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8.7.15

she was a diver and she was always down

não faz muito tempo, eu baixei o álbum que eu e ele ouvíamos juntos no meu celular e fiquei ouvindo enquanto fumava um cigarro na janela do meu quarto e contemplava o escuro total. muitas coisas passavam pela minha cabeça: a imprevisibilidade da vida, a personagem principal da novela das seis, o ano de dois mil e onze, as vezes que cheguei em casa cheirando toda a cigarro e dormindo do lado errado da cama. eu era miserável, mas era feliz. talvez fosse essa a conclusão que eu queria chegar, não fosse o fato de eu saber muito bem que naquela época eu me arrastava por entre os móveis da minha cabeça tentando fazer uma ou duas coisas fazerem sentido. mal consigo ler as coisas que escrevia nas redes sociais quando era dois mil e onze, e acho que do que guardei, romantizo demais. 

eu tendo a sempre esquecer as vezes que o telefone não tocou e focar obsessivamente nas vezes em que fui eu que não atendi. fica muito mais fácil problematizar tudo quando o problema sou eu, sempre serei eu e quando eu não coloco o outro em consideração. "o meu problema é que eu me sinto constantemente muto presa", eu diria pra analista, que sempre me responderia dizendo que uma relação é sempre feita de duas pessoas e que, por mais que eu fuja de tudo o tempo todo, existem outras quinhentas mil variáveis para uma coisa não dar certo.

focaria nisso, se eu fosse sensata - ou ao menos menos obsessiva - , mas eu acho que eu gosto é do estrago. coleciono setenta e oito relacionamentos que não deram certo e penso na menina da novela das seis, que usa saias parecidas com as minhas e chora enquanto anda na orla de copacabana porque está investindo em um amor enquanto ainda lembra de um passado (choro com ela sem saber muito bem porquê - embora também saiba).

fosse eu ouvir a voz do texto bem escrito da novela das seis, saberia que antes de passar pro passo seguinte é sempre necessário fechar as portas que vêm atrás, mas acontece que eu tenho mania de deixar portas abertas e restos no prato, pra um dia quem sabe se. e se eu não focasse naquele álbum que ouvíamos juntos, se eu o tivesse superado completamente, talvez eu puxasse pela memória com mais frequência uma única vez que cozinharam pra mim, mesmo sabendo que existem relacionamentos em que as duas pessoas são gatos e nenhum dos dois fica antes de morrer ao menos seis vezes antes. 

eu já morri mais de sete, mas fico sempre querendo me jogar de um precipício novo. talvez porque sou muito insegura, talvez porque queira sempre guardar comigo a sombra dessa pessoa que nunca em tempo algum se basta e sossega, ou talvez simplesmente porque seja verdade que se eu tenho medo de te encontrar nas esquinas perto de casa e ainda ver o coração dar três palpitadas é porque algo ainda sobre. mas sobra o quê? a lembrança eterna de um vinho compartilhado e uma primeira conversa que jamais tive com alguém? as outras dez vezes em que não nos encontramos porque sempre tinhamos outros compromissos? não funcionamos porque não deu, porque você não quis, ou porque eu sou uma espécie de mergulhadora na vida que sempre se enfia no poço mais fundo, só pra depois reclamar que não tinha como sair?

não sei dizer nada com nenhuma lógica e mal tenho a ambição de que isso aqui faça algum sentido. não faz pra mim, não fará também pra você. 

mas de vez em quando passo pelos arredores da sua casa fumando meu cigarro mentolado e fico pensando o que seria da gente se eu tocasse o interfone. e penso que a simples existência dessa possibilidade pairando é a razão pela qual eu não consigo abrir a porta que vem a frente com segurança o suficiente pra fechar com chave essa, que sempre deixei entreaberta atrás de mim, pra amanhã, pra depois, pra tarde demais. 

eu queria ser uma pessoa melhor. 

31.5.15

pequena lista das coisas que eu deveria fazer

- ler mais livros do philip roth, muito embora digam que ele é misógino (a literatura nada tem a ver com o caráter do escritor, não ligo).

- terminar de ler "grandes esperanças"

- entender, de uma vez por todas, que o feminismo na internet nunca será o feminismo que a simone de beauvoir sonhou e que, a cada vez que paramos de pensar por nós mesmos, o mundo para de andar uns três tantos.

- deixar a pauta pronta na noite anterior, mesmo sabendo que malhação pode nunca mais trazer nada de bom.

- organizar meu quarto com mais afinco.

- ler, de maneira definitiva, os feeds sobre literatura que seguem sendo assinados no meu leitor de feeds.

- parar de me irritar com as decisões definitivas que as pessoas fazem pra si mesmas: tirar selfies, fotos com timer no instagram, sair de chapéu para eventos noturnos, esquecer amigos de longa data, julgar mais importante o lançamento do álbum de uma cantora pop do que relacionamentos que já passaram por várias barras, acabar amizades, amores que eles não conseguem esquecer - ainda que sejam deveras nocivos.

- esquecer que os amigos dos meus amigos existem, e que o fato deles gostarem genuinamente de pessoas com as quais não teria relacionamento amigável nem se fôssemos os últimos habitantes no planeta terra, não os faz (necessariamente) pessoas ruins (mas podem fazer deles pessoas que nada tem a ver comigo).

- entender que as pessoas às vezes vão e tomam outros caminhos (caminhos que por vezes incluem ariana grande, e nunca entenderei - mas ainda, caminhos).

- ver mais filmes. incluindo os do bergman que nunca vi, os do woody allen que tive preguiça, os que parecem bons mas desisto porque tem mais de uma hora e meia. não perder tempo com os do xavier dolan, eu já passei dos 30 anos mentais, dos 26 físicos e - mais importante - do tempo de achar que o mundo precisa ser visto com filtros de instagram e trilha sonora hipster irritante.

- ver o filme do sebastião salgado com a minha mãe

- ouvir os vinis que comprei, mas que ainda não botei na agulha.

- deixar de ir em festa chata.

- entender que deveria ter deixado o open bar aos 24, quando ainda achava que um cabelo ruivo bem pintado e cortado poderia salvar a humanidade (e a minha alma) de uma catástrofe maior.

- parar - de maneira definitiva - de fazer listas. nunca as cumpro e define personalidade obsessiva (que tenho,  assumo, mas trato com luvox - e autoconhecimento).

13.4.15

são coisas da vida

hoje o celular apitou me dizendo que era seu aniversário. fosse ano passado, te mandaria uma mensagem no facebook te felicitando e te dizendo que estamos os dois, muito velhos. no ano passado o fiz, te felicitei por ter completado vinte e seis anos, lembrei que havíamos nos conhecido com dezenove e você me disse que sim, lane, nós estamos ficando muito velhos.
neste ano que entra você não completou vinte e sete, embora o facebook, desavisado, insista em dizer que eu deveria te felicitar pelo seu aniversário.
mas hoje é dia treze e você não ficou mais velho, não tomou mais coca-cola do que devia, e não recebeu uma mensagem minha no seu celular. não se desculpou dizendo que já era tarde pra responder, mas que ficou muito tempo no trabalho. hoje eu não poderia te ligar se quisesse, e acho que hoje eu já nem lembro mais direito o som da sua voz. talvez eu tenha apagado muitas fotos nossas, não por raiva, mas porque eu achava que seria sempre possível te ver por aí, envelhecendo um ano mais rápido que eu e reclamando que depois de mim, as meninas não olham mais pra você.
no dia dez de fevereiro desse ano, você não me mandou um vídeo engraçado e nem me desejou que eu fosse feliz.
no último aniversário que você comemorou você tinha vinte e seis e é como se tivéssemos a mesma idade.
mas ano que vem eu faço vinte e sete e você vai ter vinte e seis pra sempre.

8.3.15

and I know that I should let it go but I can't

quando a gente se encontrou eu não tinha muito jeito com relacionamentos e você também. logo no segundo encontro você foi me dizendo que você nunca sabia quando mandar as mensagens pras pessoas ou dizer que estava com saudades, coisas que transformei num tweet tempos depois e recebi estrelinha sua. recebi mais estrelinhas suas do que provas de amor concretas, mas tomava como um "eu gosto de você" tímido, que continuou conosco mesmo depois que os anos passaram e eu me mostrei uma pessoa nem-tão-boa-assim.

enquanto seu mal jeito com os sentimentos se mostrava em silêncio, o meu se mostrava em palavras demais e quando você achava que ia me pegar eu fugia. ainda assim, eu sempre ficava offline no chat do facebook quando te mandava mensagem, e meu coração batia forte enquanto eu dava voltas pela minha casa esperando você responder. às vezes você respondia na hora, o que me obrigava a um diálogo em que eu sempre achava que podia escolher melhor as frases. eu já disse muita bobagem pra você, mas você sempre respondia rindo e eu achava que então tudo bem. em todas as vezes que eu me achava a pior pessoa do universo você me achava a mais capaz do mundo e pra mim estava tudo bem. eu só agradecia, sem emoticons porque achava emoticon proximidade demais, mas eu sorria por trás do teclado sem que você soubesse.

uma vez eu emagreci e você notou e na outra vez eu fiz um olho esfumaçado e você também percebeu. eu esquecia quando você me chamava pra um cinema na sua casa e não aparecia porque você não tinha confirmado, e vai que eu era uma visita indesejada? quando você dizia que a gente ia sair, eu sempre ficava esperando de celular na mão, mesmo que no fim nosso programa fosse ficar sentados no seu sofá que não era sofá enquanto eu comentava novela. eu sempre te dizia que meu sonho era comentar novela na tv e você me chamava de dona gertrudes. eu não tive tempo de te dizer que hoje esse é o meu trabalho remunerado, embora eu ache que você sabe disso porque atualmente que vida não é exposta?

eu tenho duas cartas de amor que pensei e te dar e nunca dei porque eu achava que naquela hora já tinha perdido o timing. perder o timing é uma coisa comum nossa, eu acho. tenho também guardada uma revista piaui que comprei especialmente pra você, com uma matéria que só você entenderia, mas agora ela figura atrás de uns livros de literatura que nunca li e que estão juntos com um livro do sartre que compre quando ainda estávamos meio juntos porque gostávamos de discutir existencialismo. não sei se você ainda gosta de existencialismo. eu gosto ainda porque vivo todos os dias com o peso de todas as minhas escolhas não feitas, e você é uma delas. tivesse eu escolhido você ao invés das outras eu me martirizaria pelas outras, mas acho que como consolo, estaríamos felizes.

hoje eu fumo os dois tipos de cigarro seus que sempre recusei e me sinto mais plena. não por não estar com você, mas sim porque trato do meu transtorno obsessivo. você já tinha me alertado que os remédios (e os cigarros) podiam ser bons, mas nessa época eu tinha muito medo de tudo, até de você.

tinha medo porque do pouco que eu sabia sobre amor, as grandes histórias poderiam começar com uma dança na sala. tinha medo porque ninguém nunca antes tinha me chamado pra dançar na sala, de um jeito esquisito e nunca tinha me acompanhado em casa com tanto cuidado. você me chamou pra almoçar no outro dia e eu recusei porque gosto de recusar as coisas que eu acho que podem me fazer feliz. e me fez feliz como nunca ouvir velvet underground na sua cozinha enquanto eu cozinhava uma receita que achei no site da ana maria braga. e eu nunca pensei que alguém pudesse guardar uma playlist com músicas que escolhi e botar pra tocar no momento que eu pisasse em casa. que não era minha casa, mas quando eu ouvia kate nash, era como se fosse.

eu tenho lembranças vagas de nós dois. o dia em que dancei timida "fell in love with a girl" do white stripes na sua cozinha. o dia em que cheguei em casa e vomitei todo o vinho que tomamos juntos e menti pra minha mãe que era só suco de uva do mc donalds (desconfio que ela fingiu que tinha acreditado porque parecia mais simples). quando dançamos "here comes your man" na sala. quando eu te disse que eu gostava de ouvir smiths e tomar rum com coca e você sorriu. a primeira vez que você me beijou. um dia em que fomos a um cover de guns and roses completamente bêbados e dançamos enquanto éramos interrompidos pela minha amiga chata e por uma top model escandalosa, mas genial. os tweets que escrevi só pra você e você percebeu (e favoritou). uma vez que ficamos de conchinha no seu sofá vendo um filme. quando dividimos um chá vermelho diretamente da caixa na sua sala (chá esse que depois comprei igual e tomei por uma semana porque sou obsessiva). a vez que você me chamou pra sair porque tinha sido meu aniversário, mas estragou tudo porque acabou batendo o carro enquanto me dizia que eu era muito legal (acho que você usou a palavra "maravilhosa", mas não quero correr o risco de me gabar).

lembro de uns e-mails que você me mandou pra me distrair do emprego mais chato da galáxia e da vez que nos empanturramos de macarrão carbonara e chocotone e depois não conseguimos fazer absolutamente nada, a não ser assistir "o profissional" dublado na tv com você deitado no meu colo, enquanto me contava das coisas que via na internet e dizia que podia ficar por muito tempo assim, recebendo cafuné. lembro de um encontro nosso, muito tempo depois do primeiro, e depois de um namoro ruim que tive em que você fingiu que eu nunca tinha sido uma pessoa estúpida e me tratou com a mesma doçura de sempre, e me disse que eu estava bonita, e dançou comigo e nós até nos beijamos. só que no outro dia eu não te disse nada, porque não tenho timing, mas eu acho que eu ouvi bastante interpol dali em diante.

ouvi interpol por semanas, contei do meu encontro pra alguns amigos. elas diziam "manda mensagem", mas eu preferi não mandar mensagem e continuar ouvindo interpol e eu nem lembro como foi meu ano dali em diante, até eu te encontrar de novo, te beijar de novo e aí mesmo nunca mais te ver nem mandar uma mensagem sequer. eu ouvi duas semanas mais de interpol e percebi que era problemática demais pra qualquer coisa, até que fui pra são paulo, enlouqueci, me tratei e a minha vida mudou.

mudou sem você no meio, sem eu poder te mandar mensagem te dizendo que a minha mãe ficou doente e eu não sei lidar, sem eu poder andar até a sua casa que é perto, sem nada disso. sua vida mudou e eu não estava junto e eu nunca pensei que ia ser assim, mas foi. provavelmente porque a vida é esquisita, mas mais porque duas pessoas sem timing nunca poderiam ficar juntas. descobri um pouco tarde, e com a ajuda de médicos profissionais, que nada acontece se você não diz. e eu sou muito de não dizer.

sempre acho que te esqueci completamente e que vou muito bem, obrigada, e que vou casar e não ter filhos porque detesto crianças e você vai estar bem sucedido num lugar bem longe de mim. mas aí ouço kate nash, e lembro que eu não sou boa em deixar as coisas pra lá. daqui pra frente nem sei mais o que vai ser eu já sou velha demais pra ser a escrota que sai por aí tentando descobrir o que quer as custas dos sentimentos dos outros. continuo fazendo escolhas sem timing algum, e por vezes acho que a vida me leva às coisas, e não sou eu que escolho as coisas da vida. ou talvez prefira pensar assim porque não goste do peso de tudo. tudo que é definitivo sufoca, continua sufocando, o tempo todo. o sartre sempre esteve certo. ou talvez fosse o baudrillard que já entendia bem antes de nós que não tem como ser completamente feliz na pós-modernidade.

nós, sintomas de um mundo maluco, mal soubemos nos comunicar. deixamos ruídos, nos perdemos, como todo mundo se perde um dia porque não tem como abraçar o mundo. mas, se eu pudesse te dizer uma única coisa antes do mundo acabar, se o mundo acabasse no momento seguinte eu diria que eu gostei muito de você. só não digo amor porque todo mundo sabe que amor é uma palavra forte demais pra seres pós modernos como nós. o amor é um simulacro. uma estrelinha em um tweet. três comentários em um post numa rede social. trocas as músicas preferidas pelo msn. gostar das mesmas matérias em uma revista. uma música da kate nash no meio de uma playlist feita em 2011.




18.2.15

você estava certo: podíamos ter sido hannah e adam

(e fomos)

hoje a hannah terminou com o adam no girls. quer dizer, o adam terminou com a hannah. assim como foi você que terminou comigo, e não o contrário, embora tenha sido eu que comecei a estragar as coisas todas, que nem a hannah fez. teve um dia que eu, atolada em tanto trabalho, sentada na mesa de casa onde coloco o meu computador e tomo café enquanto desempenho diariamente as minhas atividades, recebi às dez da noite um e-mail seu dizendo que eu gostava tanto de girls porque eu era a hannah, eu até falava como ela.

não acho que você estivesse errado, embora tenha ficado bastante ultrajada na hora em que li o e.mail e passei depois o fim de semana assistindo girls tentando descobrir o que você via de mim nela. tudo um pouco óbvio: nós duas achávamos que escrevíamos, nós duas não parávamos em emprego nenhum, nós duas tínhamos humor esquisito e nós duas éramos muito auto centradas pra dar certo com qualquer pessoa. teve até esse capítulo emblemático (que depois você citou) em que a hannah dispensa o adam e diz que não, que não quer morar com ele e ele diz que é muito estranho que ela passe os dias perseguindo ele como se ele fosse os beatles e depois só desistisse dele, como se fosse uma coisa a mais na vida dela.

eu desisti de você algumas vezes. mas eu não via como desistência, via como "cuidar da minha própria vida". você precisava de alguém que deixasse até as suas convicções por você e eu nunca fui convencida, assim como a hannah, em deixar nada por ninguém. não é que eu não te amasse, é que eu não sei me anular, e quando o faço fico quase demente. fico quase a hannah enfiando os cotonetes dentro da orelha e cortando o cabelo sozinha em casa. fico querendo achar um sentido pra mim, uma mudança que me faça existir e a verdade é que eu nunca precisei de mudança nenhuma, eu só queria encontrar o meu próprio caminho. e meu próprio caminho não era o seu, infelizmente ou felizmente. a vida quis assim. desde o começo.

quando a gente olhava a hannah e o adam, a gente sabia que uma hora eles não iam ser mais. ele vivia dizendo a ela como viver e ela tinha um jeito muito próprio de viver pra se curvar ao jeito dele (embora ela tentasse). só que o tentar da hannah, assim como o meu, era capenga e ela nunca conseguia ser exatamente o que o adam queria. e quando conseguia, assim como eu, se sentia mutilada. eu, quando tentava ir ao trabalho de bicicleta subindo ladeiras que nunca soube como, parecia muito com a hannah vestida de gótica indo até a casa do adam só pra agradar. eu também te deixaria aqui pra fazer um curso de escrita criativa, mesmo sabendo que eu corria o risco de voltar e te ver morando com alguém, porque seria eu a desertora. sempre fui eu a desertora, embora nós dois soubéssemos que nós dois nos afastávamos com a mesma intensidade e velocidade, a cada momento. eu quando agia menina minada e egoísta, que só olhava o meu lado, e você quando me dizia como eu devia ser. eu tinha que ser isso que eu sou, e você tinha que ser isso que você é.

assisti à cena em que a hannah volta pra casa e encontra o adam namorando e feliz e senti que aquele era o fim que nós dois podíamos ter tido. foi a minha catárse pessoal, embora eu já tenha me encaminhado na vida e eu sei que você também. eu também esperneei na cama querendo impor minha presença pra você, que claramente já queria outras coisas. fiquei como a hannah, enfurnada no quarto numa casa que já não me pertencia, querendo entender tudo sobre as novas garotas que te teriam. "o que elas têm?". mas se fôssemos civilizados, teríamos terminado daquele jeito. teríamos sentado e dito que sim, um dia nos amamos um tanto, um dia (mesmo que tenha sido só um, e eu me lembro que houve) pensamos que podia ser pra sempre. a gente se amou mas acabou. e era isso. teria sido isso se eu já fosse essa pessoa que sou, ciente de que tenho que tomar remédios pra acalmar meu medo de viver (tenho a mesma doença que a hannah, toc, veja a ironia) e se você não quisesse sempre machucar o outro pra fingir que não sofre. teria sido assim, se nós soubéssemos admitir que éramos duas partes de um amor que houve mas não podia ser. era questão de tempo até você achar alguém igual a você e eu correr atrás de alguém que me deixasse ser.

eu encontrei esse alguém, eu sei que você também encontrou, assim como o adam encontrou a mimi-rose e a hannah vai quebrar a cabeça até perceber de vez que tem amores que acabam e só, mas depois vai acabar achando um rumo pra vida. acho um pouco triste que nosso amor tenha terminado pior do que um episódio de seriado, e admito que pareço muito mais com a hannah do que gostaria, mas tenho tentado ser o melhor que posso. e você vai pensar que um texto bobo assim, usando personagem de seriado só podia sair da minha cabeça tosca, que pensa e age como um personagemm de tv às vezes, mas eu lamento informar que se eu era a hannah, você era o adam e nós nunca daríamos certo juntos.

(e tudo bem).


19.1.15

há muito tempo eu sofri calada, mas agora resolvi falar.

era 2007, eu tinha acabado de entrar na faculdade e tinha desistido de escrever numa plataforma chamada livejournal pelo simples fato de ninguém ler ou entrar naquela merda. postava em blog desde sempre. desde quando ainda escrevia miguxês e o cara pra quem mandei uma carta dizendo que estava apaixonada e depois descobri ser só mais uma das minhas loucuras descobriu meu endereço no wordpress onde eu tinha um template da "emily, the strange"e começou a me mandar comentário anônimo me xingando de ridícula.

houve esse tempo em que a gente só podia escrever depois da meia noite em dias de semana ou nos fins de semana porque o pulso da internet discada era mais barato. nesse tempo a gente expunha a vida de forma ridícula em fotologs e blogs e eu, como sempre tive essa necessidade maluca de me mostrar pra estranhos através de textos, tive blogs, fotologs e tudo mais que a internet discada da época podia proporcionar.

era 2007 e blogger era já uma efervescência meio velha. ninguém escrevia cartas de amor por aí na internet. já tinha surgido o orkut e a gente podia mandar testimonial. mas eu gostava de ter meus textos publicados em algum lugar. principalmente porque escolhi fazer design onde descobri muito cedo que ninguém gostava nem de ler, o que dirá de escrever. esse blogger foi a única coisa que perdurou desde então. desisti de um blog sobre futebol (era terrível) e um outro sobre moda em que eu escrevia mal e tirava fotos piores ainda. mas esse sobrou.

nunca fiz sucesso com ele. não sei se por vergonha de divulgar ou se porque eu escrevo mal mesmo. teve uma vez que eu escrevi um texto sobre a usp que virou um hit de um dia, mas não me rendeu muita coisa além de cinco solicitações de amizade no facebook e três marxistas me xingando de maneira pouco gentil. hoje acho que eu nunca fui muito lida porque meus textos eram confusos e, por vezes, ruins. quando eu escrevia eu não achava, mas hoje acho que esfregar a própria vida desse tanto na cara de qualquer pessoa (ou mesmo no papel) é um pouco nocivo e três tantos infantil.

mas esse universo num pedaço de papel foi o único jeito que eu encontrei de lidar com as trezentas crises amorosas que tive durante a faculdade e depois dela. só me meti em roubada. tente achar um texto sobre amor feliz nesse espaço e fracassarás. eu era uma roubada também. tem tag aí com "amor verdadeiro e eterno" que na verdade são só textos sobre um amor platônico que tive pelo meu melhor amigo e encasquetei que ele era o amor da minha vida e nunca teria alguém como ele. hoje sei que se tivéssemos namorado hoje já estaríamos separados e ele vive feliz e bem com alguém que é o total avesso de mim. prova concreta que eu romantizo demais as coisas. culpo o caio fernando abreu que lia na época.

prova cabal também do meu descontrole. qualquer terapia bem feita ou ida ao psiquiatra mais cedo teria dado cabo à esse monte de aventura amorosa errada que me enfiei. renderam bons textos, talvez. alguns nem tanto. essa coisa de aumentar o que não existia é o que fez tudo isso que existiu aqui. nada disso existiu nessa intensidade que vocês leram um dia. na minha cabeça, sim. na realidade, nunca. mas é claro que tem muito de mim em tudo isso e sem esse espaço eu já estaria pelas ruas surtando há muito tempo atrás.

escrevo muito sobre mim. o tempo todo. uso aquele verso do carlos drummond pra quase tudo. "me exponho cruelmente nas livrarias. preciso de todos". sei que isso me define desde os 14 anos, quando li "mundo grande" pela primeira vez e a única coisa que a gente tinha pra postar na internet era o fotolog. naquela época não tinha "era da informação" "selfie" e essa palhaçada toda. naquela época eu tinha que esperar a uol conectar ao telefone pra postar meus textos, que por muitas vezes ficavam só guardados no computador mesmo.

escrever sobre si é sempre um exercício menor. quando a gente ouve sobre os bons escritores eles quase sempre tem que inventar uma ficção maravilhosa sem usar como matéria prima a própria vida. dão ao nome de quem escreve sobre si "autoficção". eu também achava uma literatura menor, até que fiz um curso sobre autoficção e percebi que tá ok escrever sobre a própria vida. grandes nomes o fazem. gente respeitada. livros bons pra caralho. escrever sobre si não é crime. pode ser narcisismo, mas crime não é.

fiz esse curso três meses depois de terminar um relacionamento em que ouvi centenas de vezes que eu me expunha demais. minha vida deveria ser uma conchinha sagrada e eu devia ficar com aquela montoeira de coisas só pra mim. "ninguém quer saber das suas histórias, ainda se fosse uma boa ficção". essa mesma pessoa via muitos filmes. fico pensando que alguns desses filmes são baseados na vida dos autores. imaginem se eles tivessem resolvido que ninguém quer saber das histórias deles, quantos filmes a menos teríamos?

mas isso não vem ao caso. não estou me comparando ao woody allen de maneira alguma. é só que por muito tempo pensei em deletar isso. deletei por um tempo. pensei em migrar de endereço. pensei em setenta e oito coisas pra fazer com isso. me culpei pelas coisas que escrevi aqui e olha que eu sempre ficciono tudo. nada do que aconteceu aqui era somente o que aconteceu. não teria como. a partir do momento em que eu começo a contar uma história ela já não é o que aconteceu. fiquei num hiato de meses. acho que de anos. temia que esse cara de quem eu queria amor me visse aqui expondo as coisas e nunca mais quisesse saber de mim.

a gente teme muita coisa trouxa nesse mundo e essa foi mais uma delas.

eu fui trouxa mesmo. por anos. nesses últimos anos mais. eu parei de escrever porque alguém me disse que ninguém queria ouvir as minhas histórias. e olha que eu nunca quis que ninguém ouvisse. eu só preciso escrever. de vez em quando vem um e-mail dizendo que eu disse o que a pessoa não conseguiu dizer e pra mim tá bom.

aí eu me tratei, vivi a minha vida, passei (e ainda passo) por grandes barras e sofrimentos pesados como todo o ser humano. não tenho mais tantas histórias de amor tristes pra contar porque entendi que amor não tem que ser essa loucura, não tem que ter vinte textos de tragédia. amor tem que ser leve e eu vivo um desses agora.

dia desses esse amor me deu uma caneca com da definição do que é escritor. ele disse que aquele era o meu trabalho. eu disse que não. ele disse que sim. que eu vivo escrevendo. e se eu vivo escrevendo eu sou escritora. e aí eu percebi que tudo isso teve importância. cada história. cada momento desses fez o que eu sou. eu vivi escrevendo. eu escrevi o que eu vivi.

e se eu pudesse dar só um conselho (embora eu deteste conselhos) ele é: nada do que voce faz ou fez é desimportante. nada. é a sua vida e a sua vida vale a pena. sempre vale. e quem não acredita nisso junto com você não merece fazer parte das suas histórias.

voltei.