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24.8.08

sinceramente, você não ia gostar de ser eu.

E todas as implicações e loucuras que isso me causa.


Tudo o que eu sei é que sinceramente, você não ia querer ser eu, nem como eu ou mesmo passar um dia que fosse morando na minha cabeça, pensando o que eu penso, sentindo o que eu sinto. Eu que sou eu já não aguento viver na minha própria pele.

De verdade, você odiaria acordar todos os dias morrendo de sono e sem vontade de levantar. Você detestaria sentir preguiça de arrumar seu cabelo própriamente ou de colocar uma roupa mínimamente mais decente. Odiaria, detestaria sim. Você não gostaria de sentir um cansaço enorne naquele percurso que te leva ao ponto de ônibus pensando que você devia sim ter aprendido a dirigir, afinal todos os seus amigos que fizeram aniversário bem depois de você já dirigem, e detestaria bem mais saber que você só não faz isso porque não se sente preparada o suficiente. Não ia gostar de ficar em pé por quinze minutos, torcendo pra que a pilha do mp3 não acabe para que você não seja obrigada a pensar em alguma coisa mais que a letra da música que na maioria das vezes é algo que não te faz pensar muito. Ia achar ruim demais ter que abaixar a cabeça e entrar na sala fingindo que não, que não está quase uma hora atrasada mais uma vez. Voce não ia gostar de sentir sono de não conseguir se aguentar, de pensar em um mesmo lanche todos os dias e de fugir sempre dos compromissos. Você não ia achar nada interessante pensar que aquilo ali é contagem regressiva e menos ainda ia se sentir satisfeito de saber que aquilo pode ser alguma coisa que você nem, gosta de fazer. Você não ia achar legal não saber o que você vai fazer pro resto da sua vida.

Não ia gostar de sentir gosto amargo na hora do almoço, de comer pouco por falta de vontade e de sentir um sono tão absurdo que te consome por inteiro. Você não ia gostar de não ter coragem de andar sozinha, de não aguentar ficar sozinha com você mesma por muito tempo. Não ia gostar de ter dezenove anos e ainda ser completamente ligada à sua mãe. Não ia gostar de não ter liberdade alguma, de nunca ter tomado um porre, de nunca ter voltado pra casa depois das duas horas da manhã. Não ia gostar de morar nessa cidade, de estar longe da sua melhor amiga, do seu namorado, de todo o resto.

Você sinceramente ia odiar não conseguir falar tudo o que te consome, nem pra quem importa.

E ia detestar não saber o que fazer com o resto da sua vida.

Você ia odiar chorar por tudo que te deixa mal. Não ia gostar nem um pouco de cobrar das pessoas o que elas não podem dar e esperar das pessoas o que elas não vão saber que você espera. De se preocupar com quem nem lembra que seu nome apareceu por aí um dia. Ia odiar não saber se você tem feito as escolhas certas ou erradas, ser neurótica, possessiva e completamente insegura. Você não ia se sentir bem em ir dormir todo dia bem mal humorada e com vontade chorar por não ter conseguido ficar feliz, só por isso. Não ia gostar de viver de passado, de chorar toda vez que ouve legião urbana, de ninguém entender seu gosto musical e tampouco suas convicções e mais ainda de acharem que tudo isso que você acha é uma grandessíssima bobagem misturada com uma frescurona.

Você não ia querer que as pessoas achassem que você é forte o suficiente para fazer coisas das quais você sabe que não é capaz. Você não ia querer saber que você não é capaz de fazer milhões de coisas que gostaria, por pura e simples falta de coragem. Não ia querer se sentir tão mal quando te julgam ou te criticam, ou simplesmente quando te dizem que você é de um jeito ou de outro. Você não ia gostar de se sentir incapaz de amar com todas as forças que pode. Você ia detestar ser tão fraca e covarde e ia odiar sentir essa dor nas costas e mais ainda essa dor na alma.

Não ia gostar dessa incerteza que me acomete sempre sempre sempre. Não ia gostar de ter que pensar milhões de vezes antes de tomar uma escolha e de saber escrever milhões de vezes melhor do que fala. Não ia querer odiar ligar pra casa da alguém pelo simples medo de outra pessoa atender, de não saber falar com estranhos e de não dizer o que te irrita. Você ia querer morrer se estivesse se sentindo um lixo assim como eu me sinto invaríaveis vezes e em milhões de momentos.

Ia odiar nunca saber onde deixou as coisas, essa mania de desorganização horrorosa e ia querer ser mais responsável, se pudesse. Mas você não pode. Ia se sentir mal em ver mil sonhos frustrados, em não lutar pelo que quer, em sempre deixar pra um pouco depois o que deveria ter falado tão antes. Não ia gostar de perder várias e várias pessoas só por não falar o que deveria na hora certa e ia gostar menos ainda de ninguém nunca entender isso e nunca estar te dando um maldito de um colo.

Você também não ia gostar de ser hipócrita, de sempre preferir coca cola, de ter vergonha de admitir que assiste novela, de ficar mau humorada no calor, de não mandar tudo à merda sempre, de ter esse medo absurdo de ficar doente, de ficar esperando ligações que mudem a sua vida e visitas surpresas que nunca chegam, de ser viciada em internet, de não ter certeza, de se preocupar com tudo sempre, de ter cabelo enrolado, intolerância a lactose, dentes sensíveis, de ficar implorando por um pouquinho mais sempre, de ficar brava por coisas pequenas, de querer o que não existe, de não ter mais paciencia pra ler, de fazer piadas estúpidas, de esperar que tudo se resolva sozinho, de ficar puxando assunto só pra não perceber que é sozinha, de saber que foi muito melhor antes de você, de ter medo de magoar as pessoas, dessa sua manía estúpida de continuar sendo todas essas coisas que você odeia e principalmente de não ser sincera, quase nunca.

A não ser em textos como esse, de noite, quando tudo parece fazer menos sentido ainda do que fazia há alguns minutos atrás.

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