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29.10.08

The girl that's driving me mad, will ever go away?

Desculpem, mas hoje não tem como ser literária. Só literal.
Desabafos de um dia que não terminou. A frustração tocou logo as oito da manhã e vai dormir comigo.



Quarta feira, vinte e nove de outubro. Já perceberam que nós estamos no fim do ano? enfim, acordo no horário, mas não consigo acordar de modo algum. Maia dez minutos, mais dez minutos, mais dez minutos. Acordo atrasada, enfio a primeira calça jeans com blusinha preta que encontro pelos arredores do meu quarto, um jeito no cabelo, vício de lápis preto no olho, ondeéqueestãoospapéis?, mais um vício, copo de mate na cozinha, ondeéqueeuenfieiachave? no sofá, é claro. Você joga a chave em outro lugar que não seja no sofá? Espera o elevador enquanto coloco o all-star, sem meia mesmo, ondeéqueestãominhasmeias? Não sei. Chega o elevador, a pasta não cabe na bolsa, o papel não cabe na bolsa, mas e daí? eu estou atrasada pra única aula que eu gosto na faculdade, não posso demorar (mais).

Elevador, chave no portão, dois quarteirões até chegar a esquina. O moço guarda do hospital, o vendedor de morangos mais à frente, os carros, um ou outro aluno atrasado pro colégio. As coisas continuam seguindo a rotina normal. Parecia que ia esfriar, esquentou. A blusa também não cabe na bolsa, leva na mão. O relógio da rua marca oito horas. Eu só penso que vou chegar mais uma vez as oito e vinte. Minha aula começa quinze pras oito. O que são trinta e cinco minutos de atraso? Catracas, gente que eu nunca mais vou ver, um ou outro rosto conhecido que eu não faço questão de conversar, humaitá-faria lima-redondo-reitoria-ccb-ru-cch-cecalávoueu, tudo isso ao som de músicas que eu nem sei quais eram, eu não prestava atenção nem no trajeto e nem nas músicas. Descer do ônibus, correr o percurso, escolher a música " she's got a ticjet to ride, but she don't care". Eu não tenho um desses bilhetinhos, se eu tivesse estava andando por aí, também.

ntrar na sala, oi professor, atrasada de novo, ele nem deve se importar mais. As cadeiras mudaram, eu tomo um mate pra espantar o sono. Aula inútil número um, aula inútil número dois e uma decepção. Estou descontinuando, deixei de escrever por preguiça, vejo meu único projeto orgulhoso se esvair na minha frente. Tá, tudobem, eu posso melhorar da próxima vez, a gente sempre pode. Aula inútil numero três e discussão sobre política. Cidade de ninguém, coisas de Londrina, minha revolta já não serve pra nada, será que um povo unido muda alguma coisa? será que alguem ainda se junta por uma boa causa? Assembléia, issovaimefazerchegar tarde, não mãe, eu como miojo mesmo. Não, não tenho tempo de sair pra almoçar, vai ficar tarde, entende? Nunca gostei de almoçar sozinha.

Mais catraca, cartão, conversa, descer no ponto, divagações. Eu devia escrever sobre política e sobre design e literaturar, é, eu vou fazer isso. Depois de atravessar a rua, chegar em casa, botar a cabeça no lugar. Depois de elevador, miojo, computador. Depois que eu voltar a ter vida.

Computador, história em quadrinhos, quem disse que pintar no photoshop é legal? Não, tem que dar tempo. Não, não vai dar tempo. E vai chover. Agora senta, espera, assiste tv. Alguem ligou, tem recado no orkut? alguem pra conversar no msn? Ninguém escreve ao coronel. Minha mãe ligou, pediu pra ver as janelas. Eu já tinha visto, era um vento medonho, eu podia voar com aquilo. Meu quarto molhou todo, podiam trocar as janelas desse prédio. Mas ninguém trocaria janelas porque molha o meu quarto e molha o meu rádio e molha a lata de pringles que eu não guardei. Meu computador reinicia sozinho com mais um trabalho que ficou muito menos que a minha capacidade. No próximo a gente melhora, né? Eu só tive três dias, e ainda tá atrasado. Tudo bem, eu levanto amanhã-de-manhã e vou lá, as oito, depois vou pra uel. Tem que dar tempo, você sabe, tem que dar.

Mãe, acho que a tv queimou. Não gosto de assistir tv lá no quarto, mas assisto, canto um pouco pra desestressar, eu queria ter um "ticket to ride", joão e maria também é bonitinho. Minha mçae chega, a gente precisa ver tv. A gente não pode, a gente tem coisas pra fazer, mas a gente precisa. Todo mundo precisa parar, nem que seja com a cabeça cheia de tudo. Eles falam sobre neurose na televisão, eu sou neurótica, eu sei, dona psicóloga, que eu estou me auto destruindo, que a minha vida é mais importante, que enquanto a gente pensa besteira deixa de ser criativo. Eu sei de tudo isso, eu tenho pensado tudo isso desde domingo. Eu sei que eu estou abaixo de todas as minhas capacidades, que eu não faço nada, que eu não me concentro mais e que eu estou ficando cada dia que passa mais neurótica. Eu sei, mas... você sabe como muda isso? não é tipo desligar um botão e ei, não sou mais neurótica. Ei, sou despreocupada e relax. Odeio essa palavra, re-lax. Parece coisa que você diz depois que fuma maconha. Não, eu nunca fumei maconha. Nem beber direito eu bebo. Discuti as questões políticas de porque não se fumar maconha com meu companheiro de coca e trabalho, eu nunca tinha pensado por aquele lado. E a gente se mete a falar de desigualdade social e maldizer o mundo, somos dois velhos, mas pelo menos alguém discute isso comigo. Alguém não me fala que eu tenho que arrumar um emprego. Alguém entendeu o meu argumento ideológico de "porque não ser jornalista" e agora não quero ser mesmo. Certas coisas fazem muito sentido depois de meia hora de conversa com mentos de melancia.

Hoje não, hoje não fez sentido. Depois de comer macarrão, neurótica, novela cura neurose? não sei, dormi. Estou tão cansada que acordei com dores no corpo. Vou aproveitar e entrar mais cedo, aí termina o trabalho mais cedo, ai vou dormir porque não deve ser normal isso de sentir dores no corpo de cansaço. só quando o cansaço é muito grande. Depois de terminar, mais ou menos as onze e quarenta e dois, algum desespero. Você já chorou de cansaço? Já percebeu que não vai poder parar? que vai ter que correr e correr e correr e se parar de correr vai tropeçar e se machucar tão feio que não vai conseguir levantar mais? Eu já. E é medonho, porque dói o corpo, a alma e tudo que você quer é sair correndo e gritando " ei, moço, me leva pra longe daqui, qualquer lugar, eu não quero voltar logo". Eu não queria nem voltar, mas vou continuar correndo, catando cavacos e se pelo menos eu estivesse sentindo orgulho de mim. Mas não, eu sei que eu estou falhando, falhando e falhando continuamente. Que uma neurose estranha toma conta de mim e das minhas decisões. Que uma corda ridícula não me deixa ir pra frente e fica me puxando pra trás, um elástico, eu não sei. Como é que a gente evolui?

A gente não o faz, a gente acorda as sete e meia da manhã e continua vivendo entre catracas, gente que não conhece, trabalhos em que se podia ter dado mais, mas a coragem vai esvaindo, eu só queria sentar e ficar, sabe? Não sei viver correndo. Dói tudo, todos os lugares onde você pode imaginar e isso de chorar não adianta nada. Minhas neuroses não adiantam nada, minha vida não está adiantando de nada, onde é que você vai parar, dramaqueen?

Não sei, eu nem quero uma resposta. Só me dá um ombro, me ouve falar. Só isso, eu só tava pedindo isso só.

Vou continuar correndo então, e se eu cair, eu não levanto mais. Não faço questão.

Eu queria ter um bilhetinho pra andar por aí, e não ligar, porque a garota que está me deixando louca insiste em não ir embora.

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