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18.10.11

don't wanna be myself no more


(I wanna be somebody else) 

tinha descoberto que precisava de equilíbrio. e não era um desses equilíbrio que vendem em comercial de tv não, uma paz interior qualquer. era um equilíbrio mesmo, um equilíbrio de verdade. tinha percebido que era assim, mais uma daquelas pessoas descontroladas que povoavam o mundo. todo mundo no mundo moderno tem neuroses, todo mundo tem os seus problemas. ela tinha se dado conta dos dela. era isso, era sempre afastar o outro por medo do abandono, era a neurose paranóica da possibilidade da perda. sempre um achar que existe uma tramóia por trás de tudo, porque é difícil e perigoso ser feliz. ser feliz não dura. fazia um tempo que tinha então abdicado de qualquer salto no escuro, esperando assim a coisa vir até ela. às vezes também tentava destruir a coisa. qualquer coisa que pegue qualquer profundidade que seja precisa ser afastada porque pode ferir. tinha amado uma vez e foi bom, foi lindo, sentia-se viva e o sangue corria pelas veias, pelos cabelos, o sorriso da paixão se via nas fotos, o olhar dele pra ela, o olhar dela pra ele. se amavam mais quando desavisados porque o amor aparecia. o amor aparecia nos arquivos perdidos no computador. qualquer dúvida sobre o fato do amor ter acontecido estava acabada ali, naqueles arquivos de alguns mil megapixels. mas acabou, como tudo sempre acaba, e desde então é cansaço. cansaço, neurose, medo. medo de ser abandonada por outra, medo de sofrer caso aconteça e é por isso que desapegou-se. desapegou-se desde a infância em que seu pai foi-se pra longe, não parava em casa, trabalhava demais. percebeu ser mais fácil a partida daqueles a quem não nos apegamos muito. quando tem apego tem dor e todo mundo vai embora, não vai? preferi deixar antes se for assim. e deixa. deixa até o que poderia dar certo, inventando histórias, narrativas fantásticas. "ele não me ama mais, ele nunca seria capaz de me amar", diz baixinho. a realidade não existe. não nesse mundo desequilibrado em que escolheu viver. sabota-se, mutila-se, resguarda-se, abandona, desapega. amar é muito karma, é difícil, é terrível, tem que se entregar. e depois de se entregar o inferno. a paranóia, o controle, a chantagem, o medo do abandono, sempre o medo do abandono. "você me esqueceu?", perguntava ingênua. quase sempre respondiam que não, mas sabe-se lá. não acreditava nos outros, duvidava, testava o amor sempre que podia. tudo isso no meio de histórias, de sonho de "ele não me ama mais". tudo isso no meio de frustrações por qualquer convite recusado, qualquer resposta demorada, qualquer recusa percebida. histórias inventadas, fantasias terríveis, o se frustrar por uma realidade que não é. o medo. o medo do abandono. o teste do amor. cansou-se. daí deu-se conta de tudo isso. que difícil é viver assim, nesse medo, nessa urgência, nessa neurose, nesse abandono-iminente. resolveu mudar. mas dói. a cada novo sintoma um respiro fundo. "isso não está acontecendo do jeito que você vê". virou vício. um trabalho, um exercício, um dia de cada vez. tentar viver, tentar se entregar, tentar não se desesperar com as frustrações cotidianas. difícil, pesado, doloroso. difícil sair do isolamento pra colocar o pé na vida de novo. ser sozinha dói menos, bem menos. é menos esforço, menos necessidade de controle, menos briga consigo mesma. o terrível exercício diário do equilíbrio, do ver as coisas claras, do não se desesperar, do não fazer tempestades em copo d'água, de não manipular, jogar a culpa, espalhar indiretas infundadas. surtar, enfim. todo dia uma luta no silêncio que precede o surto. era mais fácil viver na negação, mas agora que deu-se conta, quer parar de sofrer pelo simples fato de estar viva. quer ser, quem sabe, plena. quem sabe de novo o bom corpo, o sorriso, o amor que se vê pelas fotos. lidar com o silêncio que precede o surto. ir um dia de cada vez. tentar, enfim. 

à todos, do passado e do presente, desculpa qualquer coisa. 

Um comentário:

Luciano Costa disse...

a gente gosta de dar desculpas enquanto tenta não admitir que esse vazio às vezes também cultiva algo mais que o vácuo.