Abdicar a vida, querer estabilidade no meio dos 22 anos é, em primeiro lugar, odioso. Em segundo lugar é falta de juventude. Acontece isso mesmo, é necessário testar várias profissões, vários lugares, outras pessoas, outro tipo de gente, outras noites de sábado, outras tardes de domingo. Tenho outras cidades pra conhecer, várias noites em claro, coisas que pretendo provar. Não vi nem metade dos shows das bandas que eu gosto. Tenho muita gente por conhecer ainda. Existe mais de um grande amor na vida. Existe mais de um emprego dos sonhos. Existe mais do que um melhor amigo. Os beijos tem vários gostos. E eu só tenho 22 anos. 22 anos em que não preciso guardar dinheiro para a vida estável que nunca quis ter, para a família que ainda não pretendo formar, para a vida conjunta que ainda não planejo com ninguém. Recomeços são difíceis, sempre, traumáticos às vezes. "Mas tenho sobrevivido". Tenho sobrevivido desde os anos mais odiosos, e sobreviverei ainda. Porque se sobrevive, sempre. E se sobrevive mais quanto mais perto da morte se está. A vida não é feita apenas das 9 as 6, e tem um pouco mais de poesia na madrugada (quase) sempre. Talvez seja bonita daqui um tempo a vida dos almoços regrados, jantares pomposos, dormir cedo-para-acordar-cedo, mas por enquanto não é estritamente necessário. O rótulo de sucesso que eu nunca quis ter me pesa. Sempre preferi flertar com o fracasso, com a decadência, com as noites em claro, com as olheiras. Sempre preferi rum barato com coca, sentada na calçada, de frente pra santa da vizinha, ouvindo smiths. Sempre preferi passar vergonha dançando-sem-saber-dançar. É assim que a gente ri mais alto, é nos tropeços da vida que a gente acaba por descobrir quem é. Que venha o que vier, todo mundo é mais vivo quando deixa de ter medo da morte.
A vida é uma eterna escolha. Mas nenhuma escolha é definitiva. Eu nunca soube onde queria estar, de qualquer maneira. Apesar de tudo, e por tudo - sobtevivemos.
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