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1.9.11

O amor é uma musica que eu não sei os acordes

(ou como estragar relações em apenas três acordes).

Não sei lidar com sentimento.
Primeira verdade universal da minha vida, primeira pessoa do singular. Não sei.
Da única vez que amei (e foi a única assim, indivizível) percebi tarde demais, porque nunca soube brincar de amor. Difícil conseguir enxergar uma coisa com a qual nunca houve um contato anterior. É como tentar reconhecer uma mesa como mesa, sem nunca ter visto uma. Se dá outro nome, se inventa, não se sabe muito bem a função da coisa nunca-antes-conhecida. Havia o ciúmes, e uma coisa grande que às vezes fazia chorar de dor, e às vezes fazia chorar de não caber. Desconfiei daquilo ser amor pelo que eu já tinha lido nos romances. Uma urgência, uma vontade de ter a coisa pra si sem que necessariamente a coisa tenha que ser sua. Se necessita do sentimento por, não se necessita da coisa em si. Só soube do amor que tinha quando te vi partir, e daí já era tarde demais. Disse quando me declarei, errada, sem postura, gaguejando e tropeçando naquilo que sempre soube usar bem - as palavras - que morava em mim o descompasso. Descompassada. Só sei dançar no sentimento fora do tempo, pisando nos meus próprios pés. Acho que ainda sinto os calos.

Depois de você, deu-se a eterna procura de um outro sentido. Amar traz um sentido ao existir. Um sentido só teu, um sentido que aparece meio desavisado. Eu te amava nos meus livros, nas músicas que você tinha me dado. Te amava nas lembranças de casa, no sofá da sala, nos pequenos souvenirs que ficaram, aqui e ali. Eu te amava na ausência, na falta, na necessidade. Te amava porque sem você eu era a mesma menina descompassada que tropeçava nos próprios pés e caia ralando o joelho - só que sem mão pra segurar e rir junto, o que deixa a vida toda de um erro-sem-fim.

Eis que houveram as novas relações e como não pisar nos próprios pés, como dançar no ritmo da música, como não ralar o joelho? Existe uma regra? existe um jeito de nascer uma compreensão sem precedentes da parte que precisa receber o amor de que você não sabe lidar com aquilo? Não sei responder. Não sei responder porque da única vez que amei cai nos joelhos do ser amado quebrando os dentes e sangrando a boca. Da única vez que amei descobri que o amor tem data de validade e desencontro. Descobri o amor quando não mais me amavam, não soube demonstrar quando devia e aí, acabou-se. Depois entrei numa busca sem fim de entender como lidar. O amor nasce? Se encontra o amor? Quando ele começa a acontecer você diz? Ou você espera sentada no seu sofá por um manual de instruções?

Não sei brincar de amor.

Difícil dizer, fazer um retrospecto, admitir de joelhos sangrantes que o fracasso sou eu. Simples dizer que tenho em mim um espírito de liberdade aguçado, que guardo em mim expectativas que as pessoas nunca serão capazes de alcançar, que sou incapaz de lidar com sentimento de um jeito que não seja trágico. É simples me explicar assim, por vício. Olhar pras novas pessoas que entram na minha vida e dizer: "olha, eu sou um fracasso, e provavelmente eu não vou atender às suas expectativas. Porque eu não sei fazer isso". Não sei se aprende-se isso. Coisas simples. Mandar mensagens de felicitações, parecer equilibrada, chamar pra tomar um café. Sou incapaz, me desculpem, sou. Veio errada a tecla que ensina como lidar com seres humanos. Comigo ou você me leva e me ganha, ou esquece de mim. Esperar qualquer coisa que seja da minha iniciativa é pedir demais, é esperar demais, é se frustrar. E daí, o amor que nem chegou a existir vai embora, e eu, ajoelhada no chão peço mais uma chance. Geralmente já é tarde demais. É como ser um daqueles cubos mágicos embaralhados demais pra querer juntar as cores certas. Quando chegar ao fim pode ser que compense, mas você prefere deixar o cubo de lado. Muitos movimentos, voltas, quebrar a cabeça, ficar com raiva, querer jogar o cubo no chão. Esse cubo que, até você compreender a sua esquisita lógica, não vai atender aos seus comandos.

O amor é o meu inventário do irremediável.

Dizem que os melhores cozinheiros erram no almoço de casa. Aprendi a escrever sobre amor, entendo na teoria, seria a melhor namorada-amante-companheira-de-aventuras do mundo, mas no fim das contas, você acostuma a ser aquele cubo mágico esquecido no cantinho da escrivaninha. Viajantes vão chegar, querer aceitar o desafio. Alguns vão durar mais, outros desistir na primeira volta, outros vão tentar bastante. E quem sabe um dia coloquem todos os meus pedaços nas faces certas desse meu existir. Mas eu sou poeta e não aprendi a amar.

E o amor é essa canção que eu insisto em cantar - mas não sei o tom. 

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