Páginas

31.10.11

feedbeck song for a dead friend.

É dificil encarar as esquinas da cidade sem você. Todas elas. As que rodeiam a minha casa, e as um pouco mais longe. Você teve essa coisa de conseguir deixar lembranças em todos os lugares que podia deixar. No meu quarto, nas paredes da sala, nas colheres da cozinha. Um monte de lugares sem conexão que se encontram na tarefa de lembrar uma mesma coisa: você. As mulheres no ônibus apertadas em suas meias kendall não sabem que a minha deseducação e a minha cara amarrada as seis da tarde é muito mais saudades que cansaço. Entrego o lugar pra elas, pareço esgotada, elas me dizem "senta, você trabalhou demais". E eu aceito, porque ter amado demais também me esgotou as víceras.

Te dizer que talvez eu sinta mais saudades de mim do que de você. Você, que era a minha religião, meu encontro-com-o-sagrado, meu ponto de equilíbrio. É dificil andar em linha reta sem você me guiando os passos. Depois que você se foi, a vida se deu num eterno descompasso em uma busca terrível por um deus que não há. Porque não há socorro na literatura, ou na festa, ou no copo de vodka barata que eu tomo que me faça voltar a ser aquilo que eu era. Crescemos. Você cresceu, eu aprendi coisas e mais coisas depois que você me deixou, mas o meu descompasso é qualquer coisa com a qual eu não sei mais viver. Você me via largada no chão de tanto desgosto e me segurava firme, dizia que a vida era mais que isso, que eu tinha que acreditar nesse meu potencial. O potencial que eu não te fiz acreditar, que eu não te mostrei, que eu não te dei prova. Que você só enxergava, e daí me pegava pela mão e dizia que a vida é mais que isso, poxa, mais que esses meus lamentos constantes, minhas depressões, meus altos e baixos. E eu, destrutívissima, não queria acreditar em você dizia pra mim mesma, baixinho "você não entende, você nunca vai entender esse meu vício na busca, no incerto, no vazio". Mas aceitava o abraço porque às vezes não há mais o que se fazer.

E tinha esses teus olhos complacentes com qualquer coisa, com as minhas posturas arbitrárias, com o meu jeito errado, com os meus tropeços. Eu era tão mais gente com você, tão mais grande, tão mais bonita. A cumplicidade dos teus olhos que não esperavam mais de mim do que eu podia dar. Uma palavra desajeitada aqui, uma coisa demais ali. Você com tanto medo de me fazer sofrer, me tratando como um desses elefantinhos de cristal que não tem muito valor, mas que a gente criou apego, então cuida pra não quebrar. Justo eu, que cheguei na sua vida arrombando as portas, tirando seus filmes do lugar, te chacoalhando, te fazendo correr segurando na minha mão seca. E você, tão frágil, tão incerto e tão doce, me mostrando que a vida não precisa de tanto assim, que eu podia ser feliz, que eu podia ser tudo que eu quisesse no meio da minha literatura marginal, das minhas teorias que eu aprendi pela metade. Você acreditava na filosofia que eu não li inteira, você me admirava mesmo eu sendo esse ser-pela-metade que eu sempre fui. Você ria das minhas gafes, cuidava dos meus tropeços, dividia comigo o espetinho que você pagou com seus últimos dois reais.

Eu não queria sentir tanta falta de mim assim. Eu não quero mais amar, que se dane, eu não quero mais ninguém, mais nenhuma pessoa é capaz de carregar meu mundo, você sabe? De me mostrar que a gente não precisa ser assim tão amargo, não precisa ser assim tão erudito. Que eu posso ser assim pela metade, cheia de defeitos, cheia de bobagens e que é possivel ser melhor, ter vontade de ser melhor. Eu queria conseguir sorrir, de novo, nessas noites de quarta feira meio mornas, com comida barata. Eu queria achar graça nos teus filmes ruins, eu queria que alguém ao ver o descompasso que eu me tornei, me olhasse com olhos cumplices e me desse uma vontade qualquer de mudar, de ser melhor, de crescer, de qualquer coisa assim dessas que você me dava.

Você não ia sentir orgulho dessa criaturinha que eu me tornei, e eu não sei como você tá. Eu só sei que a cada tombo, a cada porre, a cada choro no banheiro, a cada vômito que eu dou no meu próprio pé eu só peço baixinho que você volte porque desde que você se foi, eu estou sentada na sarjeta esperando que você me dê a mão - e um pouco de equilíbrio.

(escrito sei lá quando - estou resgatando os textos não publicados no blogger, enquanto a inspiração me fugiu).

20.10.11

I want to live offline


(where soul meets body).

dia desses, não tanto tempo assim, nem tão logo também, me deparei com gente fazendo o inimaginável: as pessoas largaram suas contas na internet. na época pensei que seria mais fácil pra mim deixar de ver tv, ou ficar sem celular do que apagar minhas contas na internet. minhas contas na internet são, de certa forma, minha identidade num mundo. talvez não nesse mundo palpável, de sol e chuva, de ilusão, desilusão, trabalho e café morno. mas num mundo à parte, eu sou o que eu posto no meu facebook - e as minhas estrelinhas no twitter. sempre olhei com certo descaso as pessoas que apagavam suas contas na internet. um facebook não é nada, não tem pra quê apagar. além do que, deixa a comunicação mais difícil, pra quê dificultar a comunicação quando vivemos na era das redes sociais, na comunicação instantânea? não usa mais, mas apagar, pra quê? até lembro de ter visto um desses vídeos anti-facebook do tipo "você não é o que você posta no seu mural", e pensado que as esferas da vida de uma pessoa são tão maiores que o facebook, que era meio simplista - e ridículo - ver as coisas desse jeito meio piegas, meio clichê.

hoje eu entendo essas pessoas que apagaram suas contas. 

não agüento mais o ruído que essa comunicação instantânea faz em mim. meu celular apitando, milhares de novas notificações de nada, as pessoas expondo as suas opiniões como se gritassem em praça pública. nunca ouvidas, nunca compreendidas, no máximo compartilhadas - e pelo sentimento egoísta da identificação. facebook traz consigo uma neurose. a neurose de postar um vídeo e esperar ser curtido. a tristeza de não ser amado por não receber comentários. traz consigo a necessidade de compartilhar. estou no shopping. estou comendo batatas fritas. estou me divertindo. estou me divertindo tanto que tenho que compartilhar. uma urgência. uma urgência que espera balões vermelhos com notificações numéricas em forma de amor. não existe amor no feice, parafraseando o criolo. existir até existe. mas não é como se essas pessoas não arrumassem um jeito de se amar que não fosse ali, em meio a curtdas e comentários. o facebook expõe todas as facetas da vida de uma pessoa. você entra em contato com todos os círculos sociais dos seus amigos. você sabe as coisas que ele te escondia que gostava. você o julga pelos seus guitly pleasures. você sabe quando ele está saindo sem você. você se deprime aos sábados à noite quando alguém está no bar e você está sozinho. demonstrar uma felicidade - por mais legítima que ela seja - não nos faz pessoas mais felizes. 

não existe mais comunicação que não espere uma validação vazia. você espera sorrisos em suas perguntas do formspring. você espera estrelinhas e RTs em seus tweets. você espera que maria, fernanda, claudia e mais 12 pessoas curtam aquele vídeo. você se sente rejeitado quando isso não acontece. o que a gente esquece é que o sentido é muito subjetivo. eu amo as músicas do oasis e de repente, ouvir "masterplan" faz todo o sentido do mundo pra mim. por coisas que eu passei. e eu preciso colocar aquilo pra fora. e coloco meu video no facebook. ninguém curte. ninguém liga pras coisas que eu acho legal. não. as pessoas simplesmente não ouviram oasis na adolescência e nem tiveram um encontro com o sagrado naqueles versos. o sentido é relativo. a gente se grita em praça pública no twitter em 50 updates por minuto e nem consegue se entender. não sabemos nos comunicar frente a frente e criamos mal entendidos terríveis. ao invés de mandar nossos versos de música diretamente para a pessoa, nós colocamos no facebook esperando que ela saiba que aquilo ali era pra ela. ao invés de esclarecer as brigas da vida, nós indiretamos as pessoas com uma agulhada que começa com "gente que". ficamos neuróticos. ficamos centrados em nós mesmos. colocamos carapuças que não foram jogadas pra gente. criamos terríveis mal entendidos. não sabemos demonstrar amor. não sabemos conversar frente a frente. nós esperamos que as pessoas nos entendam por aquilo que escrevemos no twitter quando elas não estão nem nos lendo. precisamos de validação, de aceitação, ok, somos humanos. mas precisa? talvez precise. precise porque a cada tweet estamos mais sozinhos. a cada vez que postamos um vídeo com uma música ao invés de mandá-lo diretamente pra pessoa que queremos que veja, estamos um passo atrás da aproximação de fato. precisamos das estrelinhas e dos RTs porque precisamos nos sentir ouvidos, entendidos, compreendidos. enquanto isso as outras pessoas só nos compartilham por identificação. catarse. só que uma catarse tão rápida e vazia que a gente nem aproveita direito.

Eu estou cansada. cansada da neurose da minha timeline. cansada de imaginar se aquelas palavras eram ou não pra mim. cansada das pessoas que fingem ser felizes o tempo todo. escrever no twitter que você vai ter uma bela noite com o seu namorado não restaura seu relacionamento. as pessoas precisam mostrar o tempo todo que estão fazendo coisas legais, estão sendo amadas, que tem muitos amigos, que se divertiram no sábado à noite. e elas nem estão. as pessoas felizes de verdade não tem tempo de escrever suas felicidades no twitter, no facebook, porque elas estão ocupadas se divertindo. os casais felizes não twittam o tempo todo que são felizes, porque não precisam se convencer disso. felicidade não precisa de validação. amor não precisa de validação. acontece. e eu estou cansada dessa vida que não acontece. de ao invés de chamar alguém pra sair soltar que "alguém podia me chamar pra sair". é claro que eu estou pensando em alguém específico. por que eu não chamo aquela pessoa então? por que eu me frustro quando aquela pessoa - que não tinha a menor obrigação de entender que aquilo era pra ela - não responde ao meu pedido? por que eu espero que as pessoas gostem de tudo que eu achei genial? por que eu espero que elas tenham a mesma perspectiva que eu sobre qualquer assunto? por que eu me acho mais ou menos amada pelo tanto de estrelinhas, RTs, smiles e curtidas que eu ganhei? por que a minha vida virou um ranking ridículo? 

Eu tenho achado triste esse mundo de favstar, esse mundo cheio de números, de rankings. esse mundo em que existem os primeiros alunos da classe e aqueles que ficam na enxurrada da informação. é deprimente. é deprimente apertar o f5 na espera de mensagens, mentions, e recados de amor que nunca chegarão. é triste esperar que na sua caixa de e-mail chegue alguma coisa a mais do que e-mail de compra coletiva sendo que vivemos num mundo em que as pessoas nem se falam diretamente. elas se cutucam. sinto falta dos recados. sinto falta da época que saudade e admiração não era demonstrada com uma estrelinha no twitter e sim com um simples - mas bonito - "estou com saudades. acho que começo a achar inválido o tanto de sentido que a gente tem que atribuir a uma ação só pra demonstrar um sentimento simples. é simples amar. é simples sentir saudades. mas por quanta interpretação de sentido a gente não tem que passar até se dar conta que aquele vídeo com aquela música que a gente ouviu pela primeira vez que ele postou no mural do facebook era pra dizer que ele sente a minha falta? essa informação jogada e ambígua dificulta os relacionamentos humanos. a gente não sabe o que o outro quer. a gente imagina. e pode errar. porque a gente sempre erra.

cansei da urgência, do compartilhamento, cansei de olhar minhas redes sociais a cada cinco minutos em busca de algo que não vem. cansei de gente contando suas vidas medíocres de um jeito que pareça interessante, cansei de gente que pensa tweet pra receber estrelinha. que mundo babaca é esse? cansei de estar on-line o tempo todo e não conseguir mais nem conversar com as pessoas. só mandar indiretas - de amor amigo, ou de escárnio e maldizer - no twitter. esperando que elas encontrem o sentido naquilo que nem eu mesma sei o que quer dizer. quero a vida mais simples. quero me livrar da urgência, da angústia, e da internet 3g. não que não exista beleza nesses amores jogados, também. às vezes é bonito, uma estrelinha, uma curtida daquela pessoa no vídeo que você colocou pra ela. essas sutilezas modernas. mas é mais simples dizer que estar com saudades e mandar o vídeo diretamente. e é tão sutil quanto. provavelmente não apagarei minhas contas na internet. mas cansei. estou esgotada. preciso me desconectar, preciso reaprender a me comunicar com as pessoas diretamente de novo, e não mediada por uma timeline. cansei de todo o processo de interpretação de sentido que o outro tem que passar pra entender o que eu quero. ninguém tem a obrigação de me entender quando nem eu mesma me entendo. 

nós vivemos na era da comunicação, e desaprendemos a nos comunicar que nem gente. soltamos palavras ao vento, esperando que alguém pegue e faça com elas algum sentido. no fundo, esperamos a mesma coisa que alguém esperava antes do advento das redes sociais: ser amado. e pra isso não é preciso twitter, nem facebook, nem ao menos celular. é preciso duas pessoas dispostas. a grande verdade é que, a gente não está disposto. não agora, não assim, não desse jeito torto.

cansei. de verdade. tudo ficou muito idiota. cansei desse mundo de "eu sei, porque li no seu twitter", eu quero me contar pras pessoas, eu quero ouvir coisas que ela tem pra me contar, diretamente. eu não quero ler tudo no twitter. eu quer contato também. cansei dos mal entendidos, cansei de me superexpor esperando reações, cansei de enviar indiretas-convite, indiretas-amor, indiretas-frustração, sem nunca falar diretamente com a pessoa em questão e entender o sentido dela sobre aquilo tudo. cansei de tudo isso que não funciona. quero amar, quero ser amada, quero viver mais e esperar menos notificações. eu quero estar offline, eu quero viver where soul meets body.

ainda existe amor em algum lugar. onde é que há gente no mundo?

18.10.11

don't wanna be myself no more


(I wanna be somebody else) 

tinha descoberto que precisava de equilíbrio. e não era um desses equilíbrio que vendem em comercial de tv não, uma paz interior qualquer. era um equilíbrio mesmo, um equilíbrio de verdade. tinha percebido que era assim, mais uma daquelas pessoas descontroladas que povoavam o mundo. todo mundo no mundo moderno tem neuroses, todo mundo tem os seus problemas. ela tinha se dado conta dos dela. era isso, era sempre afastar o outro por medo do abandono, era a neurose paranóica da possibilidade da perda. sempre um achar que existe uma tramóia por trás de tudo, porque é difícil e perigoso ser feliz. ser feliz não dura. fazia um tempo que tinha então abdicado de qualquer salto no escuro, esperando assim a coisa vir até ela. às vezes também tentava destruir a coisa. qualquer coisa que pegue qualquer profundidade que seja precisa ser afastada porque pode ferir. tinha amado uma vez e foi bom, foi lindo, sentia-se viva e o sangue corria pelas veias, pelos cabelos, o sorriso da paixão se via nas fotos, o olhar dele pra ela, o olhar dela pra ele. se amavam mais quando desavisados porque o amor aparecia. o amor aparecia nos arquivos perdidos no computador. qualquer dúvida sobre o fato do amor ter acontecido estava acabada ali, naqueles arquivos de alguns mil megapixels. mas acabou, como tudo sempre acaba, e desde então é cansaço. cansaço, neurose, medo. medo de ser abandonada por outra, medo de sofrer caso aconteça e é por isso que desapegou-se. desapegou-se desde a infância em que seu pai foi-se pra longe, não parava em casa, trabalhava demais. percebeu ser mais fácil a partida daqueles a quem não nos apegamos muito. quando tem apego tem dor e todo mundo vai embora, não vai? preferi deixar antes se for assim. e deixa. deixa até o que poderia dar certo, inventando histórias, narrativas fantásticas. "ele não me ama mais, ele nunca seria capaz de me amar", diz baixinho. a realidade não existe. não nesse mundo desequilibrado em que escolheu viver. sabota-se, mutila-se, resguarda-se, abandona, desapega. amar é muito karma, é difícil, é terrível, tem que se entregar. e depois de se entregar o inferno. a paranóia, o controle, a chantagem, o medo do abandono, sempre o medo do abandono. "você me esqueceu?", perguntava ingênua. quase sempre respondiam que não, mas sabe-se lá. não acreditava nos outros, duvidava, testava o amor sempre que podia. tudo isso no meio de histórias, de sonho de "ele não me ama mais". tudo isso no meio de frustrações por qualquer convite recusado, qualquer resposta demorada, qualquer recusa percebida. histórias inventadas, fantasias terríveis, o se frustrar por uma realidade que não é. o medo. o medo do abandono. o teste do amor. cansou-se. daí deu-se conta de tudo isso. que difícil é viver assim, nesse medo, nessa urgência, nessa neurose, nesse abandono-iminente. resolveu mudar. mas dói. a cada novo sintoma um respiro fundo. "isso não está acontecendo do jeito que você vê". virou vício. um trabalho, um exercício, um dia de cada vez. tentar viver, tentar se entregar, tentar não se desesperar com as frustrações cotidianas. difícil, pesado, doloroso. difícil sair do isolamento pra colocar o pé na vida de novo. ser sozinha dói menos, bem menos. é menos esforço, menos necessidade de controle, menos briga consigo mesma. o terrível exercício diário do equilíbrio, do ver as coisas claras, do não se desesperar, do não fazer tempestades em copo d'água, de não manipular, jogar a culpa, espalhar indiretas infundadas. surtar, enfim. todo dia uma luta no silêncio que precede o surto. era mais fácil viver na negação, mas agora que deu-se conta, quer parar de sofrer pelo simples fato de estar viva. quer ser, quem sabe, plena. quem sabe de novo o bom corpo, o sorriso, o amor que se vê pelas fotos. lidar com o silêncio que precede o surto. ir um dia de cada vez. tentar, enfim. 

à todos, do passado e do presente, desculpa qualquer coisa. 

16.10.11

a título de curiosidade.

a título de curiosidade, esse nunca pretendeu ser um blog sobre a minha vida. o uso da primeira pessoa é apenas um vício de linguagem. não sei me distanciar nem dos filmes que eu assisto, porque me distanciaria dos personagens que escrevo? não tenho aqui a vontade de mostrar nada pra ninguém. não espero me redmir dos meus erros, nem mostrar novos caminhos. não acabe a mim, nem a você - o leitor - descobrir se alguma dessas personagens aqui descritas são de fato eu. nem eu sei se são. nenhum personagem aqui transcrito existe do mesmo jeito na vida real. tudo que passa pelos olhos dos outros para ser descrito já não é o que era em primeiro lugar. mascaro a realidade e escrevo textos. escrevo textos que inventam uma nova realidade. escrevo porque preciso viver em um outro mundo que não o meu. escrevo porque a realidade crua me desgasta de sobremaneira. escrevo porque tenho insônia, porque sofro de distúrbios ocasionais, escrevo porque me frustro, escrevo porque preciso sublimar. não escrevo por sua causa, nem por causa dele, nem por causa dela, e nem por causa de vocês. escrevo pra mim. escrevo por mim. escrevo do que vem de dentro de mim. nada do que existe aqui aconteceu de verdade. é tudo literatura. literatura de 1,99, de romance de banca de revista escrito em papel jornal, mas literatura. não exponho a ninguém nos textos desse blog. não escrevo à ninguém nos textos desse blog. eu escrevo pra nada, pro silêncio, escrevo porque é meu vício primitivo, porque é meu único jeito de me expressar completamente, escrevo porque preciso falar e não sei, porque queria ser livre e não sou. escrevo pra me libertar. saibam, nenhuma pessoa é a motivação da minha literatura. a minha literatura é que é a motivação do meu existir. e se vocês se enxergam aqui uma hora ou outra é porque fazem parte da minha vida. e eu só sei escrever sobre aquilo que já senti.

nenhum romance é completamente imparcial.

15.10.11

do you think love is a laserquest?

(para se ler ao som de love is a laserquest )

sexta feira. madrugada. eu sou uma alma errante no meio da cidade fria. minha cerveja, sempre a minha cerveja. minha solidão. meus cabelos sem corte e mal cuidados. não te esperava mais porque eu não esperava ninguém em especial, eu nunca mais esperei ninguém. só foi assim. eu só cansei de esperar. estaria segurando um cigarro se fumasse, mas seguro bem minhas pulsões de morte. do jeito que posso. existir me dar náuseas, mas eu tenho medo de morrer. tenho medo de morrer porque tenho medo que o paraíso exista, e eu não sei o que fazer com a eternidade. a eternidade me dá calafrios na espinha.

seu atraso de meia hora, quase quarenta minutos. eu devia ter ido embora, mas nada me abala mais. uma, duas, três cervejas. as pessoas do bar me olham com certa pena. algumas cochicham. cochicham a minha solidão intrusa. as pessoas não sabem lidar com gente sozinha. eu sorrio um sorriso sádico e agradeço por pelo menos não ser o casal da minha frente que não se conversa. eu já fui neurótica pela sua presença e hoje evito até te mandar mensagens perguntando onde você está. podia ser um acidente de carro, uma fatalidade, é claro que podia. mas eu não acredito mais nisso. eu não acredito mais em você. eu não me importo se você morrer. eu sempre esperei que você sumisse, mas você continua. continua me perseguindo só porque você é sozinho, e quando você foge é porque se enxerga em mim. eu pensei isso no meu quinto copo de cerveja. esperaria mais vinte minutos e foda-se. se você não aparecer eu dou tudo por acabado sem te falar nada. e vou embora. eu sempre te disse que eu não sabia cultivar relacionamentos. você disse a mesma coisa. é pra isso que a gente nasceu. foi por isso que a gente se encontrou.

 dai você chega. chega, não me olha nos olhos, pega um pouco da minha cerveja. pede desculpas, meio desajeitado. eu não ligo, não é como se você me machucasse. eu digo que tudo bem e sorrio. você sorri de volta, me conta da sua vida, dos seus sonhos, das suas perspectivas. quando eu falo você não me ouve assim, não completamente. seus olhos sempre procuram alguma coisa longe de mim que eu nunca vou saber o que é. talvez eu saiba. talvez seja outra garota, talvez seja a liberdade, talvez seja alguém mais simples. eu não te culparia por isso. eu nunca te culpo por nada, porque não há do que te culpar, assim, exatamente. eu soube de tudo quando te conheci. soube que nós não nos apaixonaríamos, não viveríamos uma bela história de amor, eu soube - como quem compra uma bandeja inteira de iogurtes na promoção - que eu tinha que te aproveitar logo porque a gente tinha data de validade próxima. e eu achei que fosse ali, naquele dia. você chegou desinteressado, bebendo várias cervejas, eu tinha que inventar assuntos sem vontade. você não queria meus assuntos daí a gente tentava comer, ou tentava beber, e você até tentou ocupar o vazio segurando as minhas mãos, mas nem isso daria jeito. foda-se. eu queria te deixar pra sempre. te deixar sentado na mesa segurando seu copo de cerveja e sua empáfia e te abandonar dizendo que na verdade eu nunca te quis. eu talvez te abandonasse sem dizer nada. não tinha nada a ser dito. nunca houve. eu te olhava como olhava as fotos do mural do meu quarto. meu quarto cheio de gente morta na minha vida, cheia de gente sem sentido e sem significado. eu te olhava e não achava o sentido em você. eu, vivendo a procura dos sentidos ocultos. não tinha mais o que te dizer, eu não tinha mais como fazer aquilo funcionar, eu tropeçava no meu salto alto, o mundo girava de um jeito enjoado quando você tentava me beijar. há quantos anos estamos juntos, eu pensava. pra esse cansaço todo? sete anos, talvez quinze. eu não lembrava direito nem o dia em que tinha te conhecido. eu sabia que não tinha que te anotar na agenda. eu não gosto de ser imprudente com sentimentos.

 mas aquele dia tinha uma coisa, talvez o meu cansaço da vida, talvez a náusea de existir, talvez a simples vontade de romper com tudo e sair correndo. qualquer coisa dessas. qualquer coisa dessas me fez querer vomitar em você, te bater, te dizer que não precisava mais daquilo, que você podia ir embora e me largar pra sempre, e ia ser melhor assim. ia ser melhor assim porque eu não sabia lidar com seu silêncio, com o nosso cansaço, com essa merda toda. eu queria te dizer pra ir embora, ir embora de vez. me deixar, cuspir na minha cara que seja, mas acabasse logo com isso. eu já fui abandonada tantas vezes, tantas inúmeras vezes que não faz diferença, eu ia te jurar, não faz mesmo. ia ser mais uma. mais uma vez. eu ia acabar esquecendo teu rosto em dois meses e arrumando outra coisa pra me apaixonar. e você, quem sabe, se encontraria com o amor da sua vida porque é assim que funciona. é assim que funciona na minha vida. e eu, tão cansada de tudo, tão terrivelmente apática, de repente levantei e gritei:

- porra, que merda, me abandona de vez.

 você me olhava e não entendia nada.

 - me abandona, caralho, me abandona de vez. vai embora, me deixa a pé, andando na chuva, mas não me faz sentir como aqueles putos da mesa da frente. casados há duzentos mil anos e que não conseguem nem falar sobre o tempo. me faz pelo menos sentir raiva de você já que você tá matando todo o carinho. eu não sinto nada, caralho. eu não sinto nada você tá entendendo? na-da. me tira dessa merda. me tira. não dá assim, eu não sei continuar assim.

 você pagou a conta, me puxou pelo braço, me sentou no banco lá fora. você me odiava. eu podia sentir que você me odiava. me odiava porque eu não tinha tido um porre e vomitado no seu pé, eu não tinha feito um escândalo de subir na mesa e dançar, eu não bati no teu carro nem risquei a lataria nova, eu só vomitei o que eu sentia em você. e com isso você não soube lidar. essa parte de mim você sempre preferiu esconder que existia.

 - por que você fez isso?
- porque eu não nos agüento mais.
 - e precisava, assim, no meio de todo mundo?
- na verdade o plano inicial era te dar as costas e ir embora sem te dizer nada. mas eu tô bêbada. eu tô bêbada e olhei pra essa sua cara de tédio e não deu. só te largar era muito pouco. eu tinha que te jogar isso, essa coisa. não dava pra ser assim, do jeito que eu achava que ia ser.
- você já gostou de mim, me diz você já gostou de mim em alguma parte disso tudo?
- eu gosto ainda.
 -você disse pra eu te abandonar.
 - justamente porque eu gosto de você. porque acabou a nossa urgência, dá pra ver, você olha pra mim contando as horas pra me levar pra casa. eu nem lembro qual foi a última vez que eu conversei com você alguma coisa com empolgação. é só assim, você fala, depois eu falo e você não me ouve e a gente come, depois trepa, e é tudo um pretexto ridículo, e quando não é isso estamos bêbados, e você me segura e eu vomito no teu pé, no teu carro, depois na cama. acabamos desacordados, um pra cada lado. decadentes. que rotina ridícula. a gente é ridículo. terrivelmente ridículos.
 - eu não sei o que te dizer.
- você não sabe o que me dizer porque você nunca soube, porra. mas alguma coisa você sente.
- eu gosto de você.
 - você gosta menos de mim do que gosta do seu cachorro.
 - meu cachorro não exige validações de sentimento.
- e eu não exijo nada de você.
 - isso é o que você acha.
- pode dizer que eu sou louca.
- e é. é porque complica tudo do jeito mais terrível.
 - por que você não me abandona de vez?
- porque eu não consigo, tem alguma coisa em você. qualquer coisa.
 - por que você não me abandona de vez?
- porque eu não quero.
 - você ia mesmo me virar as costas?
- ia.
- não virou por quê?
 - porque eu tinha que tentar pela última vez, vai que não sei, vai que dá certo, vai que eu redescubro em você aquilo que eu vi no primeiro dia.
 - é isso que a gente vive buscando, será? aquilo que a gente era no primeiro dia?
 - acho que é isso que todo mundo busca, no fim das contas. até aquele casal terrível e sofrido que tava sentado na nossa frente. todo mundo vive na esperança de voltar a sentir o encantamento e a urgência do primeiro dia.
 - naquele dia você falava mais, bem mais.
- naquela época você era encantado por mim.
 - você ainda sorri do mesmo jeito.
 - e você nunca sabe direito a hora de me beijar.

 você me beijou. eu te sorri. não queria mais te abandonar. não naquela hora. mas eu sabia, um dia aconteceria. talvez não hoje, e nem daqui há uma semana. mas chegaria o dia em que não existiria mais em nossos ossos o encantamento nem a urgência do primeiro dia, e nem seria possível recuperá-los. eu não anotei nosso primeiro beijo na agenda. não quero acreditar em amor como não quero acreditar no paraíso, porque eu não sei o que faria com a eternidade. a eternidade me dá calafrios na espinha. me enxergo te deixando deixando pra nunca mais voltar. imagino você me abandonando pra sempre, por causa da minha loucura insuportável. sorrio assim. me fazem feliz as bandejas de iogurte compradas na promoção para serem consumidas rápido, num tempo determinado. tudo tem data de validade.


."..and in the end gets easy to pretend that you are just some lover. "

14.10.11

Entre o ser e o nada

Jean paul satre ou um outro filosofo qualquer disse que o ser humano esta fadado a uma terrivel angustia a partir do momento em que se dá conta da própria existência. Essr mesmo sartre escreveu um livro chamado a naúsea. Naúsea é o que eu estou sentindo agora. Nausea do existir. Quero vomitar minha vida pela boca. Quero nascer de novo. Quero ao menos conseguir revidar o tapa, sair da inércia, gritar a dor: voltar a sentir enfim. Porque hoje sou o ser - e o nada. Sinto meu coração na ponta da faca, sangra, mas eu não sei mais gritar. Estou cansada de existir - a naúsea.

13.10.11

anti-métrica

versos livres, 
brancos
a caneta não toca o papel
a escrita não toca a alma
você não toca meu coração

o amor é só um jogador na reserva de um time,
que nunca vai entrar em campo.

8.10.11

do aleatório do ser que derrama em plena madrugada

chego em casa. penso em escrever. penso em conversar. penso em dizer quinhentas mil coisas que ficaram engasgadas em mim, mal resolvidas. as noites não tem sido assim tão interessantes, e nem adianta mais ser a menina mais-bem-vestida-da-festa. as coisas não fazem sentido. não é culpa sua, não é culpa minha, não é culpa de tudo-que-deveria-ter-sido-e-não-foi. não é culpa do passado nem do presente, nem dos trânsitos astrológicos pelos quais estou passando. é da vida. é da vida essa insatisfação sem fim, essa busca sem fim em si mesma. uma semana a gente flerta com a decadência, vomita a alma pela boca, desmaia e não lembra de nada. na outra a gente sai e volta dama da sociedade, garota alternativa e bem vestida de classe média. é tudo assim, meio cíclico, meio errado, meio cheio de voltas. é tudo assim, meio indefinido. queria  escrever o texto da minha vida, queria a catarse, o perfeito, a criação. queria tirar de mim o que quer que seja isso. o peso que ficou nos meus ombros depois de tanta perda, de tanta morte, de tanta solidão. cheguei na terrível parte da vida em que se todas as pessoas que eu conheço sumirem eu sou capaz de acostumar. vivo sozinha, um bicho meio apático, ninguém sabe muito das coisas que eu quero, das coisas que eu faço. nem eu mesma. por isso não culpo. hedonismo. a busca pelo prazer. sei lá, que seja. eu vomito na janela do carro, eu experimento tudo que há para experimentar, eu vivo nesse filme sem nexo pierrô retrocesso meio bossa nova e rock and roll e ninguém se importa muito. nem eu mesma. joãozinho bobo na mão da vida, se você me empurrar eu vou. pra qualquer lugar que seja. não esperem de mim as mais belas cartas de amor, as demonstrações mágicas, os textos bem escritos. tudo deu um tempo. sobrou em mim esse vida que vai indo do jeito que dá, do jeito que pode. um dia beija, depois não beija mais, um dia sai, depois não sai mais. passo dias inteiros indo em casas desconhecidas, refazendo amizades, conversando sobre qualquer assunto. depois outra semana inteira em casa com meus livros & filmes, minha pizza metade napolitana metade brócolis. tanto faz. tanto faz você, tanto faz eu, tanto faz a vida. tanto faz. eu já quis ser feliz, eu juro, eu quis mesmo. quis ser feliz, equilibrada, quis levar essa vida regrada que todo mundo gosta tanto. essa vida de tv no domingo, de ligar pra dar boa noite. mas não sei lidar. tudo na minha vida veio fácil demais pra que eu quisesse manter comigo, não sei, vai saber, essas coisas não fazem mesmo o mínimo sentido. eu não faço o mínimo sentido. hoje só sei viver assim. um dia não bebo nada, depois bebo demais, chego em casa, vomito no meu próprio pé, tenho pena de mim mesma, me acho velha demais pra essas coisas. sento na cama digo pra mim mesma que quero sossegar, quero viver mais calma, quero um amor-quem-sabe, alguém pra me pegar na mão, pra me fazer feliz. mas sei que esse não é o caminho, o caminho sou eu. eu sou meu próprio desequilíbrio. eu sou isso. sou um dia de videogame e coca e outro dia de porre de cerveja com tequila. sou de ímpeto, de aventura, de ser livre. sou assim de ser livre e acho que não há o que fazer. olho pra mim cansada, os cabelos mal cuidados e as roupas mal escolhidas e sorrio porque podia ser pior, podia ser muito pior. eu sei que podia. eu sei que me mantenho nesse equilíbrio frágil. um equilíbrio que toma porre, e fala demais. que diz o que não deve e que se atropela, mas o meu equilíbrio. eu sou capaz, eu sei, eu sou bastante capaz mas no momento, sabe, no momento que seja, tanto faz, tanto faz de verdade. no momento eu não sei ser de outro jeito e não tem pra quê ter pena de mim. talvez eu devesse quem sabe ser mais capaz, mais ajuizada, mais dessas pessoas que não acham que tudo acaba, tudo-sempre-acaba. quando você acha que tudo acaba você aproveita tudo muito intensamente mas esquece de fazer-durar. é assim com tudo até com a minha vida. não sei lidar com manutenção, não sei atender expectativas, eu vou sempre as minhas mensagens guardadas na pasta de rascunho, inadequadas. vou ser sempre esses textos de desabafo, o querer consolar e fazer piada, o não saber demonstrar nada muito profundamente. mas por enquanto nada incomoda, vai bem assim, obrigada. todo mundo sabe que a gente muda quando tem que mudar, quando chegar a hora eu mudo também. alguém me ensina. eu aprendo. ou ninguém ensina nada pra ninguém nem aprende nada e sai de mão dada tropeçando e atropelando a vida.

tanto faz. no fim todo mundo é feliz na medida que pode. menos feliz do que queria ser. (bem) mais infeliz do que diz ser.