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8.7.15

she was a diver and she was always down

não faz muito tempo, eu baixei o álbum que eu e ele ouvíamos juntos no meu celular e fiquei ouvindo enquanto fumava um cigarro na janela do meu quarto e contemplava o escuro total. muitas coisas passavam pela minha cabeça: a imprevisibilidade da vida, a personagem principal da novela das seis, o ano de dois mil e onze, as vezes que cheguei em casa cheirando toda a cigarro e dormindo do lado errado da cama. eu era miserável, mas era feliz. talvez fosse essa a conclusão que eu queria chegar, não fosse o fato de eu saber muito bem que naquela época eu me arrastava por entre os móveis da minha cabeça tentando fazer uma ou duas coisas fazerem sentido. mal consigo ler as coisas que escrevia nas redes sociais quando era dois mil e onze, e acho que do que guardei, romantizo demais. 

eu tendo a sempre esquecer as vezes que o telefone não tocou e focar obsessivamente nas vezes em que fui eu que não atendi. fica muito mais fácil problematizar tudo quando o problema sou eu, sempre serei eu e quando eu não coloco o outro em consideração. "o meu problema é que eu me sinto constantemente muto presa", eu diria pra analista, que sempre me responderia dizendo que uma relação é sempre feita de duas pessoas e que, por mais que eu fuja de tudo o tempo todo, existem outras quinhentas mil variáveis para uma coisa não dar certo.

focaria nisso, se eu fosse sensata - ou ao menos menos obsessiva - , mas eu acho que eu gosto é do estrago. coleciono setenta e oito relacionamentos que não deram certo e penso na menina da novela das seis, que usa saias parecidas com as minhas e chora enquanto anda na orla de copacabana porque está investindo em um amor enquanto ainda lembra de um passado (choro com ela sem saber muito bem porquê - embora também saiba).

fosse eu ouvir a voz do texto bem escrito da novela das seis, saberia que antes de passar pro passo seguinte é sempre necessário fechar as portas que vêm atrás, mas acontece que eu tenho mania de deixar portas abertas e restos no prato, pra um dia quem sabe se. e se eu não focasse naquele álbum que ouvíamos juntos, se eu o tivesse superado completamente, talvez eu puxasse pela memória com mais frequência uma única vez que cozinharam pra mim, mesmo sabendo que existem relacionamentos em que as duas pessoas são gatos e nenhum dos dois fica antes de morrer ao menos seis vezes antes. 

eu já morri mais de sete, mas fico sempre querendo me jogar de um precipício novo. talvez porque sou muito insegura, talvez porque queira sempre guardar comigo a sombra dessa pessoa que nunca em tempo algum se basta e sossega, ou talvez simplesmente porque seja verdade que se eu tenho medo de te encontrar nas esquinas perto de casa e ainda ver o coração dar três palpitadas é porque algo ainda sobre. mas sobra o quê? a lembrança eterna de um vinho compartilhado e uma primeira conversa que jamais tive com alguém? as outras dez vezes em que não nos encontramos porque sempre tinhamos outros compromissos? não funcionamos porque não deu, porque você não quis, ou porque eu sou uma espécie de mergulhadora na vida que sempre se enfia no poço mais fundo, só pra depois reclamar que não tinha como sair?

não sei dizer nada com nenhuma lógica e mal tenho a ambição de que isso aqui faça algum sentido. não faz pra mim, não fará também pra você. 

mas de vez em quando passo pelos arredores da sua casa fumando meu cigarro mentolado e fico pensando o que seria da gente se eu tocasse o interfone. e penso que a simples existência dessa possibilidade pairando é a razão pela qual eu não consigo abrir a porta que vem a frente com segurança o suficiente pra fechar com chave essa, que sempre deixei entreaberta atrás de mim, pra amanhã, pra depois, pra tarde demais. 

eu queria ser uma pessoa melhor. 

Um comentário:

dilermanoarruda@gmail.com disse...

A Aranha em triz
tece.



by: manim