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5.12.11

apesar de tudo, e por tudo.

Talvez não tenha como não cair em clichês horrorosos tentando escrever sobre aqueles dias em que, você acorda achando que vai ser um dia comum, e acaba por ver toda a sua perspectiva de vida tranquila caindo escada abaixo. Seria legal, quem sabe, escrever uma enorme metáfora, um conto, um texto, uma poesia, qualquer coisa que seja assim, mais literata do que um desabafo, mas não existe como - e nem porquê. Não vem ao caso aqui citar tudo o que aconteceu, contar em detalhes a minha vontade de chorar assim, de dentro, botando pra fora outro clichê. O interessante dessas situações-limites em que a gente é colocado é que, a gente acaba por refletir a vida como um todo. E com isso voltamos a outro clichê: quem realmente se importa com você? o que você verdadeiramente deseja da vida? Era esse o lugar em que você sempre quis estar? São diversas questões que acabam entrando em ação toda vez que você se vê perdido de novo, começando de novo, botando o pé na estrada. A resposta pra esse tipo de questionamento também acaba por ser bem simples. Algumas pessoas se importam e sempre se importarão, e outras se mostrarão meros utilitários. Vão aparecer aquelas de quem você não esperava nada e, dentro do que podiam, te deram muito. A gente nunca sabe o que deseja verdadeiramente da vida. E o mais decisivo de todas as constatações: esse é um lugar confortável, mas não é o lugar onde eu sempre quis estar.

Abdicar a vida, querer estabilidade no meio dos 22 anos é, em primeiro lugar, odioso. Em segundo lugar é falta de juventude. Acontece isso mesmo, é necessário testar várias profissões, vários lugares, outras pessoas, outro tipo de gente, outras noites de sábado, outras tardes de domingo. Tenho outras cidades pra conhecer, várias noites em claro, coisas que pretendo provar. Não vi nem metade dos shows das bandas que eu gosto. Tenho muita gente por conhecer ainda. Existe mais de um grande amor na vida. Existe mais de um emprego dos sonhos. Existe mais do que um melhor amigo. Os beijos tem vários gostos. E eu só tenho 22 anos. 22 anos em que não preciso guardar dinheiro para a vida estável que nunca quis ter, para a família que ainda não pretendo formar, para a vida conjunta que ainda não planejo com ninguém. Recomeços são difíceis, sempre, traumáticos às vezes. "Mas tenho sobrevivido". Tenho sobrevivido desde os anos mais odiosos, e sobreviverei ainda. Porque se sobrevive, sempre. E se sobrevive mais quanto mais perto da morte se está. A vida não é feita apenas das 9 as 6, e tem um pouco mais de poesia na madrugada (quase) sempre. Talvez seja bonita daqui um tempo a vida dos almoços regrados, jantares pomposos, dormir cedo-para-acordar-cedo, mas por enquanto não é estritamente necessário. O rótulo de sucesso que eu nunca quis ter me pesa. Sempre preferi flertar com o fracasso, com a decadência, com as noites em claro, com as olheiras. Sempre preferi rum barato com coca, sentada na calçada, de frente pra santa da vizinha, ouvindo smiths. Sempre preferi passar vergonha dançando-sem-saber-dançar. É assim que a gente ri mais alto, é nos tropeços da vida que a gente acaba por descobrir quem é. Que venha o que vier, todo mundo é mais vivo quando deixa de ter medo da morte.

A vida é uma eterna escolha. Mas nenhuma escolha é definitiva. Eu nunca soube onde queria estar, de qualquer maneira. Apesar de tudo, e por tudo - sobtevivemos.

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