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9.2.08

Dezenove anos (d)e cansaço.

Faltam um dia, ou algumas horas para que eu faça dezenove anos.
Fazer dezenove anos não é uma conquista incrível, tampouco uma data memorável.Fazer deznove anos é apenas fazer dezenove anos.
Estar depois dos dezoito e antes dos vinte.

Não ganho regalias como ganhei ao fazer dezoito. Poder tirar uma carta de motorista, ou poder entrar em lugares que antes não podia. Ainda que não tenha feito isso assim que fiz dezoito. Nem dirijo, e nem tenho vontade de entrar em lugares que antes não podia.

Entretanto, me sinto mais velha do que nunca. Alguma responsabilidade imbecil, meu segundo ano de faculdade e uma pressão para que eu saiba o que quero fazer da minha vida. Sendo ridícula como Bial, poderia dizer que os quarentões mais interessante que eu conheço não sabiam aos vinte o que queriam fazer da vida. Pois bem, os quarentões que eu conheço não sabem até hoje o que querem fazer da vida, e por isso fazem o que nunca quiseram. O que eles querem se perdeu em algum lugar, longe, ou muito adiante que eles não conseguem alcançar.

O que eu quero eu não sei onde está. O que eu quero não existe?
Existe.
Mas me parece impossível. Impossível frente a fúria do mundo, e porque me parecem inúteis todos os sonhos. Impossível porque perco a vontade de lutar como areia nas minhas mãos. Me disseram que eu era tão forte. Ando desacreditando que eles estão certos.
Um dia a Clarice Lispector, a leitura mais dedicada nesses 19 anos, disse que estava imcumbida de cuidar do mundo. Que sua responsabilidade estava ali, nos olhos da criança na miséria. E que cuidar do mundo a cansava profundamente. Porque ela continuava, então? Simples, porque nasceu imcumbida.

Pois bem, eu também nasci imcumbida. E quando se nasce com tal tarefa é dificil se desvenciliar. São dezenove anos incumbida de prestar atenção em tudo, e em todos. Não deixar que eles chorem ou sintam frio. Os mais próximos e os mais distantes. Os mais importantes, e os esquecidos. Os que tem tudo, e os que não tem nada. Os que me conhecem e os que não.

Mas estou cansada, profundamente cansada. E é um cansaço que vai na alma e me dói as veias. As veias das pernas e dos braços, e impede o sangue no meu coração. É um cansaço secular, de dias e tempestades. É um cansaço que não consigo explicar mas sinto. Deveria se derramar em lágrimas o cansaço. Em um pouco de sal com água. Mas não. Não sinto nem vontade de chorar, ou de comer, ou de domir. Não sinto vontade de nada.

Ai me dizem que deveria desistir.
Não se pode desistir quando se nasce incumbida. É muito sério. É um barco no mar, daqueles que não voltam. Eu não volto a ser despreocupada e desemcumbida porque nunca o fui.
E aos meus dezenove anos há uma aura de cansaço negro sobre minha face.

Meus amigos estão distantes e tudo parece sem sentido. Eu deveria descançar e esquecer, mas insisto em cuidar do mundo. Tarefa muito árdua para uma mulher tão jovem. Mulher, não passo de uma menina nada desgarrada do mundo, e de seus pais, e de seus bichos e apegos infantis.

Mas eles me disseram que eu sou forte, me chamaram de arretada. E eu tenho que acreditar nisso.
Em meio ao meu cansaço crescente, em meio ao dia dez que me faz ter dezenove, eu tenho que aguentar. Desistir não é pra mim, nunca fui.

Correrei com o peso do mundo nos ombros e um cansaço ansestral.
Quando eu quiser parar, suspirarei, mas continuarei correndo.
Pra onde? Não sei.
Meu futuro é incerto e não posso o inventar. Escrevo cada dia com lápis novos e espero olhar pra trás e ver colorido porque acho que almas pretas também se colorem. ¹


¹ Post programado para o dia 09/10, mas por motivos de falta de vontade, e cansaço preto só foi terminado hoje, com um certo alívio pesaroso que só se consegue por sentimentos em palavras.

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