13.10.10
old soldiers, just fade away.
Você sabe, a última coisa que eu escrevi foi que eu provavelmente ia ficar te esperando em uma cadeira em qualquer lugar que seja. Eu disse isso mesmo. E mais que isso, eu pensei e senti que iria ficar esperando por você o-tempo-que-fosse-preciso. Ia mesmo. Ia colocar uma almofada na cadeira, maquiar a minha tristeza e ficar lá, esperando até o dia que você resolvesse me pedir desculpas. Acontece que hoje, nesse dia sem música que eu tive, eu fiquei olhando pra minha vidinha (e digo mesmo, vidinha, no diminutivo, porque não é nada que eu realmente possa chamar assim de Vida, com letra maiúscula) e percebi que por mais que eu sinta sua falta, aqui e ali, nos cafés, nas caminhadas, nas letras de músicas, eu já não preciso de você. Nem assim, na literatura. É que eu pensei em uma história e pela primeira vez ela não incluia você. Nem assim, como personagem maquiado. Eu pensei nesses mil álter egos que eu faço pra você, te chamando de mil nomes diferentes, e pela primeira vez, achei desnecessário. É que eu andei pensando em mim, sorrindo com as besteiras das ruas, com as crianças, juntando dinheiro pro sorvete. É que eu andei sem músicas que me lembrassem você, nem os lugares. É que eu sonhei em comer cocada, pão de queijo, em fotografar. Olhei as vitrines, me descobri no meio da moda e não quis que você sentisse orgulho de mim. Eu já não espero mais que você esteja ali pra colorir minhas histórias, nem como parte-integrante nem como parte-de-dentro nem como personagem secundário e nem como aquilo-que-eu-queria-que-você-fosse. É que pela primeira vez eu olhei pra mim antes de olhar pra você, e eu-sem-você sou feliz. Do jeito que eu posso. Nessa melancolia de cafés de fim de tarde, livros não-lidos dentro da bolsa, no meio da minha mania de cada dia querer ser uma coisa diferente, de às vezes não beber nada e no outro dia querer tomar um porre. No meio da minha indecisão de vida de mil coisas e no meio dessa minha descoberta gigantesca e sem fim, pela primeira vez eu me descobri sem você. E não doeu, nem fez furo, nem fez dor, nem fez arrependimento. Só aconteceu.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Eu acho incrível como, toda vez em que leio algo seu, parece que esse "algo" traduz e justifica o que eu sinto no momento. Sabe quando as pessoas dizem que os poemas, os contos etc foram escritos pra elas? Então... o que você escreve é pra mim, mesmo não sendo, verdadeiramente. Magnífico!
Postar um comentário