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8.10.11

do aleatório do ser que derrama em plena madrugada

chego em casa. penso em escrever. penso em conversar. penso em dizer quinhentas mil coisas que ficaram engasgadas em mim, mal resolvidas. as noites não tem sido assim tão interessantes, e nem adianta mais ser a menina mais-bem-vestida-da-festa. as coisas não fazem sentido. não é culpa sua, não é culpa minha, não é culpa de tudo-que-deveria-ter-sido-e-não-foi. não é culpa do passado nem do presente, nem dos trânsitos astrológicos pelos quais estou passando. é da vida. é da vida essa insatisfação sem fim, essa busca sem fim em si mesma. uma semana a gente flerta com a decadência, vomita a alma pela boca, desmaia e não lembra de nada. na outra a gente sai e volta dama da sociedade, garota alternativa e bem vestida de classe média. é tudo assim, meio cíclico, meio errado, meio cheio de voltas. é tudo assim, meio indefinido. queria  escrever o texto da minha vida, queria a catarse, o perfeito, a criação. queria tirar de mim o que quer que seja isso. o peso que ficou nos meus ombros depois de tanta perda, de tanta morte, de tanta solidão. cheguei na terrível parte da vida em que se todas as pessoas que eu conheço sumirem eu sou capaz de acostumar. vivo sozinha, um bicho meio apático, ninguém sabe muito das coisas que eu quero, das coisas que eu faço. nem eu mesma. por isso não culpo. hedonismo. a busca pelo prazer. sei lá, que seja. eu vomito na janela do carro, eu experimento tudo que há para experimentar, eu vivo nesse filme sem nexo pierrô retrocesso meio bossa nova e rock and roll e ninguém se importa muito. nem eu mesma. joãozinho bobo na mão da vida, se você me empurrar eu vou. pra qualquer lugar que seja. não esperem de mim as mais belas cartas de amor, as demonstrações mágicas, os textos bem escritos. tudo deu um tempo. sobrou em mim esse vida que vai indo do jeito que dá, do jeito que pode. um dia beija, depois não beija mais, um dia sai, depois não sai mais. passo dias inteiros indo em casas desconhecidas, refazendo amizades, conversando sobre qualquer assunto. depois outra semana inteira em casa com meus livros & filmes, minha pizza metade napolitana metade brócolis. tanto faz. tanto faz você, tanto faz eu, tanto faz a vida. tanto faz. eu já quis ser feliz, eu juro, eu quis mesmo. quis ser feliz, equilibrada, quis levar essa vida regrada que todo mundo gosta tanto. essa vida de tv no domingo, de ligar pra dar boa noite. mas não sei lidar. tudo na minha vida veio fácil demais pra que eu quisesse manter comigo, não sei, vai saber, essas coisas não fazem mesmo o mínimo sentido. eu não faço o mínimo sentido. hoje só sei viver assim. um dia não bebo nada, depois bebo demais, chego em casa, vomito no meu próprio pé, tenho pena de mim mesma, me acho velha demais pra essas coisas. sento na cama digo pra mim mesma que quero sossegar, quero viver mais calma, quero um amor-quem-sabe, alguém pra me pegar na mão, pra me fazer feliz. mas sei que esse não é o caminho, o caminho sou eu. eu sou meu próprio desequilíbrio. eu sou isso. sou um dia de videogame e coca e outro dia de porre de cerveja com tequila. sou de ímpeto, de aventura, de ser livre. sou assim de ser livre e acho que não há o que fazer. olho pra mim cansada, os cabelos mal cuidados e as roupas mal escolhidas e sorrio porque podia ser pior, podia ser muito pior. eu sei que podia. eu sei que me mantenho nesse equilíbrio frágil. um equilíbrio que toma porre, e fala demais. que diz o que não deve e que se atropela, mas o meu equilíbrio. eu sou capaz, eu sei, eu sou bastante capaz mas no momento, sabe, no momento que seja, tanto faz, tanto faz de verdade. no momento eu não sei ser de outro jeito e não tem pra quê ter pena de mim. talvez eu devesse quem sabe ser mais capaz, mais ajuizada, mais dessas pessoas que não acham que tudo acaba, tudo-sempre-acaba. quando você acha que tudo acaba você aproveita tudo muito intensamente mas esquece de fazer-durar. é assim com tudo até com a minha vida. não sei lidar com manutenção, não sei atender expectativas, eu vou sempre as minhas mensagens guardadas na pasta de rascunho, inadequadas. vou ser sempre esses textos de desabafo, o querer consolar e fazer piada, o não saber demonstrar nada muito profundamente. mas por enquanto nada incomoda, vai bem assim, obrigada. todo mundo sabe que a gente muda quando tem que mudar, quando chegar a hora eu mudo também. alguém me ensina. eu aprendo. ou ninguém ensina nada pra ninguém nem aprende nada e sai de mão dada tropeçando e atropelando a vida.

tanto faz. no fim todo mundo é feliz na medida que pode. menos feliz do que queria ser. (bem) mais infeliz do que diz ser.

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