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4.8.09

O que está acontecendo?

( o mundo está ao contrário e ninguém reparou; ou desabafo)

"It's a mad, mad world", gary jules diria cantado no final de donnie darko enquanto você se dá conta dos universos paralelos. Universo paralelo, prazer, é de onde estou observando de leve o mundo em que me encontro. Ou todo mundo enlouqueceu, ou sou eu que tenho problemas com me adaptar a realidade. Não sabendo a resposta certa, eu digo que talvez seja tudo uma louca questão de ponto de vista e que no fim não faça diferença nenhuma o que eu acho, ou deixo de achar, mas eu só preciso dizer que eu já não sei mais o que estamos fazendo de nós.

Então me dizes que acabaram todas as fronteiras e que podes se comunicar rápido como um foguete com qualquer pessoa em qualquer lugar do universo. E achas graça, porque agora seu universo é grande e extenso, mas não cabes dentro de si. Trocas então qualquer conversa por telefone por seu computador e esqueces que pode chamar alguém para tomar um café, porque então te lembras que vives sozinho e faz algum tempo que ninguém frequenta a sua casa. Tentas então as teclas, procurando algum amigo, e ele até te ouve, mas sabes que tentas em vão porque no fundo (sem saber) sabe que letras coloridas não substituem olhares compreensivos, mas nem te lembras mais como eram, então cala-te e dorme, porque não tens tempo para pensar bobagens.

Não te lembras quantos amigos já perdestes, mas lembra-te de às vezes, mandar algum recado diznedo que está com saudades, que a outra pessoa responderá dizendo que também está e que poderiam se ver, sabendo que não se verão nunca mais. Ambos possuem outras vidas agora e não tem tempo de se desvencilharem das mesmas para correr atrás do passado. Passado aliás é uma palavra muito malvista. Dizes passado, lembram-se de velho e ninguém mais gosta do velho. Gosta-se de futuro, de novo, de presente. Gosta-se do que está aqui e agora. Do rápido, do prático, do enlatado.

Então já não sabes mais se compra a blusa que viu na loja para a sua esposa ou para sua filha, afinal se vestem ambas tão parecidas e nem sabes mais quem tem mais fotos na internet ou entende mais de computadores. E vê em todas as revistas milhares de pessoas dizendo em vinte e cinco formas diferentes de se manter mais jovem junto com as trinta e sete maneiras de parecer mais magra e só sabes que pensam muito em aparência e em parecer, mas já está tão acostumado que nem ligas.

Se perde no meio da loucura de aproveitar o presente e então nem te lembras mais que também é uma opção ficares em casa, sozinho, repensando suas idéias. Te lembras que parar é perder tempo, então faz. Então buscas. Então tens. Tens dinheiro, diversão, festas e tudo isso que trás a felicidade. Estás jovem e ativo e assim sempre estará, e permanecerá e se isso não for possível, ao menos parecerá. Então tentas a todo custo se manter em trinta e sete cirurgias plásticas e visitas semanais à academia. Já estreiou a boate da moda, entendes completamente tudo e todos e te livrastes dos preconceitos. Acreditas em sexo casual, e buscas experimentar pois experimentar é o único jeito de saber. Não paras mais. Estas sempre em algum lugar, estás sempre em busca da felicidade que está sempre um passo a frente de você, mas sabe que um dia irá alcançá-la. Estás atrás da juventude que um dia sabes que perderás, mas não te importa, pois seu espírito é jovem e não envelhecerá jamais.

Então corres, tresloucado para nunca parecer ultrapassado, e se livras do passado, e de repente, olha, serás moderno. E nasces como um robô belamente programado para não parar, não envelhecer e ser feliz. E para ser feliz não há limites. Então bebes, e e sai, e ri e conhece quantas pessoas quanto puderes e te envolve com quantas pessoas quanto puderes e largas quantas pessoas quanto puderes para sempre ter todas as pessoas que quiseres, sem se dar conta que nunca nunca tens ninguém. E te sentes pertencido porque todos os outros são como você. Bonitos, e jovens, sempre sempre jovens.

Eis que sem perceberes perdeste a vida. E perdeste, que ironia, tentando ser feliz. E envelheceu enquanto tentava ser jovem. E foi ridículo enquanto se sentia totalmente pertencido. Agora olhas pro lado e vê, vê aquele alguém que sempre julgaste fora dos padrões e louco. Vês teu amigo que dizias feio pois assumiste as rugas. Vês teu amigo que dizias perder tempo, pois passavas muito tempo contemplando. Vês teu amigo a quem dizias que estava deixando a vida passar por entre os dedos, sem aproveitar. Vês teu amigo que sempre achou bobo, pois um dia se envolveu demais com alguém, e com uma só pessoa decidiste ficar. Vês seu amigo que tinha tempo para os filhos, e que resolveu assumi-se pai, e não companheiro de balada. Que resolveu tomar seu tempo, fazendo as coisas que julgava de seu tempo. Vês seu amigo a quem julgavas velho, antiquado, a quem dizia não saber se adequar as mudanças do mundo atual. Vês seu amigo que tomou tempo para ler, para caminhar, que não ganhou tanto dinheiro e teve tempo para a família. Vês seu amigo que um dia sossegou, e não tenho uma vida cheia de luxos, teve conforto o suficiente para curtir a palavra que detestavas, a velhice.

Vês teu amigo pleno, e de rugas no rosto, sentado numa cadeira na varanda e pensas em perguntar como vai levando a vida. Pensas em perguntar mas desistes, porque enxergas no rosto do amigo aquilo que passou a vida inteira procurando, mas não encontrou. A palavra mágica, o elixir da juventude, da boa saúde, da vida plena. Aquilo que não se encontra com vinte e cinco jeitos práricos, com mil noites ou com fórmulas magicas de juventude eterna. Encontras no rosto de teu amigo aquilo que sempre julgastes ter a fórmula mágica para conseguir e aquilo que julgou a vida toda estar tendo, mas nunca soube como era. Encontras no rosto do teu amigo, hoje velho, mas de essência viva, a mesma de muito e muitos anos atrás, aquilo que estão todos loucos procurando enquanto colocam os pés pelas mãos: a felicidade.

E então entendes que tudo que ficastes velho buscando a juventude, perdestes tempo tentando aproveitar a vida e principalmente, ficastes sozinho, tentando ser feliz. E então choras a te olhar no espelho, desfigurado por seres aquilo que não és mais, sente-se ridículo, e pensas em querer voltar tudo e pensas em querer começar de novo e pela primeira vez se encontra com o único mal irremediável: O tempo que não volta mais. E choras, não foi feliz. E então te perguntas "até quando continuaremos assim?" e ficas, porque (não sabes que) sabes que ninguém te responderá. Não sabem a resposta. Continuarão. Eterno-retorno-Eterno de busca sem fim.

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