Páginas

27.12.08

para quem sabe se.

eu nem lembro o que eu pensei quando olhei pra você da primeira vez que te vi, mas deve ter sido algo que morou entre o abstrato e o idiota e que provavelmente não valeria a pena escrever em voto de casamento ou livro de amor nenhum. eu lembro bem mesmo de olhos bem azuis e de desajeitos tão grandes que me fizeram sorrir antes de eu resolver olhar a lua e pensar no quanto o mundo é vasto os amores são longíquos e estranhos. lembro disso, e só. depois devo me lembrar de milhares de conversas suas pra mim e minhas pra você, dessas conversas bobas que começam sem porque e terminam de um jeito que você nem saberia dizer como é mesmo que aquilo começou, e só é tão engraçado que dá vontade de pular, de tanta felicidade. felicidade é daquelas palavras que você pode usar em certos momentos, e eu posso dizer que a gente pode usar felicidade mesmo pra dizer isso aí que a gente passou. eu sei que eu ria, mas não sei porque eu ria. sei que você era sim, de algum modo, inteligente de um jeito que eu não sabia como era, mais era. e tinha uma habilidade grande em me fazer gargalhar que só não era maior do que me deixar sem jeito pensando comoéqueé que alguém pode ser tão ridiculamente atencioso com outro alguém só porque um dia ensinaram que assim seria e é. eu te ensinei algumas coisas, ainda me lembro de algumas tardes ali, vendo uns acordes, ensaiando umas batidas. mas sei que você me ensinou mais sobre mim e sobre tantas outras coisas que eu nem sei te contar.
ensinou também sobre músicas que eu um dia acreditei ser fantasia de compositor, me ensinou a ser alguma coisa que eu já não era há algum tempo, por medo de ser bem ridícula.

eu nunca sei porque é que as coisas duram, eu nem sei se eu sou do tipo que fica na memória de alguém. eu sempre achei que era perfeitamente aceitável que depois de dois meses eu virasse poeira cósmica em qualquer pessoa bem avisada. porque as pessoas vão em frente com as suas vidas e é normal que um dia elas resolvam desempoeirar suas cabeças e esquecerem quem foi mesmo que um dia disse aquela coisa engraçada ou mesmo esquecer daquela noite que te pediu pra ficar e você ficou, ali, sem fazer nada, conversando, olhos desconfortavelmente nos olhos e cabeça no colo, só por estar. é mais possivel ainda que se esqueça do desavisado abraço de despedida e dos seus olhos baixos com a certeza total de que não faria nada por orgulho e que se arrependeria calada no trajeto que demora quinze minutos entre luzes e carros de volta pra casa.

eu não ter virado poeira cósmica é algo que eu queria que, mas não sabia se. achei que tinha virado poeirinha ali, naquele dia. sabia que um dia você iria desempoeirar essa sua cabeça, limpar as gavetas, esquecer que um dia eu já fui uma insistência grande, uns olhos convidativos e uma boca cheia de palavras ridiculamente ensaiadas só pra que você culminasse em vermelhidão e elogios. pois acho que você limpou mal as gavetas, ou eu sou uma poeira cheia de gordura, ou justo aquele cantinho ali que você achou que ninguém ia ver era o cantinho em que eu morava. começaria tudo outra vez, mas nem tanto.

eu só sei dizer que somos duas crianças ridículas e inexperientes e que sinceramente foi tudo tão brega e de uma comédia romântica tão sessão da tarde que eu só posso te achar, mais uma vez, lindo. eu sempre achei que eram muito mais bonitos os amores que não são. não são e não existem assim, físicos, beijos, abraços, amassos e nem eu te amos que são ditos verbais " eu te amo". sei que te entendia pelo olhar e ria feliz, sei que me olhava quando eu não e eu te olhava quando não e as vezes encontros aconteciam, risonhos, como as mãos que se encostavam tímidas em brincadeiras de não querer. sempre soube que gosto mais do estar lado a lado sem olhar mas com o coração pulando rápido, e com aquela boca que engole seco a vontade de falar ou ser algo mais que silêncio. sei que somos tudo isso justamente porque não podemos ser independentemente de qualquer coisa.

mas sei que quero não virar poeira cósmica para os outros possiveis encontros porque eu sempre sei que vai sempre valer a pena esse não ser bonito que a gente é. e sinto porque teus olhos sempre dizem tanto, e o seu não conseguir falar é sempre mais expressivo do que se disseste tudo. o que eu sei é que sempre gostei dos amores que são por pequenas delicadezas. e são os pequenos cuidados, os pequenos toques que fazem com que eles não desempoeirem das nossas cabeças. só quero dizer obrigada por cuidar de mim, sempre sempre e por se preocupar tanto e tão. quero ser contigo essa coisa que não é, nas entrelinhas, para que um dia quem sabe esteja ali todo dia a te observar dormindo e cuidar de ti até poder dizer sorridente todos os bom dias pro resto da sua vida, sem despedidas casuais que de tão belas chegam a ser tristes. quero empoeirar tudo para que um dia quem sabe se.(jamos)

Nenhum comentário: