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25.7.11

and there is no modern romance.

Liguei o rádio e soube: dali pra frente nada mais se concretizaria na memória a não ser as lembranças. Tem sido assim. Assim, um eterno lembrar-e-esquecer como um círculo vicioso, um carrossel, uma roda gigante que não para nunca e aonde, por mais que entrem novas pessoas, ela continua sentada no exato mesmo lugar. Dando voltas e voltas, e mais voltas. Teve esse e aquele outro e um belo momento e outro belo momento mas, de alguma forma, no amor a existência tem precedido a essência e a falta de sentido é uma constante. Como em equações matemáticas a vida é dada como: amor-vezes-a-constante-(falta-de-de-sentido)-é-igual-a-zero. Zero.

Pensava nisso enquanto tentava pensar em outra coisa. Sempre assim. A gente pensa que esqueceu, depois ouve uma música qualquer e tudo volta feito ferida que não cicatrizou, e lateja o lugar que a gente tinha esquecido que tem (o coração, talvez?). Foi assim naquela noite fria enquanto tomava meu whisky e fumava meus cigarros de filtro laranja. Tudo que ainda sabia dele é que, continuava com o mesmo senso de humor e, tinha começado a fumar também. "Não fumávamos quando éramos jovens", pensei. Engraçado a inconsequencia ter começado no exato momento em que deixamos de ser. Será que éramos sem saber nosso ponto de equilíbrio, nossa religião? Seria o amor o nosso deus? talvez. Você era a única coisa em que eu acreditava. Personificação do amor. A partir do momento que você se foi o amor deixou de existir e, se você voltar pode ser que ele renasça. Pode ser. Já fazem três anos e tudo que você deixou se transformou em descrença.

Eu olhei o telefone algumas vezes, encarei, sexta feira as onze da noite não deve ser um momento propício pra ligar pra alguém que não nos ama mais e destilar alguma coisa como mágoa ou veneno, e todos esses sentimentos meio amargos que nascem pra disfarçar o amor. Mas pensei. Te mandar um torpedo te dizer "olha, eu sempre te amei, eu sempre vou te amar", mas você não iria entender e ia sentir pena do meu amor, pena de mim, pena de tudo isso que você fez nascer e eu estou cansadíssima das suas penas. Estou cansada do mundo também. Você sabe que tenho me enfiado em bares, bebido muito, caído, fumado cigarros e experimentado novos corpos. Guardo no meu apartamento uma garrafa de whisky pela metade e enquanto me embriago penso em você e em tudo-que-poderíamos-ter-sido, depois busco um número qualquer na minha lista de contatos e discutimos cinema, e literatura e depois transamos sem nenhum amor e nos beijamos sem nenhuma paixão e talvez, eu disse talvez, exista ternura nessas coisas e nesses novos homens e nesses quase-amores mas é tudo tão diferente.

Já ensaiei dizer "te amo" pra novas pessoas, mas eu não sei falar de amor. As vezes até tento, daí engasgo, daí digo "eu-gosto-muito-de-você-e-nunca-quero-te-perder" como um desses cachorrinhos carentes que se enfiam no colo de qualquer um, mas eu sei que no exato momento que ele sair por aquela porta todo significado acabará como a cinza desses cigarros que eu fumo e se espalhará pela mesa da cozinha, pelo chão da sala e depois vai sumir. E eu vou ficar, vou continuar, vou beber whisky sem gelo e vodka com suco de laranja. Vou tentar inventar amor, vou frustrar expectativas de romance, vou responder eu-te-amo-também pensando em você e em você porque é só em você que eu penso quando olho dentro daqueles olhos sem brilho nos beijos sem gosto que tenho dado. Tanto faz quem sejam as novas pessoas agora. São só bocas e cabelos e olhos e elas podem me ter quando quiserem e me deixar quando bem entenderem, eu não sinto ciúmes, nem ternura, nem nada. É só um nada, um vazio, uma necessidade de preencher todo esse buraco que você deixou quando se foi, e eu invento momentos sublimes e interessantes, minha vida tem parecido um desses filmes alternativos de romance que a gente nunca gostou e quem olha de longe quase sente inveja da minha fe-li-ci-da-de.

Não sou feliz, baforo fumaça pra fora pra ver se toda essa cinza espalhada pela casa te exorciza. Se eu cremo o meu amor por você, se de repente um dia eu acordo e faço uma espécie de funeral pra todos os momentos que tivemos juntos nessa casa, nessa imensidão de cidade, e dentro de mim. Pra ver se tudo isso que me destrói aos poucos destrói junto tudo o que sobrou de você em mim. Eu me reinventei, me recriei, me refiz. Refiz uma vida toda pra esquecer e me livrar da vida que eu tinha, daquela que eu era, pra esquecer que eu era sua - e amava. Penso em te abraçar, te ligar, chorar, ajoelhar na porta da sua casa te dizer que depois-que-você-se-foi-a-vida-se-tornou-uma-aventura-errante e penso, todos os dias, em dizer que (ainda) te amo.

Mas tomo um gole de whisky, acendo um cigarro e mando uma mensagem dizendo que "estou com saudades porque lembrei de você nessa noite fria" para um número que não é o seu.

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