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7.1.10

Eu não podia me deixar dormir sem te dizer isso. Hoje. É, depois disso tudo.
Eu decidi te deixar ir. Faz algum tempo. Deve fazer um mês desde o dia que eu pensei "é hora de te deixar ir". Não por nada. Eu não estou falando de amor. Amor é uma coisa bem mais séria que isso. É quase... É bem mais que amar suas blusas verdes florescentes ou as azuis escuras sem vida. É um pouco mais profundo que isso. E depois de algumas canções, eu resolvi te deixar ir. Não te contei, é claro. Se eu te contasse que eu estava te deixando ir era capaz de eu nem ir de fato, você sabe muito bem como você funciona. Você não ia deixar. E ia continuar marcando o seu lugar na minha vida sempre que pudesse. Depois ia sumir, como você sempre faz. E quem ia ficar aqui ia ser eu, e você com a certeza-vontade boba de saber que eu sempre estarei aqui, no alcance dos seus braços e palavras.

Mas eu te deixei ir. E você foi. Quer dizer, você já tinha ido faz algum tempo nessa sua nova vida estranha em que eu não pertenço. Só que eu ainda tentava te segurar e algumas vezes você passava por aqui pra ocupar alguma das suas duas pontas no sofá. Sabe, costume. Consideração já tinha ido embora fazia um tempo. Uma ponta, umas fotos e um copo de água depois você se foi. Assim. E pronto. E eu sabia que iria. E eu achei que ia doer o mundo, mas nem doeu. Eu, eu estou me acostumando sem você aqui, sabe? Não que eu não me lembre de você há cada dois dias, e não exatamente a cada dois dias, as vezes mais, às vezes menos, todo mundo sabe como funcionam essas coisas estranhas de lembranças. Acontecem e depois vão embora, desse jeito assim mesmo.

Daí eu desconstruí seu castelo, esqueci o teu telefone que eu sabia de cor e me prometi não te ligar ou te mandar mensagens toda vez que eu visse alguma coisa que me lembrasse você. E assim foi. Com o passar do tempo as coisas vão perdendo o quoeficiente você e eu tenho cada vez menos lembranças suas. O melhor de tudo, não dói.

Eu nunca soube como você ia reagir assim que eu te deixasse. Nos meus momentos mais otimistas eu pensava que você não saberia viver sem mim, mas depois de um tempo foi tanto tempo de você vivendo sem mim que eu tinha apenas uma certeza: Você nem ia se lembrar. É sabe, como aquelas músicas que a gente ouvia quando era adolescente e esquece. Só lembra delas no dia em que ouve. Se invade com umas vinte e uma lembranças, ouve mais duas vezes e depois esquece. Fato, a sua vida mudou. Ninguém quer passar a vida toda ouvindo as canções que gostava quando era adolescente. Eu sou sua canção adolescente, é assim, e acabou.

Daí desde então te vejo remexendo em uma parte ou outra da minha vida. Você aparece, descobre que eu ainda estou viva e some. Como sempre fez. É, eu ainda estou viva e eu ainda me preocupo contigo, mas depois acaba. E daí eu penso o que te faz voltar em mim depois que a gente foi embora um do outro, sabe? Assim, descobrir novas partes. Por favor, me esquece, eu já deixei você ir. É claro, eu também te disse que poderia voltar, mas não assim, tropeçante, por partes e esquisito como você gosta de fazer. Isso seu eu não quero mais, eu te deixei ir. Agora é a hora que você se vê livre de mim, sem obrigações de aceitar meus convites, sem ter que ouvir minhas palavras meio duplo sentido, sem ter que receber mensagens aleatórias minhas a toda vez que eu lembrar alguma coisa que me lembra você.

Eu te deixei ir e eu quero que você aceite a passagem. E você pode até voltar se quiser, mas só se perceber que aqui é o seu lugar. Caso contrário, me deixe. Você também vai se acostumar com a minha ausência.

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