( I'm lonely in london, london is lovely so.)
Não ter acordado seria a melhor das alternativas na quarta feira que eu nem sei te afirmar com certeza se fez sol ou não, calor ou não e nem sei mesmo te dizer se alguma hora parecia que ia chover. sei que acordei, por mania suicida de ter que levantar da cama para, sem voltade alguma e dei alguns telefonemas porque tem que se ligar pra alguém, às vezes, por mais decepcionante que seja. decepção, palavra estranha, ali do dicionário, vazia, e que faz mais vazio que qualquer outra coisa. tanto faz, com as pequenas decepções vai se acostumando, pouco a pouco até que um dia elas já não fazem mais diferença, assim como não faz diferença se fez calor ou frio nessa quarta feira vazia de janeiro.
se for pra escolher, fez frio. pelo menos aqui dentro fez tanto frio que eu nem poderia te explicar com as milhares de palavras que vêm me faltando, se pudesse. estou te dizendo que hoje senti vontade de ver aquele telefone tocar e ter alguém com quem eu quisesse falar por horas e horas e horas. eu desejei tanto que você estivesse aqui enquanto dava passos vazios já sem meu ovomaltine na mão. desejei com força porque eu sei que você me entenderia tão bem. Quantas vezes já não me prometeste o mesmo ovomaltine que tinha acabado de jogar no lixo, com canudos menores e conversas que durariam até quando eu quisesse. eu choraria na sua frente, você sabe que sim, eu sei, eu confio tanto em você mas você está longe longe e eu estou sozinha.
pela primeira vez, não pela primeira vez, mas tenho que admitir que já fazia muito tempo desde a última vez que tinha sentido isso, me senti tão completamente sozinha. completamente. sozinha. eu, meu vestido verde, meus passos que nunca demoraram tanto pra chegar até o fim daquela nem tão grande avenida. carros, barulho, e pessoas por alguns lados e ali e aqui e eu fiquei pensando que podia, quem sabe, parar algum daqueles carros e talvez então não fosse mais tão sozinha, mas é claro, mentira boba, fantasia lúdica. e sentir o peso todo da solidão nos ombros doía de algum jeito que eu nem saberia explicar mas que dava uma certa vontade de chorar bastante e grande, como se o choro fosse de algum jeito engolir a dor enquanto eles brincavam de invadir meu corpo e me fazer sentir pequenina e frágil daquele jeito que eu já não aguentava mais.
pois eis que então telefonei e me contei de um jeito que não deveria, porque não contei tudo. não havia como contar tudo. sei que falava alto, sei que a dor me invadia, sei que pensei em umas cinco pessoas que teriam feito parte do meu dia e só consegui me sentir ainda mais completamente sozinha. abandonada, você me perguntou. é, abandonada. essa seria a palavra certa pra definir esse dia estranho em que essas coisas ruins todas me invadiram e quando achei que talvez quem sabe melhorasse, abandonada, mais uma vez de um jeito que não poderia ser, pelo menos não hoje, não na pior quarta feira das quartas feiras em que eu queria pelo menos um pouco de paz, um colo, algum tipo de conforto, um falar sobre outra coisa, um " nao fique assim."
mas disse a alguém que se acostumam às pequenas decepções. disse a mim mesma enquanto caminhava sozinha, você quis dizer abandonada, é, abandonada, por pequena e sinuosa londres, entre pessoas que não conheço, entre olhares que sentiam pena do corpo vestido de verde que se mostrava triste. dessa casca em que habito com cabelos mal cortados e vontade de chocolate e coisas doces. eu fico aqui, sentada, esperando por qualquer coisa que me faça feliz. celular vibrando alto, chocolate, livro de auto ajuda, programa bobo, drogas, bebida, paulo coelho, meio fio com alcóol até eu ficar naquele dia em que não sabia mais quem eu era mas te vomitei tantas palavras que me faziam tanto sentido que eu não saberia explicar agora, assim, sóbria e triste como me encontro. e nem quero tentar, você entende e também me disse como me dizem eventualmente as pessoas que se preocupam um sincero " eu não sei o que te dizer nessa hora" mas já queria dizer que você estava ali e se preocupava de algum jeito, modo ou maneira e eu sei que sim.
eu só estou aqui, desabafando que hoje dencei com a solidão e com as pequenas grandes decepções, elas vieram me visitar e eu me senti abandonada, tão abandonada. era essa a palavra que eu procurava, abandonada. abandonada: que se abandonou; deixado ao abandono; desamparado; que não recebe trato algum; negligenciado; que se encontra desocupado, vazio. Pois eu me encontro assim, descocupada e vazia depois de tantas e tantas decepções. dessas conversas que não nos levam a parte alguma, desse esforço todo que eu faço sangrando pra não receber nada em troca e eu nem posso chorar e dizer que eu estou cansada porque eu estou só e absolutamente desocupada e vazia nessa pequena londres, grande demais pra mim, mas que me sufoca, procurando por quem sabe discos voadores no céu, pra depois chorar e dormir quieta até que a quinta feira se desenrole pra ser, quem sabe, algo mais mesmo sabendo que não será, mas só porque alguém me ensinou esperança e porque essa dor que eu sinto já não cabe mais dentro de mim, nem que eu grite e por mais que eu queira eu não consigo abandoná-la.
mas não é nada, é só porque eu fui abandonada numa quarta feira fria dentro de mim e me sinto mal, completamente descocupada e imensuravelmente vazia.
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