( e é isso que fez toda a diferença)
tarde de dezembro, nem quente nem frio. céu nublado. expectativas e contagens regressivas pro natal. pessoas indo. pessoas vindo. pessoas comprando. pessoas. a quinta feira a tarde tem gosto de cabo de guarda chuva, ao menos pra mim. roberta. desiludida. roberta-desiludida. nenhum telefonema, telegrama, sinal de fumaça, nada. solidão total em meio a consumismo exacerbado e uma cidade ( e uma alma) sem cor. passos rápidos, latinha de sprite na mão, all-stares andando rumo a volta pra casa. vazia. impessoal. mas casa. todo lugar onde se vive é casa. paredes brancas e silêncio passando marca texto amarelo na solidão. destacada e fria.
oi, roberta. é quinta feira a tarde e você não tem nada pra fazer. seu namorado se encontra há um estado e meio daqui, são paulo, ele vai ver o show da banda mais legal do universo. pra ele. pra você é só uns caras que fazem um som meio sem graça e sem cor e principalmente sem aquela pitada de coisa que faz com que você se apaixone por uma determinada banda sem nem saber porquê.
pois jazo em santa catarina cinza, no apartamento impessoal, alugado, na cidade de florianópolis. ali, do lado da faculdade e daquela padaria onde todo dia eu pego dois croissants de presunto e queijo. tão tão tão longe de casa. metrópole. São Paulo. Viaduto movimento barulho, namorado. ah, que saudade suicida.
l
igar, talvez-quem-sabe, pra que? são seis e dezenove e ele deve estar no metrô com aqueles amigos que só são amigos dele. e dizer o que? "oi, amor, tô com saudades queria tanto você aqui." ele, tickets na mão, tendo certeza que eu só devo ligar pra ele na intenção de estragar, ou pelo menos colocar uma pitadinha de culpa em todo e qualquer plano. tudo isso costurado bonito com aquele típico você-nunca-sai-com-a-gente-deixa-ela-pra-lá que escaparia da boca de algum dos amigos dele, no metrô que faz o caminho rumo ao credicard hall e ao show da banda mais legal do universo pra eles também.
mas é que às vezes santa catarina é tão cinza... e a solidão deixa tudo tão estranho e frio que eu preciso de. mas todos os meus pedidos se confundem perfeitamente com chantagem emocional e ele sempre vai no fim das contas, porque ficar não é uma escolha, mas um não-apareceu-nada-pra-fazer-hoje-posso-ficar-com-você. porque se aparecesse, ele ia. ligava, pedia desculpas, e ia. ia sim. ia se divertir. ele precisa de. ah, roberta. larga a mão de ser chata.
a tevê emite sons irritantes e eu deixo o telefone lá, porque eu não ia estragar o show da vida dele dizendo que eu estou com saudades, ou simplesmete com necessidade de. o " tá bom, eu fico por você" nunca foi uma resposta válida e hoje ia ser só sacanagem e minha.
horas, minutos, cada segundo demorando dois e a solidão ali, olhos abertos. telefone. telefone? marcelo. marcelo? oi amor. oi. e o show? não fui. como não? cancelaram? escolhi ficar com você. hoje? é. o show, marcelo, o show da sua vida. rendeu duzentos e cinquenta reais pra eu gastar em telefone com a mulher da minha vida. cambista, filha duma puta. sorrisos. e seu dia, como foi? teve gosto de cabo de guarda chuva o dia todo, mas agora tem gosto de escolha certa.
florianópolis nunca pareceu tão brilhante e pela primeira vez depois de meses, o gosto de cabo de guarda chuva deu lugar a uma certeza de escolha certeira que atendia ( e olha, escolhia ligar ) pelo nome de marcelo, que tinha escolhido assim, em negrito e bem destacado ficar com ela no dia do show mais esperado do ano. e são essas pequenas escolhas que fazem toda a diferença nesse dia a dia cheio de (re)validações necessárias chamado amor.
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