(that I will dedicate to you)
Tentei de tudo. De todas as coisas que pode tentar uma pessoa eu tentei. Mas assim como todas as coisas um dia acabam, também acabou nossa canção sem tom definido. Junto com piano que eu nunca tive eu esqueci todas as bobagens que eu (ainda) pensei de te dizer apesar daquilo tudo. E eu te escrevi. Te escrevi em forma de música, quase bolero, tudo aquilo que eu queria te dizer e nunca disse. Derreti. Ali, no piano, no violão, no livro, no teclado, na máquina de escrever. Derreti em sentimento mal feito e escrevi meu último tratado de amor por você.
Vômito de palavras, como sempre vomitei em você e te deixei sujo sujo de mim. E eu esperava reações, qualquer uma delas. Morna, fria, desesperada, qualquer reação que fosse mais do que olhar pra mim com seus olhos baixos e me contar sobre seu dia. Eu queria que você me batesse, que me abraçasse, eu preferia que você tivesse cuspido em mim do que ter feito isso que você fez. Isso que faz todas as relações estacionarem exatamente no lugar onde estavam e ficarem por isso mesmo. Isso de ficar estático enquanto eu falo falo falo e me derramo. Depois você se levanta, pede as desculpas menos sinceras que a humanidade já teve contato e se vai, prometendo voltar só por costume, e eu fico sentada ali, esperando o dia que você ia voltar pra eu te dedicar outra canção.
E eu soube. Eu soube no momento que você entrou por aquela porta me dizendo que você precisava falar comigo que você não tinha entendido as minhas bobagens. Eu te olhei e soube que nada iria mudar. Nada. Eu ia continuar vivendo a minha vida aqui, você ia continuar vivendo a sua vida aí e eu então iria me acostumar com a ausência. Assim como me acostumo agora e quando penso em você se faz uma coisa fora de lugar. Pensar em você é como querer trazer dez anos atrás de volta e vivê-los do jeito que estou hoje. Quando uma pessoa vai deixando lacunas enormes como as que você deixou, não há forma de preenchê-las de volta. E assim se fez.
Hoje eu olho e até penso em te escrever canções com outros ritmos, penso em te dizer cento e sessenta coisas,mas olha, já te dediquei todas as canções que podia, com todas as melodias, compassos, ritmos e até com as desritimias, descompassos, desafinos que uma canção desesperada pode ter e agora eu só penso que nada disso vai adiantar. Você não me ouve, você não entende mais minha frequência e nossa canção já não é mais atemporal como os beatles que gostamos tanto. Você já sabe tudo o que deveria saber, eu já cantei tudo que deveria te cantar, de balada indie a bolero desesperado e brega, e se mesmo depois dessa overdose de me ouvir você resolveu coninuar onde está, eu desisto.
E então não há mais canção nem sobre mim, nem sobre você e muito menos sobre nós. Esse nosso "nós" que nunca existiu, que sempre foi um "eu e você"sempre assim, bem separadinho. Uma música pra mim, uma música pra você. Eu que teimei em juntar canções e fingir que existia uma música pra nós que estava sendo escrita a passos vagarosos, tão linda a nossa canção... Mas nem existia canção nenhuma, as bobagens ficaram em mim e agora se foram com você, aí pra esse lugar que eu não sei onde é e não quero descobrir.
Esqueça o bolero, a balada, a salsa, o nossa canção tema. Esquece de tudo, aproveite e esqueça de mim também, me faz de canção ruim, mal escrita, mal cantada, fora de ritmo, descompassada, como eu sempre fui com você. Daí eu te escrevo uma canção linda, cheia de métricas, rimas, amores, boleros sinceros,amores e te dedico: essa é a última canção que eu dedico a você. E acabou, você leva embora a nossa música e joga fora isso que eu já chamei de "nós"mas que de hoje em diante é "eu" e "você". Eu: bolero, você: música clássica. Eu me derramando e você soberbo. Cada um de nós em um lado da canção. Separados. Como deveria ter sido desde o princípio.
Para ouvir ao som da sua música preferida que eu odeio.
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