olho pro meu quarto e tudo que vejo é tudo que sou, ou estou sendo, de um jeito que não deveria ser. não há nada no lugar. nada. absolutamente. todas as coisas que eu deixo pra depois estão se amontoando junto com os livros que eu não li e as coisas que eu não sou. as músicas que eu já gostei, os amigos que eu já tive. tudo na parede, pra me lembrar. um bloco, uma caneta. uma visão que entretelas me dápra uma cidade morta e vazia. e música. tanta música naquele quarto escuro. tantas crises que eu não posso nem numerar. fui feliz. há sorrisos largos na parede de fundo preto que me dizem que eu fui feliz. sou feliz? não sei responder. mas numéricamente as vezes que me deito quebrada são muito maiores que as vezes que me deito realizada e só. deixei pra trás tantas coisas. deixo pra depois tudo, todos. e se me olho no espelho prefiro não olhar uma segunda vez. olheiras fundas, um cabelo que não se importa mais em estar bem e uma bagunça que só dá tristeza. pior ainda é saber que aqui dentro tudo está mais bagunçado e sujo ainda. esperança é uma palavra bonita que eu ouço às vezes, mas te digo, não sei. não sei é uma expressão que uso com tanta frequência que chega a ser triste. mas é. simplesmente não sei. e é um vazio que se abre enorme isso de não saber. dói, de algum jeito. porque há de se arrumar tudo pela simples vontade de ver as coisas voltando pro lugar. mas protelo em me arrumar. protelo em me deixar nos eixos, estou atada, de novo, atada. até quando, eu me pergunto? não sei, respondo de novo que simplesmente não sei. e é dolorido isso de não saber.
me vejo em mil esforços, em mil tentativas frustradas de ser melhor. me vejo em mil tentativas frustradas de me fazer melhor, de um dia só dormir, sorriso, dormir. só me vejo deixando coisas atrás de coisas. relações, felicidades, aparências. me vejo deixando tudo, o tempo todo, tudo. e me jogo completa na frente de qualquer um que eu pensar dizer que tudo um dia vai ficar bem. se soubesses que não é implicância, não é o meu jeito, não, eu nunca fui assim. só estou pedindo desajeitada que sentes do meu lado e fique, ali e só. pra dizer timidamente que tudo isso vai se acertar e eu vou conseguir colocar tudo nas gavetas certas e que eu não vou mais precisar viver nessa bagunça de ser eu mesma, sabe, entende? não. falo de minha confusão abissal, de minha quase doença e tudo que vêem sempre são as coisas que não faço, não fiz, não demonstro. eu digo, secreta, preciso de ajuda. não sou eu, essa daqui não sou eu. não triste, não trocando horários, não sonolenta, não cheia de olheiras, não mendigando por atenção, nada disso. eu estou te gritando, essa não sou eu. não é. não pode ser. não vou deixar que seja. quero bucólica a vida normal de olhar no espelho e ver bonita. só de transparecer por fora o que está por dentro. e é isso que acontece, mas transparece o feio e o acabado de mim que não quero mais.
e cansei, mais uma vez, cansei de me gritar, de me jogar, de fazer escândalos silenciosos para que entendam que o que eu quero não é muito. é só pouco. uma pequena atenção redobrada nesses dias que eu preciso de cuidado, só e até eu me curar.
eu olho pro meu quarto e vejo tudo que eu odeio. vejo alguém vivendo uma vida que não quer que lhe pertença. esse alguém sou eu, essa vida é minha. e antes que eu queira desaparecer eu peço tímida para que de algum jeito eu volte a ser. porque de existir estou farta. e de todo o resto todo todo todo ( e continua) todo.
( e sumiu. e mudou. e viveu.
não.
só permaneceu inerte e sem expressão porque reluta em dar o primeiro passo.
fraca. ridícula. desforme. feia. cansada.
nada.
e do grito fez o silêncio.
porque ninguém (você) respondeu.
nada )
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