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25.7.11

Que amava toda quadrilha.

(do Chico Buarque e do Drummond que me fazem, falo como personagem)

"Te amo", é dessas expressões que nunca cogitei te dizer nem em sonho porque sempre soube que dizer "te amo" pra você deixaria de ser expressão e se tornaria um ridículo e extenso (e quem sabe nunca-antes-visto) derramar de mim mesma.
Amor é uma coisa complexa que se eu tentasse explicar me embananaria toda, salvo se estivesse munida por eu-líricos cantantes e bonitos. Gosto de ti. Porque sim.
E deveria saber que quando a gente gosta "porque sim" de uma pessoa é porque gostar já é palavra boba demais dentro do universo que envolve essa relação.
Me destruístes de tal modo que não é possível que consiga poetizar nossa quadrilha, pois coisa vira e, real que você é pra mim, só sei de você cru e nunca soube de você minha história. Sei de você cru nos meus ossos, carne e, principalmente em pensamentos que me ocorrem em tardes cinzentas.
Sempre te acharei a companhia perfeita para a casinha de sapê que nunca construiremos e de algum modo vou sempre imaginar alguma coisa ridícula.

(Ridícula do tipo, não terminar esse texto porque admitir que eu te amo quase que me embrulha de amor de tão cru que és).



Texto encontrado - e não revisado - num caderno de faculdade que data de 2008.

and there is no modern romance.

Liguei o rádio e soube: dali pra frente nada mais se concretizaria na memória a não ser as lembranças. Tem sido assim. Assim, um eterno lembrar-e-esquecer como um círculo vicioso, um carrossel, uma roda gigante que não para nunca e aonde, por mais que entrem novas pessoas, ela continua sentada no exato mesmo lugar. Dando voltas e voltas, e mais voltas. Teve esse e aquele outro e um belo momento e outro belo momento mas, de alguma forma, no amor a existência tem precedido a essência e a falta de sentido é uma constante. Como em equações matemáticas a vida é dada como: amor-vezes-a-constante-(falta-de-de-sentido)-é-igual-a-zero. Zero.

Pensava nisso enquanto tentava pensar em outra coisa. Sempre assim. A gente pensa que esqueceu, depois ouve uma música qualquer e tudo volta feito ferida que não cicatrizou, e lateja o lugar que a gente tinha esquecido que tem (o coração, talvez?). Foi assim naquela noite fria enquanto tomava meu whisky e fumava meus cigarros de filtro laranja. Tudo que ainda sabia dele é que, continuava com o mesmo senso de humor e, tinha começado a fumar também. "Não fumávamos quando éramos jovens", pensei. Engraçado a inconsequencia ter começado no exato momento em que deixamos de ser. Será que éramos sem saber nosso ponto de equilíbrio, nossa religião? Seria o amor o nosso deus? talvez. Você era a única coisa em que eu acreditava. Personificação do amor. A partir do momento que você se foi o amor deixou de existir e, se você voltar pode ser que ele renasça. Pode ser. Já fazem três anos e tudo que você deixou se transformou em descrença.

Eu olhei o telefone algumas vezes, encarei, sexta feira as onze da noite não deve ser um momento propício pra ligar pra alguém que não nos ama mais e destilar alguma coisa como mágoa ou veneno, e todos esses sentimentos meio amargos que nascem pra disfarçar o amor. Mas pensei. Te mandar um torpedo te dizer "olha, eu sempre te amei, eu sempre vou te amar", mas você não iria entender e ia sentir pena do meu amor, pena de mim, pena de tudo isso que você fez nascer e eu estou cansadíssima das suas penas. Estou cansada do mundo também. Você sabe que tenho me enfiado em bares, bebido muito, caído, fumado cigarros e experimentado novos corpos. Guardo no meu apartamento uma garrafa de whisky pela metade e enquanto me embriago penso em você e em tudo-que-poderíamos-ter-sido, depois busco um número qualquer na minha lista de contatos e discutimos cinema, e literatura e depois transamos sem nenhum amor e nos beijamos sem nenhuma paixão e talvez, eu disse talvez, exista ternura nessas coisas e nesses novos homens e nesses quase-amores mas é tudo tão diferente.

Já ensaiei dizer "te amo" pra novas pessoas, mas eu não sei falar de amor. As vezes até tento, daí engasgo, daí digo "eu-gosto-muito-de-você-e-nunca-quero-te-perder" como um desses cachorrinhos carentes que se enfiam no colo de qualquer um, mas eu sei que no exato momento que ele sair por aquela porta todo significado acabará como a cinza desses cigarros que eu fumo e se espalhará pela mesa da cozinha, pelo chão da sala e depois vai sumir. E eu vou ficar, vou continuar, vou beber whisky sem gelo e vodka com suco de laranja. Vou tentar inventar amor, vou frustrar expectativas de romance, vou responder eu-te-amo-também pensando em você e em você porque é só em você que eu penso quando olho dentro daqueles olhos sem brilho nos beijos sem gosto que tenho dado. Tanto faz quem sejam as novas pessoas agora. São só bocas e cabelos e olhos e elas podem me ter quando quiserem e me deixar quando bem entenderem, eu não sinto ciúmes, nem ternura, nem nada. É só um nada, um vazio, uma necessidade de preencher todo esse buraco que você deixou quando se foi, e eu invento momentos sublimes e interessantes, minha vida tem parecido um desses filmes alternativos de romance que a gente nunca gostou e quem olha de longe quase sente inveja da minha fe-li-ci-da-de.

Não sou feliz, baforo fumaça pra fora pra ver se toda essa cinza espalhada pela casa te exorciza. Se eu cremo o meu amor por você, se de repente um dia eu acordo e faço uma espécie de funeral pra todos os momentos que tivemos juntos nessa casa, nessa imensidão de cidade, e dentro de mim. Pra ver se tudo isso que me destrói aos poucos destrói junto tudo o que sobrou de você em mim. Eu me reinventei, me recriei, me refiz. Refiz uma vida toda pra esquecer e me livrar da vida que eu tinha, daquela que eu era, pra esquecer que eu era sua - e amava. Penso em te abraçar, te ligar, chorar, ajoelhar na porta da sua casa te dizer que depois-que-você-se-foi-a-vida-se-tornou-uma-aventura-errante e penso, todos os dias, em dizer que (ainda) te amo.

Mas tomo um gole de whisky, acendo um cigarro e mando uma mensagem dizendo que "estou com saudades porque lembrei de você nessa noite fria" para um número que não é o seu.

4.7.11

do fundo do poço.

E ela estava encolhida no cantinho do quarto, chorando baixinho, se cortando baixinho com as navalhas imaginárias que a vida deu. Essas navalhas que não são de metal nem de aço, essas navalhas que não fazem sangrar a pele - essas navalhas que perfuram o coração de uma vez só. Esse coraçãozinho machucado, menina. Esse coração estraçalhado de dor & desamor, com todo o desamor do mundo morando lá dentro. Desamor, cansaço, falta de vida. É tanta coisa que de repente vai morar no coração da gente. Desapercebidos, assim. Os longos suspiros de um surto que era ciclico. Vez ou outra ao chegar do trabalho, ao ouvir um comentário meio maldoso vinha um choro com barulho, um choro sem fim nem começo - mas que doia. De repente o mundo não era mais mundo e ela flutuava. Flutuava porque não fazia parte e não era um flutuar leve. As coisas iam de um lado pro outro, rápidas, como quem queria engoli-la. E ela corria. Corria e chorava e as lágrimas caiam sem controle nenhum. Só caiam. Uma cachoeira inteira de dor invadindo aquele rosto novo e cansado de junhos e julhos tristes e pesados. Tontura, vertigem, o mundo embaçando, o barulho fica alto. "Deus, o que você quer dizer com isso?" ela grita. Porque ficou abandonada, no meio do nada, no meio do cinza. Os carros passam, e passam as pessoas, e as luzes também passam e tudo aquilo quer engoli-la e ela num esforço terrível e meio ridículo de tentar sobreviver, de tentar respirar no meio do ar rarefeito do mundo - o ar que o mundo a impediu de respirar.

O mundo às vezes impede a gente de respirar, às vezes a gente de depara com esses lapsos de não-normalidade, pequenas alterações na linha-reta-e-constante que se faz a vida. Pequenos surtos baixinhos, no canto da sala e no meio da rua. Ela tinha surtado ali, no meio da rua, seis e meia da tarde, horário de rush. Saiu do ônibus, se deparou desrealizando, despersonificando e foi. As lágrimas caiam, a vida parecia sem sentido, o respirar era dolorido. E depois teve essa outra vez, meia noite, no quarto, no cantinho da parede se cortando de levinho com as navalhas imaginárias do coração. E tudo isso é decadência, o fundo do poço, tudo isso é falta de vida, falta, falta, falta - ausência. Todos os cafés do mundo serão tomados afim de produzir úlcera. Todas as drogas existentes serão experimentadas na esperança do alívio. Todos os cigarros serão fumados pra que saia ar (mesmo que sujo) de onde já não se respira. Morrer é um acidente do acaso, é uma curva na vida, é o fim inevitável. Toda bebida do mundo será ingerida para causar embriaguez. Zen budismo, religião, existencialismo, cabala - qualquer coisa. Uma estrada que redime e destrói ao mesmo tempo, é nisso que ela queria entrar. A cada nova desilusão um gole, a cada nova frustração um trago, a cada nova perda um calmante com wisky. A cada novo alívio, a destruição.

Todo clichê é perdoável.

Experimentar todos os corpos, todas as oportunidades, todas as pequenas ofertas da vida. Beijos sem compromisso, sexo casual e navalha no coração. As músicas que tocam ao fundo não tocam mais o coração. As pessoas ao lado são irreconhecíveis. Tudo é um misto de interesse & hedonismo. Tudo é cansaço e preguiça. E dor. Microagulhas entranhadas embaixo da pele, uma a uma, preparadas para fazer sangrar aos poucos a dor que é estar viva - e ter se perdido. Não existe estrada para a felicidade, não existe amor, não existe esperança e o fim é inevitável. Numa vida das oito às seis, ela se esconde embaixo dos seus casacos pretos e seu batom vermelho. Ela está cansada, os balões não colorem o céu e a vida não é um filme, afinal. Nem uma minisérie em apenas um capítulo. A vida - a vida dela - é uma poesia suja, marginal, sem métrica e nem rima. Poesia decadente de páginas grudadas, perdida na estante de um sebo que ninguém nunca vai entrar.

No fundo do poço só se vê o chão.

É que depois de tanta esperança falsa, de tanto amor em vão de tanta energia gasta, de tanta perda, de tanta estrada que não era - e nunca foi - caminho, o olho se cega pra luz, a saída não existe mais e a gente chafurda a cara na lama. Se a gente ficar morre, mas se for lá fora é a vida - e a vida também mata. Mas mata de cansaço, de desilusão, de desamor, de frustração, de preguiça e de descaso. E se é pra morrer, que seja em paz.