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19.3.12

e pela lei natural dos encontros.


Todo mundo é mais solitário em uma multidão. O não-pertencimento a um lugar cria na pessoa a verdadeira sensação de ser um universo sem par. O estar sozinho pode ser feito da escolha. O universo das paredes beges e descascadas do meu quarto não me amedrontam, o que me amedronta é a vida. A obrigação, a companhia silenciosa que não preenche o vazio de existir. O mundo às vezes é cruel, coloca a gente de frente com o terrível pavor que nasce em cada ser humano de ter que levar a trajetória de sua vida sem ter alguém pra segurar a mão. Parece um estado inadequado, uma causa-mortis do existir. Uma vida existe e, existindo a vida ela deve ser compartilhada. Compartilhada, gritada, postada, assim como vídeos de internet que a gente sente a vontade de espalhar em todos os cantos, porque assim sente necessário. 

Todo o medo provêm do pavor do vazio. Terrível mesmo é ter o peso de levar toda uma existência nas costas, sem ter com quem dividir. Às vezes o mundo dói e é preciso que alguém empreste suas sacolas pra levar pedaços de nossos mundos nela. Nossas sacolas rasgam, estragam, se perdem pelo caminho. É preciso ajuda pra completar a trajetória do existir. O que acontece às vezes é que todos os carregadores de sacola parecem inadequados e não há com quem dividir o mundo. Várias pessoas carregando sacolas e a gente as considerando indignas dos nossos pedaços de mundo. Podiam quebrar se pegassem na mão, não iam saber cuidar direito, ou simplesmente não iam entender o porquê de terem que ajudar no caminho. A solidão não é um fantasma. Se vive com ela, dá-se a ela o que comer e ela te invade e passa ser confortável. Às vezes a nossa existência precisa pertencer apenas a gente. Às vezes é preciso de tempo pra encontrar alguém que mereça carregar nossos pedaços de mundo. 

Dei um tempo, botei meu mundo na minha sacola.


(nem lembrava que tinha escrito isso e li com os olhos de quem lê texto alheio, mas coube tão bem).  

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