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13.2.08

Conversa no parque.

Oi. Você quer mesmo conversar comigo é? Não, eu não sei se é uma boa idéia não, moço. Eu posso começar a chorar e tudo mais. É, moço, eu sei eu já estou chorando e tudo. Por isso que você veio conversar comigo? Não foi pena. É, eu sei que não foi. Você não tem cara daquelas pessoas que sentem pena das outras não. Não, não tô te chamando de frio nem nada não viu?! Você só não tem cara daquelas pessoas que ficam por ai como livros de auto-ajuda ambulantes pensando em salvar a humanidade. Eu também acho essas pessoas chatas, sim. É que elas querem se sentir bem com elas mesmas, ai elas ficam tentando ajudar o universo, mas é pra salvar elas mesmas. Guilherme, posso te chamar de Guilherme, então? É, é melhor que chamar de moço, sim. Eu me chamo Natália. Bem nome de menina frágil, né moço? Desculpa, Guilherme. Ainda mais quando insistem em chamar de Nati e coisa e tal. Não, pode chamar de nati se quiser, só digo que pareço mais menina frágil com esse apelido. Ah, dezenove anos, guilherme. É, eu tenho cara de quinze, todo mundo me fala isso, mas tenho dezenove mesmo. Anham, faço faculdade sim, é, publicidade. nada a ver comigo não. eu sou toda a favor do direito das nações e resolvo fazer publicidade. Ah, sei lá sabe? tem coisas que a gente fica fazendo porque sei lá. Se é por isso que eu tô triste? Não é não, Guilherme. Pode chamar de Gui? meio que economiza espaço. então tá. gui, não é por isso não, nem gosto da minha faculdade mas isso a gente acostuma. minha vida é que anda meio mal das pernas. é, faz algum tempo sim, mas hoje que eu percebi. anham, eu venho aqui sempre quando tô mal. você já viu? nunca te vi não, eu nem olho pro mundo quando eu tô triste, tá todo mundo contente, sabe? meio que irrita. é sim, que nem naquele filme sim, queria que parassem os automóveis. é, pra passar com a minha dor. O que foi? tô mal, guilherme. naqueles dias que a vida dói, me entende? Anham, nada de muito especial não. é quando você para pra pensar e tudo fica sem sentido. O que? tudo gui, tudo. de repente eu paro e penso, o que eu tenho da vida? uns poucos amigos. pouquissimos que se preocupam de verdade. Chato mesmo. pra você ter idéia teve um deles que nem parabéns me deu, eles meio que se preocupam com outras coisas agora. Não, não sabem conciliar coisas novas e as velhas não. É, é um problema. Não, não é só isso não. Me sinto uma coisinha deixada num canto. ninguem presta muita atenção se eu estou respirando ou não. Namorado? tenho sim. mas ele tá longe. Quanto? não sei, sabe quanto é de Londrina até o Rio? Isso daí. Gosto, claro que gosto. amo pra falar a verdade. Ah, claro ia ser bem mais difícil né? Anham, é isso mesmo, tem dia que a solidão bate e tudo mais. ai eu venho pra cá. Não, tudo bem, acho até bom ter alguém pra conversar, que incomodar que nada. Gostar? sei lá. antes era de tanta coisa, agora nem sei. escrever, ouvir música, tirar fotos. Desanimada? muito gui, muito. Nada tem graça não. por isso que eu tô aqui chorando. pareço uma folha em branco. to muito descrente, guilherme, é chato. Tão nova né? a gente fica impotente as vezes, você sabe. Sumir, anham, queria. Onde? um lugar que alguém me entendesse. É, perto dele seria interessante. mas ele ainda vem. além do mais essas coisas passam. Dar uma volta? não, não. só isso de conversar tá bom. Linda? pode até ser, mas não adianta nada, nunca melhorou minha vida. Aquario. Independente, e decidida e moderna. É, um pouco, mas só um pouco. meio natália-fragil ultimamente. Anham, chorando em filme de amor. sonho? um lugar meu, onde eu me sinta bem. dificil isso por aqui. Triste, é isso triste e descrente. Forte? dizem mesmo, não acredito neles não. Mais vezes? você vai esquecer de mim, moço. sou muito normal, passo batido. ninguém me encherga. não sei como você me enchergou aqui. Diferente? brigada, moço. Guilherme, é. É, sol tá se pondo. Anham, viu, parei de chorar. Que nada, fez bem, Brigada. Vou, vou pra casa. Tô melhor sim, vou ficar bem. Anham, pode sim. Ahh, também quero demorar pra voltar. Anota aí, mas vai esquecer. nem vai lembrar amanhã. nao sou do tipo de coisa que marca. Marquei? brigada. Amigo, gosto disso. Anham, amigos então. Ih, de nada, quem agradece sou eu. Isso, isso. Já passou.

( ela volta pra casa. De repente o nada que não fazia sentido vira tudo. Um obrigado a Guilherme que veio pra nunca mais voltar, porque ela é sim, do tipo de pessoa que a gente acorda e esquece. De memorável só o sorriso, que era a única coisa que ela não tinha pra mostrar naquele dia.)

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