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15.10.08

Porque ( é esse porque que usa?) hoje foi um dia essencialmente de saudades.

Onde foi que a gente foi se perder?

Faz calor. Qualquer ser humano em pleno estado de consciência odeia esse tempo. Qualquer ser humano fica imprestável. Qualquer ser humano fica sedento por banhos e copos de água, e não de coca cola, que loucura. Seres humanos como eu, aproveitam o ar condicionado do shopping e tomam coca.

Não sozinha. Isso de não ter companhia é deprimente principalmente em dias calorentos, sudorentos, febris (ainda) e com pessoas devorando batatas recheadas com pouco recheio por todos os lados. Eu só senti saudades, o dia todo, a conversa toda. Eu só conseguia tentar me lembrar ondeéqueagentefoiseperder.

Eu não sei. Não sei o dia exato, não sei a sucessão dos fatos. Mas primeiro foram vocês dois. De jantares semanais com baralho à nada. Tudo virou nada, nenhum contato, nenhum telefonema e raproximações sem sucesso. A gente se perdeu, eu não sei onde, eu não sei como nem quando. Mas parece não ter mais volta. Nem panquecas com frango, duas garrafas de coca cola, carrot cake and wine, jogos de menino, proteção dos meninos, filmes de meninos e visitas persistentes e necessárias, com pipoca. A gente perdeu. Isso ficou ali, guardado na minha sala junto com as músicas bregas que a gente nunca mais cantou. Ficaram as saudades. Acho que a gente já se perdeu demais pra poder voltar. Eu acho que eu quero estar tão errada que chegue a ser feio.

E depois foi você, dadas as sucessões dos fatos, eu não sei que dia, que dia depois dela que a gente nunca mais trocou mais do que oi. Eu gosto tanto de você. Sabe, é daqueles amigos que eu queria pro resto da minha vida. Eu gosto das conversas e das preocupações provocações e eu odeio o seu jeito ridículo de se portar diante dos fatos, eu odiava resolver seus problemas, suas posturas infantis, seu ar superior, as infantilidades e as piadas sem graça e é de tudo isso que eu sinto saudades. A gente ainda não se perdeu. E eu fico colocando bandeirinhas brancas e fico pensando que não podia e não vai poder acabar assim, não por isso, por aquilo, por essas coisas bobas que não levam ninguém a lugar nenhum. Não porque a minha vida era uma chiquititas e porque alguma coisa ficou podre ali no meio e eu nem tinha nada a ver com isso. Eu fiquei pensando que tem volta, tem que ter volta, não faz sentido. Amizades não se acabam assim, no meio do nada, por nada, não é possível. Eu não quero que seja. Cansei de perder pessoas por não fazer manutenção.

Isso é só o que eu lembro hoje, mas as coisas foram se perdendo, eu fui me perdendo, a gente foi se perdendo. Sobrou a gente ali, duas coca colas, bolachas de chocolate e conversas sem fim sobre como a vida é meio boba e sem sentido. Sobre como é que a gente foi se perder deles, dele, de todo mundo. De como não existem mais tardes de sexta feira felizes, de como os sábados vêm sendo trocados por outros programas com outras pessoas e a gente ficou. A gente ficou ali, dois velhos de vinte anos reclamando que a vida já foi melhor, as sextas feiras mais felizes e os sábados mais cheios. Reclamando que a gente nunca mais fez comentários sobre como um pouco de bacon pode custar 1,20 e isso é um absurdo, reclamando porque deve fazer meses desde o último macarrão e a gente nem lembra quando e porque direito a gente foi se perder. Mas a gente se perdeu, um dia, foi gradativo. A gente só espera que tenha volta, porque esperança é nosso vício, sempre foi e acabar é normal na minha e na sua vida, só que não faz mais sentido, não tem razão de ser, enjoou.

Entre as outras saudades a necessidade do estar junto ali, fisicamente, beijos, abraços, colo e conversa de perto. Loucura, ainda sinto seu cheiro, seu gosto, seu beijo. Cada parte dessa casa e de mim tem um pedaço seu. Já me imaginou estar descontrolada? Eu, assim, saudades invadindo e não é como se fosse ruim. É só saber que certa presença é necessária, precisa, quase que impressíndivel e que deixar você ir embora vai ser cada vez mais difícil, mas tudo bem, estamos chegando cada dia mais perto, ainda que a passos lentos do dia que você não vai embora e nem eu vou. A gente eu sei que não está se perdendo, não vai se perder, não agora. Eu não quero, não deixo, eu te aperto forte, eu faço você ficar, eu te amo tanto tanto e isso é meio novo pra mim. é sempre assim, uma semana de " eu não gosto quando você vai embora". Eu nunca vou gostar. Mas bagunçaram o tempo-espaço e eu acostumo, o importante é a gente ter se conhecido, o importante é a gente não ter se perdido do caminho certo e ter se encontrado. O importante é eu, fora do prumo, do jeito, um pouco menos racional, mas nunca tão feliz, eu só te amo, você eu não perco.

É só um dia de saudades, perdas, coca-cola, chocolate, muito calor e um pouco de manha pra fazer passar. Mas essencialmente, saudades.

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