(where soul meets body).
dia desses, não tanto tempo assim, nem tão logo também, me deparei com gente fazendo o inimaginável: as pessoas largaram suas contas na internet. na época pensei que seria mais fácil pra mim deixar de ver tv, ou ficar sem celular do que apagar minhas contas na internet. minhas contas na internet são, de certa forma, minha identidade num mundo. talvez não nesse mundo palpável, de sol e chuva, de ilusão, desilusão, trabalho e café morno. mas num mundo à parte, eu sou o que eu posto no meu facebook - e as minhas estrelinhas no twitter. sempre olhei com certo descaso as pessoas que apagavam suas contas na internet. um facebook não é nada, não tem pra quê apagar. além do que, deixa a comunicação mais difícil, pra quê dificultar a comunicação quando vivemos na era das redes sociais, na comunicação instantânea? não usa mais, mas apagar, pra quê? até lembro de ter visto um desses vídeos anti-facebook do tipo "você não é o que você posta no seu mural", e pensado que as esferas da vida de uma pessoa são tão maiores que o facebook, que era meio simplista - e ridículo - ver as coisas desse jeito meio piegas, meio clichê.
hoje eu entendo essas pessoas que apagaram suas contas.
não agüento mais o ruído que essa comunicação instantânea faz em mim. meu celular apitando, milhares de novas notificações de nada, as pessoas expondo as suas opiniões como se gritassem em praça pública. nunca ouvidas, nunca compreendidas, no máximo compartilhadas - e pelo sentimento egoísta da identificação. facebook traz consigo uma neurose. a neurose de postar um vídeo e esperar ser curtido. a tristeza de não ser amado por não receber comentários. traz consigo a necessidade de compartilhar. estou no shopping. estou comendo batatas fritas. estou me divertindo. estou me divertindo tanto que tenho que compartilhar. uma urgência. uma urgência que espera balões vermelhos com notificações numéricas em forma de amor. não existe amor no feice, parafraseando o criolo. existir até existe. mas não é como se essas pessoas não arrumassem um jeito de se amar que não fosse ali, em meio a curtdas e comentários. o facebook expõe todas as facetas da vida de uma pessoa. você entra em contato com todos os círculos sociais dos seus amigos. você sabe as coisas que ele te escondia que gostava. você o julga pelos seus guitly pleasures. você sabe quando ele está saindo sem você. você se deprime aos sábados à noite quando alguém está no bar e você está sozinho. demonstrar uma felicidade - por mais legítima que ela seja - não nos faz pessoas mais felizes.
não existe mais comunicação que não espere uma validação vazia. você espera sorrisos em suas perguntas do formspring. você espera estrelinhas e RTs em seus tweets. você espera que maria, fernanda, claudia e mais 12 pessoas curtam aquele vídeo. você se sente rejeitado quando isso não acontece. o que a gente esquece é que o sentido é muito subjetivo. eu amo as músicas do oasis e de repente, ouvir "masterplan" faz todo o sentido do mundo pra mim. por coisas que eu passei. e eu preciso colocar aquilo pra fora. e coloco meu video no facebook. ninguém curte. ninguém liga pras coisas que eu acho legal. não. as pessoas simplesmente não ouviram oasis na adolescência e nem tiveram um encontro com o sagrado naqueles versos. o sentido é relativo. a gente se grita em praça pública no twitter em 50 updates por minuto e nem consegue se entender. não sabemos nos comunicar frente a frente e criamos mal entendidos terríveis. ao invés de mandar nossos versos de música diretamente para a pessoa, nós colocamos no facebook esperando que ela saiba que aquilo ali era pra ela. ao invés de esclarecer as brigas da vida, nós indiretamos as pessoas com uma agulhada que começa com "gente que". ficamos neuróticos. ficamos centrados em nós mesmos. colocamos carapuças que não foram jogadas pra gente. criamos terríveis mal entendidos. não sabemos demonstrar amor. não sabemos conversar frente a frente. nós esperamos que as pessoas nos entendam por aquilo que escrevemos no twitter quando elas não estão nem nos lendo. precisamos de validação, de aceitação, ok, somos humanos. mas precisa? talvez precise. precise porque a cada tweet estamos mais sozinhos. a cada vez que postamos um vídeo com uma música ao invés de mandá-lo diretamente pra pessoa que queremos que veja, estamos um passo atrás da aproximação de fato. precisamos das estrelinhas e dos RTs porque precisamos nos sentir ouvidos, entendidos, compreendidos. enquanto isso as outras pessoas só nos compartilham por identificação. catarse. só que uma catarse tão rápida e vazia que a gente nem aproveita direito.
Eu estou cansada. cansada da neurose da minha timeline. cansada de imaginar se aquelas palavras eram ou não pra mim. cansada das pessoas que fingem ser felizes o tempo todo. escrever no twitter que você vai ter uma bela noite com o seu namorado não restaura seu relacionamento. as pessoas precisam mostrar o tempo todo que estão fazendo coisas legais, estão sendo amadas, que tem muitos amigos, que se divertiram no sábado à noite. e elas nem estão. as pessoas felizes de verdade não tem tempo de escrever suas felicidades no twitter, no facebook, porque elas estão ocupadas se divertindo. os casais felizes não twittam o tempo todo que são felizes, porque não precisam se convencer disso. felicidade não precisa de validação. amor não precisa de validação. acontece. e eu estou cansada dessa vida que não acontece. de ao invés de chamar alguém pra sair soltar que "alguém podia me chamar pra sair". é claro que eu estou pensando em alguém específico. por que eu não chamo aquela pessoa então? por que eu me frustro quando aquela pessoa - que não tinha a menor obrigação de entender que aquilo era pra ela - não responde ao meu pedido? por que eu espero que as pessoas gostem de tudo que eu achei genial? por que eu espero que elas tenham a mesma perspectiva que eu sobre qualquer assunto? por que eu me acho mais ou menos amada pelo tanto de estrelinhas, RTs, smiles e curtidas que eu ganhei? por que a minha vida virou um ranking ridículo?
Eu tenho achado triste esse mundo de favstar, esse mundo cheio de números, de rankings. esse mundo em que existem os primeiros alunos da classe e aqueles que ficam na enxurrada da informação. é deprimente. é deprimente apertar o f5 na espera de mensagens, mentions, e recados de amor que nunca chegarão. é triste esperar que na sua caixa de e-mail chegue alguma coisa a mais do que e-mail de compra coletiva sendo que vivemos num mundo em que as pessoas nem se falam diretamente. elas se cutucam. sinto falta dos recados. sinto falta da época que saudade e admiração não era demonstrada com uma estrelinha no twitter e sim com um simples - mas bonito - "estou com saudades. acho que começo a achar inválido o tanto de sentido que a gente tem que atribuir a uma ação só pra demonstrar um sentimento simples. é simples amar. é simples sentir saudades. mas por quanta interpretação de sentido a gente não tem que passar até se dar conta que aquele vídeo com aquela música que a gente ouviu pela primeira vez que ele postou no mural do facebook era pra dizer que ele sente a minha falta? essa informação jogada e ambígua dificulta os relacionamentos humanos. a gente não sabe o que o outro quer. a gente imagina. e pode errar. porque a gente sempre erra.
cansei da urgência, do compartilhamento, cansei de olhar minhas redes sociais a cada cinco minutos em busca de algo que não vem. cansei de gente contando suas vidas medíocres de um jeito que pareça interessante, cansei de gente que pensa tweet pra receber estrelinha. que mundo babaca é esse? cansei de estar on-line o tempo todo e não conseguir mais nem conversar com as pessoas. só mandar indiretas - de amor amigo, ou de escárnio e maldizer - no twitter. esperando que elas encontrem o sentido naquilo que nem eu mesma sei o que quer dizer. quero a vida mais simples. quero me livrar da urgência, da angústia, e da internet 3g. não que não exista beleza nesses amores jogados, também. às vezes é bonito, uma estrelinha, uma curtida daquela pessoa no vídeo que você colocou pra ela. essas sutilezas modernas. mas é mais simples dizer que estar com saudades e mandar o vídeo diretamente. e é tão sutil quanto. provavelmente não apagarei minhas contas na internet. mas cansei. estou esgotada. preciso me desconectar, preciso reaprender a me comunicar com as pessoas diretamente de novo, e não mediada por uma timeline. cansei de todo o processo de interpretação de sentido que o outro tem que passar pra entender o que eu quero. ninguém tem a obrigação de me entender quando nem eu mesma me entendo.
nós vivemos na era da comunicação, e desaprendemos a nos comunicar que nem gente. soltamos palavras ao vento, esperando que alguém pegue e faça com elas algum sentido. no fundo, esperamos a mesma coisa que alguém esperava antes do advento das redes sociais: ser amado. e pra isso não é preciso twitter, nem facebook, nem ao menos celular. é preciso duas pessoas dispostas. a grande verdade é que, a gente não está disposto. não agora, não assim, não desse jeito torto.
cansei. de verdade. tudo ficou muito idiota. cansei desse mundo de "eu sei, porque li no seu twitter", eu quero me contar pras pessoas, eu quero ouvir coisas que ela tem pra me contar, diretamente. eu não quero ler tudo no twitter. eu quer contato também. cansei dos mal entendidos, cansei de me superexpor esperando reações, cansei de enviar indiretas-convite, indiretas-amor, indiretas-frustração, sem nunca falar diretamente com a pessoa em questão e entender o sentido dela sobre aquilo tudo. cansei de tudo isso que não funciona. quero amar, quero ser amada, quero viver mais e esperar menos notificações. eu quero estar offline, eu quero viver where soul meets body.
ainda existe amor em algum lugar. onde é que há gente no mundo?
3 comentários:
i want to liiiiive where sooooul meets body :p
deletei o face há uns 2 meses e achei teu desabafo simplesmente genial, simplesmente explica tudo. e te digo: não sinto falta. já li uma piada dizendo que o facebook tá tipo uma festa em que começa a ter um monte de bebado chato querendo chamar a atenção. e gente vazia. e saber coisa que você não quer ou não precisa saber de quem você gosta rs. acho que uma imagem que até botei no meu blog diz tudo: i liked you better when you were online.
esse texto deveria ser emoldurado. é muito, muito bom. e olha que nem posso falar direito, nunca tive facebook
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