Estou quase me tornando uma criatura apolítica. Sei que a política está em todos os lugares. Sei que o ônibus que você pega pra ir na faculdade é política, que os computadores que você usa na universidade é política, que o fato de eu ter um monte de professores despreparados é política. Mas estou perdendo o gosto. É triste, eu não tenho nem vinte anos e já perco o gosto. A pequena história da pequena grande cidade em que resido no norte do Paraná me faz ter vontade de não apertar mais botões, de não escolher mais candidatos, de não me pronunciar. Tenho um grito calado na garganta, uma indignação que me dói a alma. Tenho o cansaço de alguém que já viveu anos e diz que não quer mais. A grande diferença é que eu só vivi duas eleições. Essa é a primeira eleição para prefeito, e eu quero dizer chega.
A volta do povo a prefeitura não é algo novo. Há trinta anos ou mais, Getúlio Vargas já tentava ser o pai dos pobres, já tentava trazer o povo a presidência. O que ninguém percebia, é que povo nenhum estava governando. Povo nenhum chegaria a presidência nenhuma. E que Getúlio não queria nada mais que o poder total e supremo para ele. As coisas não mudaram muito. Em pequena Londres grandes feudos aqui e acolá ainda acredtam que o povo voltará a prefeitura. Acreditam que o pai dos pobres fará algo por eles. Depositam sua esperança numa nova grande instalação. Depositam sua esperança em promessas vazias de obras gigantes, milhões de empregos, vindas de empresas. Grandes promessas para um povo que nada tem. Grandes promessas para um povo que espera muito e se contenta com migalhas. Grandes promessas e ações de fachada, só pra validar. A volta do povo a prefeitura trará um Getúlio Londrinense sem ditadura alguma. Mas que assim como o velho, espera o poder total e irrestrito para ele próprio. Espera contemplar dinheiro de obras megalomânicas para ele mesmo. A volta do povo a prefeitura não conta com povo nenhum, apenas com interesses particulares.
É a quarta tentativa de governar pequena Londres. Nossa grande Londrina já passou por isso uma, duas, três vezes. Sendo a última traumática. A última terminando em dois anos e com o excelentíssimo senhor prefeito cassado, preso, saindo pela porta dos fundos do lugar onde foi colocado pelo povo. Saindo com ele 450 milhões de reais, mas esse não é o problema. Com esses 450 milhões de reais saem escolas, remédios, hospitais, segurança. Sai com ele a esperança de milhões de Londrinenses, a comida de milhões de londrinenses, a educação, a saúde, a moradia, o lazer e o transporte de milhões de Londrinenses. O que o excelentíssimo senhor roubou não é só o dinheiro de uma prefeitura, mas sim a dignidade de um povo que não consegue nem enxergar que foi roubado. Que ainda acredita nesse suposto pai. Que ainda deposita sua esperança, e um voto precioso no mesmo senhor que um dia lhes tirou sem só tudo que agora lhes está prometendo.
Qual é a função de um político? A função de um político não é ser uma entidade mágica. Um político não faz as coisas porque é bonzinho, ou porque se preocupa. Um político tem que exercer sua função. Se você paga um médico, você espera que o dinheiro que pagou pela consulta seja utilizado para curar a sua doença. Caso sua doença não seja curada, você muda de médico, ou mesmo o processa. A mesma coisa deve(ria) acontecer com um político. O político recebe para exercer suas funções. Recebe de mim, de você, dos nossos impostos. A função de um político é garantir o bem estar da população, é gerir uma cidade da melhor maneira possível. Roubar, mas fazer não é a função de um político. O simples roubar já desvalida a ação de fazer. Um político tem que cumprir sua função e nada mais do que isso. Um político é pago para que a cidade funcione, para que se construa hospitais, postos de saúde, para que se tenha remédios nos postos, asfalto nas ruas, vagas e professores nas escolas. Um político é, acima de tudo eleito para que o dinheiro seja utilizado apenas na cidade e não para seus próprios interesses. Você não perdoaria o sei médico se ele roubasse o seu dinheiro, mas curasse a sua doença.
A grande coisa sobre nossa pequena grande cidade, é que ninguém enxerga isso. A população foi roubada, mas lhe deixaram um grande hospital. O que não se pensa é que com o dinheiro desviado poderiam ser construídos dez hospitais como esse, ou mais. O roubo prejudica ainda mais a população mais pobre, o povo. O mesmo povo que espera voltar a prefeitura. O povo que fica sem hospitais, sem remédio, sem educação, sem moradia e não se dá conta disso. Não se dpa conta disso porque vê seu nome estampado no hoarário eleitoral. Porque recebe um abraço, porque recebe um asfalto, uma cesta básica. Porque se acostumou com migalhas, porque está carente de atenção. Porque acredita piamente na primeira pessoa que diz se preocupar com eles, falsamente, mas diz. Nossa pequena Londres está sendo enganada de novo. Nossa pequena Londres vai depositar sua confiança numa volta de mentira. Numa volta de povo sem povo. Numa volta vazia de povo e cheia de individualismos baratos e feios. A volta do povo a prefeitura não vai custar caro pra ninguém, senão o próprio povo.
Já senti vergonha da pequena Londres em que resido, sinto indignação a cada vez que o rostinho bonito antes neutro aparece dizendo que apoia o nosso ilustre candidato por amor a cidade. Todos sabemos que esse também só tem amor a si próprio. Que amor é esse pela cidade que quer voltar o homem que nos roubou dinheiro e progresso? que tirou da boca das donas Helenas e Marias tão citadas e abraçadas o direito a uma cidade melhor, um hospital, uma nova escola? Que amor é esse por Londrina que apoia o mesmo senhor que há anos atrás foi preso e cassado? Isso não é amor, isso é interesse, é barganha, é uma coisa sem nome. É falta de caráter de uma pessoa que não tem as posições firmes, que ontem afirmava neutralidade e hoje afirma um apoio por um falso amor por Londrina. De você, só sobra um rostinho bonito e cínico que não deve amar ninguém além do próprio bolso.
Hoje, além de indignação sinto pena. Sinto pena do povo que acredita no seu falso pai e no rosto bonito que entra nas suas casas. Sinto pena da esperança depositada em alguém que nunca lhes fez nada, só lhes deu migalhas. Sinto pena da senhora que andará quilômetros e apertará dois números repetidos acreditando na mentira que aparece falada e contada depois de dois bipes, por um senhor que se aproveita do povo que diz que trará de volta à prefeitura e quando lá estiver lhes jogará fora, se aproveitará deles e embolsará Deus sabe mais quantos hospitais, escolas, merendas e esperanças de marias e josés.
Minha pequena e amada Londrina, sinto pena de você. Sinto vergonha e sinto o casaço ancestral. Mais que isso sinto medo. Sinto medo de acordar e lhe ver de novo nos braços de quem não lhe merece, por mais quatro anos. Clamo por você, clamo que abram os olhos desses que aqui moram. Porque com a volta desse, povo nenhum voltará a prefeitura. Mas todo o povo com certeza padecerá, e sem mesmo se dar conta disso.
Acorda, Londrina.
Só nós podemos mudar essa realidade. Eu não quero desistir logo na primeira tentativa. Já não é cruel, é só triste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário