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16.7.08

O telefone (não) tocou novamente.

Você sabe, eu nunca tive vícios muito fortes. meus vícios vem e vão como tudo na minha vida. ultimamente, e algum mérito ao fato de ser julho e época de estou comendo morangos adoidada e inveteradamente, com creme de leite e açucar, leite condensado e cozinhando doces de. além disso tomo um copo de mate que compro por apenas oitenta e nove centavos no mercadorama, mais pelo preço do que pelo sabor e faço uma xícara de cappucino quase todos os dias um pouco antes de dormir, mas mais para ter um pretexto para ficar um pouco mais na internet: " tudo bem, mãe, só vou fazer um cappucino e dormir" sempre sempre. exceto quando eu quero mesmo ir dormir no horário, coisa que tem acontecido com certa frequência, junto com as minhas dores de cabeça.

Internet é outro vício que hoje é mais rotina que vício. é todo dia, as dez horas, às vezes um pouco mais tarde ou com pouco mais cedo, desligar a televisão e ligar o msn. meu pequeno universo paralelo, ou nem tão paralelo assim. tirando isso são os mesmos programas, as mesmas coisas, pessoas, rotinas e uma ou outra música diferente. o mesmo o mesmo o mesmo o mesmo. o mesmo vazio.

não é nada de especial, mas um dia você olha pra sua vida e não vê nada. você se vê sozinha, encolhida sobre o vaso sanitário de um banheiro, típica cena de qualquer filme para menininhas de franja, às 10 pras onze da noite, chorando pra depois ir olhar o quanto você se encontra decadente e toltalmente estranha no espelho. não que a sua vida seja uma porcaria, não que seus pais não te amem com toda a força que podem e menos ainda que você não tenha amigos com quem compartilhar as partes boas e ruins da vida, mas é que acontece assim, sem mais em menos e você vê tudo meio que desmoronando sem motivo, você nem queria nada demais era só um " tudo bem, eu estou aqui com você" encostar no ombro e só. era só uma companhia pra não fazer nada, ou pra fazer alguma coisa, tantofaz, nessas horas que nada faz muito sentido a gente nem pede muito, só um pouco de redenção, qualquer coisa que faça acreditar de novo, qualquer coisa bonita como escreveu o caião um dia.

eu não bebo, eu não fumo, eu nem saio. e eu fico aqui e o que me resta fazer? nada preenche direito, tem todos aqueles livros na minha estante mas eunão tenho vontade de ler aquilo, eu nem sei mais o que eu gosto de ler. as músicas me enjoam e o que me resta é aqui, meio que escrever como é que eu sinto pra ver se saí essa ausência que não é solidão. ou é. mas dói daquele vazio branco que eu já falei algumas vezes. você percebeu? percebeu que isso nem está saindo bonito nem nada. eu nem sei, eu estou vomitando palavras atrás de palavras. vontade mesmo eu estou de vomitar tudo que está aqui dentro. eu fico pensando pensando pensando, há dias que eu só penso. ainda se eu chegasse a alguma conclusão, mas eu só percebo um monte de nada. e tem piorado, tem piorado tanto e hoje nem aguentar eu aguentei. e aí podem até perguntar o que está acontecendo e eu não sei, eu não vou saber explicar essa merda toda, você entende? não, você não entende. alguém consegue explicar o vazio? alguém consegue conceber o que é a falta de? a faltade ainda que fosse a falta de algo que se sabe, mas não é, é só faltade e entendam o 'de' como um belo e bonito artigo indefinido que só quer dizer o que falta e não se sabe.

enquanto isso a adriana calcanhoto fica dizendo pra alguém entrar pela porta e dizer que a adora. talvez fosse isso que eu queria, talvez nem seja, eu nem sei o que eu quero. é, é adriana calcanhoto sim o que eu ouço, tantofaz. eu tentei ouvir radiohead e não consegui, eu acho que eu não gosto daquilo e tem um cd do verve que eu também não consigo ouvir e tem uma única música do sonic youth que eu até poderia, mas eu paro antes dos barulhos todos. páro mesmo e acabo terminando aqui junto com a adriana calcanhoto e chorando um monte e eu nem consigo enxergar mais direito o que eu escrevo, você já sentiu como se fosse desmaiar? eu já. e ela diz de correr demais e sofrer demais e eu correria demais muito mesmo até chegar a um lugar nenhum onde nem soubessem meu nome e aí eu inventaria um nome qualquer tipo sheila, assim bem suburbano e ruim. eu pararia numa cidade dessas de tres mil habiltantes onde nem chegou televisão e eles ainda conversam na calçada enquanto ouvem sertanejo da pior espécie, essa gente bem preconceituosa e sitiana, esses lugares em que todo mundo casa de véu e grinalda com o filhododonodavenda. queria parar lá, sem essa juventude idiota que sai todas as noites e acha legal fumar um baseado, longe de todas essas meninas de franja e all-star e seus róquiandróus modernetes, longe, longe desses meninos afetados que parecem aidéticos e se vestem com jaqutinhas de couro ou não, longe desses bis todos, longe de tudo.

longe de você, longe de mim inclusive, ou aliás, bem perto de mim porque eu estaria muito perto de mim. e longe das coisas que eu engulo pra parecer educada e evoluída, sem os ' gostei, sim' mesmo tendo odiado, longe da possibilidade de uns lugares em que eu sei que eu vou me meter e odiar, sabe? longe de tudo isso pra ver se eu me encontro um pouco, pra ver se eu descubro o que eu REALMENTE gosto. porque eu não sei, eu estou perdida. eu perdi as chaves eu estou aqui sozinha e eu não sei, eu não sei mesmo. é adriana, eu perdi as chaves e perdi o freio e eu não sei nem onde eu estou quando mais vou saber ondeseráquevocêstáagora. o chão e as palavras eu já perdi há muito tempo e eu ando triste e pela sala todos os dias, e morar em mim? rá, até parece, eu não moro, faz tempo que eu não moro.

Eu estou em milhares de cacos também, eu também estou ao meio, prazer, eu me enxergo nessa música. decadência decadência decadência. na única conversa útil que eu estou tendo está escrito bem em cima " I look arround and I all see is decadence" ou pelo menos estava, ou pelo menos era alguma coisa assim. agora não está mais, mas enfim eu também, tudo que eu vejo é decadencia, começando por mim mesma. ou começando pelo mundo, aaah meu Deus, eu lembrei dela me falando que a gente apoia o tradicionalismo. é, a gente sempre apoia, a gente apoia a gente sentada na calçada tomando chimarrão, você me entende tanto e amanhã a gente faz dois anos, mais do que qualquer outra coisa na minha vida. mas eu dou parabéns quando eu tiver menos decadente ou me sentindo menos, sabe?

eu sei, nem eu sei. eu vou esquecer isso amanhã, vou fingir que está tudo bem e vai continuar tudo do mesmo jeito. mas eu sou normal. simplesmente uma menina normal e eu fico olhando pro mundo a minha volta e às vezes acho um saco. a paula toller está dizendo que queria cruzar as pernas e viver na esquizofrenia dela, eu também, na minha junto com o momento só pra mim. mas o momento só pra mim me dói porque eu fico vendo onde eu estou me enfiando e meu deus, minhas pernas sentem vontade de sair correndo dizendo, por favor, pare agora que nem na música do casamento. mas tudo bem porque faz uma hora que eu escrevo sem parar e quem sabe, se eu acreditar eu sei mesmo voar. e se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais, assim com letra maíscula, porque eu acredito.

No mais eu vou me render aos morangos, meu vício de momento docedocedoce enquanto eu sinto um gosto amargo na boca e no coração, mas no coração a gente não sente gosto, só peso. talvez a vida seja meio que nem os morangos, azedo azedo e que só adoça com um monte de leite condensado que a gente coloca pra conseguir comer. ou que nem o mate, que você vai tomando tomando tomando mas uma hora chega no fim do copo e tudo amarga de uma vez, pra que você perceba que nada é sempre bom, mas mesmo assim a gente continua tomando, por descuido, poesia, ou até só até enjoar mesmo, só porque o telefone (não) tocou novamente mas eu nem fiz questão de atender. (?)


Eu só estou cansada cansada cansada cansada
assim mesmo, sem vírgula e continuamente de mim mesma e de todo o resto todo.

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