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24.11.10

ah, beibe.

Quando eu sentei de volta naquela cadeira, eu queria ter tido a coragem de te dizer "beibe, você fez muita falta". Você devia saber, também, que, apesar de tudo - e eu digo isso assim, cheia de vírgulas e pausas mesmo, porque cada palavra que sai vem direto do coração e dói - eu esperava que você estivesse presente. Você, talvez, quem sabe, iria dizer que eu espero talvez demais de você. É difícil acostumar a minha cabeça meu vício e (principalmente) meu coração ao fato que, talvez, você, nunca mais, esteja presente. Seria bem mais fácil se eu estivesse acostumada as grandes separações. E talvez eu até esteja. Nunca esperei grandes amores de lugar nenhum que fosse, eu nunca dei um passo maior do que a minha perna e na verdade, olha, na verdade, só sei viver de pequenos passos que acabam me fazendo chegar muito atrasada em todos os lugares que quero, e, daquela vez, porra, daquela vez, o lugar era o seu coração. E quando eu finalmente cheguei, eu tinha perdido toda aquela trajetória que eu comecei a dar muito, mas muito tempo mesmo, antes.

às vezes eu tenho vontade de cantar pra você e pra mim, todas aquelas canções que dizem de tudo que deveria ter sido e não foi. Hoje, beibe, hoje nem medo eu tenho. Eu já te perdi, eu sei, já foi it's over, e por mais que eu entenda que cada olhar desencontrado seu é uma tentativa de dizer desculpas e de pensar "meu-deus-como-o-mundo-nos-separou-assim?" já não tem mais nada que possa ser dito entre eu-e-você. O mundo pode não ter querido, mas você sem querer quis. Eu ainda me lembro do dia que você me levou pra tomar o último café e me disse que tudo aquilo que um dia existiu, olha beibe, não existe mais. "Não tem, não tem mais nada" você dizia. Como se tudo aquilo que existiu - e você sabe que existiu - eu tivesse inventado no meio do meu mundo cheio de palavra. E eu dizia, que "eu sei, beibe, eu sei como é difícil lidar comigo" sempre me desculpando por ter sido essa bagunça na sua vida e enquanto isso você me olhava e eu sabia que se você soubesse como juntar meus pedaços de novo, você juntaria. E toda vez que você me vê, você me olha como se quisesse juntar meus pedaços. E eu quero dizer "olha, já teve muito amor dentro de mim, e se você remexer, você encontra tudo de novo. tu-do. é só você me olhar de qualquer jeito que seja, com a mínima intenção de juntar as minhas partes quebradas, que você acha esse amor perdido, e beibe, para que eu não quero mais encontrar amor dentro de mim. Não esse seu amor". É que eu vou ficar bem. Do jeito que eu posso, do jeito que dá, bebendo minhas cervejas toda semana, você sabe que eu vou ficar bem (embora não acredite).

O que me mata, beibe, é essa sua culpa. Para com essa culpa de ter me feito sofrer. Eu te amei porque eu quis te amar. Você não fez nada pra que isso acontecesse. E faz de tudo, todos os dias, pra que deixe de acontecer. E essa sua mania, de ficar cuidando de mim, me olhando como se sempre houvesse uma dívida entre eu-e-você que nunca te permitisse viver a sua vida (embora você viva). Não existe dívida nenhuma aqui dentro, e nem a dor, nem essa dor que eu sinto, sabe, essa dor, nem essa dor é sua. A dor é minha, o amor é meu, você é o resto disso, o que sobrou. E esse seu olhar triste, ah, beibe, é isso que mata. Eu te vi sorrir com os olhos tantas vezes. É que existe uma diferença, sabe, nesse teu sorriso de agora e naquele. Se eu tivesse te visto uma vez que fosse com aquele sorriso, do olho, da boca, do coração, olha, eu juro, eu juro mesmo que não ia ter mais peso. Mas de repente, você vem de lugar nenhum, encosta no meu ombro e enquanto pergunta se eu estou bem se esconde no meio dessa sua vida, ai, beibe, pára. Se for pra ser feliz mostra essa sua felicidade pro mundo. Esquece, me machuca com o sorriso, o sorriso-maior-do-mundo, e se lixa pro mundo. Vive, caramba. Mas você não vive. Você sabe viver? de um jeito qualquer que seja, você sabe? sem ter esse fundo-de-tristeza-no-fundo-dos-olhos, você me disse isso uma vez e olha agora, eu enxergando tudo isso em você. É que eu acho que eu já fui tão você que nem que eu quisesse não ser, beibe, não ia ter como.

"Eu senti tanto, tanto, tanto a sua falta, beibe". Eu quis te dizer isso, naquele dia. Eu quis que você me abraçasse, e me dissesse que tudo-ia-ficar-bem. Me dissesse do seu jeito desajeitado, no meio do jantar, que você estava orgulhoso de mim. Só que esses teus olhos tímidos ainda dizem mil coisas, ai beibe, dizem, e ainda tinha orgulho ali. Eu focava em você e continuava, é que eu foco em você e continuo, e olha só, eu já esqueci de mim, o problema agora é você. Me diz, me diz que você está feliz, me conta de um mundo todo de coisas maravilhosas, porque de mim eu sei cuidar beibe, sei sim. Nem que seja pra me deixar de ladinho e ir cuidar do mundo pra disfarçar que eu choro às vezes, mas tem tanta coisa e tanta gente linda ao meu redor, eles vivem num enorme afago de palavra-e-sentimento, que mesmo que eu quisesse ser infeliz, não tinha como. E você, você fica aí tão sozinho, sabe, tão se perdendo de você mesmo, que às vezes eu te imagino fazendo um milhão de coisas que é pra não pensar na vida. Você já fez isso tantas e tantas vezes, mas depois parava, tomava um ar, eu sempre tinha tempo pra você e pra suas bobagens, hoje eu já não sei se você para. Às vezes eu acho que não. É que eu me seguro pra dizer, convictamente, que no fundo beibe, eu ainda sou mais feliz que você. Um dia você me perguntou se tinha alguém no mundo que não tinha esse resquício de tristeza no fundo dos olhos, e eu disse que devia ter, porque tem gente no mundo que ama de verdade, beibe. Tem sim. Só que não é você, e nem sou eu. E você ia me olhar com uma cara esquisita se eu te dissesse isso de verdade, mas eu repito "não-é-você-e-nem-sou-eu".

Agora me esquece, vai. Eu senti a sua falta sim, por mais presente de corpo que você estivesse. Aquele seu espírito voando, sei-lá quantas coisas passavam pela sua cabeça enquanto você me ouvia falar aquelas coisas todas, mas mais uma vez nessa nossa trajetória eu esqueci que eu queria te dizer mesmo que eu senti a sua falta demais, que eu pensei em você o tempo todo, e acabei foi querendo te abraçar e dizer "ai, beibe, para de se perder assim desse jeito e vai ser feliz, porque você merece". O que me dói beibe, ah, o que me dói é saber que se eu te dissesse isso você ia me retrucar dizendo "mas eu, eu sou feliz" e enquanto abre um sorriso daqueles que enganam todo mundo eu olharia pro seus olhos e saberia do tamanho da mentira. É que no fim das contas, eu sempre imagino a gente se encontrando na frente do bar,depois de cinco, dez, vinte anos, e depois da gente se contar inteiros, eu te abraçando a cantarolando "Baby, we're lost, baby we're lost causes". Porque nós somos. Porque nós só soubemos apagar nossos resquícios de tristeza no fundo dos olhos, quando nos olhamos, deixamos de enxergar nós mesmo e vimos um ao outro. Porque vai ver, eu sempre morei no fundo dos teus olhos. E você nos meus.

Um comentário:

Luciano Costa disse...

favor, não psicografe mais textos meus.