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11.1.10

Da sua ausência não sei dizer.

Sempre soube falar sobre ti. Assim, sei te contar em mil e vinte sete maneiras diferentes. A minha melhor parte, o pedaço mais bonito de mim. Sei contar a nossa história com todos os detalhes que uma história bonita deve ter, sem ter que inventar nada além do que ela realmente é. Você sempre foi a parte mais bonita de mim, assim, em primeira pessoa do singular. Eu só existi completa quando na sua presença. Me ensinaste sobre amores e tristezas e dores e sobre consideração. Me mostrou algumas vezes que uma pessoa pode ser bonita pelo simples fato de existir. Fostes meu verbo, minha canção e meu céu azul por um tempo muito maior que o tempo que se contam nos relógios. Foste também meu tempo, meu lindo tempo de infinito que existia quando você em mim. Saberia contar de todas as nossas aventuras em detalhes, como quem narra um romance adolesecnte, como quem escreve um roteiro de filme de comédia. Te literaturei das maneiras mais bonitas que pude, fostes meu personagem mais completo. Aquele que eu adoraria ler se um dia fosse o caso. Sei falar das suas manias mais irritantes como quem defende aquilo que mais ama. Sei defender o jeito com que tomas tudo como se fosse seu e sei também, claro, dizer que entendo todas as decisões que você tomou e elencar porquês mesmo quando você mesmo acha que tomou a decisão errada. Sempre te defendi com a bravura de quem ama demais a outra pessoa. E lutei por você. Até o dia em que deixei você partir.

Podia falar de ausencias e faltas. Das milhares de coisas que você deixou aqui, e das minhas coisas contigo. Das manias que eu tenho só por sua causa e as coisas ridículas que você ama e eu aprendi a amar. Sei falar de todas as coisas como se você ainda estivesse aqui, só não sei falar da sua ausência e de todo esse emaranhado que se faz quando eu penso nisso de deixar você ir e entre mandar você voltar. Eu nem lembro mais como foi exatamente o dia que eu resolvi que eu te deixaria ir. devia ser um dia qualquer e devia ser eu exausta de não te ter mais. Não me lembro o dia, a hora a roupa que estava usando e nem se fazia sol. Só sei disso, te deixei ir. E só sinto isso, ausência. Uma ausência tão enorme que eu não posso te dizer como ela se sente. Posso elencar objetos. Posso te falar dos risos que faltam. Posso te dizer das palavras que não saltam mais e dos convites que não mais aparecem. Posso te falar de um lugar no sofá de umas comidas. Te dizer até de um folheto que um dia eu quis guardar e acabou indo com o lixo, até disso eu posso te falar mas eu não sei nem o que eu sinto com isso.

Às vezes você me dói. Fundo. Objetivamente junto com as coisas que eram suas e hoje são minhas meio que do jeito que eu quis que fossem. Queria te chegar e falar tantas coisas. Não dessas que eu solto assim quando escrevo, mas coisas pra você, coisas entre eu e você que eu podia entitular como "tudo o que eu queria te dizer antes de você partir". Assim, como se você tivesse pegando um ônibus para o outro lado do país e eu precisasse te deixar com a certeza de que você sabe de tudo que eu um dia senti por você. E eu não estou falando de amor nem nada dessas babaquices. A coisa agora é sentimento. Eu tinha um monte de coisas pra te falar antes que você partisse. Coisas minhas. Mas você nunca me deixa falar nada e vai indo embora embora embora. E eu desisto de te entregar coisas pra que você leia depois no momento exato que penso em escrevê-las por mais que eu saiba que é necessário que você saiba de mim antes de partir de vez. Mas eu não sei falar sobre a sua ausência. Nem pra mim mesma, quanto mais saberia elencar todos os fatos que eu tinha que te falar antes de você partir. Justo pra você que resolve partir antes mesmo de eu querer que você vá. Justo pra você que era a única presença que realmente importava e eu resolvi deixar ir.

Eu queria saber falar de nós, mas eu só sei falar de mim. Ou de você. Assim, separadamente como sempre fomos. Eu queria te deixar ir também. Pra muito longe. Mas com a única condição que você me esquecesse de vez. E quando eu digo esquecer eu digo apagar da memória. Eu posso deixar até minhas coisas com você e você pode até esbarrar com umas partes minhas (eu sei que deixei algumas várias nesses ultimos meses) mas mesmo assim você não irá sentir falta. vai olhar pro meu pedaço em você e vai deixar de lado junto com os jornais lidos. Junto com tudo que um dia foi importante mas hoje não tem mais razão se ser. Só assim você pode ir.

Mas você não vai. E essa é a pior parte. Se pelo menos você fosse e mudasse de vez eu ia conseguir falar da sua ausência. Mas me diz, que ausência? Eu te deixei ir. Eu não apareço mais nas horas inoportunas, eu nem te ligo mais pra saber como você vai e eu nem me interesso em saber das coisas que você gosta. Mas você vem me contar. Assim, inesperadamente, você vem me dizer das coisas que você gostou e depois vai embora. Exatamente do jeito que veio. Ocupa sua cadeira por quinze minutos, até menos, e volta pro seu país. Aquele em que eu não quero entrar. Te vejo no ônibus e fico te dando tchau esperando que você vá de vez, mas você nunca vai.

Eu não tenho mais medo. Se um dia você resolver me deixar tudo seria bem mais simples. Com o tempo ia ser difíxil lembrar a sua voz, o jeito que você ri e o que te faz sorrir. Ia sobrar uma saudade, mas eu já tenho saudade de tanta coisa. Tem tanta coisa que se foi guardada aqui e ali que minha casa e meu coração tem espaço sobrando pra saudades e ausências. Você ia ser mais um na estante ali, guardado, do lado dos meus amigos que eu não vejo mais. Exatamente ali. E depois ia existir uma vida toda sem você que só ia te encontrar na rua um dia e pergunta como você vai. Nada mais será como antes. E Partimos.

E eu não sei falar da tua ausência, porque você nem se foi. Está ainda, aqui e ali e eu ainda te procuro nos rostos de todas as pessoas que vejo enquanto caminho pelo caminho que hoje parece meu lugar no mundo. Ainda espero te encontrar de novo porque toda vez que eu te encontro eu consigo ser o que eu era. Eu só preciso te dizer muitas coisas, todas as coisas antes que você parta no seu ônibus com destino a lugares que eu não gosto. Eu te digo, e você vai. Mas se vá de vez porque eu quero conseguir escrever sobre a sua ausência. Não a eminente. A que eu vou sentir, e que vai doer. Mas que enfim, vai ser real.

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