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12.2.12

a plataforma dessa estação é a vida

Me lembro de ter algumas vezes nesse ano, clamado por uma luz. Não sei se acredito tanto assim em luzes e em caminhos que se abrem, mas estive tão sôfrega que achei ser necessário. Entrei 2012 com o gosto do ano novo entre amigos que já não são o que eram, tudo parecendo uma casa meio despedaçada em que a gente continua querendo fazer a imagem da casa bem pintada da infância. Amo alguns deles ainda, e poderia dizer que amo todos, sem estar mentindo, mas fato é que não somos aquilo que éramos ano passado, quando tudo parecia ter um pouco mais de esperança. Foi no meio dessa diáspora da amizade que me perdi bastante, e foi no meio disso que estive muito próxima de todos aqueles que na verdade sempre foram o meu caminho. Entrei o ano com a esperança de uma vida que não seria mais aqui, mas seria boa. Viajariamos por são paulo e curitiba, até arrumar uma cidade certa pra morar: essa cidade é a nossa cidade. Nós sempre soubemos (eu e ele) que londrina era pequena demais pros nossos sonhos cheios de cafés e noites que duravam até as seis da manhã. A londrina que fecha cedo e nos deixa aberto só o patio san miguel (caro) e o drive trhu do mc donald's (lotado), já não abracava a nossa vontade de comprar tudo aquilo que sempre desejamos comprar. Dificil admitir isso assim, num país tão cheio de desigualdades, mas fomos criados pelos nossos pais tendo tudo aquilo que desejamos. Estivemos acostumados às boas cervejas, boas roupas, boas carnes, bons lugares, bons drinks e uma casa grande. Não nos satisfaz a vida de poucos mil reais, em uma casa média, com uma família mais ou menos feliz. Ele soube disso um pouco antes de mim, quando foi pros estados unidos. Eu só me dei conta quando fui meio desavisada parar em são paulo, e percebi que, talvez seja necessário pra uma vida plena, pelo menos uma vez na semana sentar em pufes lotados das livrarias depois do trabalho, ou pedir, extrapolando o clichê, um café no starbucks, nos aproveitando da internet wifi.

É engraçado quem nos ouve dizer tudo isso, porque parecemos caipiras com o sonho da cidade grande. É que nascemos em Londrina, mas de repente percebemos que Londrina não nasceu tanto assim em nós. É bonita a cidade, o calçadão, o jeito com que os ônibus sempre voltam para o mesmo terminal, seja lá qual for o trajeto, o shopping catuaí, as duas ou três boates frequentáveis, os quatro ou cinco bares de que gostamos genuinamente. É bonito também o lago, caminhar no zerão depois do trabalho, o jeito como nada aqui dura muito depois das sete da noite (nem os trabalhos, nem as padarias). É esquisito perceber que o jeito interiorano divide um espaço com os usuários de drogas que se instauram perto daquela que já foi a alta sociedade londrinense, então somos apresentados ao nascer de uma crackolândia no meio de uma cidade que não sabe nem respirar sem choro depois das dez da noite. Nossos passos já foram menos amendrontados, nossas noites já tiveram mais sorrisos, já fomos mais amigos, Londrina já foi mais a minha casa (a nossa).  Entra 2012 e tudo isso muda, com uma naturalidade que não deveria ser, e as coisas se encaixam como jogos de tetris. Acontece São Paulo, que podia ser o descaminho, o desvio, o horror e de repente vai se encaixando nos horários certos, nos encontros fortuitos, nas oportunidades agarradas do jeito que se pode agarrar. Acontece o amigo que volta e espera estar nessa mesma São Paulo no próximo ano, e dividir apartamento, e dividir a vida. Acontece dos empregos que chegam na caixa de entrada, das pessoas que aparecem do nada, acontece até de eu pensar baixinho que, precisava de mais uma semana inteira pra ver se essa tal cidade cheia de metrôs e congestionamentos é mesmo a minha cidade, e ter a semana nas minhas mãos, como que caída do céu.

Nunca acreditei em metas, maldisse todos aqueles que planejavam a sua vida como quem planeja um roteiro de viagem onde não pode haver erros, mas de repente gosto das metas, que hoje chamo carinhosamente de: perspectivas. Espero, depois de muito choro, ser essa pessoa que trabalha com design e é extremamente bem sucedida com isso. Quero sim o reconhecimento na profissão, o salário digno, poder gastar bastante num jantar ou num vestido. Descubro que gosto dos desafios, dos planos, das análises descabidas das redes sociais. Gosto também de escrever, amo. Mas escrever pode-se se escrever nos bares, nos cafés, nas madrugadas insones. Porque de repente percebo que escrever é o que eu sou, e ser designer é a minha profissão. Designer, social media, analista de interfaces, consultora, planejadora de marketing e todas essas alcunhas que um dia maldisse, agora parecem perfeitamente encaixáveis. Parece ter se encaixado também a noção de que, para se ter férias é preciso trabalhar, e para se ter uma carreira é preciso começar de algum lugar, mesmo que doa. E eu, que já me doi de todos os jeitos, em todos os lados, me sinto pela primeira vez em vinte e três anos, preparada. Talvez seja difícil, talvez eu encare choros compulsivos durante a noite e queira desistir de tudo, mas se tem uma coisa que eu aprendi é que sempre existe uma mão pra segurar, onde quer que seja. A mão surge da onde a gente menos espera, e de repente diz pra gente, como disse aquela música chiclete do legião urbana uma vez: que o caminho é um só. Eu mudei meu caminho de rota, finalmente resolvi tomar as rédeas da minha vida, ter meu próprio cartão de crédito, acreditar um pouco mais nas pessoas. Crescer é preciso, ainda que doa um pouco os ossos enquanto a gente dorme. E eu, que nunca esperei muito da vida, percebo finalmente que existe muito mais mundo do que esse, em que a gente volta morrendo de medo sozinha, pelas ruas da cidade que dorme às nove da noite.

Não sei se acredito em sinais, me perco nesses textos pouco literários que tentam escrever qualquer palavra bem pobre e clichê de esperança em qualquer coisa que seja.  Faço uma crônica mal feita do meu dia a dia perdido, preferia estar escrevendo um novo romance, ser menos livro de auto-ajuda, mas acontece que, cheguei naquela fase da vida em que se acredita em sinais. Só que não foi a havaiana que caiu de um jeito especial, nem eu que tropecei no amor da minha vida na rua (embora tenha tropeçado um pouco pelas ruas paulistanas sim), fui eu que resolvi escrever a minha própria história, e por mais clichê que isso soe, ela tem se encaixado, feito jogo de tetris. Vou por essa (nova?) vida como pessoas que se encaixam (e se espremem) nas plataformas do metrô ansiando por voltar pra casa, ou encontrar a namorada, e aguardo pela próxima estação: paraíso.


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