisso na parada e a gente pode estragar tudo.
- É disso que você tem medo?
- Não.
- Do que é então?
- De te perder. Eu tenho medo de te perder até quando eu ainda não te tenho.
- Como assim?
- De te perder de mim. Que um dia que olhe pra você e te veja irreconhecível.
- Lu, para, isso nunca vai acontecer.
- Você está mudando já. Gradativamente. E disso que você se torna, eu não gosto.
- Eu estou te decepcionando?
- Lembra daquilo que eu disse sobre amor de verdade? Você nunca me decepciona. Mesmo quando decepciona.
- Se tu continuar comigo eu não vou ter como me perder de você.
- Eu sempre vou continuar com você. Mas essa não é a questão.
- Qual é a questão então?
- A questão é se você vai continuar comigo.
- Eu sempre continuo, não continuo?
- Se isso de você voltar sempre é o que você chama de continuar, então sim.
- você se incomoda com isso, não?
- Não, eu só me incomodaria de fato se você não voltasse mais.
- Eu te machuco, luana?
- Você me dói.
- Isso quer dizer que eu te machuco, não quer?
- Quer dizer que você me dói.
- E doer não é machucar?
- Não, gênio. Doer é sentir.
- Você me sente?
- Você me dói em todos os meus pedacinhos.
- E isso é ruim?
- Isso só quer dizer que você vive em mim.
- Em você é um bom lugar pra se viver.
- Você não sabe.
- Não?
- Não, porque eu sei que você vive em mim, mas você ainda não se sente vivendo.
- E como a gente sabe a diferença?
- Eu pra você sou externa, e pra mim você vive dentro.
....
- gosto do seu jeito aleatório.
- Quero encostar no teu joelho e dormir no teu ombro.
- É disso que eu estou falando.
- Eu sempre quis.
- sempre quis o que, luana?
- Encostar no teu joelho e deitar no teu ombro. Faz uns meses que é nisso que eu penso enquanto eu te olho.
- Só nisso?
- Não, em em universo de coisas.
- que universo?
- você.
- eu não te entendo.
- minha atual definição de universo: você.
...
- Eu sempre gostei de você, sua besta.
- Você sempre me considerou pra caralho. Gostar é uma coisa diferente.
- gostar para luana significa?
- vou saber.
- gostar para matheus significa?
- considerar pra caralho.
- isso não quer dizer nada.
- Eu te amo.
- Isso também não.
- E o que quer dizer alguma coisa pra você?
- O que você faz, não o que você diz.
- Encosta no meu joelho, dorme no meu ombro.
- eu faria isso todos os dias da minha vida.
- Eu não ia deixar.
- Tu nem gosta de mim.
- não, é que num mundo justo a gente revezaria.
...
- É uma relaçao de duas pessoas que se amam. A gente só não se beija.
- você não me trata como sua namorada.
- Mas te dou todos os direitos de você me tratar como se fosse o seu.
- De fato.
- Concordando comigo, luana?
- Não, é que esse foi um direito que eu institui.
- Você?
- É, desde sempre. Você só me permitiu.
...
- Não, eu só sei que a gente nunca vai deixar de se amar.
- Por que isso?
- Por causa da sua definição de amor-verdadeiro: amar de verdade significa nunca deixar de amar apesar de.
- Agora o quer você sente por mim é amor de verdade?
- Eu sempre chamei de "puta consideração"
- Porra, que nome sem romantismo.
- Mas significa a mesma coisa.
- E como você tem certeza que a gente nunca vai deixar de se amar?
- Foi um direito que eu institui, você só me permitiu.
- Um copo de vodka com limão e muito açucar, matheus.
- você disse que não ia precisar disso.
- só se eu tivesse certeza que você gosta de mim.
- E tá, você não tem?
- não, eu sempre soube que você gostava de mim.
- E porque nunca fez nada?
- Porque não precisava.
- E agora precisa?
- Precisa da vodka.
- Pra quê?
- Pra eu pegar no teu pescoço e te dizer que eu gosto tanto de você.
- você já me disse isso.
- Quando?
- Inúmeras vezes.
- De fato.
- Só que sem dizer.
- E como a gente fica?
- Juntos.
- você é meu namorado então?
- sou, prazer.
- prazer.
- posso dizer pra todo mundo que você é meu?
- isso todo mundo sempre soube.
- achei que você nunca ia admitir.
- Eu sempre admiti, garotinha, você que nunca quis se convencer.
- Eu tinha medo de te perder.
- Você nunca vai me perder.
- Amor de verdade?
- puta consideração.
....
( a vida é bem mais fácil na literatura.)
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