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30.8.09

E nesses dias tão estranhos

(fica a poeira se escondendo pelos cantos)

Já não sei mais escrever com música. Os meus vinte anos de boy, that's over baby. Parece estranho sentir um peso ancestral depois de duas décadas, mas hoje sinto que preciso do silêncio. Porque o silêncio me dói. E eu ainda só sei escrever com dor, o que é um clichê dos piores. Minha mãe diria que eu estou sempre usando a palavra "clichê" e então, se um dia ela me pegasse um pouco mais espirituosa eu diria que só se fala daquilo que se é, e eu sou um clichezão enorme. Hoje é o ultimo dia do mês e o começo de uma nova, daquelas bem velhas etapas. Eu nunca deixei de ser a garota de dois anos atrás e de certa forma isso me enjoa um pouco. Todo mundo quer evoluir, ser diferente e eu só me sinto um pouco mais perdida.

Antes "acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto" me cabia bem, mas hoje é um leque tão grande de possibilidades que não virão a ser que eu acho que eu nem sei do que eu não gosto. Estou acostumada, indiscutivelmente acostumada às coisas que faço e também às que deixo de fazer. João Ubaldo diria que " a gente se acostuma a tudo" e eu, relutante demorei a acreditar nisso, mas hoje acredito que sim. Não paro pra pensar na minha vida faz algum tempo e tento me ocupar com mil e uma babaquices só para preencher o tempo e ter algum assunto. E aí quem me vê acha que eu vi mil e um filmes e conheço várias bandas e leio muitos livros, mas eu só sou uma farsa bem arranjada com alguma pitada de bom humor. Ultimamente não estou dando nem pra escrever e sinto um sono que eu não posso nem explicar.

Hoje pensei muito sobre felicidade, sobre realizações. Gosto de ver as pessoas perto de mim um pouco felizes, bastante felizes, realizadas. Nunca fui assim e nem posso te dizer que um dia o seja. A falta de alguma coisa parece fazer tanto parte de mim que se um dia eu resumir que estou feliz e só eu não serei mais eu. Claro que isso é uma das bobagens sem tamanho que a gente diz quando sabe que ser feliz há algum tempo não é uma opção. Ou desde sempre. Pessoas infelizes gostam de dizer que são mais produtivas desse modo e assim o fazem, e aí se tornam pessoas interessantes porque gente que não sabe o que fazer tem um ar de mistério que sempre é de alguma forma, interessante. Mas ar de mistério às vezes é só tristeza e solidão e depois de quase duas décadas fica desinteressantíssimo ser uma pessoa com a qual nem você mesmo gosta de conviver pacificamente.

E então, olhando para os lados vi umas duas pessoas que se diziam completamente felizes e senti uma certa inveja, porque eu de alguma forma não sou feliz. Alguma música do chico termina assim, bem com esse verso ' não fui feliz'. E eu sempre posso ficar dizendo e repetindo isso no fim de qualquer coisa, que eu ainda não fui feliz. E é a mais pura verdade. Ando assim, cheia de dias estranhos, e se paro pra pensar há uma tristeza que me invade me lembrando das vinte e sete coisas que eu preferia esquecer. Queria esquecer de muitas coisas, porque tenho todas as ferramentas para ser uma pessoa feliz, mas não consigo usá-las para tal. Existem pessoas que não aproveitam a própria sorte e disperdiçam sua fortuna. Eu tento todos os dias desde que nasci não disperdiçar a minha fortuna, mas sou muito desconfiada e depois de achar que não tenho fortuna nenhuma e largo tudo pra trás, do jeito que sempre foi. Não gosto de ficar sozinha, mas me acostumo assim se preciso for.

Sofro de síndrome da insatisfação crônica e tenho quase certeza que nada nunca estará bom pra mim. Mas depois de duas décadas se instaura em ti um medo, e é ele quem me acompanha todos os dias. Com vinte anos já é hora de ter sua vida mais ou menos arranjada e desarranjar ela de uma hora pra outra pode ser coisa pra se arrepender para todo o resto dela. Hoje tenho medo de tudo que me desarranje e vivo então um dia depois do outro e depois do outro e depois do outro. Já não tenho certeza de nada e os dias nem doem nem alegram, só são. de tristezas e alegrias ocasionais todo mundo vive, inclusive eu. E eu tenho vinte anos, sou morena, viceral e ainda não fui feliz.

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